Sanskrit & Trika Shaivism (English-Home)

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 Aprendendo Sânscrito - Primeiros Passos (1)

Introdução


 Introdução

Esta é uma página introdutória. Não tem como intenção apresentar o Sânscrito, Yoga etc. em profundidade, mas sim dar a você uma visão geral do universo sânscrito. Começa com uma breve história da língua sânscrita, e então aborda diferentes aspectos filosóficos e gramaticais, bem como transliteração e pronúncia, e, por último, termina com um conjunto de algumas citações sânscritas famosas. Bem, eu espero que você a desfrute, realmente!


Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.


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 Breve história da língua Sânscrita

O Sânscrito é uma língua muito antiga. Embora não haja prova definitiva, acredita-se que o Sânscrito venha de uma língua mais primitiva chamada de indo-europeu. O Indo-Europeu é uma língua construída por meio de extrapolações, e não existe prova escrita. Os estudiosos dizem muitas coisas que se opõem umas às outras, mas eles concordam em um ponto: o Sânscrito é uma língua muito antiga.

As antigas tribos arianas migraram para a Índia, mas o seu ponto de partida ainda é controverso. Nos dois últimos séculos, os linguistas disseram muitas coisas. Primeiramente, o ponto de partida localizava-se na Europa, depois na Báctria e em Sogdiana (Ásia Central); contudo, recentemente, de acordo com as pesquisas mais recentes, a zona é identificada como sendo a Anatólia oriental. Existe a mesma incerteza em relação à idade do Sânscrito, falando de 1200 a.C. (os mais conservadores) a 6000 a.C. Segundo algumas pesquisas modernas, a data seria intermediária, por volta de 3000 a.C.

Por sua vez, a data na qual esses arianos --indo-europeus-- partiram situa-se em aproximadamente 4500 a.C.

Em outra época se acreditou que o Sânscrito viesse do antigo fenício, mas havia muitos fatores contraditórios em relação a essa teoria. O fator mais importante foi o seguinte: o Sânscrito era uma língua altamente sofisticada e filosófica, mas o fenício tinha notáveis características comerciais, já que os fenícios eram excelentes comerciantes. Bem, apesar de tudo, a teoria que agora prevalece --aparentemente-- diz que o Sânscrito tem como origem uma antiga língua chamada de proto-indo-europeu.

O complexo estudo linguístico que foi realizado de modo a especificar as datas; e o modo como as línguas indo-europeias, além do Sânscrito, desenvolveram-se não são tópicos a serem analisados aqui, nesta breve história da língua sânscrita. A coisa mais importante é que o Sânscrito tem conexões, de certa forma, com a maioria das línguas que conhecemos; e que, apesar de algumas pessoas acharem que é uma língua morta, o Sânscrito ainda está muito vivo.

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 Códigos a serem usados para Transliteração

A língua Sânscrita utiliza um alfabeto de símbolos denominado Devanāgarī. Esse alfabeto pode ser aprendido, mas leva-se muito tempo para aprendê-lo. É por isso que um alfabeto de Transliteração foi criado, que usa caracteres romanos fáceis de ler, sem que seja necessário conhecer símbolos. No entanto, como o Sânscrito tem 20 letras a mais que o alfabeto latino, foi necessária a criação de 20 novos caracteres --pelo menos-- com marcas diacríticas (hifens, pontos, etc.). Por exemplo, em Sânscrito existem três tipos de "n": o primeiro é praticamente como o nosso, como o "n" em "natureza"; o segundo é como o "n" em "carne" (pronuncia-se enrolando-se a língua levemente para trás); e o último é como o "n" em "ângulo" (pronuncia-se nasalmente).

Então, surge um problema: como representar esses dois últimos "n", que não existem no alfabeto latino tradicional? Portanto, foi criado um Alfabeto Internacional de Transliteração Sânscrita (sigla em inglês: IAST), no qual um ponto (marca diacrítica) abaixo do "n" foi escolhido de modo a indicar um enrolamento da língua; e um ponto acima do "n" para indicar nasalização. Usando o Unicode você tem o seu problema resolvido, mas alguns caracteres com marcas diacríticas não vão aparecer corretamente nos navegadores. Portanto, também é preciso implementar uma fonte especial. No meu caso específico, "Andika" é a fonte de Unicode que eu escolhi para solucionar o problema.

Tabela de Transliteração
Alfabeto Internacional de Transliteração Sânscrita (IAST)
Ā ā
Ī ī
Ū ū
O "a", o "i" e o "u" com um hífen em cima indicam vogal longa
Ṛ ṛ "r" com um ponto embaixo (vogal)
Ṝ ṝ "r" com um ponto embaixo e um hífen em cima (vogal)
Ḷ ḷ "l" com um ponto embaixo (vogal)
Ḹ ḹ "l" com um ponto embaixo e um hífen em cima (vogal)
--raramente usado, por isso eu geralmente não o incluo no alfabeto sânscrito--
Ṁ ṁ
Ṅ ṅ
O ponto em cima de uma letra indica nasalização ("m" e "n" com um ponto em cima)
Ḥ ḥ "h" com um ponto embaixo indica a vogal chamada de Visarga
Ṭ ṭ Ṭh ṭh
Ḍ ḍ Ḍh ḍh
Ṇ ṇ Ṣ ṣ
As consoantes que são pronunciadas enrolando-se a língua levemente para trás são escritas com um ponto embaixo ("t", "th", "d", "dh", "n" e "s", todas com um ponto embaixo)
Ś ś O "s" com um acento agudo em cima é lido como o "ch" do português

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 O Sânscrito e as Filosofias Indianas

A maioria das filosofias indianas são em Sânscrito, ou seja, possuem uma literatura, na maior parte, Sânscrita. A literatura indiana é a maior literatura do mundo; e, para dar um exemplo: o tamanho do sagrado Mahābhārata é de aproximadamente 14 Odisseias (de Homero). A literatura Sânscrita não tem rivais em todo o mundo, contudo, apesar dos esforços de muitos indivíduos, as pessoas --especialmente no meu país, a Argentina-- não são propriamente informadas sobre o assunto.

Existem seis filosofias tradicionais na Índia, mas não são as únicas, já que várias filosofias "não-tradicionais" também são muito importantes. Pela palavra "tradicional" eu me refiro ao fato de que esses 6 sistemas filosóficos aceitam a autoridade dos quatro livros sagrados chamados de Veda-s (Ṛk, Sāma, Yajus e Atharva), tendo-os, portanto, em sua literatura. Os sistemas tradicionais são os seguintes:

-NYĀYA: Esta palavra curta significa "raciocínio lógico". Foi fundado por Gautamarṣi, ou seja, o sábio chamado Gautama. É um sistema de lógica e ocupa-se com os meios de se adquirir conhecimento correto. Também é conhecido como Ānvīkṣikī e Tarka. Mantém uma filosofia de raciocínio lógico. A grande contribuição dessa escola foi a criação de ferramentas de indagação e a sua formulação da técnica de argumentação.

-VAIŚEṢIKA: Esta longa palavra significa "excelência", pois, de acordo com os seus seguidores, essa filosofia é superior aos outros sistemas filosóficos. Também significa "particularidade", pois esse sistema desenvolve a teoria da particularidade. Descrever essa teoria vai além do escopo destas páginas. Esse ponto de vista (darśana) foi fundado por Kaṇādarṣi, e caminha praticamente de mãos dadas com o Nyāya. Classifica todo o conhecimento do mundo subjetivo em nove realidades básicas: terra, água, luz, ar, éter, tempo, espaço, alma e mente. Discute como as combinações distintas dessas realidades básicas dão nascimento a todas as coisas. Esse movimento foi, em seu momento, toda uma "onda verde" que revolucionou os conceitos tradicionais.

-SĀṄKHYA: Este termo significa "enumeração". Esse sistema é chamado assim pois enumera vinte e cinco tattva-s ou categorias de Manifestação Universal, que não são derivadas de nove realidades básicas, mas sim de duas, Puruṣa e Prakṛti. Precisamos de mais conhecimento para entender a explicação exata; só vou dizer que eles podem ser chamados de "espírito" e "matéria". Essa é uma aproximação. Sāṅkhya também significa "conhecimento discriminativo" pois dá o conhecimento necessário para discriminar entre Puruṣa e Prakṛti, o que é essencial para se obter Libertação espiritual de acordo com esse ponto de vista ou darśana. As nove realidades básicas pertencentes ao sistema anterior não são, contudo, descartados aqui. Somente mostra que não são realidades finais, da mesma forma que a decomposição do átomo em elétrons e prótons não descartou a existência do átomo, mas somente mostrou não ser a última redução possível da matéria. O Sāṅkhya mostra que tudo evoluiu a partir da Prakṛti, exceto o Eu ou Puruṣa, que não evolui de nada e é sempre existente e incriado. Esse fenômeno das filosofias incluírem-se umas nas outras é uma característica constante na maioria dos sistemas. Talvez os seguidores discutam entre si, mas não as próprias filosofias.

 -YOGA: Por essa palavra, um tipo de Yoga é especificamente indicado, o "Yoga Óctuplo". Muito cuidado! Esse termo significa "união", e é derivado da raiz sânscrita "yuj" (unir, juntar). É chamado assim pois une a alma individual com a Alma Universal. Foi fundado por Maharṣi Patañjali, ou seja, o Grande Sábio (Maharṣi) chamado Patañjali. É o aspecto prático da doutrina Sāṅkhya. No Yoga, o principal interesse está no meio pelo qual o indivíduo pode controlar a sua mente, e, assim, conhecer a Realidade do seu Eu por experiência direta. São utilizados para isso diversos métodos, divididos em oito etapas. Esse sistema trabalha em harmonia com o anterior, podendo-se falar inclusive de um "Sāṅkhya-yoga".

-PŪRVAMĪMĀṀSĀ: "Pūrva" significa "a primeira parte", referindo-se aqui à primeira parte dos antigos Veda-s, chamada de Mantra. "Mīmāṁsā" significa "indagação ou interpretação". Então, a tradução completa seria "uma interpretação ou indagação sobre a primeira parte ou porção dos antigos Veda-s, chamada de Mantra". Foi fundado por Jaiminirṣi (o sábio Jaimini).

Esse sistema investiga principalmente os ritos védicos e seus usos. O seu principal objetivo é estabelecer a autoridade dos Veda-s. A Libertação da escravidão é, de acordo com essa escola, uma libertação da ação atuando de forma desapegada. Nele, predominam os rituais ou ações adequadas para se atingir o objetivo desejado. Em suma, os rituais são as ações adequadas para se atingir a Libertação.

-VEDĀNTA: Também é conhecido como Uttaramīmāṁsā. A palavra "uttara" significa "a parte final", ou seja, a parte final ou porção Upaniṣad dos antigos Veda-s. O termo "mīmāṁsā" significa "indagação ou interpretação". Logo, a tradução completa seria "uma interpretação ou indagação sobre a parte final ou porção Upaniṣad dos antigos Veda-s". Por sua vez, o termo Vedānta significa "o final (anta) dos Veda-s (veda)". Esse significado admite duas interpretações, isto é:

1) O mais exaltado, o melhor dos Veda-s.

2) A última parte dos ditos Veda-s, ou seja, a porção conhecida como Upaniṣad --que lida predominantemente com conhecimento, enquanto a primeira porção dos Veda-s lida com os rituais--.

Essa filosofia é dividida em três sistemas autônomos:

a) Não-dualismo ou Advaita

b) Não-dualismo Qualificado ou Viśistādvaita

c) Dualismo ou Dvaita

Não entrarei em detalhes, porque seria um processo muito longo que não cabe dentro das aspirações desse estudo. Só direi que os fundadores desses três sistemas são Śaṅkarācārya, Rāmānuja e Madhvācārya, respectivamente.

Os três sistemas Vedânticos, que integram um só sistema, estão de acordo com que não se devem "descartar as descobertas do Sāṅkhya". Entretanto, sustentam que há somente uma Última Realidade. Analisam o Processo de Manifestação Cósmica de uma maneira muito similar ao Sāṅkhya. Os três Vedānta-s afirmam a existência de um Único Deus, mas a Sua natureza e a relação que Ele tem com o ser humano são explicadas de maneiras diferentes.

Existem filosofias "não-tradicionais" que não têm os quatro Veda-s na sua literatura. Por exemplo: filosofias Tântricas. No Tantra, há vários sistemas: Trika, Kaula, Krama, etc. Ao falar-se de Tantra, a maioria, por causa da ignorância, "logo" o associa a práticas sexuais. Mas, como o Tantra tem dois ramos principais, isso não é completamente verdade. Os ramos são os seguintes:

1) Tantra da mão direita, baseado em meditação formal.

2) Tantra da mão esquerda, baseado em várias práticas para atingir a Iluminação, nas quais estão incluídas as práticas sexuais.

Minha especialidade é o Trika ou Shaivismo não-dual da Caxemira (que pertence ao Tantra da mão direita, logo não tem nada a ver com práticas sexuais). Não obstante, direi algumas palavras sobre o Tantra da mão esquerda: Hoje em dia, esses ensinamentos sagrados destinados a ajudar o homem a evoluir por meio da vida sexual têm sido mal-compreendidos em sua maior parte. Essas práticas foram designadas para que o chefe de família ou dona de casa atingissem a dita Iluminação, a qual, antigamente, só se obtinha indo para a floresta e abandonando tudo. O sexo, que não podia ser abandonado por pessoas com uma família, era usado em algumas práticas como um meio para o crescimento espiritual. Tudo isso está muito longe de algumas práticas sexuais realizadas hoje em dia, que só mostram ignorância e perversão. Mais uma vez, a mente do homem, apesar das boas intenções e da pureza existentes inicialmente, transformou tudo em impureza.

-TRIKA: Em relação ao Trika ou Shaivismo não-dual da Caxemira, tenho a dizer que:

Eu o tenho ensinado por muitos anos. Basicamente, traz pontos de vista revolucionários que afetam profundamente a vida de quem os analisa. Por exemplo: são muito marcantes o conceito de unidade entre todas as coisas e o de independência. Esse sistema afirma que todos nós temos tesouros, mas não os desfrutamos por mera ignorância. Em suma, faz com que o ser humano perceba a vida tola que ele leva, cheia de medo e ignorância, e lança-o até o seu próprio Ser Interior, até o seu próprio Espírito. Não é uma mera "filosofia de poltrona" postulando várias teorias que nada têm a ver com os fatos concretos das nossas vidas. Pelo contrário, é predominantemente prática e muda a vida de qualquer um que entre em contato com ela.

A sua análise da Criação é simplesmente magnífica e certamente muito completa. Nele, podem-se ver claramente as conexões entre toda a Manifestação. Outra característica é que ele não postula o "abandono do mundo". Pelo contrário, afirma que o verdadeiro problema não é o mundo, mas sim o ponto de vista pobre que se tem em relação ao mundo. Além disso, dá-nos um ponto de vista novo e "feliz" para analisar o mundo.

Eu gosto muito do Shaivismo Não-dual da Caxemira, mas, é claro, não estou dizendo: "Este é o melhor sistema filosófico". Pelo contrário, os sistemas filosóficos aos quais me referi são todos muito bons. Todo o ser humano tem a sua própria maneira, e a sua própria filosofia. Esses sistemas filosóficos são enormes, então, eu tive que escolher pelo menos um sistema para estudar profundamente. Sabe, o meu tempo de vida é curto, e eu escolhi o Trika, já que supria as minhas necessidades filosóficas e práticas. Portanto, você deve sempre escolher a filosofia que combine melhor com você. Isso deve ser completamente entendido.

Os outros sistemas que mencionei --Kaula e Krama-- são intimamente relacionados ao Trika, apesar de possuírem características próprias. A análise do Sânscrito feita pelo Kaula, que atribui sons para cada uma das 36 etapas do Processo de Criação indicados pelo Trika, é muito interessante. Por sua vez, o Krama também contém várias análises profundas sobre essas etapas, mas relaciona-as a várias deusas. Em suma, um verdadeiro tesouro disponível para todos.

Com certeza, esqueci de alguns sistemas, mas acho que já é o bastante. O importante aqui é entender o seguinte: Nós temos muitas ferramentas disponíveis para entender nossas vidas e a vida em geral. Se o meu esforço for suficiente para dar essa sabedoria a pelo menos uma pessoa, minha missão estará cumprida.

Mais uma coisa, veja as Citações Sânscritas, já que essas citações de escrituras estão fortemente relacionadas com as filosofias meramente delineadas aqui. Além disso, cada citação conta com uma explicação minha abaixo.

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 O Sânscrito e as suas ligações com o Yoga

Primeiramente, definamos o que chamamos de "Yoga". A palavra "Yoga", como já sabemos, significa "união". União com quem?: união com algo Superior. Bem, há um Yoga tradicional --mencionado anteriormente-- ou Yoga de Patañjali, chamado assim porque foi fundado pelo sábio Patañjali. Note que acentuo o "o" de "Yoga". Uso o acento para ajudar as pessoas a pronunciar corretamente.

Esse Yoga também é conhecido como Aṣṭāṅgayoga ou Yoga Óctuplo, devido às suas 8 etapas postuladas. A primeira etapa é Yama ou Abstenções (não-violência, verdade, não roubar, continência e abstinência de avareza), e a segunda é Niyama ou Observância (limpeza, contentamento, austeridade, estudo/recitação das Escrituras, e devoção a Deus). A terceira etapa é Āsana ou Postura; nele, se fala somente de posturas para meditação. A quarta etapa é Prāṇāyāma ou Percepção da Energia Vital; nela, diferentes formas de respirar fazem com que se tome consciência da Energia Vital. A quinta etapa é Pratyāhāra ou Retiro; nela, retira-se a atenção dos sentidos externos, alcançando interiorização. A sexta etapa é Dhāraṇā ou Concentração; em que se fixa a mente em um único ponto por um momento. A sétima etapa é Dhyāna ou Meditação; nela, a Concentração é muito mais longa, até que se atinja a oitava etapa, chamada de Samādhi, em que se alcança a Consciência Total em relação ao objeto da meditação.

Bem, isso foi somente um sumário. Além desse Yoga tradicional (védico), há também outros Yoga-s: o famoso HAṬHAYOGA (o conhecido sistema baseado em posturas corporais); BHAKTIYOGA (Yoga Devocional), JÑĀNAYOGA (Yoga do Conhecimento), KARMAYOGA (Yoga da Ação), MANTRAYOGA (Yoga dos Mantra-s ou Palavras Sagradas), etc. Todos esses Yoga-s também são relacionados a filosofias, algumas das quais foram delineadas previamente, de modo que o universo de conhecimento é imenso. E é tudo em Sânscrito, e, até agora, nem tudo foi traduzido, já que é muito extenso e poucos conseguem traduzir corretamente.

Por isso, as ligações entre o Yoga e o Sânscrito são notáveis. Por exemplo, a literatura tradicional do Haṭhayoga está em Sânscrito (Haṭhayogapradīpikā, Haṭharatnāvalī, etc.), e os nomes das posturas, respirações, selos, etc. também são em Sânscrito, embora tenham sido inventados alguns nomes ocidentais para algumas posturas. Essa breve análise mostra a tremenda importância da língua Sânscrita no mundo do Yoga. Sem o Sânscrito, o Yoga não poderia existir.

Devemos entender, por último, que a palavra "Yoga" (usada muito frequentemente hoje em dia) não significa somente "posturas, respiração, etc.", mas várias práticas em múltiplos níveis (emocional, intelectual, sonoro, etc.). Portanto, Yoga não é sinônimo de Haṭhayoga; Haṭhayoga é uma porção do Yoga como um todo. Esse é um erro comum aqui na Argentina, pois as pessoas geralmente confundem o Yoga inteiro com algumas posturas, respirações e por aí vai. Não, isso é Haṭhayoga, que é uma pequena porção de inúmeros métodos: meditação, repetição de mantra-s, atos devocionais, estudo de Escrituras, etc. Em suma, Yoga são todos os Yoga-s (Haṭhayoga, Bhaktiyoga, Jñānayoga, Mantrayoga, Rājayoga, etc.) e não somente o Haṭhayoga.

Para obter mais informações sobre o assunto, veja as Citações Sânscritas.

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 O alfabeto Sânscrito

O principal alfabeto utilizado pelo Sânscrito é conhecido como Devanāgarī, e pode ser dividido em várias partes de acordo com diversos critérios. Então, vamos ver o alfabeto e, na próxima seção, aprenderemos como pronunciar as letras. Mais uma coisa, a vogal "ḹ" não será considerada aqui, por ser uma vogal teórica e raramente usada. Por "teórico", quero dizer que foi inventada para manter os pares curto/longo: a/ā, i/ī, etc., de modo que esse "ḷ" não fique sem o seu correspondente longo.

Alfabeto Sânscrito
Letras
Vogais
अं अः
a ā i ī u ū e ai o au aṁ aḥ
Consoantes
Primeiro Grupo
Subgrupos Surdas Sonoras
Não-aspiradas Aspiradas Não-aspiradas Aspiradas Nasais
Guturais
ka kha ga gha ṅa
Palatais
ca cha ja jha ña
Cerebrais (Cacuminais ou Retroflexas)
ṭa ṭha ḍa ḍha ṇa
Dentais
ta tha da dha na
Labiais
pa pha ba bha ma
Segundo Grupo
Semivogais
ya ra la va
Terceiro Grupo
Sibilantes
śa ṣa sa
Quarto Grupo
Sonora Aspirada
ha

Uma das coisas notáveis sobre o Sânscrito é que as suas consoantes são silábicas, isto é, vêm acompanhadas da vogal "a". Sem "a" elas não podem ser pronunciadas, pois o "a" é a letra suprema. A maioria das vogais (exceto o Anusvāra "ṁ" e o Visarga "ḥ") podem ser pronunciadas sozinhas, sem a necessidade de consoantes ou outras vogais, mas nenhuma consoante pode ser pronunciada sem uma vogal. Isso claramente fala de todo um modelo filosófico escondido nesses simples caracteres. As vogais e os seus sons têm a ver predominantemente com o que é superior e independente, enquanto as consoantes (principalmente as do primeiro e do segundo grupos) têm a ver predominantemente com etapas inferiores da Criação. Esse tópico é, sem dúvida, muito mais extenso. Isso foi só uma "dica" de uma característica peculiar do Sânscrito: é uma língua extremamente elaborada em total concordância com uma ciência que se esconde atrás dela. Esse é o maravilhoso dessa língua. Por último, a vogal "ṁ" (denominada Anusvāra), como o próprio nome indica, sempre vem após uma vogal que lhe dê suporte (no alfabeto formal se usa, é claro, um "a" para dar-lhe apoio). A vogal "ḥ" (denominada Visarga) também precisa do suporte vocálico, sendo representada no alfabeto unida a um "a".

Mais uma coisa: Além desses caracteres que compõem o Alfabeto formal, há uma série de símbolos "híbridos", formados a partir da combinação de dois ou mais caracteres formais. Por exemplo:

त्त (tta) द्य (dya) ङ्ग (ṅga), etc. Veja Conjuntos para mais informação.

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 Guia de Pronúncia

Baseando o meu estudo na Tabela acima, tentarei fazer o meu melhor para explicar a pronúncia das diferentes letras. Se você também quiser ouvir os sons, veja Pronúncia 1: As Letras.

Mais uma coisa, existe uma unidade de medida chamada de "mātrā" ou "intervalo de tempo necessário para pronunciar uma vogal curta (como "a")". Vogais curtas (a, i, u, ṛ, ḷ) duram 1 mātrā, enquanto as longas (ā, ī, ū, ṝ) e os ditongos (e, ai, o, au) duram 2 mātrā-s. Por sua vez, o Anusvāra ("ṁ") e o Visarga ("ḥ") duram 1/2 mātrā cada.

As consoantes requerem uma vogal para serem pronunciadas. No Alfabeto Sânscrito, a vogal escolhida é o "a".

Pronunciando as vogais Sânscritas
Vogais
Caracteres originais Transliteração Informação
a É claro, não é pronunciado de forma alguma como em português. A sua boca não deve estar muito aberta, mas sim um pouco fechada, como se você estivesse para dizer um "o". Esse som vocálico é sentido na garganta, e portanto é Gutural.
ā A vogal anterior durando o dobro.
i É como o "i" em português, só que um pouco mais curto. Esse som é sentido no palato, e portanto é Palatal.
ī A vogal anterior durando o dobro.
u É como o "u" em português, só que um pouco mais curto. O som é sentido nos lábios, e, portanto, essa vogal é Labial.
ū A vogal anterior durando o dobro.
A língua é levemente enrolada para trás, pressionando o céu da boca. Então, pronuncia-se o som "ri". O "r" é mais forte que o "r" em português. Não pude encontrar nenhum exemplo exato em português. O som é sentido no céu da boca, portanto, essa vogal é Cerebral (ou também Cacuminal ou Retroflexa).
A vogal anterior durando o dobro.
"ṛ" com um "l" no começo. Pronuncia-se esse "l" com a língua pressionando a parte de trás dos dentes. Já que o som é sentido primeiro na parte de trás dos dentes e depois no céu da boca, essa vogal é Cerebro-Dental.
e É um ditongo (a + i). Por essa razão, começa como o "e" em "eu", e termina com um muito breve "i". Essa vogal é longa (2 mātrā-s). É Guturo-Palatal.
ai É um ditongo especial (a + e). A acentuação está no "i", e não no "a". É uma vogal longa (2 mātrā-s). Essa vogal é Guturo-Palatal.
o É um ditongo (a + u). Por essa razão, começa como um "o" em "olho", e termina com um muito breve "u". Essa vogal é longa (2 mātrā-s). É Guturo-Labial.
au É um ditongo especial (a + o). A acentuação está no "u", e não no "a". É uma vogal longa (2 mātrā-s). Essa vogal é Guturo-Labial.
अं aṁ É chamado de Anusvāra, pois sempre segue uma vogal. É um alongamento nasal de uma vogal, como um "m" mas pronunciado com a boca fechada, de modo que o ar saia pelo nariz. Dura 1/2 mātrā. Aqui podemos vê-lo unido a um "a".
अः aḥ É denominado Visarga (emissão), pois é pronunciado por meio de uma emissão de ar, fazendo um som muito parecido com o "rr" em português (carioca), só que mais suave. Em algumas situações, pronuncia-se junto a um leve eco da vogal precedente. Esse eco é usado se o Visarga (no final da palavra, obviamente) pertencer a uma palavra que esteja no final de uma frase. Mas, se a palavra estiver em outra posição na frase, o eco não é pronunciado. Essa vogal dura 1/2 mātrā. Aqui podemos vê-lo unido a um "a".
Pronunciando as primeiras 25 consoantes Sânscritas
Consoantes
Primeiro Grupo
Gutural
Caracteres originais Transliteração Informação
ka É uma letra surda não-aspirada. Ou seja, essa letra não produz ressonância (surda), e não requer nenhuma exalação (não-aspirada) para ser pronunciada. É similar ao som de "c" (como na palavra "casa") em português, recordando sempre que o "a" é pronunciado como se fosse pronunciar um "o" (ver acima).
kha É uma letra surda aspirada. Ou seja, essa letra não produz ressonância (surda), mas necessita de uma breve exalação (aspirada) para ser pronunciada. É como o "k", mas com uma exalação de ar.
ga É uma letra sonora não-aspirada. Ou seja, essa letra produz ressonância (sonora), mas não precisa de exalação (não-aspirada) para ser pronunciada. É como o "g" em "gato".
gha É uma letra sonora aspirada. Ou seja, essa letra produz ressonância (sonora), e necessita de uma exalação (aspirada) para ser pronunciada. É como o "g", mas com uma exalação de ar.
ṅa É uma letra sonora nasal. Soa como o "n" em "ângulo". Todas as letras nasais são sonoras.
Palatal
ca É uma letra surda não-aspirada. Ou seja, essa letra não produz ressonância (surda), e não necessita de exalação (não-aspirada) para ser pronunciada. É como o "tch" em "tchau", mas escreve-se "c", e não "ch". Cuidado!
cha É uma letra surda aspirada. Ou seja, essa letra não produz ressonância (surda), mas requer uma exalação (aspirada) para ser pronunciada. É como o "c", mas com uma exalação de ar. O seu som não é como o de "tch". Cuidado!
ja É uma letra sonora não-aspirada. Ou seja, essa letra produz ressonância (sonora), mas não requer exalação (não-aspirada) para ser pronunciada. É parecido com o "dj" em "adjetivo".
jha É uma letra sonora aspirada. Ou seja, essa letra produz ressonância (sonora), e necessita de exalação (aspirada) para ser pronunciada. É como o "j", mas com uma exalação de ar.
ña É uma letra sonora nasal. O seu som é parecido com "niá", com o som do "i" muito breve. Todas as letras nasais são sonoras.
Cerebral (Cacuminal)
ṭa É uma letra surda não-aspirada. Ou seja, essa letra não produz ressonância (surda), e não necessita de exalação (não-aspirada) para ser pronunciada. É como o "t", mas com a língua levemente enrolada para trás (pressionando o céu da boca).
ṭha É uma letra surda aspirada. Ou seja, essa letra não produz ressonância (surda), mas requer exalação (aspirada) para ser pronunciada. É como o "ṭ", mas com uma exalação de ar.
ḍa É uma letra sonora não-aspirada. Ou seja, essa letra produz ressonância (sonora), mas não necessita de exalação (não-aspirada) para ser pronunciada. É como o "d", mas com um leve enrolamento da língua para trás.
ḍha É uma letra sonora aspirada. Ou seja, essa letra produz ressonância (sonora), e necessita de exalação (aspirada) para ser pronunciada. É como o "ḍ" mas com uma exalação de ar.
ṇa É uma letra sonora nasal. Soa como um "n", mas com um leve enrolamento da língua para trás. Todas as letras nasais são sonoras.
Dental
ta É uma letra surda não-aspirada. Ou seja, essa letra não produz ressonância (surda), e não requer exalação (não-aspirada) para ser pronunciada. É como o "t" in "tempo", com a língua pressionando a parte de trás dos dentes.
tha É uma letra surda aspirada. Ou seja, essa letra não produz ressonância (surda), mas precisa de exalação (aspirada) para ser pronunciada. É como o "t" mas com uma exalação de ar.
da É uma letra sonora não-aspirada. Ou seja, essa letra produz ressonância (sonora), mas não requer exalação (não-aspirada) para ser pronunciada. É como o "d" em "dúvida".
dha É uma letra sonora aspirada. Ou seja, essa letra produz ressonância (sonora), e necessita de exalação (aspirada) para ser pronunciada. É como "d" mas com uma exalação de ar.
na É uma letra sonora nasal. Soa como o "n" em "nome". Todas as letras nasais são sonoras.
Labial
pa É uma letra surda não-aspirada. Ou seja, essa letra não produz ressonância (surda), e não precisa de exalação (não-aspirada) para ser pronunciada. É como o "p" em "pato".
pha É uma letra surda aspirada. Ou seja, essa letra não produz ressonância (surda), mas necessita de exalação (aspirada) para ser pronunciada. É como o "p" mas com uma exalação de ar.
ba É uma letra sonora não-aspirada. Ou seja, essa letra produz ressonância (sonora), mas não precisa de exalação (não-aspirada) para ser pronunciada. É como o "b" em "barco".
bha É uma letra sonora aspirada. Ou seja, essa letra produz ressonância (sonora), e necessita de exalação (aspirada) para ser pronunciada. É como o "b" mas com uma exalação de ar.
ma É uma letra sonora nasal. Soa como o "m" em "macaco". Todas as letras nasais são sonoras.
Mais consoantes
Segundo Grupo
As 4 Semivogais
Caracteres originais Transliteração Informação
ya É uma letra sonora palatal. Seu som é como o "i" em "arraia". Todas as Semivogais são sonoras, ou seja, produzem ressonância.
ra É uma letra sonora cerebral. O "r" é pronunciado como na palavra "pera". É cerebral, pois enrola-se a língua levemente para trás, contra o teto do palato.
la É uma letra sonora dental. Seu som é similar ao do "l" em "lado", mas um pouco mais exagerado, com a língua pressionando a parte de trás dos dentes.
va É uma letra sonora labial. O som do "v" é similar ao do português, mas, às vezes, quando vem seguindo uma consoante, é geralmente pronunciado como "u" por comodidade fonética. Por exemplo: "svāmī" (mestre) pronuncia-se geralmente como "suāmī". Contudo, pode-se pronunciar como "svāmī", e também estará correto.
Terceiro Grupo
Os 3 Sibilantes
śa É uma letra surda palatal. Seu som é como o "ch" em "chá". Todos os Sibilantes são surdos, ou seja, não produzem ressonância.
ṣa É uma letra surda cerebral. Seu som é como o "ś", mas com um leve enrolamento da língua para trás.
sa É uma letra surda dental. O som é como o "s" em "sair".
Quarto Grupo
Sonora Aspirada
ha É uma letra sonora gutural. O som é como o de "rr" em "rato", só que mais suave.

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 Noções de Sandhi ou Combinações

Há algo que complica o Sânscrito, mas que, no entanto, dá-lhe o seu caráter único: as regras de Sandhi ou Combinações. As palavras brutas (por exemplo, as que aparecem no dicionário), como raízes verbais, substantivos, etc. passam por várias transformações antes de entrar numa frase. Mas, na mesma frase, elas têm frequentemente que passar por certas adaptações para que possa-se manter um fluxo fonético harmonioso. Em português, isso não é levado em conta, em geral.

Por exemplo, a expressão "mais ou menos". Vemos aqui que uma consoante surda, "s", aparece junto a uma vogal, "o" (sonora). Assim, não há harmonia fonética, dificultando a pronúncia. Devido a esse incômodo, a língua tenta consertar o problema, geralmente transformando esse "s" final em um "z" (pronunciando "maizoumenos"). Isso é o que geralmente acontece.

Pelo contrário, em Sânscrito, esse incômodo está previsto e é solucionado adaptando-se uma das duas letras (ou a final ou a inicial) ou ambas as letras ao mesmo tempo, de modo que a língua não tenha que fazer nenhuma omissão ou transformação. De acordo com o exemplo dado, se a expressão "mais ou menos" fosse em Sânscrito, poderia ser escrita assim: "maizoumenos" --Eu transformei a consoante surda "s" na consoante sonora "z"--. Agora, há duas letras sonoras, o "z" e o "o". Portanto, não há nenhuma falta incômoda de harmonia fonética. Talvez o exemplo não tenha sido muito satisfatório, mas você certamente me entendeu.

Essa linda característica complica um pouco as coisas, mas confere um enorme fluxo de beleza e harmonia ao Sânscrito, o que é muito dificilmente encontrado em línguas comuns. Essa característica --Sandhi ou Combinações-- torna essa língua muito especial (particularmente para ser utilizada em cantos). Também minimiza a escrita, pois, embora na transliteração essa minimização não pareça ser notável, o será quando alguém escrever em caracteres Sânscritos originais. Obviamente, não especificarei agora todas as regras de Sandhi. Só vou delinear algumas regras, mas você deve entender completamente que, por mais que possam parecer arbitrárias, são baseadas em toda uma ciência por trás da língua.

Vejamos um exemplo de uma típica regra de Sandhi. Existe uma palavra bruta em Sânscrito: "namaḥ" (derivada de "namas" no dicionário), que significa "saudação", entre outras coisas. Suponha que se queira escrever "Saudação ao Auspicioso"; então tem-se que adicionar "śivāya" (ao Auspicioso). Agora, eu junto os dois termos:

Namaḥ śivāya (nesse caso, não houve mudança, pois o Visarga "ḥ" final é surdo --não ressoa-- assim como o "ś" inicial. Portanto, não há falta de harmonia fonética).

Mas agora suponha que alguém queira escrever "Saudação a Deus"; então, ele teria que adicionar a palavra "devāya" (a Deus). Bem, meramente juntarei os dois termos:

Namaḥ devāya (mas há uma falta de harmonia fonética, pois o Visarga "ḥ" final é surdo, enquanto o "d" inicial de "devāya" é sonoro).

Como as Regras de Sandhi resolvem esse problema? Elas dizem que, nesse caso em particular, deve-se mudar a terminação "aḥ" de "namaḥ" para "o" (vogal sonora). É claro, o processo para se chegar a esse "o" é mais complexo --veja Combinação (4) na seção Sânscrito--:

Namo devāya (e agora, não há falta de harmonia fonética, pois ambos o "o" e o "d" são letras sonoras).

É claro, a mudança de letras não é sempre tão clara e simples, pois existem casos em que, mesmo que não haja problema fonético aparente, deve-se usar as Regras de Sandhi para facilitar ainda mais a pronúncia. Por exemplo, --Vou usar novamente "namaḥ" (você certamente notou que, quando "namaḥ" aparece sozinho, eu uso um acento, mas eu não o faço quando "namaḥ" está em uma frase. Bem, os acentos não são geralmente usados em Sânscrito Clássico. Eu somente os uso em palavras que aparecem sozinhas para ajudá-lo a pronunciar corretamente)-- suponha que alguém quisesse escrever "Saudação a você"; então ele teria que adicionar a palavra "te" (para você). Agora, eu junto os dois termos:

Namaḥ te (o Sandhi aparentemente não é necessário, pois o Visarga "ḥ" final é surdo, assim como o "t" inicial).

Entretanto, a terminação "aḥ" deve ser mudada para "as". Então, a frase completamente terminada é:

Namas te ("s" também é surdo, assim como "t").

Talvez você imagine, por que alguém faria isso? Bem, além de melhorar de certa forma a harmonia fonética, essa mudança minimiza a escrita, pois posso juntar as duas palavras:

Namaste

Talvez, a minimização não seja notável na transliteração, mas o é quando alguém escreve em caracteres Sânscritos. Observe:

Namaḥ te
नमः ते

Namaste
नमस्ते

Agora, você pode ver a dita minimização. Você pode dizer: "é só um pouco", mas eu te asseguro que, em um texto longo, essa economia de espaço certamente faz diferença. Além disso, a frase fica mais compacta.

Espero que você tenha percebido a grandiosidade e a beleza dessa língua sagrada por meio desses exemplos simples.

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 Noções gramaticais

Certamente, a gramática do Sânscrito é extensa e elaborada. É lindamente entrelaçada com a filosofia, e ambas formam um coerente e perfeito "todo". Obviamente, eu não posso me aprofundar muito nesta página simples, mas vou mostrar-lhe exemplos sobre dois assuntos principais: VERBOS E SUBSTANTIVOS.

VERBOS: A primeira coisa a ser dita é que, no dicionário, os verbos aparecem como raízes verbais. Essas raízes verbais nunca aparecem numa frase em sua "forma de dicionário"; em vez disso, precisam passar por uma transformação claramente definida. Antes de ser usada (conjugada) numa frase, uma raiz verbal precisa primeiramente ser transformada em uma base verbal, e então estará pronta para ser conjugada. A raiz por si só não é geralmente capaz de receber as terminações usadas na conjugação, portanto deve primeiro ser transformada em uma base verbal. Isso é bastante simples de se entender.
Contudo, o assunto fica só um pouco complicado, pois as raízes são agrupadas em dez Casas (gaṇa-s) que afetam só os Tempos Presente e Imperfeito, bem como os Modos Potencial (também conhecido como Optativo) e Imperativo. Cada uma das dez Casas tem um conjunto preciso de regras para formar as bases verbais. Felizmente, as dez Casas podem ser ainda divididas em duas grandes seções: Imutáveis (deve-se adicionar um "a" para formar a base) e Mutáveis (não se adiciona um "a" para formar a base). Claro, esse tópico é muito profundo e muito mais extenso; Só vou-lhe dar uma primeira impressão sobre ele (vá para a seção Verbos para mais informação).

Explicarei aqui somente as raízes com bases imutáveis, que reúnem 4 Casas: 1a, 4a, 6a e 10a. Todas elas devem incluir um "a" para serem conjugadas. E, entre essas Casas, analisarei unicamente a Casa 1. Antes de prosseguir, é necessário saber o que é a "substituição Guṇa". Pela palavra "Guṇa", não me refiro às conhecidas qualidades de Sattva --bondade--, Rajas --paixão-- e Tamas --escuridão-- (como são definidas no sistema filosófico do Sāṅkhya-yoga), mas sim aos Graus de Alternância Vocálica (que termo longo!). Em suma, estamos falando muito sutilmente. Os Graus de Alternância Vocálica são os seguintes:

Graus de Alternância Vocálica
Tipo Vogais
GRAU FRACO (vogais simples) a i-ī u-ū ṛ-ṝ
GRAU FORTE (Guṇa) a e o ar al
GRAU ALONGADO (Vṛddhi) ā ai au ār āl

Por exemplo, o grau forte ou Guṇa para as vogais "i" e "ī" é a vogal "e"; enquanto o grau alongado ou Vṛddhi é "ai". Para se obter os graus forte e alongado, deve-se simplesmente adicionar um "a" às vogais simples (grau fraco). A letra "a" é a primeira e representa a Mais Alta Realidade. Consequentemente, é lógico que outra vogal se torne forte quando um "a" lhe é adicionado. As regras de Sandhi ou Combinação que são usadas para construir o grau forte são muito simples: (a + i/ī = e); (a + u/ū = o); (a + ṛ/ṝ = ar); (a + ḷ = al).
Por sua vez, para construir o grau alongado ou Vṛddhi, deve-se simplesmente adicionar outro "a" ao grau forte ou Guṇa. As regras de Sandhi ou Combinação que são utilizadas para construir o grau alongado também são muito simples: (a + a = ā); (a + e = ai); (a + o = au); (a + ar = ār); (a + al = āl).

E, talvez, você esteja se perguntando: qual é o objetivo de se aprender Guṇa, etc.?

Boa pergunta. A resposta é simples: para que uma raiz verbal seja transformada em uma base verbal, você precisará conhecer indispensavelmente os Graus de Alternância Vocálica. E, agora, darei a você um exemplo, usando somente uma raiz verbal da Casa 1.

Existem duas regras para formar uma base verbal nesta Casa 1:

  1. Se a penúltima letra da raiz verbal for uma vogal curta (a, i, u, ṛ, ḷ), é necessário substituí-la pelo seu Guṇa (grau forte), ou seja, "a, e, o, ar e al" devem substituir "a, i, u, ṛ e ḷ", respectivamente. Deve ser notado que "a" continua o mesmo, sem nenhuma mudança.
  2. Se a última letra da raiz verbal for uma vogal (curta ou longa), é necessário substituí-la pelo seu Guṇa (grau forte).

Agora, tendo completamente entendido as regras acima, estudarei atentamente como construir a base verbal de uma bem-conhecida raiz: "bhū" (ser, tornar-se):

भू
Já que essa raiz "bhū" tem uma vogal longa no final, deve-se aplicar a regra 2 (pertencente a essa Casa). Então, a base verbal é "bho", pois "o" é o Guṇa ou grau forte de "ū". Foi relativamente fácil.

Vamos continuar com a conjugação: Agora que já temos a base verbal, suponha que queiramos conjugá-la na 3a pessoa do singular--"ele, ela ou isto é" ou "ele, ela ou isto se torna"--. Como essa raiz pertence à Casa 1, que, por sua vez, pertence ao grupo em que se deve adicionar um "a" para formar a base (Casas 1, 4, 6 e 10, respectivamente), tenho que adicionar um "a". Então:

base verbal + "a" = base verbal composta
bho + a = bhoa

Mas o encontro vocálico "oa" não pode existir, já que é proibido por uma regra de Sandhi ou Combinações. Então, "o" terá que ser substituído por alguma outra coisa. As mesmas regras de Sandhi ou Combinações dão a solução; elas dizem que:

Já que "o" é, na verdade, "a + u", e "u" pode ser mudado para a semivogal "v", pode-se escrever "av" em vez de "o".

E, fazendo isso agora, "bhoa" transforma-se em "bhava". Essa é uma base verbal "composta"... sim, acho que podemos chamá-la assim.

Por último, tenho que adicionar a terminação apropriada para a 3a pessoa do singular. A desinência ou terminação é "ti"; então, a conjugação completa é:

bhavati

Ele, ela ou isto é
Ele, ela ou isto se torna

Note que usei um acento, embora não seja geralmente usado em uma frase. Acentuo palavras sozinhas para meramente ensinar-lhe a acentuação correta.

Eu sei muito bem que você deve estar se perguntando muitas coisas, e também sei que você terá muitas dúvidas nesse momento, já que muitas coisas parecem ser extremamente arbitrárias. Contudo, você precisa entender que, nesta página introdutória, eu não posso dar um curso nem sequer elementar de gramática do Sânscrito. Tudo o que acabou de ser explicado por mim foi só um pequeno exemplo de o quão elaborada e polida é a gramática do Sânscrito quando se trata de verbos. O Sânscrito é uma língua plenamente adulta, refinada e altamente técnica (nada ao acaso); e, da mesma forma que o XHTML que usei para escrever esta página, devem ser seguidas regras precisas para a construção correta de conjugações, frases, etc. em Sânscrito. Em suma, essa língua é bastante consistente, formando em si um tipo de organismo vivo em completa harmonia e ordem para poder seguir funcionando.

SUBSTANTIVOS: Eles também possuem muitas características interessantes e elaboradas. Contrariamente ao que acontece em português, palavras como a, até, de, desde, com, etc. não são geralmente utilizadas em Sânscrito; em vez disso, deve-se modificar o final do substantivo (ou adjetivo) para adicionar essas palavras. Isso é denominado Declinação. Podemos dizer que há dois grupos gerais de substantivos:

  1. Os terminados em vogal.
  2. Os terminados em consoante.

Obviamente, há um conjunto de terminações para cada grupo de substantivos. De fato, já que estão envolvidas várias consoantes e vogais, eu poderia até dizer que existem tantos conjuntos de terminações quanto há vogais e consoantes finais. Há, por exemplo, um conjunto de terminações para substantivos terminados em "a", outro para os terminados em "ṛ", outro para os terminados em "in", etc. Poderia-se dizer: é uma loucura ter que decorar todas essas terminações. Mas algo vem em nosso auxílio:

Poderia-se dizer que o conjunto de desinências (terminações) utilizadas para os substantivos terminados em consoantes é um tipo de padrão para todos os outros conjuntos de desinências ou terminações.

Bem, não falarei mais sobre esse assunto, pois envolve mais conhecimento. Só explicarei os substantivos mais comuns:

Substantivos terminados em "a" (somente os masculinos)

Primeiro, devo-lhe informar que, além dos números Singular e Plural, o número Dual também é usado em Sânscrito. O esquema é assim: o Singular denota "um", o Dual denota "dois" e o Plural denota "três ou mais".

Como eu já lhe disse anteriormente, preposições como "a", "até", "de", etc. geralmente não são usadas em Sânscrito, mas sim utiliza-se a declinação (transforma-se a parte final de um substantivo ou adjetivo) para produzir as ditas preposições. Existem oito Casos (em cada número --Singular, Dual e Plural--, é claro), que você possivelmente já conhece:

Os oito casos
Casos Significado
Nominativo "Nomeia"; ou seja, quando o substantivo (ou adjetivo) é declinado nesse Caso, é apenas nomeado e ocupa a posição de sujeito na frase. Por exemplo: "o homem come".
Acusativo Adiciona "a/em direção a"; ou seja, quando o substantivo (ou adjetivo) é declinado nesse Caso, ocupa a posição de Objeto Direto. Por exemplo: "comem o homem".
Instrumental Adiciona "por/através de/por meio de/com"; ou seja, quando o substantivo (ou adjetivo) é declinado nesse Caso, aparece como um "instrumento" do verbo. Por exemplo: "eles crescem por meio do homem"
Dativo Adiciona "para"; ou seja, quando o substantivo (ou adjetivo) é declinado nesse Caso, ocupa a posição de Objeto Indireto. Por exemplo: "damos comida ao homem". Nesse caso, "o homem" é o Objeto Indireto, e "comida" é o Objeto Direto do verbo.
Ablativo Adiciona "desde/por causa de/devido a"; ou seja, quando o substantivo (ou adjetivo) é declinado nesse Caso, indica origem ou então um instrumento. Por exemplo: "eles vêm do homem", ou também, "do homem tudo é gerado".
Genitivo Adiciona "de"; ou seja, quando o substantivo (ou adjetivo) é declinado nesse Caso, dá um sentido de pertinência (possessão). Por exemplo: "o cavalo do homem".
Locativo Adiciona "em"; ou seja, quando o substantivo (ou adjetivo) é declinado nesse Caso, dá um sentido de lugar. Por exemplo: "as virtudes residem no homem".
Vocativo Adiciona "oh!/eh!/ei!"; ou seja, quando o substantivo (ou adjetivo) é declinado nesse Caso, dá um sentido de invocação ou chamada. Por exemplo: "Oh, homem, acorde!", ou também "ei, homem, venha mais perto!"

A tabela simples de terminações para substantivos masculinos terminados em "a" é a seguinte:

Terminações para substantivos terminados na vogal "a"
Casos Singular Dual Plural
Nominativo aḥ au āḥ
Acusativo am au ān
Instrumental ena ābhyām aiḥ
Dativo āya ābhyām ebhyaḥ
Ablativo āt ābhyām ebhyaḥ
Genitivo asya ayoḥ ānām
Locativo e ayoḥ eṣu
Vocativo a au āḥ

Vejamos agora um exemplo real, utilizando a palavra "Śiva" ("Auspicioso"; um epíteto para o Ser Supremo)

Declinando um substantivo terminado na vogal "a"
Casos Singular Dual Plural
Nominativo śivaḥ śivau śivāḥ
Acusativo śivam śivau śivān
Instrumental śivena śivābhyām śivaiḥ
Dativo śivāya śivābhyām śivebhyaḥ
Ablativo śivāt śivābhyām śivebhyaḥ
Genitivo śivasya śivayoḥ śivānām
Locativo śive śivayoḥ śiveṣu
Vocativo śiva śivau śivāḥ

E agora, só em caso de você ter se perdido no meio de tantas palavras, vou colocar mais uma tabela com as possíveis traduções de todas essas declinações para o substantivo "Śiva".

Tradução
Casos Singular Dual Plural
Nominativo o Auspicioso os dois Auspiciosos os Auspiciosos (3 ou mais)
Acusativo ao Auspicioso aos dois Auspiciosos aos Auspiciosos (3 ou mais)
Instrumental por/através de/por meio de/com o Auspicioso por/através de/por meio de/com os dois Auspiciosos por/através de/por meio de/com os Auspiciosos (3 ou mais)
Dativo para o Auspicioso para os dois Auspiciosos para os Auspiciosos (3 ou mais)
Ablativo de/por causa de/devido a o Auspicioso de/por causa de/devido a os dois Auspiciosos de/por causa de/devido a os Auspiciosos (3 ou mais)
Genitivo do Auspicioso dos dois Auspiciosos dos Auspiciosos (3 ou mais)
Locativo no Auspicioso nos dois Auspiciosos nos Auspiciosos (3 ou mais)
Vocativo Oh, Auspicioso!/eh, Auspicioso! Oh, dois Auspiciosos!/eh, dois Auspiciosos! Oh, Auspiciosos (3 ou mais)!/eh, Auspiciosos (3 ou mais)!

Como você pode ver, é muito simples, pois esses esquemas também funcionam completamente para o resto dos substantivos terminados em vogal (além de "a") e para todos os terminados em consoante. Somente as terminações serão mudadas. Bem, e agora, um exemplo simples que mostra simultaneamente os substantivos e os verbos em ação. Suponha que eu queira dizer:

o Auspicioso come

Aqui tenho um substantivo (Auspicioso) que está no caso Nominativo (o Auspicioso), e o verbo "comer" conjugado na 3a pessoa do singular do Tempo Presente. Dou uma olhada no dicionário e encontro que a raiz verbal para "comer" é "khād", e que pertence à Casa 1 (lembre-se que há 10 Casas). As regras da Casa 1 afirmam o seguinte:

  1. Se a penúltima letra da raiz verbal for uma vogal curta (a, i, u, ṛ, ḷ), é necessário substituí-la pelo seu Guṇa (grau forte), ou seja, "a, e, o, ar e al" devem substituir "a, i, u, ṛ and ḷ", respectivamente. Deve ser notado que "a" continua o mesmo, sem nenhuma mudança.
  2. Se a última letra da raiz verbal for uma vogal (curta ou longa), é necessário substituí-la pelo seu Guṇa (grau forte).

A raiz "khād" (comer) não satisfaz a regra 1, pois a sua vogal é a penúltima letra, mas é longa; e, é claro, também não satisfaz a regra 2. Portanto, a raiz verbal não precisa ser modificada e já pode funcionar como uma base verbal. Por sua vez, já que a Casa 1 é uma das quatro Casas com bases imutáveis (Casas 1, 4, 6 e 10), é necessário adicionar um "a" à base. Então, a base verbal composta é "khāda". Por último, adiciono a terminação para a 3a pessoa do singular do Tempo Presente; essa terminação é "ti". Então, o verbo corretamente conjugado fica assim:

khādati ("ele/ela come"; mas nesse caso será traduzido como "ele come" pois estamos nos referindo ao Śiva, "Auspicioso")

Por sua vez, o substantivo "Śiva" (Auspicioso) deve ser declinado no Caso Nominativo (como sujeito do verbo "comer"). Dou uma olhada na tabela acima e, então, escrevo:

Śivaḥ (o Auspicioso)

Agora, simplesmente junto o substantivo e o verbo:

Śivaḥ khādati (o Auspicioso come)

Não é necessário modificar a união entre as duas palavras por meio das regras de Sandhi ou Combinações, pois o Visarga ("ḥ") final é uma letra surda, assim como o "kha" inicial.

Vamos fazer algo mais complexo. Vamos traduzir para o Sânscrito a frase:

O Auspicioso vive no homem

"O Auspicioso" é, como eu já expliquei, o Caso Nominativo de "Śiva". Portanto:

Śivaḥ (o Auspicioso)

A raiz verbal para "residir, viver, habitar" é "vas" (que pertence à Casa 1 e, como você pode ver, satisfaz a primeira regra dada anteriormente para transformar a raiz verbal em uma base verbal). Mas o Guṇa de "a" é o mesmo "a". Logo, raiz verbal = base verbal. Então, adiciono-lhe um "a" (porque "vas" é uma raiz com base imutável), e, por último, a desinência "ti" (3a pessoa do singular do Tempo Presente). Então:

vasati ("ele/ela/isto vive, reside, habita"; mas, nesse caso, "ele vive, reside, habita")

E, finalmente, o substantivo "homem" (nara) deve ser declinado no Caso Locativo. Portanto, eu devo adicionar a terminação correspondente (que substituirá o "a final") a "nara". Assim:

nare (no homem)

Agora, simplesmente junto tudo:

Śivaḥ vasati nare (o Auspicioso vive no homem)

Olhe, o Visarga (ḥ) de Śivaḥ é uma letra surda, enquanto o "v" inicial de "vasati" é uma letra sonora. Portanto, há uma falta de harmonia fonética. Para corrigi-la, uso uma regra simples de Sandhi ou Combinações que você terá de aceitar arbitrariamente, pois não posso explicá-la agora. Essa regra afirma que "aḥ" deve ser mudado para "o" (letra sonora). Então, a frase completamente montada e foneticamente harmoniosa será:

Śivo vasati nare (o Auspicioso vive no homem)

शिवो वसति नरे

E um último comentário: essa frase está escrita corretamente, mas o verbo é geralmente posto no final da frase. Assim:

Śivo nare vasati ("o Auspicioso no homem vive"; deve ser notado que a regra anterior de Sandhi ou Combinações continua a ser funcional, pois o "n" de "nare" também é uma letra sonora, assim como o "v" de "vasati")

शिवो नरे वसति

Essa frase também pode ser mudada para:

Nare śivo vasati (no homem, o Auspicioso vive)

नरे शिवो वसति

Muito bem, isso é tudo por enquanto. Eu espero que você tenha percebido o quão maravilhosa é essa língua; se você conseguiu perceber, provavelmente entendeu que a sabedoria --escondida nela e as filosofias também apoiadas por ela-- também têm que ser uma maravilha. E esse é o meu objetivo: disseminar essa sabedoria tanto quanto possível, pois ela pode iluminar a sua vida. Consequentemente, o meu propósito não é meramente transformá-lo em um gramático, mas sim em uma pessoa sábia. E, agora, algumas citações extraídas de Escrituras muito famosas. Essas citações vão lhe mostrar graciosamente todo o processo de tradução que foi feito diretamente a partir dos caracteres Sânscritos originais. Esse é o meu presente para você.

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 Citações Sânscritas

... तत्तत्सङ्कुचितवेद्याभासात्मनो ज्ञानस्यापूर्णोऽस्मि क्षामः स्थूलो वास्म्यग्निष्टोमयाज्यस्मि...

... tattatsaṅkucitavedyābhāsātmano jñānasyāpūrṇo'smi kṣāmaḥ sthūlo vāsmyagniṣṭomayājyasmi...

... (Ela é a Mãe) do conhecimento (jñānasya) cuja natureza (ātmanaḥ) (é) um brilho (ābhāsa) de várias (tad tad) cognições (vedyā) contraídas (saṅkucita). (Esse conhecimento limitado ou cognição aparece na forma de) "Eu sou (asmi) imperfeito (apūrṇaḥ)", "Eu sou (asmi) magro (kṣāmaḥ)" ou (vā) "Eu sou (asmi) gordo (sthūlaḥ)", "Eu sou (asmi) um realizador (yājī) do sacrifício Agniṣṭoma (agniṣṭoma)"...

Śivasūtravimarśinī, comentário de Kṣemarāja ao 4o aforismo dos Śivasūtra-s

Note que, quando combinadas em uma frase, as palavras ficam um tanto diferentes em comparação às suas formas individuais. Esse é um exemplo de como usar as regras de Sandhi ou Combinação.

Esse é um extrato do comentário pelo sábio Kṣemarāja (século décimo d.C.) sobre o 4o aforismo da principal escritura do Trika, denominada "Śivasūtra-s" (Os aforismos do Auspicioso). Como eu já lhe disse antes, essa filosofia (Trika ou Shaivismo Não-dual da Caxemira) é a minha especialidade. Aqui, Kṣemarāja fala de uma força ou poder mal-compreendido, que ele chama de "a Mãe do conhecimento". Essa Mãe é a progenitora de todas as letras que compõem as várias línguas. Como essa Mãe não é completamente compreendida, dá origem a uma grande quantidade de noções, que permanecem ocultas por trás de diversas frases que afetam diretamente a vida de cada ser humano. O autor dá três exemplos que mostram três limitações básicas de cada pessoa.

A primeira limitação é mostrada pela frase "Eu sou imperfeito". Acompanhados por essa noção representada pela frase anterior, vivemos toda a nossa vida com um sentimento de não-plenitude, sempre procurando essa perfeição em algo externo. Essa é a tragédia.

A segunda é mostrada pela frase "Eu sou magro ou gordo". Acompanhados por essa noção representada pela frase anterior (esse exemplo foi usado, mas poderíamos usar qualquer outro exemplo de diferença, "Eu sou branco ou negro ou amarelo", etc.), diferenciamos ambas as pessoas e as coisas entre si, e, ao mesmo tempo, consideramo-nos diferentes dessas pessoas ou coisas. Dessa diferenciação só deriva dor.

A terceira limitação é mostrada pela frase "Eu sou um realizador do sacrifício Agniṣṭoma". Lembremo-nos que o autor é um homem indiano do século X. O sacrifício Agniṣṭoma, sem entrar em detalhes, é um ritual muito conhecido na Índia, que envolve fogo. Se ocidentalizarmos esse exemplo, poderíamos dizer: "Sou o construtor desta ponte". Qualquer que seja o exemplo, o objetivo é mostrar como somos profundamente apegados às ações, constantemente nos considerando os seus autores, e colhendo o fruto correspondente (bom ou ruim).

E agora, vamos estudar o segundo aforismo dos Yogasūtra-s (os Aforismos do Yoga), do sábio Patañjali:

योगश्चित्तवृत्तिनिरोधः॥२॥

Yogaścittavrittinirodhaḥ||2||

Yoga (yogaḥ) é a supressão (nirodhaḥ) das modificações (vṛtti) da mente (citta).

Yogasūtra-s de Patañjali, 2o aforismo, Livro 1

Aqui, Patañjali define claramente o Yoga, segundo a sua própria interpretação. Há alguma controvérsia sobre a palavra "nirodhaḥ" (supressão), às vezes traduzida como "apaziguamento". Em suma, apesar dessas diferenças, Patañjali nos diz que o Yoga ou União real surge quando todas as modificações da mente (cinco, no total) são suprimidas ou apaziguadas. Nesse silêncio interno, a Verdade é revelada.

E, agora, um aforismo de uma Escritura bastante conhecida que lida com o Haṭhayoga. O sábio Svātmārāma diz, bem no começo:

अथ हठयोगप्रदीपिका।
श्रीआदिनाथाय नमोऽस्तु तस्मै येनोपदिष्टा हठयोगविद्या।
विभ्राजते प्रोन्नतराजयोगमारोढुमिच्छोरधिरोहिणीव॥१॥

Atha haṭhayogapradīpikā|
Śrīādināthāya namo'stu tasmai yenopadiṣṭā haṭhayogavidyā|
Vibhrājate pronnatarājayogamāroḍhumicchoradhirohiṇīva||1||

E agora (atha), (a escritura) que lança luz (pradīpikā) sobre o Haṭhayoga (haṭhayoga) (começa): Saudação(ões) (namas astu) àquele (tasmai) venerável (śrī) Senhor (nāthāya) Primordial (ādi) pelo qual (yena) foi ensinada (upadiṣṭā) a ciência do Haṭhayoga (haṭhayoga-vidyā) que brilha (vibhrājate) na forma (iva) de uma escada (adhirohiṇī) para o desejoso (icchoḥ) de ascender (āroḍhum) ao superior (pronnata) Rājayoga --lit. "Yoga Real"-- (rājayogam)||1||

Haṭhayogapradīpikā, 1o aforismo, Capítulo 1

Svātmārāma claramente afirma que a ciência do Haṭhayoga (que consiste em posturas, respirações, ações purificadoras, etc.) é uma escada que leva por último ao Rājayoga (Yoga Real). O Yoga Real é o Yoga de Patañjali (apesar de atualmente haver outros sistemas baseados no Rājayoga que são um tanto diferentes do de Patañjali). Em poucas palavras, por meio de posturas, respirações, selos, ações purificadoras, etc. prepara-se para subir a uma etapa mais alta de Yoga conhecida como Rājayoga. Então, o objetivo do Haṭhayoga não é meramente tornar o corpo ágil ou magro, mas sim preparar-nos para suportar o tremendo impacto do Yoga Real, que é cheio de revelações divinas. Esse é o propósito do Haṭhayoga que é ensinado tradicionalmente. Hoje em dia, muitos professores de Haṭhayoga parecem tê-lo esquecido. Eles ensinam essa antiga ciência como um mero meio de lutar contra o estresse, a gordura, etc. É verdade que se possam obter esses efeitos colaterais pela prática do Haṭhayoga, mas esse não é o verdadeiro objetivo. O propósito principal é ser uma escada para o ser humano atingir as alturas do Yoga Real. Em suma, o verdadeiro propósito é chegar à Paz Suprema.

E agora, vamos dar uma olhadela em uma antiga Escritura conhecida como Gurugītā (Canção sobre o Guru):

गुरुर्बुद्ध्यात्मनो नान्यत् सत्यं सत्यं न संशयः।
तल्लाभार्थं प्रयत्नस्तु कर्तव्यो हि मनीषिभिः॥९॥

Gururbuddhyātmano nānyat satyaṁ satyaṁ na saṁśayaḥ|
Tallābhārthaṁ prayatnastu kartavyo hi manīṣibhiḥ||9||

O Guru (guru) não é (na) outro (anyat) senão o ser --ātmā-- (ātmanaḥ) consciente (buddhi). (Essa é) a verdade (satyam), (essa é) a verdade (satyam), não (há) (na) dúvida (saṁśayaḥ). Para (artham) obter (lābha) Isso --o Ser consciente-- (tad), um esforço (prayatnaḥ) deve ser feito (tu kartavyaḥ) pelo sábio (manīṣibhiḥ), sem dúvida (hi) --em suma, o sábio deve fazer um esforço para obter o Ser consciente--||9||

Gurugītā, 9o aforismo

Segundo esse antigo conhecimento, o Ser Supremo realiza cinco funções:

Manifestação (sṛṣṭi), Manutenção (sthiti), Dissolução (pralaya), Ocultação (tirodhāna) e Revelação (anugraha). As três primeiras são funções cósmicas que se manifestam dentro e fora do homem. Por exemplo, manifestam-se vários fenômenos climáticos, duram um tempo e finalmente desaparecem. Do mesmo modo, diferentes processos emocionais se manifestam dentro do homem, mantêm-se por um tempo e depois desaparecem. Contudo, os dois últimos (Ocultação e Revelação) são funções internas. A função chamada de Revelação também é conhecida como "Guru". Ocultação de quê? Revelação de quê? Você deve imaginar. A ocultação da sua natureza essencial e a revelação da sua natureza essencial. A ignorância oculta de você a sua alma imortal, e consequentemente o faz buscá-la fora; enquanto que o Guru revela a sua alma imortal a você, e como resultado você é preenchido de felicidade.

Entretanto, o Guru não é uma forma física, mas sim um Princípio Cósmico que pode ou não operar por meio de um ser humano. Se você entender essa Verdade sobre o Guru, creio que isso já deve ser o suficiente para você.

Agora, termino esta página, pois não quero que fique muito longa... sim, foi uma brincadeira, hehe.

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 Informação adicional

Gabriel Pradīpaka

Este documento foi concebido por Gabriel Pradīpaka, um dos dois fundadores deste site, e guru espiritual versado em idioma Sânscrito e filosofia Trika.

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