Sanskrit & Trika Shaivism (English-Home)

O Javascript está desativado! Cheque este link!


 O Paramārthasāra (Paramarthasara) de Abhinavagupta: Estrofes 67 a 70 - Shaivismo Não-dual da Caxemira

Tradução normal


 Introdução

O Paramārthasāra continua com mais quatro estrofes. Esse é o décimo sétimo conjunto de estrofes, que é composto de 4 das 105 estrofes que constituem a obra como um todo.

Obviamente, também inserirei as estrofes originais sobre as quais Yogarāja está comentando. Escreverei várias notas para que esse livro fique tão compreensível quanto possível.

O Sânscrito de Yogarāja estará em verde escuro, enquanto as estrofes originais de Abhinavagupta serão exibidas em vermelho escuro. Por sua vez, dentro da transliteração, as estrofes originais estarão em marrom, enquanto os comentários de Yogarāja serão mostrados em preto. Além disso, dentro da tradução, as estrofes originais de Abhinavagupta, isto é, o Paramārthasāra, estarão nas cores verde e preto, enquanto o comentário de Yogarāja conterá palavras tanto em preto quanto em vermelho.

Leia o Paramārthasāra e experimente Supremo Ānanda ou Divina Alegria, querido Śiva.

Importante: Tudo o que está entre parênteses e em itálico dentro da tradução foi agregado por mim para completar o sentido de uma determinada frase ou oração. Por sua vez, tudo o que está dentro de um duplo hífen (-- ... --) constitui informação esclarecedora adicional também agregada por mim.


Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.


Ao início


 Estrofe 67

एवं स्वात्मप्रत्यवमर्शोपपत्त्या ज्ञानिना विगलितकर्मफलाभिलाषेण कृतमपि कर्म न फलाय — इत्यावेदयन्स्वानुभवसिद्धं लोकदृष्टान्तमाह


इति युक्तिभिरपि सिद्धं यत्कर्म ज्ञानिनो न सफलं तत्।
न ममेदमपि तु तस्येति दार्ढ्यतो नहि फलं लोके॥६७॥


अहमेव चिद्घनः स्वतन्त्रः सर्वप्रमात्रन्तरतमत्वेन सर्वकर्मकारी नाहं वा कर्ता पारमेश्वरी स्वातन्त्र्यशक्तिरित्थं करोति — इति मम शुद्धचैतन्यरूपस्यैतावता किमायातम् — इति युक्तिभिः प्राक्प्रतिपादितस्वरूपाभिरुपपत्तिभिर्व्याख्यातस्वात्मस्वरूपविदः प्रमातुरुभयथा देहाद्यहम्भावाभावाद्धेयोपादेयशून्यत्वेन यत्सिद्धं कर्म निष्पन्नमपि कृतं न सफलं न तत्फलेन युज्यते तस्यात्मज्ञानिनः प्रतिपादितवदुभयथा कृत्रिमत्वाभावात्कृतमपि कर्म कुत्र फलेन योगं कुर्याद्देहादिप्रमातृताभिमानस्वभावाश्रयाभावान्न कुत्रचित् — इति यावत्। कृतस्य कर्मणो या प्रमातुः फलाभिमानरूढिरेष एवाश्रयो ज्ञानिनस्त्वभिमानाभावात्स्वस्मिन्रूप एव प्रक्षीणं कर्म न फलेन सम्बध्यते — इति। नन्वभिमानादेव कर्म फलेन युज्यते — इति कुत्र यथा — इत्याह न ममेदमपि इत्यादि। दृष्टं चैतन्नापूर्वं यथा न ममेदं यज्ञादिकं कर्म अपि तु तस्य कस्याप्यर्थवतो यजमानस्य इति अनया बुद्ध्या कृतमपि यज्ञादिकं कर्म लोके मूल्यार्थितया फलाभिमानाभावान्न यतस्तत्कर्म पारलौकिकेन फलेन युक्तं कल्पते। तथा हि — यजन्ति याजका यजते यजमान इति न्यायेन यजतामृत्विजां यज्ञकर्म स्वयं कृतवतामपीदमश्वमेधादिकं यज्ञकर्म नास्माकं किञ्चिदपि तु दीक्षितस्य पुण्यवतो वयं किलेह यज्ञकर्माणि नियमितमूल्यमात्रार्थिनोऽत्र न केचनैव यजमानः पुनरमुना कर्मणा स्वर्गादिफलभागपीति तेषां कर्मफलाभिमानाभावान्न स्वयं कृतमपि कर्म तदीयेन स्वर्गादिना फलेन युज्यते यजमानस्तु तत्र यज्ञकर्म स्वयमकुर्वाण ऋत्विङ्निर्वर्त्यकर्ममुखप्रेक्ष्यपि ममेदमश्वमेधादिकं यज्ञकर्म मदीयेन धनेनाम्यृत्विजः कर्मणि प्रवृत्ता इति ममैव स्वर्गादिफलं देहपातादवश्यं भावि — इत्यकुर्वाणस्यापि यथा समीहितकर्मफलाभिमानदार्ढ्यात्तत्तस्य कर्म फलेन युज्यते। अत एव कर्त्रभिप्राये क्रियाफल इति दीक्षितात्कर्तुर्यजते यजमान इत्यात्मनेपदं कर्त्रनभिप्राये तु परस्मैपदं यजन्ति याजका इति। इयान्महिमा दुर्लङ्घ्यो विकल्पस्वातन्त्र्यस्य — यत्स्वयं कृतमपि कर्म फलाभिमानाभावात्तत्फलेन न युज्यतेऽन्यैः कृतमपि कर्म ममेदमित्यभिमानदार्ढ्यात्फलयुक्तं स्यात्तस्मादृत्विग्व्यापारवत्क्रियमाणं योगिना कर्म फलाभिमानाभावान्न तत्सफलं भवेत् — इति॥६७॥

Evaṁ svātmapratyavamarśopapattyā jñāninā vigalitakarmaphalābhilāṣeṇa kṛtamapi karma na phalāya — Ityāvedayansvānubhavasiddhaṁ lokadṛṣṭāntamāha


Iti yuktibhirapi siddhaṁ yatkarma jñānino na saphalaṁ tat|
Na mamedamapi tu tasyeti dārḍhyato nahi phalaṁ loke||67||


Ahameva cidghanaḥ svatantraḥ sarvapramātrantaratamatvena sarvakarmakārī nāhaṁ vā kartā pārameśvarī svātantryaśaktiritthaṁ karoti — Iti mama śuddhacaitanyarūpasyaitāvatā kimāyātam — Iti yuktibhiḥ prākpratipāditasvarūpābhirupapattibhirvyākhyātasvātmasvarūpavidaḥ pramāturubhayathā dehādyahambhāvābhāvāddheyopādeyaśūnyatvena yatsiddhaṁ karma niṣpannamapi kṛtaṁ na saphalaṁ na tatphalena yujyate tasyātmajñāninaḥ pratipāditavadubhayathā kṛtrimatvābhāvātkṛtamapi karma kutra phalena yogaṁ kuryāddehādipramātṛtābhimānasvabhāvāśrayābhāvānna kutracit — Iti yāvat| Kṛtasya karmaṇo yā pramātuḥ phalābhimānarūḍhireṣa evāśrayo jñāninastvabhimānābhāvātsvasminrūpa eva prakṣīṇaṁ karma na phalena sambadhyate — Iti| Nanvabhimānādeva karma phalena yujyate — Iti kutra yathā — Ityāha na mamedamapi ityādi| Dṛṣṭaṁ caitannāpūrvaṁ yathā na mamedaṁ yajñādikaṁ karma api tu tasya kasyāpyarthavato yajamānasya iti anayā buddhyā kṛtamapi yajñādikaṁ karma loke mūlyārthitayā phalābhimānābhāvānna yatastatkarma pāralaukikena phalena yuktaṁ kalpate| Tathā hi — Yajanti yājakā yajate yajamāna iti nyāyena yajatāmṛtvijāṁ yajñakarma svayaṁ kṛtavatāmapīdamaśvamedhādikaṁ yajñakarma nāsmākaṁ kiñcidapi tu dīkṣitasya puṇyavato vayaṁ kileha yajñakarmāṇi niyamitamūlyamātrārthino'tra na kecanaiva yajamānaḥ punaramunā karmaṇā svargādiphalabhāgapīti teṣāṁ karmaphalābhimānābhāvānna svayaṁ kṛtamapi karma tadīyena svargādinā phalena yujyate yajamānastu tatra yajñakarma svayamakurvāṇa ṛtviṅnirvartyakarmamukhaprekṣyapi mamedamaśvamedhādikaṁ yajñakarma madīyena dhanenāmyṛtvijaḥ karmaṇi pravṛttā iti mamaiva svargādiphalaṁ dehapātādavaśyaṁ bhāvi — Ityakurvāṇasyāpi yathā samīhitakarmaphalābhimānadārḍhyāttattasya karma phalena yujyate| Ata eva kartrabhiprāye kriyāphala iti dīkṣitātkarturyajate yajamāna ityātmanepadaṁ kartranabhiprāye tu parasmaipadaṁ yajanti yājakā iti| Iyānmahimā durlaṅghyo vikalpasvātantryasya — Yatsvayaṁ kṛtamapi karma phalābhimānābhāvāttatphalena na yujyate'nyaiḥ kṛtamapi karma mamedamityabhimānadārḍhyātphalayuktaṁ syāttasmādṛtvigvyāpāravatkriyamāṇaṁ yoginā karma phalābhimānābhāvānna tatsaphalaṁ bhavet — Iti||67||

Dessa forma (evam), (Abhinavagupta,) informando que (āvedayan) "não (na) dá frutos (phalāya) a ação (karma) que é realizada (kṛtam api) por um Conhecedor (da Verdade) (jñāninā) no qual ocorreu um reconhecimento do próprio Ser (sva-ātma-pratyavamarśa-upapattyā) (e) no qual os desejos (abhilāṣeṇa) sobre os resultados (phala) das (suas) ações (karma) desapareceram completamente (vigalita)", citou (āha) um exemplo (dṛṣṭāntam) (tomado) da vida mundana (loka), que é provado (siddham) pela própria (sva) experiência (anubhava):


Por meio da firme convicção de que (dārḍhyatas) "Isso (idam) não é (na) meu (mama), mas sim (api tu) Seu --do Grande Senhor-- (tasya iti)", não há nenhum (nahi) fruto (relativo a ações) (phalam) neste mundo (loke). Por meio de raciocínios (yuktibhiḥ api) desse tipo (iti), fica provado (siddham) que (yat) a ação (karma... tad) não produz frutos (na sa-phalam) no que concerne a um Conhecedor do Ser (jñāninaḥ)||67||


"Eu Mesmo (aham eva), uma livre (svatantraḥ) massa compacta (ghanaḥ) de Consciência (cit), (sou) o Agente (kārī) de todas (sarva) as ações (karma) residindo como o (Ser) mais recôndito (antaratamatvena) em todos (sarva) os sujeitos ou indivíduos (pramātṛ)", ou (vā) "Eu (aham) não (sou) (na) o agente (kartā), é o Poder da Liberdade (svātantrya-śaktiḥ) pertencente ao Grande Senhor (pārameśvarī) que faz (karoti) assim (ittham... iti)". "Como (kim) (poderia) Eu (mama), Consciência Pura em Liberdade Absoluta (śuddha-caitanya-rūpasya), (ser) afetado (āyātam) por tal coisa (etāvatā... iti)?". Por meio de raciocínios (yuktibhiḥ) desse tipo (iti), (ou seja,) por meio de argumentos (upapattibhiḥ) cuja essência (sva-rūpābhiḥ) foi ensinada anteriormente (prāk-pratipādita), fica provado (siddham) em ambos os casos (ubhayathā) que (yad) a ação (karma) surgida (niṣpannam api)(isto é,) feita (kṛtam)— a partir de um indivíduo (pramātuḥ) que sabe (vidaḥ) que a sua natureza essencial (sva-rūpa) é o próprio Ser (sva-ātma) da forma que foi explicada (vyākhyāta) não dá frutos (na sa-phalam), (ou seja,) não (na) possui (yujyate) o seu fruto (tad-phalena). (Por quê?) Devido à ausência (abhāvāt) do estado de (bhāva) "Eu (aham) (sou) o corpo (deha), etc. (ādi)" (no primeiro caso --quando o indivíduo sente que ele é o próprio Senhor Supremo fazendo tudo--, e) como não há nada (śūnyatvena) para aceitar (upādeya) (ou) rejeitar (heya) (no segundo caso --quando o indivíduo sente que é realmente o Senhor Supremo que faz tudo, e não ele--). No que concerne ao Conhecedor do Ser (tasya ātma-jñāninaḥ), em qual caso (kutra) a ação (karma) realizada (kṛtam api) (poderia) produzir (kuryāt) uma conexão (yogam) com (um certo) fruto (phalena) na ausência de (abhāvāt) um estado de eu fictício --ego-- (kṛtrimatva) em ambas as situações (ubhayathā) como foi explicado (pratipādita-vat)? Na ausência de (abhāvāt) um lugar de refúgio --um receptáculo-- (āśraya) cuja natureza (sva-bhāva) (é baseada na) concepção errônea (abhimāna) de que o corpo (deha), etc. (ādi) são a (verdadeira) subjetividade --o Sujeito real-- (pramātṛtā), (alguém poderia responder:) Em nenhum caso (na kutracid)! Esse é o significado (iti yāvat).

O nascimento e desenvolvimento (yā... rūḍhiḥ) em um indivíduo (pramātuḥ) da falsa concepção sobre (abhimāna) o fruto (phala) de uma ação (karmaṇaḥ) que tenha sido feita (kṛtasya) (é) ele mesmo --o nascimento e desenvolvimento-- (eṣaḥ eva) o (previamente mencionado) lugar de refúgio ou receptáculo (āśrayaḥ). No entanto (tu), com referência a um Conhecedor (do Ser) (jñāninaḥ), devido à ausência (abhāvāt) de (tal) concepção falsa (abhimāna), a forma (desse lugar de refúgio ou receptáculo) (rūpaḥ eva) (aparece) nele (svasmin) (como) karma --impressão residual derivada de ações-- (karma) destruído (prakṣīṇam) (e, consequentemente,) não pode ser conectado (na... sambadhyate) a um fruto (phalena... iti).

Uma objeção (nanu): "A partir dessa mesma falsa concepção (abhimānāt eva), karma ou ação (karma) possui (yujyate) um fruto (phalena... iti)", (mas) "Em que caso (kutra), por exemplo (yathā... iti), (alguém poderia ver isso em ação)?". (Abhinavagupta) disse (āha): "Na mamedamapi (na mama idam api)", etc. (iti-ādi). E (ca) este (etad) (é) o exemplo (dṛṣṭam), que não é (na) novo (apūrva) (na experiência de um brāhmaṇa ou especialista em rituais védicos): "Isto (idam) não é (na) meu (mama)" —isto é (yathā), uma ação (karma), tal como um sacrifício (yajña), etc. (ādikam)— "mas sim (api tu) seu (tasya)" —de alguém (kasyāpi) que é um rico (arthavataḥ) yajamāna ou sacrificador que pagou o custo do sacrifício (yajamānasya iti)—, (isto é,) a ação (karma), tal como um sacrifício (yajña), etc. (ādikam) realizada (kṛtam api) por esse intelecto --pelo intelecto do sacerdote que executa o sacrifício-- (anayā buddhyā), que está (unicamente) desejando (arthitayā) uma soma de dinheiro (pelo seu trabalho), (mūlya) não (produz frutos para ele) (na) neste mundo (loke) devido à ausência (abhāvāt) da falsa concepção (abhimāna) sobre o fruto (phala), pois (yatas) essa (tad) ação (karma) produz (kalpate) uma conexão (yuktam) com algo relativo ao outro mundo (pāralaukikena).

Por exemplo (tathā hi), segundo o axioma (nyāyena) "Os yājaka-s --os sacerdotes que levam a cabo o sacrifício-- (yājakāḥ) realizam o sacrifício para outro (yajanti), (enquanto) o yajamāna --o verdadeiro sacrificador que paga o custo do sacrifício-- (yajamānaḥ) realiza um sacrifício para ele mesmo (embora não participe diretamente do sacrifício propriamente dito) (yajate... iti)", (existem dois pontos de vista nesse contexto:) (1) no caso dos sacerdotes (ṛtvijām) que realizaram o sacrifício (yajatām), (isto é,) os que realizaram (kṛtavatām api) eles mesmos (svayam) o rito do sacrifício (yajña-karma), (como eles pensam desta forma:) "Este (idam) ato (karma) de sacrifício (yajña) tal como aśvamedha --o sacrifício do cavalo-- (aśva-medha), etc. (ādikam) não é (na) algo (kiñcid) nosso (asmākam), mas sim (api tu) da virtuosa pessoa (puṇyavataḥ) à qual o sacrifício foi consagrado --o yajamāna-- (dīkṣitasya); nós (vayam) (estamos) aqui (iha) certamente (kila) apenas (mātra) desejando (arthinaḥ) uma soma de dinheiro (mūlya) (e) restritos (niyamita) aos atos ritualistas do sacrifício (yajña-karmāṇi); esse é o nosso único papel --lit. não somos nada mais-- (na kecana eva) nisto (atra); mas (punar) o yajamāna ou sacrificador --o que paga pelo sacrifício-- (yajamānaḥ), através dessa ação (amunā karmaṇā), (é) seguramente (api) um receptáculo (bhāk) para o fruto (phala) (denominado) céu (svarga), etc. (ādi... iti)", embora (api) (tal) ação (karma) tenha sido feita (kṛtam) por eles mesmos (svayam), não (na) possui (yujyate) os seus (tadīyena) frutos (phalena) (na forma de) céu, etc. (svarga-ādinā) devido à ausência (abhāvāt) neles --nesses sacerdotes-- (teṣām) da concepção falsa (abhimāna) sobre o fruto (phala) do rito (karma); (2) No entanto (tu), o yajamāna ou sacrificador (yajamānaḥ) ali --no ritual-- (tatra), embora (api) não realize (akurvāṇaḥ) o rito do sacrifício (yajña-karma) por si próprio (svayam), observa(-o todo) (prekṣī) com o seu rosto voltado ao (mukha) ritual (karma) que é levado a cabo (nirvartya) pelos sacerdotes (ṛtvij) (e pensa assim:) "Este (idam) rito de sacrifício (yajñakarma)(tal como) o sacrifício do cavalo (aśva-medha), etc. (ādikam)(é) meu (mama) (e) esses (amī) sacerdotes (ṛtvijaḥ) estão dedicados ao (pravṛttāḥ) ritual (karmaṇi) por causa do meu dinheiro (madīyena dhanena); dessa forma (iti), após a queda (pātāt) do corpo (deha), o fruto (phalam) (denominado) céu (svarga), etc. (ādi) será certamente (avaśyam bhāvi) apenas (eva) meu (mama... iti)". (Então,) inclusive, (api) por exemplo (yathā), no caso de alguém que não realiza (uma determinada ação) (akurvāṇasya), devido à força ou firmeza (dārḍhyāt) da errônea concepção (abhimāna) sobre o fruto (phala) desejado (samīhita) de (tal) ação (karma), essa (tad) ação (karma) possui (yujyate) um fruto (phala) para ele --para a pessoa com essa concepção errônea-- (tasya).

Por essa razão (atas eva), (segundo a regra de Pāṇini:) "Quando o fruto (phale) de uma atividade --uma ação-- (kriyā) sobrevém ao (abhiprāye) agente --o fazedor-- (kartṛ... iti)", (então o conjunto de terminações conhecido como) "Ātmanepada" (ātmane-padam) (deve ser utilizado, como em) "O yajamāna --o verdadeiro sacrificador que paga o custo do sacrifício-- (yajamānaḥ) realiza um sacrifício para ele mesmo (ainda que não tome parte diretamente do sacrifício propriamente dito) (yajate... iti)" porque é o agente (kartuḥ) sendo consagrado (no ritual) (dīkṣitāt). Mas (tu) (quando o fruto de uma atividade --uma ação--) não sobrevém (anabhiprāye) ao agente --o fazedor-- (kartṛ), (então, o conjunto de terminações denominado) Parasmaipada (parasmai-padam) (deve ser usado, como em) "Os yājaka-s --os sacerdotes que levam a cabo o sacrifício-- (yājakāḥ) realizam um sacrifício para outro (yajanti... iti)".

A grandeza (mahimā) de alguém que seja livre (svātantryasya) dos pensamentos (vikalpa) (é) tão (iyān) difícil de superar (durlaṅghyaḥ) que (yad) inclusive (api) a ação (karma) feita (kṛtam) por ele mesmo (svayam) não (na) possui (yujyate) o seu fruto (tad-phalena) devido à ausência (abhāvāt) (nessa pessoa) da falsa concepção (abhimāna) sobre os frutos (das próprias ações) (phala). (De qualquer forma,) a ação (karma) realizada (kṛtam api) por outros (que carecem dessa liberdade com referência aos pensamentos) (anyaiḥ), devido à fortaleza ou firmeza (dārḍhyāt) da concepção errônea (supracitada) (abhimāna) (que aparece na forma da atitude) "Isto (idam) (é) meu (mama... iti)", é conectada com (yuktam syāt) um fruto (phala). Portanto (tasmāt), como no caso (vat) das funções (vyāpāra) de um sacerdote (ṛtvij), a ação (karma... tad) que é feita (kriyamāṇam) por um Yogī (yoginā), na ausência (abhāvāt) da falsa concepção (abhimāna) sobre o (seu) fruto (phala), não (na) está (bhavet) dotada de frutos (sa-phalam... iti) --ou seja, não produz absolutamente nenhum fruto--||67||


Ainda sem notas explicativas

Ao início


 Estrofe 68

एवं सर्वकर्मसु हेयोपादेयकल्पनाकलङ्कपरित्यक्तबुद्धिर्ज्ञानी दीप्तः स्यात् — इत्याह


इत्थं सकलविकल्पान्प्रतिबुद्धो भावनासमीरणतः।
आत्मज्योतिषि दीप्ते जुह्वज्ज्योतिर्मयो भवति॥६८॥


इत्थं व्याख्यातेन प्रकारेण या भावना अहमेव चैतन्यमहेश्वरः सर्वात्मना सर्वदैवं स्फुरामीति यात्मनि विमर्शरूढिः सैव शनैः प्रसरन्ती समीरणो वायुरिव तेन ज्ञानी प्रतिबुद्धो भस्मच्छन्नो वायुना प्रतिबोधितो वह्निर्यथा सकलविकल्पान् पशुरस्मि कर्मबन्धबद्धो देहरूपी ममेदं पुत्रदाराद्यमुना कर्मणा स्वर्गो निरयो वा भविष्यतीत्यादि सर्वाः कल्पना अहमेवेदं सर्वमिति परामर्शशेषीभूता आत्मज्योतिषि चैतन्यकृशानौ दीप्ते पराहन्ताचमत्कारसारे जुह्वदविकल्पकसंविद्रूपानुप्रवेशेन समर्पयन्स ज्योतिर्मयो भवति दाह्यविकल्पेन्धनपरिक्षयाद्दाहकाकारश्चिदग्निरेव सम्पद्यते परप्रमात्रेकवपुरसाववशिष्यते — इति यावत्॥६८॥

Evaṁ sarvakarmasu heyopādeyakalpanākalaṅkaparityaktabuddhirjñānī dīptaḥ syāt — Ityāha


Itthaṁ sakalavikalpānpratibuddho bhāvanāsamīraṇataḥ|
Ātmajyotiṣi dīpte juhvajjyotirmayo bhavati||68||


Itthaṁ vyākhyātena prakāreṇa yā bhāvanā ahameva caitanyamaheśvaraḥ sarvātmanā sarvadaivaṁ sphurāmīti yātmani vimarśarūḍhiḥ saiva śanaiḥ prasarantī samīraṇo vāyuriva tena jñānī pratibuddho bhasmacchanno vāyunā pratibodhito vahniryathā sakalavikalpān paśurasmi karmabandhabaddho deharūpī mamedaṁ putradārādyamunā karmaṇā svargo nirayo vā bhaviṣyatītyādi sarvāḥ kalpanā ahamevedaṁ sarvamiti parāmarśaśeṣībhūtā ātmajyotiṣi caitanyakṛśānau dīpte parāhantācamatkārasāre juhvadavikalpakasaṁvidrūpānupraveśena samarpayansa jyotirmayo bhavati dāhyavikalpendhanaparikṣayāddāhakākāraścidagnireva sampadyate parapramātrekavapurasāvavaśiṣyate — Iti yāvat||68||

Dessa forma (evam), (na estrofe 68, Abhinavagupta) disse (āha) (que) "O Conhecedor do Ser (jñānī) em cujo buddhi ou intelecto (buddhiḥ) a mancha (kalaṅka) —a falsa noção (kalpanā) sobre o que deve ser rejeitado ou aceitado (heya-upādeya) com relação a todas as ações (sarva-karmasu)— foi completamente abandonado (parityakta) é (syāt) Brilhante --Luminoso-- (dīptaḥ... iti)":


Dessa forma (ittham), o Desperto (pratibuddhaḥ), (que é como um fogo coberto de cinzas que é reavivado) por meio do vento (samīraṇataḥ) da contemplação (bhāvanā), oferecendo (juhvat) todas (as suas) falsas noções (sakala-vikalpān) (como oblação) na brilhante (dīpte) Luz (jyotiṣi) do Ser (ātma), torna-se (bhavati) Luminoso --idêntico a essa Luz, repleto dessa Luz-- (jyotis-mayaḥ)||68||


["Itthaṁ... bhāvanāsamīraṇataḥ" or "Dessa forma... (que é como um fogo coberto de cinzas que é reavivado) por meio do vento da contemplação" é explicado por Yogarāja como segue:] Dessa forma (ittham) —da forma (prakāreṇa) que foi explicada (vyākhyātena)—, a "bhāvanā" ou contemplação (bhāvanā... sā eva), que (yā... yā) (é) um desenvolvimento (rūḍhiḥ) da consciência (vimarśa) com relação ao Ser (ātmani) (aparecendo como:) "Eu Mesmo (aham eva) (sou) o Grande Senhor (mahā-īśvaraḥ) que é Consciência em Liberdade Absoluta (caitanya) (e) sempre (sarvadā) aparece brilhantemente (sphurāmi) assim (evam) como o Ser (ātmanā) de tudo (sarva... iti)", gradualmente (śanaiḥ) avança e se difunde (prasarantī) como (se fosse) (iva) "samīraṇa" (samīraṇaḥ) (ou) o vento (vāyuḥ). ["Sakalavikalpānpratibuddho... juhvat" ou "o Desperto... oferecendo todas as (suas) falsas noções" é descrito por Yogarāja da seguinte maneira:] Através desse (processo) (tena), o "Pratibuddha" --lit. o Desperto-- (pratibuddhaḥ) (ou) Conhecedor do Ser (jñānī), que é como (yathā) um fogo (vahniḥ) coberto (channaḥ) por cinzas (bhasma) que é reavivado (pratibodhitaḥ) pelo vento (vāyunā), oferecendo (juhvat) —presenteando (samarpayan) através de uma entrada (anupraveśena) a natureza (rūpa) livre de vikalpa-s ou falsas noções-- (avikalpaka) da Consciência Pura (saṁvid)— todos os (seus) vikalpa-s (sakala-vikalpān) —todas (sarvāḥ) as (suas) falsas noções (kalpanāḥ)(tais como) "Eu sou (asmi) um indivíduo limitado (paśuḥ) que tem um corpo (deha-rūpī) (e) está limitado (baddhaḥ) pelos grilhões (bandha) do karma --ações-- (karma)", "Estes (idam) (são) os meus (mama) filhos, esposa, etc. (putra-dāra-ādi)", "Mediante essa ação (amunā karmaṇā), haverá (bhaviṣyati) Céu (svargaḥ) ou (vā) inferno (nirayaḥ)", etc. (iti-ādi), os quais permanecem (agora) (śeṣī-bhūtāḥ) na forma da lembrança de que (parāmarśa) "Eu Mesmo (aham eva) (sou) tudo (sarvam) isto (idam... iti)"--todos os vikalpa-s ou falsas noções foram transformados em "Eu Mesmo sou tudo isto, o universo inteiro". Esse é o significado--. (Onde ele está oferecendo todas essas falsas noções como oblação? Abhinavagupta disse: "Ātmajyotiṣi dīpte" ou "na brilhante Luz do Ser", o qual é expresso poeticamente por Yogarāja como:) Na brilhante (dīpte) —naquilo cuja essência (sāre) é o Deleite (camatkāra) da suprema (parā) consciência do Eu (ahantā)— Luz (jyotiṣi) do Ser (ātma) —no Fogo (kṛśānau) da Consciência em Liberdade Absoluta (caitanya)—. (Qual é o resultado final de todo esse processo? Abhinavagupta disse: "jyotirmayo bhavati" ou "se torna Luminoso". Yogarāja expande o conceito:) Ele (saḥ) se torna (bhavati) Luminoso --idêntico a essa Luz, repleto dessa Luz-- (jyotis-mayaḥ) após a exaustão (parikṣayāt) do combustível (indana) (denominado) os vikalpa-s ou falsas noções (vikalpa) que se queimam (dāhya), (quanto) brota (sampadyate) o Fogo (agniḥ eva) da Consciência (cit), cuja forma (ākāraḥ) é ser o agente que produziu tal combustão (dāhaka), (e) Ele --o Fogo da Consciência-- (asau) permanece (avaśiṣyate) dotado apenas da bela forma (eka-vapus) do Conhecedor ou Experimentador Supremo (para-pramātṛ). Esse é o significado (iti yāvat)||68||


Ainda sem notas explicativas

Ao início


 Estrofe 69

एवं व्याख्यातेन प्रकारेण यः प्रकृष्टज्ञानयोगाभ्यासरतः स शेषवर्तनया कथं कालमतिवाहयति — इत्याह


अश्नन्यद्वा तद्वा संवीतो येन केनचिच्छान्तः।
यत्र क्वचन निवासी विमुच्यते सर्वभूतात्मा॥६९॥


यत्किञ्चित्पुरः पतितमदनयोग्यं पदार्थमश्नंश्चमत्कुर्वन्न पुनर्नियमेनेदं पवित्रमिदमपवित्रमिदं कदन्नमिदं मिष्टान्नमिति हेयोपादेयकल्पनाविरहादयत्नेनापतितं यदपि तदपि समाहरन्। तथा संवीतो येन इत्यादि। कन्थया चर्मणा वल्कलेन वा तूलपटादिना दिव्यात्मवस्त्रैर्वा समाच्छादितः — इत्युभयथोत्कर्षापकर्षाभावाच्छरीराच्छादनार्थक्रियार्थी भूत्वा नापि किञ्चिद्द्वेष्टि नापि स्तौति — इति। कथमेतद्यतः स शान्तः सुखदुःखादिविकल्पनातिक्रान्तः — इति। तथा यत्र क्वचन निवासीति। यत्र क्वचन यादृशे तादृशे स्थाने स्वपरिश्रयमात्रार्थी न पुनस्तस्य क्षेत्रायतनतीर्थादि पवित्रत्वात्स्वीकार्यं भवति नापि श्मशानश्वपचसदनाद्यपवित्रत्वात्परिहार्यं स्यादयत्नेन यद्यत्स्थानमापतितं तत्तदधिवसति पवित्रापवित्रकल्पनाकलङ्कविरहात्। विमुच्यत इत्येवमपि शेषवर्तनया परानुग्रहार्थप्रवृत्तः कालमतिवाहयन् विमुच्यते परमशिवीभवति। उक्तं च

येन केनचिदाच्छन्नो येन केनचिदाशितः।
यत्र क्वचन शायी यस्तं देवा ब्राह्मणं विदुः॥

इति। मोक्षधर्मेष्वपि

अनियतफलभक्ष्यभोज्यपेयं विधिपरिणामविभक्तदेशकालम्।
हृदयसुखमसेवितं कदर्यैर्व्रतमिदमाजगरं शुचिश्चरामि॥

इति। कथमेवमपि कुर्वञ्ज्ञानी स्वयं मुच्येत — इत्याह सर्वभूतात्मेति। यतः स ज्ञानी सर्वभूतात्मा सर्वेषां भूतानामात्मा सर्वाणि च भूतानि तस्यात्मा — इति कृत्वा न किञ्चिद्बन्धकतया भवति सर्वं विमुक्तयेऽस्य सम्पद्यते — इति॥६९॥

Evaṁ vyākhyātena prakāreṇa yaḥ prakṛṣṭajñānayogābhyāsarataḥ sa śeṣavartanayā kathaṁ kālamativāhayati — Ityāha


Aśnanyadvā tadvā saṁvīto yena kenacicchāntaḥ|
Yatra kvacana nivāsī vimucyate sarvabhūtātmā||69||


Yatkiñcitpuraḥ patitamadanayogyaṁ padārthamaśnaṁścamatkurvanna punarniyamenedaṁ pavitramidamapavitramidaṁ kadannamidaṁ miṣṭānnamiti heyopādeyakalpanāvirahādayatnenāpatitaṁ yadapi tadapi samāharan| Tathā saṁvīto yena ityādi| Kanthayā carmaṇā valkalena vā tūlapaṭādinā divyātmavastrairvā samācchāditaḥ — Ityubhayathotkarṣāpakarṣābhāvāccharīrācchādanārthakriyārthī bhūtvā nāpi kiñciddveṣṭi nāpi stauti — Iti| Kathametadyataḥ sa śāntaḥ sukhaduḥkhādivikalpanātikrāntaḥ — Iti| Tathā yatra kvacana nivāsīti| Yatra kvacana yādṛśe tādṛśe sthāne svapariśrayamātrārthī na punastasya kṣetrāyatanatīrthādi pavitratvātsvīkāryaṁ bhavati nāpi śmaśānaśvapacasadanādyapavitratvātparihāryaṁ syādayatnena yadyatsthānamāpatitaṁ tattadadhivasati pavitrāpavitrakalpanākalaṅkavirahāt| Vimucyata ityevamapi śeṣavartanayā parānugrahārthapravṛttaḥ kālamativāhayan vimucyate paramaśivībhavati| Uktaṁ ca

Yena kenacidācchanno yena kenacidāśitaḥ|
Yatra kvacana śāyī yastaṁ devā brāhmaṇaṁ viduḥ||

Iti| Mokṣadharmeṣvapi

Aniyataphalabhakṣyabhojyapeyaṁ vidhipariṇāmavibhaktadeśakālam|
Hṛdayasukhamasevitaṁ kadaryairvratamidamājagaraṁ śuciścarāmi||

Iti| Kathamevamapi kurvañjñānī svayaṁ mucyeta — Ityāha sarvabhūtātmeti| Yataḥ sa jñānī sarvabhūtātmā sarveṣāṁ bhūtānāmātmā sarvāṇi ca bhūtāni tasyātmā — Iti kṛtvā na kiñcidbandhakatayā bhavati sarvaṁ vimuktaye'sya sampadyate — Iti||69||

Assim (evam), da maneira (prakāreṇa) que foi explicada (vyākhyātena), como (katham) aquele que (saḥ) está (yaḥ) consagrado (rataḥ) à prática (abhyāsa) do Yoga (yoga) baseado em Conhecimento (jñāna) superior (prakṛṣṭa) passa (ativāhayati) o (seu) tempo (kālam) ocupado com (vartanayā) o resto das coisas (śeṣa)? (Abhinavagupta) disse (āha) assim (iti) (na estrofe 69 para responder a essa pergunta:)


O Pacífico (śāntaḥ) que come (aśnan) qualquer coisa (yadvā tadvā), que cobre (o corpo) (saṁvītaḥ) com qualquer coisa (yena kenacid) (e) que vive (nivāsī) em qualquer lugar (yatra kvacana), sendo o Ser (ātmā) de todos (sarva) os seres (bhūta), torna-se completamente libertado (vimucyate) (enquanto passa o seu tempo dedicado à meta de dar Graça a outras pessoas)||69||


Ele ingere (aśnan), enquanto expressa espanto (camat-kurvan), qualquer (yad kiñcid) coisa (padārtham) comestível (adana-yogyam) que caia (patitam) na (sua) frente (puras), sem restrições (na punar niyamena), devido à ausência de (virahāt) falsas noções (kalpanā) sobre o que deve ser aceitado (upādeya) (ou) rejeitado (heya), (tais como) "Isto (idam) (é) purificante (pavitram), isso (idam) não (é) purificante (apavitram), isso (idam) (é) mau alimento (kadannam), isso (idam) (é) alimento doce (miṣṭānnam... iti)". (Em suma,) ele aceita (samāharan) qualquer coisa (yadapi tadapi) que apareça de repente (diante dele) (āpatitam) sem esforço de sua parte (ayatnena) --Abhinavagupta e Yogarāja não estão falando sobre comida que seja ruim para a saúde, como é óbvio (p. ex.: alimento que contenha muito açúcar e o corpo físico do "Pacífico" sofrerá de diabetes), mas sim sobre comida que seja considerada boa ou má segundo determinadas crenças, p. ex.: os vegetais são purificantes, enquanto a carne não é purificante; então, o Pacífico não é tolo--.

Da mesma forma (tathā), (Abhinavagupta disse:) "que cobre (o corpo) (saṁvītaḥ) com qualquer coisa (yena)", etc. (iti-ādi).

(Esteja ele) coberto (samācchāditaḥ) por trapos (kanthayā), pela pele de um animal (carmaṇā) ou (vā) pela casca de uma árvore (valkalena), (ou então, se ele estiver coberto por) um tecido de algodão (tūla-paṭa) e similares (ādinā), ou (vā) (inclusive) por vestes divinas (divya-ātma-vastraiḥ... iti), em ambos os casos --pobremente vestido ou belamente vestido-- (ubhayathā), devido à ausência de (abhāvāt) (um sentimento de) superioridade (utkarṣa) (ou) inferioridade (apakarṣa) (nele), tendo se tornado (bhūtvā) alguém cujo objetivo (arthī) é a ação que tenha um propósito (artha-kriyā) no que diz respeito a cobrir o corpo (śarīra-ācchādana), ele nem detesta (na-api... dveṣṭi) algo --um tipo de veste-- (kiñcid), nem (na-api) (o) louva (stauti... iti) --ou seja, apenas usa a roupa com o propósito de cobrir efetivamente o corpo, e não porque goste de alguma roupa em especial--.

Como (katham) isso (é) (etad) (possível)? Porque (yatas) ele (saḥ) (é) pacífico (śāntaḥ), (isto é,) ele transcende (atikrāntaḥ) as falsas noções (vikalpanā) baseadas em prazer (sukha), dor (duḥkha), etc. (ādi... iti).

De forma similar (tathā), (Abhinavagupta disse sobre ele:) "yatra kvacana nivāsī" (yatra kvacana nivāsī iti).

(Em outras palavras,) a sua meta (arthī) é unicamente (mātra) (encontrar) um refúgio ou covil (pariśraya) para si mesmo (sva) não importa onde (yatra kvacana), (ou seja,) em qualquer lugar que seja (yādṛśe tādṛśe sthāne). No entanto (punar), ele não toma posse de (na... tasya... svī-kāryam bhavati) um campo sagrado (kṣetra), um santuário (āyatana), um lugar de peregrinação (tīrtha), etc. (ādi) porque eles são purificantes (pavitratvāt), nem evita (tasya... na api... parihāryam syāt) um crematório (śmaśāna), a casa (sadana) de um marginalizado ou pária (śvapaca), etc. (ādi) porque não são purificantes (apavitratvāt). Qualquer que seja (yad yad) o lugar (sthānam) que repentinamente apareça (diante dele) (āpatita), ele residirá (adhivasati)(tad tad). (Ele se comporta assim) porque é desprovido (virahāt) da mancha (kalaṅka) (conhecida como) a falsa noção (kalpanā) sobre o que é purificante (pavitra) (e) o que não é purificante (apavitra).

(O termo) "vimucyate" (vimucyate iti) (na estrofe significa que,) ainda assim (evam api), enquanto está ocupado com (vartanayā) o resto das coisas (śeṣa) (além da sua prática do Yoga baseado no Conhecimento superior, isto é), enquanto passa (ativāhayan) (o seu) tempo (kālam) dedicado (pravṛttaḥ) à meta (artha) de (dar) Graça (anugraha) a outras pessoas (para), ele se torna completamente libertado --escapa da escravidão-- (vimucyate) (e) se transforma no Supremo Śiva (paramaśivī-bhavati).

(Essa verdade foi) também expressa (uktam ca) (por esta estrofe:)

"Os deuses (devāḥ) sabem (viduḥ) que é um sacerdote (brāhmaṇam) aquele (tam) que (yaḥ) está coberto --vestido com-- (ācchannaḥ) por qualquer coisa (yena kenacid), (e que é) alimentado (āśitaḥ) com qualquer coisa (yena kenacid) (e) deita (śāyī) em qualquer lugar (yatra kvacana... iti)".

Nos versos da (seção cujo nome é) "Mokṣadharma" (mokṣa-dharmeṣu) (dentro do Śāntiparva de Mahābhārata, ou seja, no Mahābhārata XII, 172, 27----, (o mesmo ensinamento) também (é dado pelo grande sábio Bhīṣma) (api):

"Sem mácula (śuciḥ), eu observo (carāmi) este (idam) voto (vratam) da jiboia-constritora (ājagaram) no qual frutas (phala), alimentos que requerem mastigação (bhakṣya), alimentos que não requerem mastigação (bhojya) (e) bebidas (peyam) são irrestritos (aniyata), no qual espaço (deśa) (e) tempo (kālam) (no que concerne à alimentação) estão divididos (vibhakta) pelas mudanças (pariṇāma) que provêm do destino (vidhi), no qual não há felicidade (sukham) no (próprio) coração (hṛdaya) (e) do qual se abstêm (asevitam) os que são avaros (kadaryaiḥ... iti)".

Como (katham) o Conhecedor do Ser (jñānī) que age (kurvan) assim (evam api) liberta a si mesmo (svayam vimucyeta)? (Abhinavagupta) disse (āha) assim (iti) (para responder à pergunta): "sarvabhūtātmā" (sarvabhūtātmā iti).

Porque (yatas) o Conhecedor do Ser (saḥ jñānī) (é) "sarvabhūtātmā" (sarva-bhūta-ātmā), (isto é,) depois de considerar que (iti kṛtvā) "(ele é) o Ser (ātmā) de todos os seres (sarveṣām bhūtānām) e (ca) todos (sarvāṇi) os seres (bhūtāni) (são) o seu (tasya) Ser (ātmā)", nada (na kiñcit) se torna (bhavati) uma fonte de escravidão (bandhakatayā) (no seu caso), tudo (sarvam) conduz à (sampadyate) sua (asya) completa Libertação (vimuktaye... iti)||69||


Ainda sem notas explicativas

Ao início


 Estrofe 70

नाप्येवंरूपस्य निरभिमानस्य यत्किञ्चित्कुर्वतोऽपि पुण्यपापसम्भवः — इत्याह


हयमेधशतसहस्राण्यपि कुरुते ब्रह्मघातलक्षाणि।
परमार्थविन्न पुण्यैर्न च पापैः स्पृश्यते विमलः॥७०॥


य एवं परमार्थवित्स्वात्ममहेश्वरस्वभावसतत्त्वज्ञः सोऽश्वमेधराजसूयाप्तोर्यामादियज्ञान्निःसङ्ख्यान्फलकामनाभिमानविरहात्कर्तव्यतामात्रमिदमित्येवं कृत्वा क्रीडार्थं यदि कदाचिद्विहितानि कर्माणि विदधात्यथवा ब्रह्महननसुरापानस्तैन्यादीनि प्रमादोपनतानि महापातकान्यविहितान्यप्यशरीरतया च — इत्युभयथाहं ममेत्यभिमानाभावात्परमेश्वरेच्छैवेत्थं विजृम्भते मम किमायातमिति बुद्ध्या न पुण्यैः शुभफलैर्नापि पापैरशुभैः स ज्ञानी स्पृश्यते मलिनीक्रियत इति। कथमेतत् — इत्याह विमल इति। यतस्तस्य विगताः प्रक्षीणा आणवमायीयकार्ममलाः संसरणहेतवः — इति। एवं मलिनस्य हि प्रमातुर्विच्छिन्नदेहादिप्रमातृतयात्मात्मीयाभिमानभावो येन ममेदं कर्म शुभमिदमशुभमित्यभिमानदौरात्म्यात्पुण्यपापसञ्चययोगः स्याद्यस्य कर्मफलसञ्चयो ममत्वहेतुर्मलप्रचयो विगतः स्यात्तस्याभिमानाभावात्कथं पुण्यपापस्पर्शः। यथा श्रीभगवद्गीतासु

यस्य नाहङ्कृतो भावो बुद्धिर्यस्य न लिप्यते।
हत्वापि स इमाँल्लोकान्न हन्ति न निबध्यते॥

इति॥७०॥

Nāpyevaṁrūpasya nirabhimānasya yatkiñcitkurvato'pi puṇyapāpasambhavaḥ — Ityāha


Hayamedhaśatasahasrāṇyapi kurute brahmaghātalakṣāṇi|
Paramārthavinna puṇyairna ca pāpaiḥ spṛśyate vimalaḥ||70||


Ya evaṁ paramārthavitsvātmamaheśvarasvabhāvasatattvajñaḥ so'śvamedharājasūyāptoryāmādiyajñānniḥsaṅkhyānphalakāmanābhimānavirahātkartavyatāmātramidamityevaṁ kṛtvā krīḍārthaṁ yadi kadācidvihitāni karmāṇi vidadhātyathavā brahmahananasurāpānastainyādīni pramādopanatāni mahāpātakānyavihitānyapyaśarīratayā ca — Ityubhayathāhaṁ mametyabhimānābhāvātparameśvarecchaivetthaṁ vijṛmbhate mama kimāyātamiti buddhyā na puṇyaiḥ śubhaphalairnāpi pāpairaśubhaiḥ sa jñānī spṛśyate malinīkriyata iti| Kathametat — Ityāha vimala iti| Yatastasya vigatāḥ prakṣīṇā āṇavamāyīyakārmamalāḥ saṁsaraṇahetavaḥ — Iti| Evaṁ malinasya hi pramāturvicchinnadehādipramātṛtayātmātmīyābhimānabhāvo yena mamedaṁ karma śubhamidamaśubhamityabhimānadaurātmyātpuṇyapāpasañcayayogaḥ syādyasya karmaphalasañcayo mamatvaheturmalapracayo vigataḥ syāttasyābhimānābhāvātkathaṁ puṇyapāpasparśaḥ| Yathā śrībhagavadgītāsu

Yasya nāhaṅkṛto bhāvo buddhiryasya na lipyate|
Hatvāpi sa imām̐llokānna hanti na nibadhyate||

Iti||70||

(Abhinavagupta) disse que (iti āha): "Inclusive (api) qualquer coisa (yat kiñcid) que tal (Conhecedor do Ser) (evaṁrūpasya) que está desprovido de concepções errôneas (nirabhimānasya) possa fazer (kurvataḥ), não há (na api... sambhavaḥ) frutos bons ou ruins (provenientes das suas ações) (puṇya-pāpa)":


Ainda que (api) o Conhecedor (vit) da Mais Alta (parama) Realidade (artha) realize (kurute) cem (śata) mil (sahasrāṇi) sacrifícios de cavalos (haya-medha) (ou) cem mil (lakṣāṇi) assassinatos (ghāta) de sacerdotes (brahma), (ele,) o Imaculado (vimalaḥ), não é (na... na ca) tocado (spṛśyate) pelos frutos bons ou ruins (das suas ações) (puṇyaiḥ... pāpaiḥ)||70||


Dessa forma (evam), se (yadi), devido ao (artham) Jogo (Divino) (krīḍā) (e) dizendo a si mesmo (iti evaṁ kṛtvā) "Isso (idam) precisa ser feito (kartavyatā-mātram... iti)", aquele que (yaḥ... saḥ) (é) um Conhecedor (vit) da Mais Alta (parama) Realidade (artha) —aquele que realmente (satattva) souber (jñaḥ) que a natureza essencial (sva-bhāva) do Grande Senhor (mahā-īśvara) (é) o próprio Ser (sva-ātma)— alguma vez (kadācid) realiza (vidadhāti) ações (karmāṇi) prescritas (vihitāni) sem (virahāt) concepções errôneas (abhimāna) (e) desejos (kāmanā) em relação aos (seus) frutos (phala), (p. ex.:) inúmeros (niḥsaṅkhyān) sacrifícios (yajñān) (tais como) "aśvamedha" --sacrifício do cavalo-- (aśva-medha), "rājasūya" --sacrifício na coroação de um rei-- (rāja-sūya), "aptoryāma" --um dos sete tipos de sacrifícios Jyotiṣṭoma, onde se oferece Soma-- (aptoryāma), etc. (ādi); ou (athavā) (se ele realiza,) com um estado livre de (apego ao seu) corpo físico (aśarīratayā ca), inclusive (api) (ações) que não estão prescritas (pelas escrituras) (avihitāni), que provocam uma grande queda (mahā-pātakāni) (e) são produzidas (upanatāni) por negligência (pramāda) (tais como) os atos de matar (hanana) sacerdotes (brahma), beber licores espirituosos (surā-āpāna), roubar (stainya), etc. (ādīni... iti); em ambos os casos (ubhayathā), o Conhecedor do Ser (saḥ jñānī) não é (na) tocado (spṛśyate) —manchado (malinī-kriyate)— pelos "puṇya-s" (puṇyaiḥ) —pelos bons frutos (das suas ações) (śubha-phalaiḥ)—, nem (é tocado) (na api) pelos "pāpa-s" (pāpaiḥ) —pelos maus (frutos das suas ações) (aśubhaiḥ)—. já que pensa assim (iti buddhyā): "A Vontade (icchā eva) do Senhor Supremo (parama-īśvara) se manifesta (vijṛmbhate) dessa maneira (ittham); como (kim) eu (poderia) (mama) (ser) afetado (por tudo isso então) (āyātam... iti)?", devido à ausência (nele) (abhāvāt) de falsas concepções (abhimāna) (about) "Eu (aham) (e) meu (mama iti)".

"Como (katham) isso (é) (etad... iti) (possível)?". (Abhinavagupta) disse (āha) "vimalaḥ (vimalaḥ iti)".

Porque (yatas), no seu caso (tasya), as causas (hetavaḥ) da transmigração --de um corpo a outro, de um pensamento a outro, etc.-- (saṁsaraṇa) (denominadas) Āṇavamala, Māyīyamala (e) Kārmamala (āṇava-māyīya-kārma-malāḥ) --os três mala-s ou impurezas-- se foram completamente (vigatāḥ), (ou seja,) desapareceram (prakṣīṇāḥ... iti).

Dessa forma (evam), já que (hi) no caso de um conhecedor ou experimentador (pramātuḥ) afetado por (essas três) impurezas (malinasya), por estar dotado de subjetividade (pramātṛtayā) (associada com) um corpo físico (deha) limitado (vicchinna), etc. (ādi), (existe) a presença (bhāvaḥ) de concepções errôneas (abhimāna) sobre ele mesmo (ātma) (e) o que é seu (ātmīya), (e,) como resultado (yena), existe (também) (syāt) conexão (yogaḥ) com multidão (sañcaya) de frutos bons e ruins (das suas ações) (puṇya-pāpa) devido à depravidade (daurātmyāt) (desse) conceito falso (abhimāna): "Essa (idam) ação (karma) minha (mama) (é) boa (śubham), essa (outra ação minha) (idam) (é) ruim (aśubham... iti)". (Entretanto,) no caso de alguém no qual (yasya) está (syāt) completamente desaparecido (vigataḥ) o grupo (pracayaḥ) de mala-s ou impurezas (mala) que é a causa (hetuḥ) do sentido de propriedade --o estado de "meu"-- (mamatva) causando multidão (sañcayaḥ) de frutos (phala) relativos a ações (karma), devido à ausência (abhāvāt), nele (tasya), de concepções errôneas (abhimāna), como (katham) (poderia haver) contato (sparśaḥ) com os frutos bons e maus (dos seus atos) (puṇya-pāpa)?

Como (também foi expresso) (yathā) nos versos da venerável Bhagavadgītā (śrī-bhagavadgītāsu) --XVIII,17--:

"Aquele (saḥ) cujo (yasya) estado (bhāvaḥ) não é (na) egoísta --cheio de ego-- (ahaṅkṛtaḥ) (e) cujo (yasya) intelecto (buddhiḥ) não está manchado (na lipyate), mesmo se (api) ele matar --lit. matando-- (hatvā) essas (imān) pessoas (lokān), não (na) mata (hanti) (ninguém,) nem (na) fica atado (nibadhyate... iti) (pelas ações)".

||70||


Ainda sem notas explicativas

Ao início


 Informação adicional

Gabriel Pradīpaka

Este documento foi concebido por Gabriel Pradīpaka, um dos dois fundadores deste site, e guru espiritual versado em idioma Sânscrito e filosofia Trika.

Para maior informação sobre Sânscrito, Yoga e Filosofia Indiana; ou se você quiser fazer um comentário, perguntar algo ou corrigir algum erro, sinta-se à vontade para enviar um e-mail: Este é nosso endereço de e-mail.



Voltar a Estrofes 63 a 66 Top  Continuar lendo Estrofes 71 a 74