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 Śivasūtravimarśinī: Seção I (aforismos 11 a 22)

Tradução normal


 Introdução

A Śivasūtravimarśinī continua: Kṣemarāja continua a comentar os aforismos.

Este é o segundo e último grupo de 12 aforismos dos 22 aforismos que formam a primeira Seção (que versa sobre Śāmbhavopāya). Como você sabe, a obra inteira é composta dos 77 aforismos dos Śivasūtra-s mais os respectivos comentários.

É claro que também inserirei os aforismos de Śiva sobre os quais Kṣemarāja estiver comentando. Apesar de que não comentarei sobre os sūtra-s originais ou sobre o comentário de Kṣemarāja, escreverei algumas notas para esclarecer certos pontos sempre que for necessário. Se você quiser uma explicação detalhada dos significados ocultos dessa escritura, vá a "Escrituras (estudo)/Śivasūtravimarśinī" na seção Trika.

O Sânscrito de Kṣemarāja estará em verde escuro, enquanto os aforismos originais de Śiva serão exibidos em vermelho escuro. Por sua vez, dentro da transliteração, os aforismos originais estarão em marrom, enquanto os comentários de Kṣemarāja estarão em preto. Além disso, dentro da tradução, os aforismos oriiginais de Śiva, ou seja, os Śivasūtra-s, estarão em verde e preto, enquanto o comentário de Kṣemarāja terá palavras tanto em preto quanto em vermelho.

Leia a Śivasūtravimarśinī e experimente Supremo Deleite, querido Śiva.

Importante: Tudo o que está entre parênteses e em itálico dentro da tradução foi agregado por mim para completar o sentido de uma determinada frase ou oração. Por sua vez, tudo o que está dentro de um duplo hífen (-- ... --) constitui informação esclarecedora adicional também agregada por mim.


Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.


Ao início


 Aforismo 11

एवं लोकयोग्यनुसारेण व्याख्याते जागरादित्रये शक्तिचक्रसन्धानाद्विश्वसंहारेण यस्य तुर्याभोगमयत्वमभेदव्याप्त्यात्मकं स्फुरति स तद्धाराधिरोहेण तुर्यातीतं पूर्वोक्तं चैतन्यमाविशन्—


त्रितयभोक्ता वीरेशः॥११॥


एतज्जागरादित्रयं शक्तिचक्रानुसन्धानयुक्त्या तुर्यानन्दाच्छुरितं यस्तत्परामर्शानुप्रवेशप्रकर्षाद्विगलितभेदसंस्कारमानन्दरसप्रवाहमयमेव पश्यति स त्रितयस्यास्य भोक्ता चमत्कर्ता। तत एव

त्रिषु धामसु यद्भोग्यं भोक्ता यश्च प्रकीर्तितः।
वेदैतदुभयं यस्तु स भुञ्जानो न लिप्यते॥

इति नीत्या निःसपत्नस्वात्मसाम्राज्योऽयं परमानन्दपरिपूर्णो भवभेदग्रसनप्रवणानां वीराणामिन्द्रियाणामीश्वरः स्वामी श्रीमन्थानभैरवसत्तानुप्रविष्टो महाम्नायेषूच्यते। यस्त्वेवंविधो न भवति स जागराद्यवस्थाभिर्भुज्यमानो लौकिकः पशुरेव। योग्यपीमां धारामनधिरूढो न वीरेश्वरोऽपि तु मूढ एवेत्युक्तं भवति। एतच्च

योगी स्वच्छन्दयोगेन स्वच्छन्दगतिचारिणा।
स स्वच्छन्दपदे युक्तः स्वच्छन्दसमतां व्रजेत्॥

इत्यादिना श्रीस्वच्छन्दादिशास्त्रेषु वितत्य दर्शितम्। स्पन्देऽपि

तस्योपलब्धिः सततं त्रिपदाव्यभिचारिणी।

इति कारिकया सङ्गृहीतमेतत्॥११॥

Evaṁ lokayogyanusāreṇa vyākhyāte jāgarāditraye śakticakrasandhānādviśvasaṁhāreṇa yasya turyābhogamayatvamabhedavyāptyātmakaṁ sphurati sa taddhārādhiroheṇa turyātītaṁ pūrvoktaṁ caitanyamāviśan—


Tritayabhoktā vīreśaḥ||11||


Etajjāgarāditrayaṁ śakticakrānusandhānayuktyā turyānandācchuritaṁ yastatparāmarśānupraveśaprakarṣādvigalitabhedasaṁskāramānandarasapravāhamayameva paśyati sa tritayasyāsya bhoktā camatkartā| Tata eva

Triṣu dhāmasu yadbhogyaṁ bhoktā yaśca prakīrtitaḥ|
Vedaitadubhayaṁ yastu sa bhuñjāno na lipyate||

iti nītyā niḥsapatnasvātmasāmrājyo'yaṁ paramānandaparipūrṇo bhavabhedagrasanapravaṇānāṁ vīrāṇāmindriyāṇāmīśvaraḥ svāmī śrīmanthānabhairavasattānupraviṣṭo mahāmnāyeṣūcyate| Yastvevaṁvidho na bhavati sa jāgarādyavasthābhirbhujyamāno laukikaḥ paśureva| Yogyapīmāṁ dhārāmanadhirūḍho na vīreśvaro'pi tu mūḍha evetyuktaṁ bhavati| Etacca

Yogī svacchandayogena svacchandagaticāriṇā|
Sa svacchandapade yuktaḥ svacchandasamatāṁ vrajet||

ityādinā śrīsvacchandādiśāstreṣu vitatya darśitam| Spande'pi

Tasyopalabdhiḥ satataṁ tripadāvyabhicāriṇī|

iti kārikayā saṅgṛhītametat||11||


Dessa forma (evam), aquele --o Yogī-- (saḥ) no qual (yasya) o deleite e desfrute (ābhoga) do Quarto Estado (turya), que consiste (ātmakam) em uma penetração (vyāpti) no não dualismo --ausência de diferenças-- (abheda), brilha (sphurati) por meio do desaparecimento (saṁhāreṇa) do universo (viśva) mediante a união (sandhānāt) com o grupo (cakra) de poderes (śakti) nos três (traye) (estados de) vigília (jāgarā), etc. (ādi), que foram explicados em detalhes (vyākhyāte) (tanto) em conformidade (anusāreṇa) com (as experiências) de um Yogī (yogi) (quanto) das pessoas comuns (loka)1 , ingressa (āviśan) em Turyātīta --no estado além de Turya ou Turīya (o Quarto Estado)-- (turya-atītam), que foi descrito (uktam) anteriormente (pūrva) como Consciência dotada de Absoluta Liberdade para conhecer e fazer tudo (caitanyam). (Entra em Turyātīta) montando, (por assim dizer) (adhiroheṇa), na corrente (dhārā) desse (deleite e desfrute) (tad)


Aquele que é um desfrutador (do supracitado "ābhoga" um divino deleite) (bhoktā) na tríade (de vigília, sono e sono profundo) (tritaya) é um mestre (īśaḥ) de (seus) sentidos (vīra)||11||


Aquele (saḥ) que (yaḥ)(paśyati) essa (etad) tríade (trayam) de vigília (jāgarā), etc. (ādi), como borrifada (ācchuritam) da Bem-aventurança (ānanda) do Quarto Estado (turya) por meio da (yuktyā) união (anusandhāna) com o grupo (cakra) de poderes (śakti), como um fluxo contínuo (pravāha-mayam eva) da seiva e vigor (rasa) da Bem-aventurança (ānanda) na qual todas as impressões residuais (saṁskāram) da diferença --dualismo-- (bheda) foram dissolvidas (vigalita) por meio da intensidade (prakarṣāt) do ingresso (anupraveśa) na experiência e lembrança (parāmarśa) desse (Quarto Estado) (tad)... (tal pessoa é) uma desfrutadora (bhoktā) dessa (asya) tríade (tritayasya) (e também) de Camatkāra --a Felicidade da Suprema consciência do Eu-- (camatkartā). (Em outras palavras, ele desfruta da Bem-aventurança da consciência do Eu ao longo de toda a tríade de estados)|

Por essa razão (tatas eva):

"Aquele (saḥ) que (yaḥ) verdadeiramente (tu) conhece (veda) essa (etad) dupla (ubhayam), (isto é, tanto) o que (yad... yaḥ) se diz (que é) (prakīrtitaḥ) o objeto de desfrute --o objeto cognoscível-- (bhogyam) quanto (ca) o desfrutador --o conhecedor-- (bhoktā), nos três (triṣu) estados (de consciência) (dhāmasu), não é (na) contaminado (por eles) (lipyate) (ainda que possa ser) um desfrutador --experimentador-- (bhuñjānaḥ... iti) (de tais estados)"||

De acordo com (o previamente citado) preceito (nītyā), esse (grande ser) (ayam) está repleto (paripūrṇaḥ) de Suprema (parama) Bem-aventurança (ānanda), (adquire) inigualável (niḥsapatna) soberania sobre si mesmo (sva-ātma-sāmrājyaḥ) (e se torna) senhor (īśvaraḥ) (e) mestre (svāmī) de (seus) sentidos (indriyāṇām), que são (agora) vīra-s ou heróis (vīrāṇām)2  determinados a (pravaṇānām) tragar (grasana) as diferenças (bheda) (presentes) na existência mundana (bhava). Nos grandes (mahā) textos sagrados --āmnāya-s-- (āmnāyeṣu)3 , diz-se que (esse tipo de pessoa) (ucyate) entrou (anupraviṣṭaḥ) no ser (sattā) do venerável (śrī) Manthānabhairava (manthāna-bhairava)4 |

No entanto (tu), aquele (saḥ) que (yaḥ) não é (bhavati) desse tipo --isto é, aquele que não está libertado-- (evaṁ-vidhaḥ) (é) apenas (eva) um indivíduo limitado comum (laukikaḥ paśuḥ) que é desfrutado (bhujyamānaḥ) pelos estados (avasthābhiḥ) de vigília (jāgarā), etc. (ādi)|

Inclusive (api) um Yogī (yogī) que não monta, (por assim dizer,) (anadhirūḍhaḥ) nessa (imām) corrente (de deleite e desfrute --ābhoga--) (dhārām) (não pode tornar-se) um senhor (īśvaraḥ) de (seus) sentidos (vīra), mas sim (api tu) (é) apenas (eva) um ser confuso e perplexo (mūḍhaḥ). Isso é o que foi dito (sobre ele) (iti uktam bhavati)|

E (ca) esse (etad) (mesmo fato) foi mostrado (darśitam) em escrituras (śāstreṣu) (tais como) o venerável (śrī) Svacchandatantra (svacchanda), etc. (ādi), após explicá(-lo) detalhadamente (vitatya) (por meio da seguinte estrofe e de outras):

"Esse (saḥ) Yogī (yogī) que vive (cāriṇā) na condição (gati) de um ser independente --um ser libertado-- (svacchanda) por meio do Svacchandayoga --o tipo de Yoga ensinado no Svacchandatantra-- (svacchanda-yogena), ao estar unido (yuktaḥ) com o estado (pade) de Svacchanda (svacchanda)5 , alcança (vrajet) igualdade (samatā) com Svacchanda (svacchanda... iti ādinā)"||
(Ver VII, 260 em Svacchandatantra)

Esse (mesmo ensinamento) (etad) foi resumido (saṅgṛhītam) também (api) nas Spandakārikā-s (spande) por meio (da seguinte porção de) kārikā --aforismo-- (kārikayā):

"(Para o perfeitamente desperto, existe, sempre e) constantemente (satatam), a percepção (upalabdhiḥ) Disso --isto é, o Ser-- (tasya), (e essa percepção do Ser) permanece (avyabhicāriṇī) (ao longo) dos três (tri) estados (de consciência) (pada... iti)..."|
(Ver Spandakārikā-s I, 17)

||11||

1  Leia o comentário sobre os aforismos 8, 9 e 10 dessa mesma seção.Return 

2  Da mesma forma que heróis genuínos, esses sentidos divinos de uma pessoa iluminada estão sempre perseguindo a mais alta meta da vida e o bem-estar de todos. Já não são mais meros "indriya-s" ou "sentidos" torturando, a todo momento, um indivíduo limitado, mas sim poderes supremos servindo a essa pessoa espiritualmente elevada.Return 

3  Os grandes textos sagrados são 64 e sua autoria não é humana. Esse grupo de escrituras reveladas também é denominado Bhairavaśāstra-s (escrituras de Bhairava). Bhairava é, obviamente, o Ser Supremo.Return 

4  Esse epíteto do Ser Supremo significa literalmente "Bhairava como aquele que agita, sacode e mistura (o universo)", no sentido de que Ele manifesta, mantém e dissolve esse universo em Seu Ser repetidamente.Return 

5  O termo "Svacchanda" significa literalmente tanto "a própria livre vontade" quanto "independente". Nesse contexto, Svacchanda é um ser libertado, ou seja, o Próprio Śiva, mas, ao mesmo tempo, é também a Sua Absoluta e Livre Vontade para conhecer e fazer tudo. Aplicando o afixo Taddhita apropriado (Ver Afixos), a palavra "Svācchandya" surge como resultado. Significa "liberdade". Em suma, é o estado de um Svacchanda ou ser libertado. E sim, Svācchandya é sinônimo de Svātantrya (a Liberdade Absoluta do Ser Supremo).Return 

Ao início


 Aforismo 12

किमस्य महायोगिनः काश्चित् तत्त्वाधिरोहप्रत्यासन्ना भूमिकाः सन्ति याभिस्तत्त्वोर्ध्ववर्तिनी भूमिर्लक्ष्यते। सन्तीत्याह—


विस्मयो योगभूमिकाः॥१२॥


यथा सातिशयवस्तुदर्शने कस्यचिद्विस्मयो भवति तथास्य महायोगिनो नित्यं तत्तद्वेद्यावभासामर्शाभोगेषु निःसामान्यातिशयनवनवचमत्कारचिद्घनस्वात्मावेशवशात्स्मेरस्मेरस्तिमितविकसितसमस्तकरणचक्रस्य यो विस्मयोऽनवच्छिन्नानन्दे स्वात्मन्यपरितृप्तत्वेन मुहुर्मुहुराश्चर्यायमाणता ता एव योगस्य परतत्त्वैक्यस्य सम्बन्धिन्यो भूमिकास्तदध्यारोहविश्रान्तिसूचिकाः परिमिता भूमयो न तु कन्दबिन्द्वाद्यनुभववृत्तयः। तदुक्तं श्रीकुलयुक्तौ

आत्मा चैवात्मना ज्ञातो यदा भवति साधकैः।
तदा विस्मयमात्मा वै आत्मन्येव प्रपश्यति॥

इति। एतच्च

तमधिष्ठातृभावेन स्वभावमवलोकयन्।
स्मयमान इवास्ते यस्तस्येयं कुसृतिः कुतः॥

इति कारिकया सङ्गृहीतम्॥१२॥

Kimasya mahāyoginaḥ kāścit tattvādhirohapratyāsannā bhūmikāḥ santi yābhistattvordhvavartinī bhūmirlakṣyate| Santītyāha—


Vismayo yogabhūmikāḥ||12||


Yathā sātiśayavastudarśane kasyacidvismayo bhavati tathāsya mahāyogino nityaṁ tattadvedyāvabhāsāmarśābhogeṣu niḥsāmānyātiśayanavanavacamatkāracidghanasvātmāveśavaśātsmerasmerastimitavikasitasamastakaraṇacakrasya yo vismayo'navacchinnānande svātmanyaparitṛptatvena muhurmuhurāścaryāyamāṇatā tā eva yogasya paratattvaikyasya sambandhinyo bhūmikāstadadhyārohaviśrāntisūcikāḥ parimitā bhūmayo na tu kandabindvādyanubhavavṛttayaḥ| Taduktaṁ śrīkulayuktau

Ātmā caivātmanā jñāto yadā bhavati sādhakaiḥ|
Tadā vismayamātmā vai ātmanyeva prapaśyati||

iti| Etacca

Tamadhiṣṭhātṛbhāvena svabhāvamavalokayan|
Smayamāna ivāste yastasyeyaṁ kusṛtiḥ kutaḥ||

iti kārikayā saṅgṛhītam||12||


Há etapas (kim... kāścid... bhūmikāḥ santi) estreitamente conectadas (pratyāsannāḥ) à ascensão (adhiroha) desse (asya) grande (mahā) Yogī (yoginaḥ) até o Princípio Supremo (tattva), por meio das quais (yābhiḥ) se possa marcar (lakṣyate) uma elevada (ūrdhvavartinī) posição (espiritual) (bhūmiḥ)?|

(O Senhor Śiva, autor deses aforismos,) disse (āha): "Há (santi iti)"—


As etapas (bhūmikāḥ) do Yoga (yoga) (são) uma fascinante maravilha (vismayaḥ)||12||


Assim como (yathā) existe (bhavati) (a experiência de) fascinante maravilha (vismayaḥ) quando alguém vê (darśane kasyacid) uma realidade (vastu) superior (sātiśaya), da mesma forma (tathā), (existe) sempre (nityam) (a experiência de fascinante maravilha quando) esse grande Yogī (asya mahā-yoginaḥ), que permanece calmo (stimita), sorridente (smera) (e) aberto (como uma flor) (smera) (porque o seu) grupo (cakrasya) inteiro (samasta) de sentidos (karaṇa) (foi agora) expandido (vikasita), (desfruta dos) deleites --ābhoga-- (ābhogeṣu) (associados à) experiência (āmarśa) de manifestação (avabhāsa) de diversos (tad tad) objetos cognoscíveis (vedya). (Esse grupo de sentidos foi expandido) por meio (vaśāt) de uma penetração (āveśa) em seu próprio (sva) Ser (ātma), (que é) uma massa (ghana) de Consciência (cit) (repleta da) sempre nova (nava-nava), preeminente (atiśaya) (e) extraordinária (niḥsāmānya) Felicidade da consciência do Eu (camatkāra). Essa (yaḥ) fascinante maravilha (vismayaḥ) (é) um estado que se torna maravilhoso (āścaryāyamāṇatā) repetidamente (muhurmuhur). (Essa condição é experimentada pelo Yogī) em seu próprio (sva) Ser (ātmani), que consiste de ininterrupta (anavacchinna) Bem-aventurança (ānande), com ausência de satisfação completa (aparitṛptatvena) --o Yogī nunca está plenamente satisfeito com esse estado de maravilha, ou seja, deseja mais e mais dele--. Essas (tāḥ eva) etapas (bhūmikāḥ) estão conectadas (sambandhinyaḥ) ao Yoga (yogasya) (ou) unidade (aikyasya) com o Mais Elevado (para) Princípio (tattva) --o Ser Supremo--. (Essas) definidas (parimitāḥ) etapas ou estações (bhūmayaḥ) indicam (sūcikāḥ) repousos (do Yogī) (viśrānti) na (sua) ascensão (adhyāroha) a Isso --o Mais Elevado Princípio-- (tad), e não (na tu) condições (vṛttayaḥ) de experiência (anubhava) (relacionadas a) Kanda (kanda), Bindu (bindu), etc. (ādi)1 |

Isso (tad) foi dito (também) (uktam) na venerável (śrī) Kulayukti (kulayuktau):

"E (ca eva), quando (yadā) o Ser (ātmā) é (bhavati) conhecido (jñātaḥ) pelos adeptos (sādhakaiḥ) por meio (desse mesmo) Ser (ātmanā), então (tadā) o Ser (ātmā) contempla (prapaśyati) uma fascinante maravilha (vismayam) em Si Mesmo (ātmani), realmente (vai... eva... iti)"||

Essa (mesma verdade) (etad ca) foi resumida (saṅgṛhītam) por meio do (seguinte) aforismo (kārikayā) (das Spandakārikā-s):

"Como (kutas) (pode) esse (iyam) vil (ku) caminho transmigratório (sṛtiḥ) (ser) daquele (tasya) que (yaḥ) permanece (āste) assombrado (ou pasmado) (smayamānaḥ), por assim dizer (iva), enquanto contempla (avalokayan) essa (tam) natureza essencial (ou Spanda) (sva-bhāvam) como sendo (bhāvena) a regente (do universo inteiro) (adhiṣṭhātṛ... iti)?"||
(Ver Spandakārikā-s I, 11)

||12||

1  Embora os termos Kanda e Bindu geralmente signifiquem, respectivamente, "a fonte em forma de ovo de todas as nāḍī-s ou canais no corpo sutil" e "um ponto que simbolica o Conhecedor Supremo --Śiva--", nesse contexto, esses dois termos significam Mūlādhāra e Ājñā (os conhecidos cakra-s situados no corpo sutil).Return 

Ao início


 Aforismo 13

ईदृग्योगभूमिकासमापन्नस्यास्य योगिनः—


इच्छाशक्तिरुमा कुमारी॥१३॥


योगिनः परभैरवतां समापन्नस्य या इच्छा सा शक्तिरुमा परैव पारमेश्वरी स्वातन्त्र्यरूपा सा च कुमारी विश्वसर्गसंहारक्रीडापरा कुमार क्रीडायामिति पाठात्।

अथ च कुं भेदोत्थापिकां मायाभूमिं मारयत्यनुद्भिन्नप्रसरां करोति तच्छीला। कुमारी च परानुपभोग्या भोक्त्रैकात्म्येन स्फुरन्ती।

अथवा यथा उमा कुमारी परिहृतसर्वासङ्गा महेश्वरैकात्म्यसाधनाराधनाय नित्योद्युक्ता तथैवास्येच्छेत्यस्मद्गुरुभिरित्थमेव पाठो दृष्टो व्याख्यातश्च।

अन्यैस्तु शक्तितमेति पठित्वा ज्ञानक्रियापेक्षोऽस्याः प्रकर्षो व्याख्यातः।

एवं न लौकिकवदस्य योगिनः स्थूलेच्छापि तु परा शक्तिरूपैव सर्वत्राप्रतिहता। तदुक्तं श्रीमत्स्वच्छन्दे

सा देवी सर्वदेवीनां नामरूपैश्च तिष्ठति।
योगमायाप्रतिच्छन्ना कुमारी लोकभाविनी॥

इति। श्रीमृत्युञ्जयभट्टारकेऽपि

सा ममेच्छा परा शक्तिरवियुक्ता स्वभावजा।
वह्नेरूष्मेव विज्ञेया रश्मिरूपा रवेरिव॥
सर्वस्य जगतो वापि सा शक्तिः कारणात्मिका।

इति। तदेतत्

न हीच्छानोदनस्यायं प्रेरकत्वेन वर्तते।
अपि त्वात्मब्लस्पर्शात्पुरुषस्तत्समो भवेत्॥

इति कारिकया भङ्ग्या प्रतिपादितम्॥१३॥

Īdṛgyogabhūmikāsamāpannasyāsya yoginaḥ—


Icchāśaktirumā kumārī||13||


Yoginaḥ parabhairavatāṁ samāpannasya yā icchā sā śaktirumā paraiva pārameśvarī svātantryarūpā sā ca kumārī viśvasargasaṁhārakrīḍāparā kumāra krīḍāyāmiti pāṭhāt|

Atha ca kuṁ bhedotthāpikāṁ māyābhūmiṁ mārayatyanudbhinnaprasarāṁ karoti tacchīlā| Kumārī ca parānupabhogyā bhoktraikātmyena sphurantī|

Athavā yathā umā kumārī parihṛtasarvāsaṅgā maheśvaraikātmyasādhanārādhanāya nityodyuktā tathaivāsyecchetyasmadgurubhiritthameva pāṭho dṛṣṭo vyākhyātaśca|

Anyaistu śaktitameti paṭhitvā jñānakriyāpekṣo'syāḥ prakarṣo vyākhyātaḥ|

Evaṁ na laukikavadasya yoginaḥ sthūlecchāpi tu parā śaktirūpaiva sarvatrāpratihatā| Taduktaṁ śrīmatsvacchande

Sā devī sarvadevīnāṁ nāmarūpaiśca tiṣṭhati|
Yogamāyāpraticchannā kumārī lokabhāvinī||

iti| Śrīmṛtyuñjayabhaṭṭārake'pi

Sā mamecchā parā śaktiraviyuktā svabhāvajā|
Vahnerūṣmeva vijñeyā raśmirūpā raveriva||
Sarvasya jagato vāpi sā śaktiḥ kāraṇātmikā|

iti| Tadetat

Na hīcchānodanasyāyaṁ prerakatvena vartate|
Api tvātmablasparśātpuruṣastatsamo bhavet||

iti kārikayā bhaṅgyā pratipāditam||13||


Desse (asya) Yogī (yoginaḥ) que alcançou (samāpannasya) tais (īdṛk) etapas (bhūmikā) do Yoga (yoga)


O Poder (śaktiḥ) de Vontade (icchā) (do Yogī iluminado é) o "Esplendor de Śiva" (umā), (o qual é) Kumārī (kumārī)||13||


Esse (yā... sā) poder (śaktiḥ) de Vontade (icchā) do Yogī (yoginaḥ) que chegou (samāpannasya) ao estado do Mais Alto Bhairava (para-bhairavatāṁ) (é) Umā --Esplendor de Śiva-- (umā). (Essa Umā é) apenas (eva) a mais alta (parā) Senhora do Senhor Supremo (pārama-īśvarī), cuja --Dela-- natureza (rūpā) é Svātantrya ou Liberdade Absoluta (svātantrya). E (ca), segundo a leitura --isto é, a interpretação-- (pāṭhāt) "kumāra krīḍāyām" (kumāra krīḍāyām iti)1 , Ela (sā) (se chama) Kumārī (kumārī), (porque) está dedicada (parā) ao jogo (krīḍā) de manifestar (sarga) (e) retirar (saṁhāra) o universo (viśva) --Kṣemarāja explicou o significado do aforismo de um ponto de vista "abheda", ou seja, de maneira não dual--|

E, da mesma forma (atha ca), (Kumārī é aquela que) faz com que a etapa de Māyā (ou) Ku morra (kum... māyā-bhūmiṁ mārayati). (Māyā) produz o surgimento (utthāpikām) de bheda ou dualidade (bheda). (A declaração "aquela que faz com que a etapa de Māyā ou Ku morra" significa que) Ela impede (an... karoti) que (Māyā) se espalhe e difunda (udbhinna-prasarām). (Assim, Kumārī é aquela que tem) essa (tad) natureza ou disposição (śīlā)2 . Além disso (ca), Kumārī (kumārī) (é essa Śakti ou Poder que) aparece brilhantemente (sphurantī) em unidade (eka-ātmyena) com o Bhoktā ou Desfrutador --Śiva-- (bhoktrā) (e) nunca é desfrutada (anupabhogyā) por outros (para) --Kṣemarāja explicou o significado do aforismo de um ponto de vista "bheda-abheda", ou seja, com uma mistura de dualismo e não dualismo--|

Ou (athavā), assim como (yathā) a virgem (kumārī) Umā (umā), tendo abandonado (parihṛta) todo (sarva) apego (āsaṅgā), (está) sempre (nitya) ocupada (udyuktā) com a adoração (ārādhanāya) que leva diretamente (sādhana) à unidade (eka-ātmya) com o grande (mahā) Senhor (īśvara), assim também (tathā) (é), certamente (eva), a Vontade (icchā) desse (Yogī) (asya)3 . Essa leitura foi, dessa forma (iti... ittham eva pāṭhaḥ), vista (dṛṣṭaḥ)4  e (ca) explicada em detalhes (vyākhyātaḥ) pelos nossos (asmad) Guru-s --preceptores espirituais-- (gurubhiḥ) --Kṣemarāja explicou o significado do aforismo de um ponto de vista "bheda", isto é, de maneira dual--|

No entanto (tu), (esse aforismo,) tendo sido lido (paṭhitvā) (como) "śaktitamā" --o mais alto Poder-- (śaktitamā iti) por outros (autores) (anyaiḥ), (de acordo com eles,) explica em pleno detalhe (vyākhyātaḥ) a preeminência ou superioridade (prakarṣaḥ) desse (poder de Vontade) (asyāḥ) sobre (apekṣaḥ) conhecimento (jñāna) (e) ação (kriyā)5 |

Dessa forma (evam), o poder de Vontade (icchā) desse (asya) Yogī (yoginaḥ) não é bruto (sthūlā) como o das pessoas comuns (laukika-vat), mas sim (api tu) (é como) o Próprio Poder Supremo (parā śakti-rūpā eva), (ou seja,) não obstruído (apratihatā) em todos os lugares (sarvatra)|

Isso (tad) foi declarado (uktam) no venerável (śrīmad) Svacchandatantra (svacchande):

"A Deusa (sā devī) permanece (tiṣṭhati) como os nomes e formas (nāmarūpaiḥ ca) de todas (sarva) as deusas (devīnāṁ), permanece (tiṣṭhati) coberta (praticchannā) pela Yogamāyā --o poder velador surgido do Yoga ou identificação com o Senhor-- (yoga-māyā), (é) umaa virgem (kumārī) (e) promove o bem-estar (bhāvinī) das pessoas (loka... iti)"||
(Ver Svacchandatantra X, 727)

(E) inclusive (api) no muito venerável (śrī... bhaṭṭārake) Mṛtyuñjayatantra (mṛtyuñjaya):

"A suprema (sā.. parā) Śakti (śaktiḥ), que é não dividida --inseparável do Senhor-- (aviyuktā) (e) natural (sva-bhāva-jā), (é) o Meu (mama) (poder) de Vontade (icchā). Ela deve ser conhecida (vijñeyā) (como tendo a mesma relação Comigo) que (iva... iva) (a relação existente entre o) calor (ūṣmā) (e) o fogo (vahneḥ) (e entre) um raio de luz (raśmi-rūpā) (e) o sol (raveḥ). Essa (sā) Śakti (śaktiḥ) (é) certamente (vā api) a causa (kāraṇa-ātmikā) do mundo inteiro (sarvasya jagataḥ)!"|
(Ver I, 25-26 no Mṛtyuñjayatantra)

Essa mesma (verdade) (tad etad) (foi) indiretamente (bhaṅgyā) estabelecida (pratipāditam) por um aforismo (kārikayā) (das Spandakārikā-s):

"Esse (indivíduo limitado) (ayam) não (na hi) dirige ou maneja (prerakatvena vartate) o impulso (nodanasya) do desejo (icchā). Mas, ainda assim (api tu), pondo-se em contato (sparśāt) com a Força ou Poder (bala) do Ser (ātma), (essa) pessoa (puruṣaḥ) se torna (bhavet) igual (samaḥ) a Isso (tad... iti)"||
(Ver Spandakārikā-s I, 8)

||13||

1  A primeira interpretação de Kṣemarāja tem a ver com Abheda ou Não Dualismo. A frase "kumāra krīḍāyām" implica, de maneira sucinta, que a palavra "kumārī" deriva da raiz "kumār", que significa "brincar como uma criança". O termo "krīḍāyām" (que gosta de brincar) denota que Ela gosta de brincar (como uma criança), e o Seu jogo consiste em manifestar o universo e retirá-lo de dentro de Si Mesma repetidamente. Bem, só uma curta explicação por enquanto, porque aprofundar esse tema levaria a expor sobre como a raiz "kumār" é formada e conjugada... e isso envolve um avançado conhecimento de sânscrito com que a maioria dos leitores pode apenas sonhar. Chega disso então, senão as suas mentes ficarão ainda mais confusas!Return 

2  O sábio interpreta a palavra "kumārī" como um acróstico: ku + mārī. De acordo com ele, "ku" simboliza Māyā, o poder que produz dualism (diferenças na forma de múltiplos sujeitos e objetos), enquanto "mārī" sugere "mārayati" - "Ela faz morrer". Portanto, o supremo poder de Vontade do Yogī é Kumārī, pois Ela destrói Māyā. Em outras palavras, Ela não permite que Māyā se espalhe. O autor esclareceu esse ponto adicionando "anudbhinnaprasarāṁ karoti" - "Ela impede que (Māyā) se espalhe e difunda", pois não é possível que ocorra nenhuma destruição aqui. Como o universo é essencialmente um com Śakti, falar de uma "destruição" de algo nele é apenas uma maneira simples de expressar o que é, na verdade, uma "retirada" dentro da sua Fonte, ou seja, dentro Dela Mesma.Return 

3  O autor interpreta a palavra "kumārī" como "virgem". Nesse caso, Umā é a conhecida esposa de Śiva nas estórias purânicas, ou seja, Pārvatī. O poder de Vontade de um Yogī é identificado com Pārvatī (a jovem virgem sempre ocupada com a adoração do Seu marido), pois Ela não tem filhos. Em outras palavras: "Ela nunca deu origem a nenhum universo!" Manifestação, manutenção e retirada do universo são meras formas de falar sobre processos em uma Realidade que é, paradoxalmente, imutável. Então, nunca surgiu Dela um universo, e, portanto, não é possível nenhuma manutenção/retirada dele. Esse mistério só pode ser compreendido por aqueles que foram abençoados com a graça de Deus. Posso falar dessa maneira dualista porque, no parágrafo em questão, o comentarista interpreta o aforismo de um ponto de vista "bheda", ou seja, de maneira dual.Return 

4  Não somente "leituras", mas sim escrituras inteiras aparecem diante de um sublime Yogī e ele pode, literalmente, "vê-las". Então, embora isso possa parecer estranho para a maioria das pessoas, as novas leituras, escrituras, mantra-s, etc., não são "ouvidas", mas sim "vistas" por um grande Yogī.Return 

5  Kṣemarāja está mencionando a leitura desse 13o aforismo segundo Bhāskara, o autor do célebre Śivasūtravārttika (outro importante comentário sobre os Śivasūtra-s): "इच्छा शक्तितमा कुमारी" - "Icchā śaktitamā kumārī" (traduzido resumidamente como "a Vontade, que é o mais alto Poder, (é) Kumārī". Resumindo, no Śivasūtravārttika, você encontrará que o aforismo em questão aparece como "Icchā śaktitamā kumārī" em vez de "Icchāśaktirumā kumārī". De qualquer forma, como o comentário de Kṣemarāja (a Śivasūtravimarśinī) é considerado como o mais autorizado, traduzi a versão dos Śivasūtra-s de acordo com Kṣemarāja (e não de acordo com Bhāskara e outros autores).Return 

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 Aforismo 14

ईदृशस्य महेच्छस्य—


दृश्यं शरीरम्॥१४॥


यद्यद्दृश्यं बाह्यमाभ्यन्तरं वा तत्तत्सर्वम् अहमिदमितिसदाशिववन्महासमापत्त्या स्वाङ्गकल्पमस्य स्फुरति न भेदेन।

शरीरं च देहधीप्राणशून्यरूपं नीलादिवद्दृश्यं न तु पशुवद्द्रष्टृतया भाति। एवं देहे बाह्ये च सर्वत्रास्य मयूराण्डरसवदविभक्तैव प्रतिपत्तिर्भवति। यथोक्तं श्रीविज्ञानभैरवे

जलस्येवोर्मयो वह्नेर्ज्वालाभङ्ग्यः प्रभा रवेः।
ममैव भैरवस्यैता विश्वभङ्ग्यो विनिर्गताः॥

इति। एतच्च

भोक्तैव भोग्यभावेन सदा सर्वत्र संस्थितः।

इत्यनेन सङ्गृहीतम्॥१४॥

Īdṛśasya mahecchasya—


Dṛśyaṁ śarīram||14||


Yadyaddṛśyaṁ bāhyamābhyantaraṁ vā tattatsarvam ahamidamitisadāśivavanmahāsamāpattyā svāṅgakalpamasya sphurati na bhedena|

Śarīraṁ ca dehadhīprāṇaśūnyarūpaṁ nīlādivaddṛśyaṁ na tu paśuvaddraṣṭṛtayā bhāti| Evaṁ dehe bāhye ca sarvatrāsya mayūrāṇḍarasavadavibhaktaiva pratipattirbhavati| Yathoktaṁ śrīvijñānabhairave

Jalasyevormayo vahnerjvālābhaṅgyaḥ prabhā raveḥ|
Mamaiva bhairavasyaitā viśvabhaṅgyo vinirgatāḥ||

iti| Etacca

Bhoktaiva bhogyabhāvena sadā sarvatra saṁsthitaḥ|

ityanena saṅgṛhītam||14||


Para esse tipo de (īdṛśasya) (Yogī) que alcançou (esse) grande (poder) de Vontade (mahā-icchasya)


Todos os fenômenos (externos ou internos) (dṛśyam) (são) o corpo (śarīram) (do Yogī iluminado)||14||


Qualquer coisa (yad yad) que seja perceptível (dṛśyam) (pelo Yogī, seja) externamente (bāhyam) ou (vā) internamente (ābhyantaram), para ele (asya), tudo (sarvam) isso (tad tad) aparece (sphurati) como (kalpam) o seu (sva) corpo (aṅga) e não como algo distinto (dele) (na bhedena), devido à (sua) grande conquista (mahā-samāpattyā) (que surge na forma do sentimento) "Eu (aham) (sou) Isso (idam iti)" --Eu sou o universo-- como (vat) (o de) Sadāśiva (sadāśiva)1  --Kṣemarāja comentou sobre o aforismo na sua leitura usual como "Dṛśyaṁ śarīram"; mas os comentários no parágrafo seguinte serão baseados na leitura "Śarīraṁ dṛśyaṁ"--|

Além disso (ca), (para esse tipo de Yogī), śarīra ou corpo (śarīram), (seja) na forma (rūpam) de corpo físico (deha), pensamento (dhī), energia vital (prāṇa) (ou) vazio (śūnya) (en vigília, sonho, etc.), aparece (bhāti) como um fenômeno --algo objetivo-- (dṛśyam) tal como (vat) (a cor) azul (nīla), etc. (ādi), e não (na tu) como o percebedor (draṣṭṛtayā), como (no caso de) (vat) um ser condicionado (paśu)2 |

Dessa forma (evam), no corpo (dehe), externamente (bāhye) e (ca) em todos os lugares (sarvatra), a sua (asya) percepção (pratipattiḥ) é (bhavati) certamente (eva) não dividida ou indiferenciada (avibhaktā), da mesma forma que (vat) o plasma (rasa) do ovo de um pavão (mayūra-aṇḍa) --em outras palavras, a sua percepção é completamente homogênea, assim como esse plasma--|

Como (yathā) foi declarado (uktam) no venerável (śrī) Vijñānabhairava (vijñānabhairave):

"(Assim como) a ondas (ūrmayaḥ) (são modos) da água (jalasya), as chamas (jvālā-bhaṅgyaḥ) (são modos) do fogo (vahneḥ) (e) a luz (prabhā) (é um modo) do sol (raveḥ), (da mesma forma,) esses (etāḥ) modos --como ondas-- (bhaṅgyaḥ) do universo (viśva) saíram (vinirgatāḥ) de Mim (mama eva), Bhairava (bhairavasya... iti)"||

Isso (etad ca) foi resumido (saṅgṛhītam) por meio dessa (porção do aforismo) (anena) (das Spandakārikā-s):

"... O próprio (eva) experimentador (bhoktā), sempre (sadā) (e) em todos os lugares (sarvatra), permanece (saṁsthitaḥ) na forma (bhāvena) do experimentado (bhogya... iti)"||
(Ver Spandakārikā-s II, 4)

||14||

1  Sadāśiva é o terceiro tattva ou categoria no processo de manifestação universal. Quando o Poder Supremo do Senhor extrai o universo (Idam ou Isso) a partir Dele, Idam aparece de maneira indistinta (nebulosa). Como os primeiros tattva-s ou categorias são o Senhor e Seu Poder (Śiva e Śakti), Sadāśiva realmente marca o surgimento do universo. Antes de Sadāśiva, o Senhor sente "Eu sou", mas, uma vez que Sadāśiva é manifestado, o Senhor sente "Eu sou Isso", pois Idam ou Isso (o universo) começou a ser exibido pelo Seu divino Poder. Então, por meio da sua identificação com o Ser Supremo, o Yogī tem a mesma experiência que o Ser Supremo com relação ao universo. Para mais informação, leia Trika 3.Return 

2  Aqui, Kṣemarāja indica que o significado de śarīra é "corpo", mas não meramente "corpo físico". Ele mostra que esse "corpo" também pode tomar a forma de pensamento (em sonhos), energia vital (em sono profundo) ou ainda de vazio (en Māyā). Além disso, o sábio claramente indica que o fato de que os seres limitados consideram śarīra  ou corpo como o percebedor, enquanto um ser iluminado não. Uma alma elevada percebe śarīra como outro objeto e nunca como sendo o sujeito ou percebedor. E por que os seres condicionados considerem śarīra como o percebedor? Porque estão identificados com śarīra, isto é, com o corpo físico, pensamento, energia vital ou vazio. Identificar-se com śarīra é um grave erro; porém, a pesada carga do seu condiciomaneto os força a cometer esse equívoco. E qual é a saída para eles?: "Identificar-se com sua natureza essencial, ou seja, o Senhor". No entanto, isso somente ocorre mediante o favor desse mesmo Senhor que é, paradoxalmente, eles mesmos.Return 

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 Aforismo 15

यच्चेदं सर्वस्य दृश्यस्य शरीरतया शून्यान्तस्य च दृश्यतयैकरूपं प्रकाशनमुक्तं नैतद्दुर्घटमपि तु—


हृदये चित्तसङ्घट्टाद्दृश्यस्वापदर्शनम्॥१५॥


विश्वप्रतिष्ठास्थानत्वाच्चित्प्रकाशो हृदयं तत्र चित्तसङ्घट्टाच्चलतश्चलतस्तदेकाग्रभावताद्दृश्यस्य नीलदेहप्राणबुद्ध्यात्मनः स्वापस्य चैतदभावरूपस्य शून्यस्य दर्शनं त्यक्तग्राह्यग्राहकविभेदेन यथावस्तु स्वाङ्गकल्पतया प्रकाशनं भवति। चित्प्रकाशतामभिनिविशमानं हि चित्तं तदाच्छुरितमेव विश्वं पश्यति। तदुक्तं श्रीविज्ञानभैरवे

हृद्याकाशे निलीनाक्षः पद्मसम्पुटमध्यगः।
अनन्यचेताः सुभगे परं सौभाग्यमाप्नुयात्॥

इति। परं ह्यत्र सौभाग्यं विश्वेश्वरतापत्तिः। तत्त्ववृत्तिसमापन्नं महायोगिनमुद्दिश्य श्रीमत्स्वच्छन्देऽपि

स च सर्वेषु भूतेषु भावतत्त्वेन्द्रियेषु च।
स्थावरं जङ्गमं चैव चेतनाचेतनस्थितम्॥
आध्वानं व्याप्य सर्वं तु सामरस्येन संस्थितः।

इति। स्पन्दे तु

तथा स्वात्मन्यधिष्ठानात्सर्वत्रैवं भविष्यति॥

इत्यनेनैवैतत्सङ्गृहीतम्॥१५॥

Yaccedaṁ sarvasya dṛśyasya śarīratayā śūnyāntasya ca dṛśyatayaikarūpaṁ prakāśanamuktaṁ naitaddurghaṭamapi tu—


Hṛdaye cittasaṅghaṭṭāddṛśyasvāpadarśanam||15||


Viśvapratiṣṭhāsthānatvāccitprakāśo hṛdayaṁ tatra cittasaṅghaṭṭāccalataścalatastadekāgrabhāvatāddṛśyasya nīladehaprāṇabuddhyātmanaḥ svāpasya caitadabhāvarūpasya śūnyasya darśanaṁ tyaktagrāhyagrāhakavibhedena yathāvastu svāṅgakalpatayā prakāśanaṁ bhavati| Citprakāśatāmabhiniviśamānaṁ hi cittaṁ tadācchuritameva viśvaṁ paśyati| Taduktaṁ śrīvijñānabhairave

Hṛdyākāśe nilīnākṣaḥ padmasampuṭamadhyagaḥ|
Ananyacetāḥ subhage paraṁ saubhāgyamāpnuyāt||

iti| Paraṁ hyatra saubhāgyaṁ viśveśvaratāpattiḥ| Tattvavṛttisamāpannaṁ mahāyoginamuddiśya śrīmatsvacchande'pi

Sa ca sarveṣu bhūteṣu bhāvatattvendriyeṣu ca|
Sthāvaraṁ jaṅgamaṁ caiva cetanācetanasthitam||
Ādhvānaṁ vyāpya sarvaṁ tu sāmarasyena saṁsthitaḥ|

iti| Spande tu

Tathā svātmanyadhiṣṭhānātsarvatraivaṁ bhaviṣyati||

ityanenaivaitatsaṅgṛhītam||15||


Isso (idam) que (yad ca) foi dito (uktam) (sobre o grande Yogī), a saber, (que) há aparecimento (prakāśanam) de todos (sarvasya) os fenômenos (externos ou internos) (dṛśyasya) —também (ca) (considerando) como fenômeno (dṛśyatayā), (por assim dizer,) até mesmo o que vai até (antasya) o (estado de) vazio (śūnya)— como (o seu próprio) corpo (śarīratayā) de maneira uniforme --isto é, como uma única forma-- (eka-rūpam), não é --lit. isso não é-- (na etad) difícil de cumprir (durghaṭam), mas sim (api tu)1 


Mediante a união (saṅghaṭṭāt) da mente (citta) com o núcleo da Consciência (hṛdaye), (todos) os fenômenos (externos ou internos) (dṛśya) (e inclusive) vazio (svāpa) aparecem (darśanam) (tal como são essencialmente)||15||


(Aqui,) hṛdaya --o núcleo ou coração-- (yā... sā) (é) a Luz (prakāśaḥ) da Consciência (cit), já que é a fundação (pratiṣṭhā-sthānatvāt) do universo (viśva). Nesse (hṛdaya) (tatra), por meio da união (saṅghaṭṭāt) da mente (citta)(isto é,) realizando (bhāvatāt) concentração (ekāgra) da inquieta (mente) (calataḥ calataḥ) Nisso --na Luz da Consciência-- (tad)—, há (bhavati) darśana (darśanam) (ou) aparecimento (prakāśanam) de todos os fenônemos (externos ou internos) (dṛśyasya)(ou seja,) de azul (nīla), corpo físico (deha), energia vital (prāṇa) (e) intelecto (buddhi-ātmanaḥ)—, e (ca) (inclusive) de svāpa (svāpasya) (ou) vazio (śūnyasya)(resumidamente,) daquilo cuja natureza (rūpasya) (é) ausência (abhāva) disso --isto é, dos fenômenos externos e internos-- (etad)—, como (kalpatayā) o próprio (sva) corpo (aṅga)(em outras palavras, há aparecimento de todos esses fenômenos e vazio) tal como eles são essencialmente (yathā-vastu), desprovidos de distinção (tyakta... vibhedena) entre sujeito (grāhaka) (e) objeto (grāhya)2 |

Não há dúvidas (hi) de que a mente (cittam) que ingressa (abhiniviśamānam) na Luz (prakāśatām) da Consciência (cit)(paśyati) o universo (viśvam) como saturado (ācchuritam eva) com essa (Luz) (tad)|

Isso (tad) (também) foi dito (uktam) no venerável (śrī) Vijñānabhairava (vijñānabhairave):

"Aquele cujos sentidos (akṣaḥ) estão fixos (nilīna) no éter ou espaço (ākāśe) dentro do coração --dentro do lótus do coração-- (hṛdi), que permanece (gaḥ) no meio (madhya) dos (dois) hemisférios (sampuṭa) (desse) lótus (padma) --isto é, onde mora o Ser--, cuja mente (cetāḥ) (é) não dividida --ou seja, cuja mente está concentrada e vê o universo como saturado com a Luz da Consciência-- (ananya), obtém (āpnuyāt) a mais alta (param) fortuna ou bem-estar (saubhāgyam), oh Bela (subhage... iti)"||

Aqui (atra), a mais alta (param) fortuna (saubhāgyam) (é), certamente (hi), a aquisição (āpattiḥ) de senhorio (īśvaratā) sobre o universo (viśva)|

Com relação ao (uddiśya) grande (mahā) Yogī (yoginam) que atingiu (samāpannam) o estado (vṛtti) do Princípio Supremo (tattva), no venerável (śrīmad) Svacchandatantra (svacchande), (foi declarado) também (api):

"Aquele (saḥ ca) (que alcançou identidade com Bhairava --com o Senhor--) penetrando (vyāpya) todos (tu sarvam) os (seis) cursos (ādhvānam)3  presentes (sthitam) (nas) entidad(es) inconscientes (acetanam) (ou) inanimadas (sthāvaram) e (ca eva) (nas) entidades conscientes (cetana) (ou) animadas (jaṅgamam) --resumidamente, em tudo o que se move e é estacionário dentro desse universo-- permanece (saṁsthitaḥ) como idêntico a Bhairava (sāmarasyena) em todos (sarveṣu) os seres (bhūteṣu), objetos (bhāva), categorias da manifestação universal (tattva) e (ca) indriya-s --os dez Poderes de Percepção e Ação-- (indriyeṣu... iti)4 "|
(Ver IV, 310 no Svacchandatantra)

Nas Spandakārikā-s (spande tu), esse (mesmo ensinamento) (etad) foi resumido (saṅgṛhītam) por esta (porção de aforismo) (anena eva):

"... assim (também) (tathā), por meio do estabelecimento (adhiṣṭhānāt) no próprio (sva) Ser (ātmani) (de uma pessoa), existirá (bhaviṣyati) dessa maneira (evam) (onisciência) em todos os lugares (sarvatra... iti)"||
(Ver Spandakārikā-s III, 7)

||15||

1  Embora Kṣemarāja pareça estar contando uma piada, ele está certamente falando sério. O Estado Supremo não é difícil de alcançar, já que "uma pessoa é sempre o Senhor", e sobre isso não há dúvidas. De qualquer forma, do ponto de vista de um ser limitado, a tarefa parece impossível devido à sua pesada carga de limitações. Obviamente, isso é, na verdade, uma maneira de falar, pois o ser limitado é simplesmente o Próprio Senhor crendo que está "atado por Māyā" e coisas assim. Como o Senhor é absoluto, Ele também pode tornar-se "absolutamente" ignorante. Portanto, não há contradição ou exagero algum no que o sábio estabeleceu. É somente quando o Senhor engana a Si Mesmo que a tarefa de perceber todos os fenômenos como o próprio corpo parece uma missão impossível. Então, pare de enganar a Si Mesmo, querido Senhor, e acorde! De forma resumida, se o leitor ainda "pensar" que tudo o que o sábio está escrevendo tem a ver com um Senhor, um Yogī iluminado, etc., diferente dele(a), então o leitor ainda não compreendeu nada sobre essa escritura. Se esse for o caso, deve-se avisar que o leitor não está, de maneira alguma, em uma condição desejável! Bem, só um lembrete para o leitor, porque é muito comum alguém que esqueça a sua natureza quando lê esse tipo de escritura e, assim, comece a pensar que o Senhor é Alguém que existe "em algum outro lugar" fora ou "profundamente" dentro ("quão profundamente, sendo o corpo tão fino?", pergunto-me), e toda essa loucura.Return 

2  Se você sentir que está a ponto de ter um ataque cardíaco, não se preocupe, pois venho ao resgate! Primeiro, deixe-me explicar o que fiz: Como esse site também ensina Sânscrito, optei por uma tradução "literal" do comentário para que os estudantes aprendam como um texto do mundo real foi escrito em Sânscrito. A outra opção teria sido traduzir fragmento por fragmento [por exemplo, (no aforismo,) a frase "citta-saṅghaṭṭāt" (significa) "realizando concentração da inquieta (mente) Nisso --na Luz da Consciência--"]. Esteja certo de que isso teria sido realmente mais fácil de ler. No entanto, "isso não é exatamente o que o autor escreveu". Kṣemarāja descreveu cada uma das porções do aforismo de maneira contínua, e não fragmento por fragmento. Portanto, como estou ensinando Sânscrito além de traduzir textos, sempre optarei por traduzir tudo da maneira mais literal possível.

De qualquer forma, sinto-me compassivo hoje e, portanto, extrairei o parágrafo da massa de explicações adicionais que aparecem entre travessões (—...—):

"(Aqui), hṛdaya --o núcleo ou coração-- (é) a Luz da Consciência, já que é a fundação do universo. Nesse (hṛdaya), por meio da união da mente, há darśana (ou) aparecimento de todos os fenômenos (externos e internos), e (inclusive) de svāpa (ou) vazio, como o próprio corpo".

Bem, agora, o parágrafo parece claro, não é? O significado final é que, quando alguém concentra a sua mente na Luz da Consciência ali (no núcleo ou coração da Realidade), todos os fenômenos, incluindo o vazio, aparecem como não diferentes (ou seja, como o próprio corpo) dele(a). Em outras palavras, tudo é percebido em unidade com a Luz da Consciência. Osábio expressará essa verdade no próximo parágrafo. Use o que está entre travessões como informação adicional sobre cada uma das porções do parágrafo.

No entanto, além do fato de que não posso ficar fazendo esse tipo de extração a todo momento, lembre-se de que também estou ensinando Sânscrito nesse website e "preciso" que os estudantes o experimentem "tal como é nesse texto medieval", ou seja, "extremamente difícil!". Em tipo de Sânscrito é o estudado a partir de uma gramática, e um tipo muito diferente é aquele que você lê em escrituras do mundo real, onde os autores "em geral" não escreverão como o esperado. Mesmo as gramáticas superiores não podem incluir "todas" as maneiras de expressar uma mesma coisa em Sânscrito por uma mera questão de tamanho (fazer isso requereria volumes), pois os estilos variam segundo o tempo e o contexto. As dificuldades inerentes de traduzir um texto medieval que lida com Trika não são os mesmos que você encontrará ao traduzir, por exemplo, uma escritura mais antiga que trate de um sistema filosófico diferente. Portanto, traduzir um texto sânscrito "real" como este é uma tarefa repleta de dificuldades "reais" de todo estudante sério da língua sagrada deve encarar cedo ou tarde. Continue lendo, por favor.Return 

3  Esse tema foi explicado em detalhes em Trika: Os Seis Cursos.Return 

4  Não posso comentar muito aqui sobre esse complexo tema, senão essa página ficará extremamente longa, mas o sábio Kṣemarāja também escreveu um volumoso comentário sobre o Svacchandatantra no qual ele descreve completamente o significado secreto desse aforismo. Ele conclui o seu comentário sobre essa 310a estrofe que se encontra no 4th paṭala (seção) afirmando que: "एषैव च निर्व्युत्थानसमाध्यात्मा महारहस्यभूता॥" - "Eṣaiva ca nirvyutthānasamādhyātmā mahārahasyabhūtā||" ou "Essa (indestrutível absorção no mais alto Bhairava) é o grande segredo que consiste em Nirvyutthānasamādhi ou Perfeita Concentração desprovida de vyutthāna --qualquer estado que não seja o Samādhi (Perfeita Concentração)--". Resumindo: Uma vez que o Yogī alcança esse tipo de absorção no Senhor, ele "nunca" returna ao estado comum de consciência!Return 

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 Aforismo 16

अत्रैवोपायान्तरमाह—


शुद्धतत्त्वसन्धानाद्वापशुशक्तिः॥१६॥


शुद्धं तत्त्वं परमशिवाख्यं तत्र यदा विश्वमनुसन्धत्ते तन्मयमेवैतदिति तदाविद्यमाना पश्वाख्या बन्धशक्तिर्यस्य तादृगयं सदाशिववद्विश्वस्य जगतः पतिर्भवति। तदुक्तं श्रीमल्लक्ष्मीकौलार्णवे

दीक्षासिद्धौ तु ये प्रोक्ताः प्रत्ययाः स्तोभपूर्वकाः।
सन्धानस्यैव ते देवि कलां नार्हन्ति षोडशीम्॥

इति। श्रीविज्ञानभैरवे तु

सर्वं देहं चिन्मयं हि जगद्वा परिभावयेत्।
युगपन्निर्विकल्पेन मनसा परमोद्भवः॥

इति। तदेतत्

इति वा यस्य संवित्तिः क्रीडात्वेनाखिलं जगत्।
स पश्यन्सततं युक्तो जीवन्मुक्तो न संशयः॥

इति कारिकया सङ्गृहीतम्॥१६॥

Atraivopāyāntaramāha—


Śuddhatattvasandhānādvāpaśuśaktiḥ||16||


Śuddhaṁ tattvaṁ paramaśivākhyaṁ tatra yadā viśvamanusandhatte tanmayamevaitaditi tadāvidyamānā paśvākhyā bandhaśaktiryasya tādṛgayaṁ sadāśivavadviśvasya jagataḥ patirbhavati| Taduktaṁ śrīmallakṣmīkaulārṇave

Dīkṣāsiddhau tu ye proktāḥ pratyayāḥ stobhapūrvakāḥ|
Sandhānasyaiva te devi kalāṁ nārhanti ṣoḍaśīm||

iti| Śrīvijñānabhairave tu

Sarvaṁ dehaṁ cinmayaṁ hi jagadvā paribhāvayet|
Yugapannirvikalpena manasā paramodbhavaḥ||

iti| Tadetat

Iti vā yasya saṁvittiḥ krīḍātvenākhilaṁ jagat|
Sa paśyansatataṁ yukto jīvanmukto na saṁśayaḥ||

iti kārikayā saṅgṛhītam||16||


Aqui (atra eva), Ele --Śiva, o autor dos Śivasūtra-s-- mencionou (āha) outro (antaram) meio (upāya) (para dar-se conta da própria identidade com o mais alto Bhairava)


Ou (vā) por meio da união (sandhānāt) com o Princípio (tattva) Puro (śuddha), (o Yogī se torna alguém em que) está ausente (a) o (escravizante) poder (śaktiḥ) (que existe em) um ser limitado e condicionado (paśu)||16||


O Princípio (tattvam) Puro (śuddham) é denominado (ākhyam) Paramaśiva --o Śiva Supremo-- (paramaśiva). Quando (yadā) (o Yogī) está nesse (Paramaśiva) --ou seja, quando o Yogī se dá conta Dele-- (tatra), torna-se consciente (anusandhatte) do universo (viśvam) (desta forma:) "Este (universo) (etad) é composto somente (mayam eva) dessa (Realidade) (tad... iti)"; então (tadā), dessa forma (tādṛk), esse (Yogī) (ayam) torna-se (bhavati) o senhor (patiḥ) do mundo (jagataḥ) inteiro (viśvasya), assim como (vat) Sadāśiva (sadāśiva), no qual (yasya) o escravizante (bandha) poder (śaktiḥ) conhecido como (ākhyā) paśu (paśu) está ausente (avidyamānā)1 |

Essa (verdade) (tad) foi expressa (também) (uktam) no venerável (śrīmad) Lakṣmīkaulārṇava (lakṣmīkaulārṇave):

"Esses pratyaya-s (pratyayāḥ) acompanhados por (pūrvakāḥ) exclamações de louvor (stobha) que (ye) são declaradas ou ensinadas (proktāḥ) para o sucesso (siddhau tu) da iniciação (dīkṣā) não valem (nem sequer) (na arhanti) a décima sexta (ṣoḍaśīm) parte (kalām) de Sandhāna (sandhānasya eva), oh Deusa (devi... iti)"2 ||

(E) no venerável (śrī) Vijñānabhairava (vijñānabhairave tu):

"Uma pessoa deveria considerar (paribhāvayet), com uma mente (manasā) livre de pensamentos (nirvikalpena), (o seu) corpo (deham) inteiro (sarvam) ou (vā) o mundo (jagat) simultaneamente --sem sucessão-- (yugapad) como composto de (mayam hi) Consciência (cit); (se ela fizer isso, haverá) surgimento (udbhavaḥ) da (Realidade) Suprema (parama... iti) (para ela)"3 |

Esse mesmo (ensinamento) (tad etad) foi resumido (saṅgṛhītam) por um aforismo (kārikayā) (das Spandakārikā-s):

"Ou (iti vā) aquele (saḥ) que tem esse (yasya) conhecimento ou compreensão (saṁvittiḥ)4  (e) está constantemente (satatam) unido (com o Ser Supremo) (yuktaḥ)(paśyan) o mundo (jagat) inteiro (akhilam) como um jogo (divino) (krīḍātvena). Ele está libertado em vida (jīvanmuktaḥ), (sobre isso) não há nenhuma (na) dúvida (saṁśayaḥ... iti)"||
(Ver Spandakārikā-s II, 5)

||16||

1  Para mais informação sobre "Paramaśiva" e "Sadāśiva", ver Trika 2 e Trika 3.Return 

2  O termo "pratyaya-s" pode ser traduzido de uma enorme quantidade de maneiras: "ideias, meditações religiosas, etc.", mas, nesse contexto, significa "देशादिव्यवहितविप्रकृष्टवस्तुज्ञानानि" - "deśādivyavahitaviprakṛṣṭavastujñānāni" ou "cognições sobre remotas realidades separadas (de alguém) por espaço, etc." (por exemplo, mundos distantes). Durante o rito de iniciação, a pessoa que está sendo iniciada se torna consciente dessas realidades pela graça do Senhor, que aparece como o próprio ritual. É muito comum pronunciar exclamações de louvor (interjeições cantadas) durante o andamento da iniciação. Por sua vez, o Senhor Śiva diz à Deusa que isso não vale nem sequer a décima sexta parte de Sandhāna. E o que é isso? Sandhāna é definido como "शुद्धतत्त्वविमर्श" - "śuddhatattvavimarśa" ou "consciência do Princípio Puro". Portanto, o que o Senhor está afirmando é que essas coisas são insignificantes em comparação com tornar-se consciente do Princípio Puro. Já que a própria Deusa é esse "vimarśa" ou consciência, esse Sandhāna só pode ser alcançado por meio Dela Mesma. Por essa razão, Ela é conhecida como a ponte que conduz ao Princípio Puro (Paramaśiva). Bem, essa explicação foi somente um mero vislumbre!Return 

3  Na versão do Vijñānabhairava comentada pelo próprio Kṣemarāja, o termo "paramodbhavaḥ" (parama-udbhavaḥ) muda para "परमोदयः" - "paramodayaḥ" (parama-udayaḥ), mas o significado é o mesmo, pois "udbhavaḥ" e "udayaḥ" são sinônimos nesse contexto.Return 

4  Conhecimento sobre o quê? Para entender isso, deve-se ler a última parte do aforismo anterior nas Spandakārikā-s. No final dele (II,4), o autor diz: "O próprio experimentador, sempre (e) em todos os lugares, permanece na forma do experimentado". Portanto, esse é o tipo de conhecimento sobre o qual o autor das Spandakārikā-s está falando em II, 5 (isto é, no 5o aforismo da Seção II). O significado está completamente claro agora!Return 

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 Aforismo 17

ईदृग्ज्ञानरूपस्यास्य योगिनः—


वितर्क आत्मज्ञानम्॥१७॥


विश्वात्मा शिव एवास्मीति यो वितर्को विचार एतदेवास्यात्मज्ञानम्। तदुक्तं श्रीविज्ञानभैरवे

सर्वज्ञः सर्वकर्ता च व्यापकः परमेश्वरः।
स एवाहं शैवधर्मेति दार्ढ्याच्छिवो भवेत्॥

इति। स्पन्देऽपि

... अयमेवात्मनो ग्रहः।

इत्यनेनैतदुक्तम्। तत्र ह्यात्मनो ग्रहणं ग्रहो ज्ञानमेतदेव यद्विश्वात्मकशिवाभिन्नत्वमेषोऽप्यर्थो विवक्षितः॥१७॥

Īdṛgjñānarūpasyāsya yoginaḥ—


Vitarka ātmajñānam||17||


Viśvātmā śiva evāsmīti yo vitarko vicāra etadevāsyātmajñānam| Taduktaṁ śrīvijñānabhairave

Sarvajñaḥ sarvakartā ca vyāpakaḥ parameśvaraḥ|
Sa evāhaṁ śaivadharmeti dārḍhyācchivo bhavet||

iti| Spande'pi

... ayamevātmano grahaḥ|

ityanenaitaduktam| Tatra hyātmano grahaṇaṁ graho jñānametadeva yadviśvātmakaśivābhinnatvameṣo'pyartho vivakṣitaḥ||17||


Para esse (asya) Yogī (yoginaḥ) cuja natureza (rūpasya) (é) tal (īdṛk) conhecimento (jñāna)1 


A firme e constante consciência (vitarkaḥ) (de "Eu sou Śiva") é o conhecimento (jñānam) do Ser (ātma)||17||


Esse (etad eva) vitarka (vitarkaḥ) (ou) firme e constante consciência (vicāraḥ) de que (yaḥ) "Eu sou (asmi) Śiva (śivaḥ eva), o Ser (ātmā) do universo (viśva... iti)" (é) o seu --do Yogī-- (asya) conhecimento (jñānam) do Ser (ātma)|

Isso (tad) (também) é estabelecido (uktam) no venerável (śrī) Vijñānabhairava (vijñānabhairave):

"'O Senhor (īśvaraḥ) Supremo (parama) (é) onisciente (sarvajñaḥ), onipotente (sarvakartā) e (ca) onipresente (vyāpakaḥ). Ele (saḥ eva) (é) eu mesmo (aham), (já que) tenho a característica (dharmā) de Śiva (śaiva... iti)'. Com essa firme (convicção) (dārḍhyāt), alguém se torna (bhavet) Śiva (śivaḥ)"||

Esse (mesmo ensinamento) (etad) foi mencionado (uktam) também (api) nas Spandakārikā-s (spande) por meio desta (porção de aforismo) (anena):

"... somente (eva) isso (ayam) (é) a percepção (grahaḥ) do Ser (ātmanaḥ... iti)"||
(See Spandakārikā-s II, 7)

 

Nessa (porção de aforismo) (tatra hi), essa (etad) percepção (grahaḥ) (ou) captura (grahaṇam) do Ser (ātmanaḥ) (que é descrita é) apenas (eva) conhecimento (jñānam) do Ser (ātmanaḥ). Que (yad) (existe) ausência de diferença --ou seja, identidade-- (abhinnatvam) com relação a Śiva (śiva) —a essência (ātmaka) do universo (viśva)—... (bem,) também se deseja expressar (api... vivakṣitaḥ) esse (eṣaḥ) significado (adicional) (arthaḥ) (por meio dessa declaração nas Spandakārikā-s)2 ||17||

1  Leia a última porção do comentário sobre o aforismo anterior para entender melhor essa introdução ao 17o aforismo.Return 

2  O que está entre travessões se refere a Śiva, obviamente. O significado adicional de que alguém não é distinto do Senhor está escondido na frase "somente isso (é) a percepção do Ser", segundo Kṣemarāja.Return 

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 Aforismo 18

किञ्चास्य—


लोकानन्दः समाधिसुखम्॥१८॥


लोक्यत इति लोको वस्तुग्रामो लोकयतीति च लोको ग्राहकवर्गस्तस्मिन्स्फुरति सति

ग्राह्यग्राहकसंवित्तिः सामान्या सर्वदेहिनाम्।
योगिनां तु विशेषोऽयं सम्बन्धे सावधानता॥

इति श्रीविज्ञानभट्टारकनिरूपितनीत्या प्रमातृपदविश्रान्त्यवधानतश्चमत्कारमयो य आनन्द एतदेवास्य समाधिसुखम्। तदुक्तं तत्रैव

सर्वं जगत्स्वदेहं वा स्वानन्दभरितं स्मरेत्।
युगपत्स्वामृतेनैव परानन्दमयो भवेत्॥

इति। एतच्च

इयमेवामृतप्राप्तिः...।

इत्यनेन सङ्गृहीतम्।

अथ च यदस्य स्वात्मारामस्य समाधिसुखं तदेव तत्तादृशमवलोकयतां लोकानामानन्दसङ्क्रमणयुक्त्या स्वानन्दाभिव्यक्तिपर्यवसायि भवति। एतदपि श्रीचन्द्रज्ञानग्रन्थेन प्रागुक्तेन (१-७) सुसंवादम्॥१८॥

Kiñcāsya—


Lokānandaḥ samādhisukham||18||


Lokyata iti loko vastugrāmo lokayatīti ca loko grāhakavargastasminsphurati sati

Grāhyagrāhakasaṁvittiḥ sāmānyā sarvadehinām|
Yogināṁ tu viśeṣo'yaṁ sambandhe sāvadhānatā||

iti śrīvijñānabhaṭṭārakanirūpitanītyā pramātṛpadaviśrāntyavadhānataścamatkāramayo ya ānanda etadevāsya samādhisukham| Taduktaṁ tatraiva

Sarvaṁ jagatsvadehaṁ vā svānandabharitaṁ smaret|
Yugapatsvāmṛtenaiva parānandamayo bhavet||

iti| Etacca

Iyamevāmṛtaprāptiḥ...|

ityanena saṅgṛhītam|

Atha ca yadasya svātmārāmasya samādhisukhaṁ tadeva tattādṛśamavalokayatāṁ lokānāmānandasaṅkramaṇayuktyā svānandābhivyaktiparyavasāyi bhavati| Etadapi śrīcandrajñānagranthena prāguktena (1- 7) susaṁvādam||18||


Além disso (kiñca), desse (Yogī) (asya)


A Bem-Aventurança (que o Yogī sente ao permanecer como o Conhecedor ou Percebedor) (ānandaḥ) do mundo (—o qual consiste de sujeitos e objetos—) (loka) (é seu) deleite (sukham) de Samādhi (samādhi)||18||


O loka ou mundo (lokaḥ) (é tanto) "o que se percebe (lokyate iti)" —(ou seja,) a multidão (grāmaḥ) de objetos (vastu)— quanto (ca) "o que percebe (lokayati iti)" —(isto é,) o grupo ou classe (vargaḥ) de sujeitos (grāhaka)—. Embora isso seja evidente (tasmin sphurati sati)1  (para todos), de acordo com o preceito (nītyā) estebelecido (nirūpita) no venerável (śrī) Vijñānabhairava (vijñāna-bhaṭṭāraka):

"A consciência (saṁvittiḥ) de objeto (grāhya) (e) sujeito (grāhaka) é comum (sāmānyā) a todos os seres encarnados (sarva-dehinām); mas (tu), no caso dos Yogī-s (yoginām), esta (ayam) (é a) diferença (viśeṣaḥ): há atenção (sa-avadhānatā) no que se refere à relação (entre objeto e sujeito) (sambandhe)"||

(então,) essa (etad eva) bem-aventurança (ānandaḥ), que (yaḥ) consiste (mayaḥ) em camatkāra --a felicidade da consciência pura do Eu-- (camatkāra), por causa da (sua) atenção (avadhānatas) no que se refere ao (seu) repouso (viśrānti) no estado (pada) de um Conhecedor ou Percebedor (pramātṛ), (é) o seu (asya) deleite (sukham) de Samādhi (samādhi)2 |

(Também) foi dito (tad uktam), nesse mesmo (livro) --no Vijñānabhairava-- (tatra eva):

"Uma pessoa deveria lembrar-se (smaret) do mundo (jagat) inteiro (sarvam) ou (vā) do seu próprio (sva) corpo (deham) como repleto (bharitam) da sua própria (sva) bem-aventurança (ānanda). Simultaneamente (yugapad) --isto é, quando uma pessoa é capaz de se lembrar dessa maneira--, ela fica cheia (mayaḥ bhavet) da Felicidade (ānanda) Mais Elevada (para) devido ao seu próprio Néctar (sva-amṛtena eva... iti)"||

Essa mesma (verdade) (etad ca) foi resumida (saṅgṛhītam) por esse (aforismo) (anena):

"Somente (eva) isso (iyam) (é) a obtenção (prāptiḥ) do Néctar que leva à Imortalidade (amṛta... iti)..."
(Ver Spandakārikā-s II, 7)

Além disso (atha ca), esse (yad) deleite (sukham) de Samādhi --isto é, do estado de conservar uma contínua consciência do seu estado como o Conhecedor-- (samādhi) que pertence àquele (asya) que se regozija (ārāmasya) no próprio (sva) Ser (ātma) culmina (tad eva... paryavasāyi bhavati) na manifestação (abhivyakti) da sua (sva) bem-aventurança (ānanda) entre as pessoas (lokānām) que o observam (avalokayatām) --lit. que observam a essa pessoa-- (tādṛśam) ali --nesse lugar e nesse estado-- (tad). (Isso acontece) através da (yuktyā) transferência (saṅkramaṇa) de felicidade (ānanda)|

Isso (etad) também está completamente de acordo (api... su-saṁvādam) com a estrofe (granthena) do venerável (śrī) Candrajñāna (candrajñāna) que foi citada (uktena) anteriormente (prāk) no (comentário sobre o) sétimo aforismo da primeira Seção (1-7)||18||

1  Não posso traduzir as palavras individualmente, pois ficaria completamente sem sentido em português: "nisso (tasmin) nisso que é evidente (sphurati) nisso que é (sati)". A frase está em Locativo absoluto (um tipo especial de construção em Sânscrito), e, portanto, deve-se adicionar "quando, enquanto, embora, etc." e traduzir tudo no Nominativo para dar estrutura à frase em português. Nesse caso, devo adicionar "embora". Tive que esclarecer esse fato até certo ponto, já que algumas pessoas poderiam pensar que estou trapaceando aqui, pois ignoro o significado de cada uma dessas três palavras. Como, na maior parte do tempo, não posso explicar esse tipo de complicação gramatical, pois requereria um número excessivo de notas explicativas, simplesmente confie em mim, por favor.Return 

2  Nesse contexto, a palavra "Samādhi" não deve ser entendida como "Concentração Perfeita" (como em uma espécie de meditação profunda com os olhos fechados). Não, aqui, é o estado onde uma pessoa está consciente apenas do seu estado como o Conhecedor ou Percebedor Supremo. Esse é o estado de Śiva, e não pode ser alcançado por absolutamente nenhum esforço! Só pode ser alcançado por meio da Graça Divina. Então, tem a ver exclusivamente com a Sua livre Vontade.Return 

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 Aforismo 19

अथेदृशस्यास्य योगिनो विभूतियोगं दर्शयति—


शक्तिसन्धाने शरीरोत्पत्तिः॥१९॥


इच्छा शक्तिरुमा कुमारी (१-१३) इति सूत्रेण यास्य शक्तिरुक्ता तामेव यदानुसन्धत्ते दार्ढ्येन तन्मयीभवति तदा तद्वशेनास्य यथाभिमतं शरीरमुत्पद्यते। तदुक्तं श्रीमृत्युञ्जयभट्टारके

ततः प्रवर्तते शक्तिर्लक्ष्यहीना निरामया।
इच्छा सा तु विनिर्दिष्टा ज्ञानरूपा क्रियात्मिका॥

इत्युपक्रम्य

सा योनिः सर्वदेवानां शक्तीनां चाप्यनेकधा।
अग्नीषोमात्मिका योनिस्तस्याः सर्वं प्रवर्तते॥

इति। शक्तिसन्धानमाहात्म्यं लक्ष्मीकौलार्णवे

न सन्धानं विना दीक्षा न सिद्धीनां च साधनम्।
न मन्त्रो मन्त्रयुक्तिश्च न योगाकर्षणं यथा॥

इत्यादिना प्रतिपादितम्। एतच्च

यथेच्छाभ्यर्थितो धाता जाग्रतोऽर्थान्हृदि स्थितान्।
सोमसूर्योदयं कृत्वा सम्पादयति देहिनः॥

इत्यनेन सङ्गृहीतम्। देहिनोऽत्यक्तदेहवासनस्य योगिनो हृदि स्थितानर्थान्तत्तदपूर्वनिर्माणादिरूपान्धाता महेश्वरः प्रकाशानन्दात्मतया सोमसूर्यरूपवाहोन्मीलनेन सोमसूर्यसामरस्यात्मनश्च शक्तेरुदयं कृत्वा बहिर्मुखवाहित्वेन तामासाद्य सम्पादयतीति ह्यस्यार्थः

तथा स्वप्नेऽप्यभीष्टार्थान्...।

इत्येतच्छ्लोकप्रतिपादितस्वप्नस्वातन्त्र्यं प्रति दृष्टान्ते योजित इति स्पन्दनिर्णये मयैव दर्शितम्॥१९॥

Athedṛśasyāsya yogino vibhūtiyogaṁ darśayati—


Śaktisandhāne śarīrotpattiḥ||19||


Icchā śaktirumā kumārī (1-13) iti sūtreṇa yāsya śaktiruktā tāmeva yadānusandhatte dārḍhyena tanmayībhavati tadā tadvaśenāsya yathābhimataṁ śarīramutpadyate| Taduktaṁ śrīmṛtyuñjayabhaṭṭārake

Tataḥ pravartate śaktirlakṣyahīnā nirāmayā|
Icchā sā tu vinirdiṣṭā jñānarūpā kriyātmikā||

ityupakramya

Sā yoniḥ sarvadevānāṁ śaktīnāṁ cāpyanekadhā|
Agnīṣomātmikā yonistasyāḥ sarvaṁ pravartate||

iti| Śaktisandhānamāhātmyaṁ lakṣmīkaulārṇave

Na sandhānaṁ vinā dīkṣā na siddhīnāṁ ca sādhanam|
Na mantro mantrayuktiśca na yogākarṣaṇaṁ yathā||

ityādinā pratipāditam| Etacca

Yathecchābhyarthito dhātā jāgrato'rthānhṛdi sthitān|
Somasūryodayaṁ kṛtvā sampādayati dehinaḥ||

ityanena saṅgṛhītam| Dehino'tyaktadehavāsanasya yogino hṛdi sthitānarthāntattadapūrvanirmāṇādirūpāndhātā maheśvaraḥ prakāśānandātmatayā somasūryarūpavāhonmīlanena somasūryasāmarasyātmanaśca śakterudayaṁ kṛtvā bahirmukhavāhitvena tāmāsādya sampādayatīti hyasyārthaḥ

Tathā svapne'pyabhīṣṭārthān...|

ityetacchlokapratipāditasvapnasvātantryaṁ prati dṛṣṭānte yojita iti spandanirṇaye mayaiva darśitam||19||


Agora (atha), (o seguinte aforismo) mostra (darśayati) o Vibhūtiyoga --Yoga dos poderes sobrenaturais-- (vibhūti-yogaṁ) de tal (īdṛśasya asya) Yogī (yoginaḥ)


Ao estar unido (sandhāne) com o Poder (de Vontade) (śakti), (há) produção ou criação (utpattiḥ) de corpos (śarīra) (segundo os desejos do Yogī)||19||


Por meio do décimo terceiro aforismo da primeira Seção (1-13... sūtreṇa), (a saber,) "O poder (śaktiḥ) de Vontade (icchā) (do Yogī iluminado é) o 'Esplendor de Śiva' (umā), (o qual é) Kumārī (kumārī... iti)", descreve-se (uktā) o seu (asya) Poder ou Śakti (yā... śaktiḥ). Quando (yadā) ele, (através de uma intensa consciência), une-se (anusandhatte) a ela --com a sua Icchāśakti ou poder de Vontade-- (tām eva); (em suma, quando) ele está (bhavati) firmemente (dārḍhyena) absorto nesse (poder de Vontade) (tad-mayī), então (tadā), por meio (vaśena) desse (poder) (tad), o seu (asya) corpo (śarīram) é produzido --é trazido à existência-- (utpadyate) à vontade --lit. como quiser-- (yathā-abhimatam)|

Isso (tad) é o que foi declarado (uktam) no muito venerável (śrī... bhaṭṭārake) Mṛtyuñjaya --isto é, o Netratantra-- (mṛtyuñjaya) começando (pela estrofe 36 do 7th adhikāra ou capítulo) (upakramya):

"A partir dali --a partir desse estado de Paramaśiva ganho pelo Yogī1 -- (tatas), procede (pravartate) o Poder (śaktiḥ) que está desprovido (hīnā... nis) de perceptibilidade (lakṣya) (e) doença (āmayā)2 . Esse (Poder) (sā) foi indicado (vinirdiṣṭā) (como) Icchā --Vontade-- (icchā), certamente (tu), a qual, (posteriormente,) aparece na forma (rūpā... ātmikā) de Jñāna --Conhecimento-- (jñāna) (e) Kriyā --Ação-- (kriyā... iti)3 "||4 

(e terminando com a estrofe 40 do mesmo adhikāra ou capítulo:)

"Ela --a Mais Alta Śakti-- (sā) (é), de diversas maneiras (anekadhā), a fonte (yoniḥ) de todos os deuses (sarva-devānām), bem como (ca api) de todos os poderes ou śakti-s (śaktīnām). A sua natureza (ātmikā) (é) fogo e lua (agnīṣoma)5 . Tudo (sarvam) procede (pravartate) Dela (tasyāḥ)"||

O estado exaltado (māhātmyam) da união com Śakti através de intensa concentração (śakti-sandhāna) foi estabelecido (pratipāditam) no Lakṣmīkaulārṇava (lakṣmī-kaulārṇave) (pela estrofe seguinte e por) outras (estrofes) (ādinā):

"Sem (vinā) união (com Śakti) através de intensa concentração (sandhānam), não há nem (na) iniciação (dīkṣā), nem (na... ca) consumação (sādhanam) de poderes sobrenaturais (siddhīnām), nem (na) mantra (mantraḥ), nem (ca) um stratagema (yuktiḥ) relacionado aos mantra-s (mantra), nem (na) —de nenhuma maneira (na... yathā)— domínio (ākarṣaṇam)6  do Yoga (yoga)"||

Esse mesmo (ensinamento) (etad ca) foi resumido (saṅgṛhītam) por esse (aforismo) (anena):

"Da mesma forma que (yathā) Aquele que mantém (esse mundo) (dhātā), quando se pede a ele (abhyarthitaḥ) com desejo (icchā), produz (sampādayati) (todas) a coisas (arthān) que permanecem (sthitān) no coração (hṛdi) dessa alma encarnada (dehinaḥ) que está desperta (jāgrataḥ) depois de provocar (kṛtvā) o surgimento (udayam) da lua (soma) (e) do sol (sūrya... iti)7 "||
(Ver Spandakārikā-s III, 1)

O Criador (dhātā), (isto é,) o Grande Senhor --epíteto de Śiva-- (mahā-īśvaraḥ) produz --cumpre-- (sampādayati) (todas) as coisas (arthān), que são (rūpān) criações (nirmāṇa) diversas (tad tad) (e) completamente novas (apūrva), etc., (ādi) que permanecem (sthitān) no coração (hṛdi) do Yogī (yoginaḥ) encarnado (dehinaḥ) que não abandonou (atyakta) o seu desejo (vāsanasya) (de ficar) no corpo (deha). (O Ser Supremo faz isso, primeiramente,) abrindo (unmīlanena) o fluxo (vāha) composto de (rūpa) lua --apāna, a energia vital que entra com a inspiração-- (soma) (e) sol --prāṇa, a energia vital que sai com a expiração-- (sūrya) por meio de Prakāśa --luz que revela-- e Ānanda --bem-aventurança-- (prakāśa-ānanda-ātmatayā), e (ca), (então,) provocando (kṛtvā) o surgimento (udayam) do poder ou śakti --samāna-- (śakteḥ) que consiste em (ātmanaḥ) um equilíbrio (sāmarasya) de lua ou apāna (soma) (e) sol ou prāṇa (sūrya)8 . (Posteriormente,) após suprimir (āsādya) essa śakti (chamada samāna) (tām) --ou seja, depois de reestabelecer as funções normais de apāna e prāṇa--, (o Senhor produz) externamente (bahis-mukha-vāhitvena) (os desejos desse Yogī). Esse é o significado (iti... arthaḥ) desse (aforismo nas Spandakārikā-s) (asya), realmente (hi)9 .

"Assim (tathā) também (api) em sonhos (svapne), [permanecendo no canal central, (Ele) certamente revela sempre (e) muito claramente] as coisas (arthān... iti) desejadas (abhīṣṭa)" [àquele que não negligencia a sua súplica].10 
(Ver Spandakārikā-s III, 2)

Como foi mostrado (iti... darśitam) por mim (mayā eva) no Spandanirṇaya (spandanirṇaye), (o assunto relacionado à) liberfade (do Yogī) (svātantryam), (inclusive) em sonhos (svapna), tal como é explicado (pratipādita) nessa (etad) estrofe (śloka), foi usado (yojitaḥ) como contra-exemplo (prati dṛṣṭānte)||19||

1  Eu sei isso porque li as estrofes anteriores no Netratantra. O mesmo sábio que está comentando aqui sobre os Śivasūtra-s —ou seja, Kṣemarāja— também compôs um extenso comentário sobre o Netratantra. Paramaśiva é simplesmente a Mais Alta Realidade. Leia Trika 2 para obter informação adicional.Return 

2  Isso quer dizer que o poder de Vontade não é nem um pouco visível ou perceptível. Além disso, não é afetado pela doença conhecida como Māyā (tattva ou categoria 6 no processo de manifestação universal). Māyā é um véu de ignorância que cobre a própria natureza essencial.Return 

3  Esse tema foi explicado em detalhes em Trika 3.Return 

4  Essa estrofe também tem uma diferente leitura (só uma leve mudança):

ततः प्रवर्तते शक्तिर्लक्ष्यहीना निरामया।
इच्छामात्रविनिर्दिष्टा ज्ञानरूपा क्रियात्मिका॥

Tataḥ pravartate śaktirlakṣyahīnā nirāmayā|
Icchāmātravinirdiṣṭā jñānarūpā kriyātmikā||

"A partir daí --a partir desse estado de Paramaśiva ganho pelo Yogī-- (tatas), procede (pravartate) o Poder (śaktiḥ) que está desprovido (hīnā... nis) de perceptibilidade (lakṣya) (e) doença (āmayā), (e) que foi indicado (vinirdiṣṭā) (como) nada mais que (mātra) Icchā --Vontade-- (icchā). (Essa mesma Vontade, posteriormente,) aparece na forma (rūpā... ātmikā) de Jñāna --Conhecimento-- (jñāna) (e) Kriyā --Ação-- (kriyā)"||

Muito bem, agora você tem ambas as versões.Return 

5  Aqui, fogo e lua significam prāṇa (a energia vital que sai do seu sistema quando expira) e apāna (a energia vital que ingressa no seu sistema quando inspira).Return 

6  Se você consultar um dicionário, encontrará que "ākarṣaṇa" geralmente significa "que puxa, que traz para perto, que atrai, etc.". Aqui, traduzo-o como "domínio", porque a raiz original não é "ākṛṣ", obviamente, mas sim "kṛṣ" (já que "ā" é um prefixo adicionado à raiz), e um dos significados de "kṛṣ" é "pôr sob controle, dominar, tornar-se mestre de". Agora está claro!Return 

7  Os termos lua e sol dependem do nível em que um aspirante está posicionado. Em Āṇavopāya, lua e sol representam apāna e prāṇa, respectivamente (leia a nota 5 acima). Em Śāktopāya, simbolizam Jñānaśakti (Poder de conhecimento) e Kriyāśakti (Poder de ação). Finalmente, em Śāmbhavopāya, simbolizam Vimarśa (Śakti) e Prakāśa (Śiva). Leia Meditação 1 para aprender mais.Return 

8  Leia Uccāra em Meditação 4 para ter uma melhor compreensão sobre o que o sábio está falando.Return 

9  O Senhor Supremo, que inspira o grande Yogī com luz reveladora e bem-aventurança, abre o fluxo de apāna e prāṇa (ou seja, Ele torna essa pessoa consciente da sua própria inspiração e expiração). Então, Ele faz com que surja samāna, equilibrando o fluxo de apāna e prāṇa na área do umbigo (o processo de respiração para aqui). Finalmente, quando o Ser Supremo aplaca ou suprime samāna, o fluxo natural de inspiração e expiração volta. Nesse momento, todas as coisas desejadas pelo Yogī aparecem externamente diante dele. Ninguém pode obter esse poder sem a Sua Graça.Return 

10  Tive que adicionar o resto da estrofe entre colchetes, senão a frase tão faria nenhum sentido. Em outras ocasiões, posso adicionar a tradução curta junto com três pontos, mas não posso fazer isso nesse caso em particular.Return 

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 Aforismo 20

अन्या अप्यस्य यथाभिलषिताः सिद्धय एतन्माहात्म्येनैव घटन्त इत्याह—


भूतसन्धानभूतपृथक्त्वविश्वसङ्घट्टाः॥२०॥


भूतानि शरीरप्राणभावाद्यात्मकानि तेषां क्वचिदाप्यायनादौ सन्धानं परिपोषणं व्याध्याद्युपशमादौ पृथक्त्वं शरीरादेर्विश्लेषणं देशकालादिविप्रकृष्टस्य च विश्वस्य सघट्टो ज्ञानविषयीकार्यत्वादिकोऽस्य पूर्वोक्तशक्तिसन्धाने सति जायते। एतच्च सर्वागमेषु साधनाधिकारेष्वस्ति। तदेव स्पन्दे

दुर्बलोऽपि तदाक्रम्य यतः कार्ये प्रवर्तते।
आच्छादयेद्बुभुक्षां च तथा योऽतिबुभुक्षितः॥

इति।

ग्लानिर्विलुण्ठिका देहे तस्याश्चाज्ञानतः सृतिः।
तदुन्मेषविलुप्तं चेत्कुतः सा स्यादहेतुका॥

इति।

यथा ह्यर्थोऽस्फुटो दृष्टः सावधानेऽपि चेतसि।
भूयः स्फुटतरो भाति स्वबलोद्योगभावितः॥
तथा यत्परमार्थेन येन यत्र यथा स्थितम्।
तत्तथा बलमाक्रम्य न चिरात्सम्प्रवर्तते॥

इत्यादिना विभूतिस्पन्दे सोपपत्तिकं दर्शितम्॥२०॥

Anyā apyasya yathābhilaṣitāḥ siddhaya etanmāhātmyenaiva ghaṭanta ityāha—


Bhūtasandhānabhūtapṛthaktvaviśvasaṅghaṭṭāḥ||20||


Bhūtāni śarīraprāṇabhāvādyātmakāni teṣāṁ kvacidāpyāyanādau sandhānaṁ paripoṣaṇaṁ vyādhyādyupaśamādau pṛthaktvaṁ śarīrāderviśleṣaṇaṁ deśakālādiviprakṛṣṭasya ca viśvasya saghaṭṭo jñānaviṣayīkāryatvādiko'sya pūrvoktaśaktisandhāne sati jāyate| Etacca sarvāgameṣu sādhanādhikāreṣvasti| Tadeva spande

Durbalo'pi tadākramya yataḥ kārye pravartate|
Ācchādayedbubhukṣāṁ ca tathā yo'tibubhukṣitaḥ||

iti|

Glānirviluṇṭhikā dehe tasyāścājñānataḥ sṛtiḥ|
Tadunmeṣaviluptaṁ cetkutaḥ sā syādahetukā||

iti|

Yathā hyartho'sphuṭo dṛṣṭaḥ sāvadhāne'pi cetasi|
Bhūyaḥ sphuṭataro bhāti svabalodyogabhāvitaḥ||
Tathā yatparamārthena yena yatra yathā sthitam|
Tattathā balamākramya na cirātsampravartate||

ityādinā vibhūtispande sopapattikaṁ darśitam||20||


Por meio da majestade (māhātmyena eva) disso --isto é, da união com sua Icchāśakti ou poder de Vontade-- (etad), outros (anyāḥ) poderes sobrenaturais (siddhayaḥ), conforme (yathā) desejar (o Yogī) (abhilaṣitāḥ), sobrevêm (ghaṭante) a ele (asya) também (api). É isso que (Śiva) disse (no próximo aforismo) (iti āha)


(Os outros poderes sobrenaturais do Yogī iluminado são: o poder de) unir (sandhāna) entidades existentes (bhūta); (o poder de) separá-las (pṛthaktva) todas --isto é, as entidades existentes-- (bhūta) (e o poder de) juntar --saṅghaṭṭa-- (saṅghaṭṭāḥ) tudo (viśva) (que foi separado por espaço e tempo)||20||


Os bhūta-s --entidades existentes-- (bhūtāni) consistem em (ātmakāni) corpo (śarīra), energia vital (prāṇa), objetos (bhāva), etc. (ādi). Sandhāna --que une-- (sandhānam) dessas (entidades existentes) (teṣām) --ou seja, bhūtasandhāna-- (é, então, a mesma coisa que) promover (paripoṣaṇam) o aumento de bem-estar (āpyāyana), etc. (ādau), em certos casos (kvacid)1 . Pṛthaktva (pṛthaktvam) (é) separação (viśleṣaṇam) de corpo (śarīra), etc. (ādeḥ), para aliviar (upaśama) enfermidades (vyādhi), etc. (ādi), e coisas similares (ādau)2 . E juntar (saṅghaṭṭaḥ) tudo (viśvasya) o que foi separado (viprakṛṣṭasya) por espaço (deśa), tempo (kāla), etc.(ādi), (é) tornar (todas essas coisas) (kāryatvā) objetos do (seu) conhecimento (jñāna-viṣayī), e por aí vai (ādikaḥ)3 . (Esse grupo de três poderes) sobrevém (jāyate) a ele (asya) quando existe união (sandhāne sati) com o poder de (Vontade) (śakti) conforme descrito (ukta) anteriormente (pūrva)|

Isso (etad ca) aparece --isto é, foi abordado-- (asti) em todos (sarva) os Āgama-s --escrituras reveladas-- (āgameṣu), nos capítulos (adhikāreṣu) sobre sādhana --métodos para alcançar consumação, domínio, etc.-- (sādhana)|

Esse (tad) mesmo (ensinamento) (eva) foi mostrado (darśitam), com argumentos fundados (sopapattikam), na (seção) Vibhūtispanda --poderes sobrenaturais que se originam do Spanda-- (vibhūti-spande) das Spandakārikā-s (spande) por meio (da seguinte estrofe e) de outras (estrofes) (ādinā)|

"Inclusive (api) uma pessoa fraca (durbalaḥ), tendo tomado (ākramya) esse (Spanda ou Força Cósmica) (tad), ocupa-se (de fazer) (pravartate) o que tem que fazer (kārye) (e, como consequência, tem sucesso) por meio desse mesmo Princípio (yatas). Da mesma forma (ca tathā), aquele que (yaḥ) está extremamente faminto (ati-bubhukṣitaḥ) oculta (āchādayet) (o seu) desejo de comer (bubhukṣām... iti)"||
(Ver Spandakārikā-s III, 6)

"A depressão (glāniḥ) (é como) um saqueador (viluṇṭhikā) no corpo (dehe). Desliza-se (tasyāḥ... sṛtiḥ) a partir da ignorância (ajñānataḥ). Se (ced) for destruída (viluptam) por meio desse (tad) Unmeṣa --ver o próximo aforismo-- (unmeṣa), como (kutas) poderia existir essa (depressão) (sā syāt) sem (a sua) causa (ahetukā... iti)?"||
(Ver Spandakārikā-s III, 8)

"Sem dúvida (hi), assim como (yathā) uma coisa (arthaḥ) que é percebida (dṛṣṭaḥ) (a princípio) de maneira confusa ou indistinta (asphuṭam), mesmo que (api) uma mente (cetasi) (extremamente) atenta (sa-avadhāne) (esteja envolvida no processo de percepção), aparece (bhāti) mais claramente (sphuṭataraḥ) depois (bhūyas), quando contemplada (bhāvitaḥ) por meio do vigoroso exercício (udyoga) do próprio (sva) poder (bala), da mesma forma (tathā), tomando posse (ākramya) da Força (Cósmica) (balam), qualquer coisa (yad) que realmente (paramārthena) existe (sthitam) em qualquer forma (yena), em qualquer lugar (yatra), em qualquer condição (yathā), essa (mesma coisa) (tad) se manifesta (sampravartate) imediatamente (na cirāt) dessa maneira (tathā... iti)"||
(Ver Spandakārikā-s III, 4-5)

||20||

1  Por exemplo, um corpo a ponto de morrer de inanição pode ser nutrido por esse grande Yogī simplesmente desejando que esse corpo entre em contato com alimento. Não há necessidade de que ele traga alimento, fisicamente falando.Return 

2  Por exemplo, ele pode separar um tumor de um corpo para curá-lo.Return 

3  Por exemplo, ele pode saber exatamente o que ocorre em um momento específico no passado ou no futuro. Ou também, ele pode saber o que está ocorrendo no outro lado do planeta nesse exato momento. Pode fazer todas essas coisas conforme desejar, embora, na maior parte do tempo, aconteçam espontaneamente devido ao seu estado extraordinário de consciência.

Embora o Ser more em tudo, esses poderes sobrenaturais mencionados nesse aforismo estão tão longe dos seres comuns cheios de condicionamento que é "aparentemente" inútil escrever sobre faculdades tão sublimes, uma vez que a vasta maioria das pessoas simplesmente não entende nada sobre isso (incluindo quase todas as pessoas spirituais, é claro... a única diferença é que as pessoas spirituais têm "egos espirituais que pensam que entendem completamente", enquanto o resto tem egos mundanos que simplesmente não se interessam nesses assuntos... de qualquer maneira, é a mesma peste, mas com cores diferentes). Assim, todos eles NÃO são extraordinários. Na verdade, é "aparentemente" ridículo falar sobre essas coisas sublimes vendo a impotente condição do indivíduo limitado, que está a todo momento se comportando como um mendigo aflito. Bem, devo traduzir a escritura em sua totalidade, ainda que, nesse mundo, a quantidade de grandes Yogī-s como esse sobre o qual Kṣemarāja comenta poderia certamente ser contada com os dedos de uma mão.

Em suma, a minha tarefa de traduzir essa difícil escritura parece uma piada ou tempo desperdiçado considerando a condição do aspirante mediano de Yoga. De qualquer maneira, existem argumentos mais sólidos para apoiar os meus esforços: Como a primeira Seção dos Śivasūtra-s versa sobre Śāmbhavopāya (o meio que pertence a Śiva), todos esses ensinamentos e conquistas estão destinados às grandes personalidades que percorrem esse caminho (muito poucas, realmente). O resto dos aspirantes, que estão, em sua maioria, obrigados a percorrer o caminho de Āṇavopāya (o meio que pertence ao ser limitado), só compreenderão os significados até o seu nível. Conhecer sobre quais os estados que eles podem alcançar também pode ser enriquecedor. Então, embora pareça absurdo, à primeira vista, passar tantas horas traduzindo todas essas descrições sobre as conquistas de um grande Yogī quando, "na prática", 99% dos aspirantes mal conseguem meditar no Ser por uns quinze minutos de forma contínua todos os dias, faz sentido, de alguma forma, se for considerado que a primeira Seção está relacionada ao Śāmbhavopāya superior.

Além disso, há uma razão mais profunda para que eu me dê ao trabalho de fazer tudo isso... bem, é a minha oferenda ao Dono de todo o universo, que é o único Fazedor de todas as ações e o verdadeiro Autor de todas as escrituras sagradas. Que esse Senhor seja sempre louvado! Só um comentário que surgiu nesse estado especial em que estou ao traduzir. Muito bem, continue lendo os ensinamentos.Return 

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 Aforismo 21

यदा तु मितसिद्धीरनभिलष्यन्विश्वात्मप्रथामिच्छति तदास्य—


शुद्धविद्योदयाच्चक्रेशत्वसिद्धिः॥२१॥


वैश्वात्म्यप्रथावाञ्छया यदा शक्तिं सन्धत्ते तदा अहमेव सर्वमिति शुद्धविद्याया उदयाद्विश्वात्मकस्वशक्तिचक्रेशत्वरूपं माहेश्वर्यमस्य सिध्यति। तदुक्तं स्वच्छन्दे

तस्मात्सा तु परा विद्या यस्मादन्या न विद्यते।
विन्दते ह्यत्र युगपत्सार्वज्ञ्यादिगुणान्परान्॥
वेदनानादिधर्मस्य परमात्मत्वबोधना।
वर्जनापरमात्मत्वे तस्माद्विद्येति सोच्यते॥
तत्रस्थो व्यञ्जयेत्तेजः परं परमकारणम्।
परस्मिंस्तेजसि व्यक्ते तत्रस्थः शिवतां व्रजेत्॥

इति। तदेतत्

दिदृक्षयेव सर्वार्थान्यदा व्याप्यावतिष्ठते।
तदा किं बहुनोक्तेन स्वयमेवावभोत्स्यते॥

इत्यनेनैव सङ्गृहीतम्॥२१॥

Yadā tu mitasiddhīranabhilaṣyanviśvātmaprathāmicchati tadāsya—


Śuddhavidyodayāccakreśatvasiddhiḥ||21||


Vaiśvātmyaprathāvāñchayā yadā śaktiṁ sandhatte tadā ahameva sarvamiti śuddhavidyāyā udayādviśvātmakasvaśakticakreśatvarūpaṁ māheśvaryamasya sidhyati| Taduktaṁ svacchande

Tasmātsā tu parā vidyā yasmādanyā na vidyate|
Vindate hyatra yugapatsārvajñyādiguṇānparān||
Vedanānādidharmasya paramātmatvabodhanā|
Varjanāparamātmatve tasmādvidyeti socyate||
Tatrastho vyañjayettejaḥ paraṁ paramakāraṇam|
Parasmiṁstejasi vyakte tatrasthaḥ śivatāṁ vrajet||

iti| Tadetat

Didṛkṣayeva sarvārthānyadā vyāpyāvatiṣṭhate|
Tadā kiṁ bahunoktena svayamevāvabhotsyate||

ityanenaiva saṅgṛhītam||21||


No entanto (tu), quando (yadā) (um tão grande Yogī) não anseia por (anabhilaṣyan) limitados (mita) poderes sobrenaturais (siddhīḥ), (mas sim) deseja (icchati) expandir(-se) --lit. expansão-- (prathām) como o Ser (ātma) do universo (viśva), então (tadā), (sobrevém a ele) (asya)


(O Yogī conquista) plena aquisição (siddhiḥ) de domínio (īśatva) sobre o grupo coletivo de poderes (cakra) por meio do surgimento (udayāt) de Śuddhavidyā (śuddhavidyā)||21||


Quando (yadā) (o Yogī), com desejo (vāñchayā) de expandir(-se) --lit. expansão-- (prathā) como o Ser do universo (vaiśva-ātmya), une-se com o seu poder (de Vontade) através de intensa consciência (śaktim sandhatte), então (tadā), por meio do surgimento (udayāt) de Śuddhavidyā (śuddhavidyāyāḥ), (que aparece como o sentimento de) "Eu (sou) (aham eva) tudo (sarvam iti)", ele tem êxito em alcançar (sidhyati) o seu (asya) estado como Maheśvara, o Grande Senhor --epíteto de Śiva-- (māheśvaryam) na forma (rūpam) de senhorio (īśatva) sobre o próprio (sva) (e) universal (viśvātmaka) grupo coletivo (cakra) de poderes (śakti)|1 

Isso (tad) foi descrito (também) (uktam) no Svacchandatantra (svacchande):

"Portanto (tasmāt), já que (yasmāt) não há nenhuma (na vidyate) outra (anyā), Ela (sā) (é) realmente (tu) a Mais Alta (parā) Vidyā --divino Conhecimento-- (vidyā). Aqui --quando brota a Mais Alta Vidyā-- (atra), verdadeiramente (ca), (o Yogī) adquire (vindate) as qualidades (guṇān) superiores (parān) de onisciência (sārvajñya), etc. (ādi), simultaneamente (yugapad). (1) Ela produz investigação (vedanā) da característica sem começo (do Senhor) --Sua absoluta Liberdade ou Svātantrya-- (anādi-dharmasya); (2) desperta e faz perceber/compreender (bodhanā) o estado do Ser Supremo (parama-ātmatva); (e) (3) exclui (varjanā) o que não é o estado do Ser Supremo (a-parama-ātmatve); por causa de (tudo) isso (tasmāt), Ela (sā) é denominada (ucyate) 'Vidyā' (vidyā iti). Estabelecido (sthaḥ) ali --no estado desprovido de mente (unmanā), no Ser Supremo-- (tatra), ele manifesta (vyañjayet) a Luz (tejas) Mais Elevada (param) --isto é, a Luz do Senhor--, a Suprema (parama) Causa (kāraṇam). Aquele que está estabelecido (sthaḥ) nessa (tatra) Luz --tejas-- (tejasi) Mais Elevada --para-- (parasmin) que se manifesta --vyakta-- (vyakte) alcança (vrajet) o estado de Śiva (śivatām... iti)"||2 
(Ver IV, 396-397 em Svacchandatantra)

A mesma coisa (tad etad) foi resumida (saṅgṛhītam) por essa (anena eva) (estrofe nas Spandakārikā-s):

"Quando (yadā) (um Yogī) que deseja ver (didṛkṣayā), por assim dizer (iva), a todos (sarva) os objetos (arthān), permanece (avatiṣṭhate) penetrando-os (vyāpya) (todos), então (tadā), qual (é o sentido) (kim) de falar (uktena) muito (sobre isso) (bahunā)? Ele perceberá ou experimentará (isso) (avabhotsyate) por si mesmo (svayam eva... iti)!"||
(Ver Spandakārikā-s III, 11)

||21||

1  O termo Śuddhavidyā não é o quinto tattva ou categoria da manifestação universal, que também é conhecida como Sadvidyā. Aqui, significa "Conhecimento Puro", ou seja, a consciência divina que faz com que alguém experimente "Eu sou tudo". Esse estado de dar-se conta no qual alguém percebe Śiva em tudo também se chama Śivavyāpti. Após alcançar tal condição, o grande Yogī atinge o estado Śiva e, consequentemente, torna-se o Mestre do grupo inteiro de poderes que aparece como universo.Return 

2  Os significados de certas palavras técnicas aqui estão baseados, em sua maioria, no extenso comentário de Kṣemarāja sobre o Svacchandatantra. Por exemplo, ele especifica que "vedanā" significa, nesse contexto "विचारणा" - "vicāraṇā" (que reflete, que produz investigação, etc.). É por isso que a minha tradução foi "produz investigação". Outros termos tais como "bodhanā" incluem tanto a tradução normal (a que se encontra em dicionários) quanto a tradução técnica dada pelo sábio da secreta tradição. Então, simplesmente confie em mim, amigo, pois sei perfeitamente o que estou fazendo. Não há trapaças, tenha certeza disso.Return 

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 Aforismo 22

यदा तु स्वात्मारामतामेवेच्छति तदास्य—


महाह्रदानुसन्धानान्मन्त्रवीर्यानुभवः॥२२॥


परा भट्टारिका संविदिच्छाशक्तिप्रमुखं स्थूलमेयपर्यन्तं विश्वं वमन्ती खेचरीचक्राद्यशेषवाहप्रवर्तकत्वस्वच्छत्वानावृतत्वगभीरत्वादिधर्मयोगान्महाह्रदस्तस्यानुसन्धानाद् अन्तर्मुखतयानारतं तत्तादात्म्यविमर्शनाद्वक्ष्यमाणस्य शब्दराशिस्फारात्मकपराहन्ताविमर्शमयस्य मन्त्रवीर्यस्यानुभवः स्वात्मरूपतया स्फुरणं भवति। अत एव श्रीमालिनीविजये

या सा शक्तिर्जगद्धातुः...।

इत्युपक्रम्येच्छादिप्रमुखपञ्चाशद्भेदरूपतया मातृकामालिनीरूपतामशेषविश्वमयीं शक्तेः प्रदर्श्य तत एव मन्त्रोद्धारो दर्शित इति परैव शक्तिर्महाह्रदस्ततस्तदनुसन्धानान्मातृकामालिनीसतत्त्वमन्त्रवीर्यानुभव इति युक्तमुक्तम्। एतदेव

तदाक्रम्य बलं मन्त्राः...।

इत्याद्युक्त्या भङ्ग्या प्रतिपादितम्।

तदेवं चैतन्यमात्मा (१-१) इत्युपक्रम्य तत्स्वातन्त्र्यावभासिततदख्यातिमयं सर्वमेव बन्धं यथोक्तोद्यमात्मकभैरवसमापत्तिः प्रशमयन्ती विश्वं स्वानन्दामृतमयं करोति सर्वाश्च सिद्धीर्मन्त्रवीर्यानुप्रवेशान्ता ददाति। इति शाम्भवोपायप्रथनात्मायं प्रथम उन्मेष उक्तः। अत्र तु मध्ये शक्तिस्वरूपमुक्तं तत्शाम्भवरूपस्य शक्तिमत्ताप्रदर्शनाभिप्रायेणेति शिवम्॥२२॥

Yadā tu svātmārāmatāmevecchati tadāsya—


Mahāhradānusandhānānmantravīryānubhavaḥ||22||


Parā bhaṭṭārikā saṁvidicchāśaktipramukhaṁ sthūlameyaparyantaṁ viśvaṁ vamantī khecarīcakrādyaśeṣavāhapravartakatvasvacchatvānāvṛtatvagabhīratvādidharmayogānmahāhradastasyānusandhānād antarmukhatayānārataṁ tattādātmyavimarśanādvakṣyamāṇasya śabdarāśisphārātmakaparāhantāvimarśamayasya mantravīryasyānubhavaḥ svātmarūpatayā sphuraṇaṁ bhavati| Ata eva śrīmālinīvijaye

Yā sā śaktirjagaddhātuḥ...|

ityupakramyecchādipramukhapañcāśadbhedarūpatayā mātṛkāmālinīrūpatāmaśeṣaviśvamayīṁ śakteḥ pradarśya tata eva mantroddhāro darśita iti paraiva śaktirmahāhradastatastadanusandhānānmātṛkāmālinīsatattvamantravīryānubhava iti yuktamuktam| Etadeva

Tadākramya balaṁ mantrāḥ...|

ityādyuktyā bhaṅgyā pratipāditam|

Tadevaṁ caitanyamātmā (1-1) ityupakramya tatsvātantryāvabhāsitatadakhyātimayaṁ sarvameva bandhaṁ yathoktodyamātmakabhairavasamāpattiḥ praśamayantī viśvaṁ svānandāmṛtamayaṁ karoti sarvāśca siddhīrmantravīryānupraveśāntā dadāti| Iti śāmbhavopāyaprathanātmāyaṁ prathama unmeṣa uktaḥ| Atra tu madhye śaktisvarūpamuktaṁ tatśāmbhavarūpasya śaktimattāpradarśanābhiprāyeṇeti śivam||22||


Mas (tu), quando (yadā) (o grande Yogī) deseja (icchati) somente (eva) deleitar-se (ārāmatām) no próprio (sva) Ser (ātma), então (tadā) ele --lit. "dele" ou "para ele"-- (asya)


Unindo-se (anusandhānāt) com o Grande (mahā) Lago (hrada), (o Yogī tem) a experiência (anubhavaḥ) da fonte geradora --virilidade ou potência-- (vīrya) de (todos) os mantra-s (mantra)||22||


A muito venerável (bhaṭṭārikā) Consciência (saṁvid) Suprema (parā) que emite (vamantī) o universo (viśvam), que começa (pramukham) com o poder (śakti) de Vontade (icchā) (e) termina (paryantam) nos objetos (meya) brutos (sthūla)1 , (é) um Grande (mahā) Lago (hradaḥ) devido à (sua) associação (yogāt) com as características (dharma) (de) (1) pôr em movimento (pravartakatva) todas (aśeṣa) as correntes ou fluxos (vāha) (tais como) o grupo (cakra) de Khecarī (khecarī), etc. (ādi)2 , (2) ser perfeitamente clara e transparente (svacchatva), (3) não estar coberta ou velada (anāvṛtatva), (4) ser profunda (gabhīratva), etc. (ādi). Unindo-se (anusandhānāt) a esse (Grande Lago) (tasya), (em outras palavras,) sendo internamente consciente (antarmukhatayā... vimarśanāt) da (própria e) incessante (anāratam) identidade (tādātmya) com ele (tad), (então,) manifesta-se (sphuraṇaṁ bhavati), como uma forma (rūpatayā) do próprio Ser (sva-ātma), a experiência (anubhavaḥ) da fonte geradora --virilidade ou potência-- (vīryasya) de (todos) os mantra-s (mantra), a qual --a força geradora-- está repleta (mayasya) da Mais Alta (parā) consciência do Eu (ahantā-vimarśa), que se expande (sphāra-ātmaka) (na forma) de uma multidão (rāśi) de palavras (śabda)|

Por essa mesma razão (atas eva), no venerável (śrī) Mālinīvijaya (mālinīvijaye), começando com (upakramya):

"Ela (sā), que (yā) (é) o Poder (śaktiḥ) do Criador (dhātuḥ) do mundo (jagat... iti)..."||
(Ver III, 5 no Mālinīvijaya)

(e,) tendo exibido (pradarśya) que a forma (rūpatām) Mātṛkā (e) Mālinī (mātṛkā-mālinī) —que constitui (mayīm) o universo (viśva) inteiro (aśeṣa)— de Śakti --o divino Poder do Senhor-- (śakteḥ) se compõe (rūpatayā) de uma variedade (bheda) de cinquenta (letras) (pañcāśat) encabeçadas (pramukha) pelo (poder) de Vontade (icchā), etc. (ādi), foi mostrado (darśitaḥ) o surgimento (uddhāraḥ) do mantra --de "Aham" ou a Suprema consciência do Eu-- (mantra) a partir dessa (mesma Śakti) (tatas eva)|3 

Dessa forma (iti), a Própria (eva) Mais Alta (parā) Śakti (śaktiḥ) (é) o Grande (mahā) Lago (hradaḥ). Portanto (tatas), foi corretamente dito (iti yuktam uktam) (que,) por meio da união (anusandhānāt) com Ela (tad), (o Yogī tem) a experiência (anubhavaḥ) da fonte geradora --virilidade ou potência-- (vīrya) de (todos os) mantra-s (mantra) cujas naturezas (satattva) (são) Mātṛkā (e) Mālinī (mātṛkā-mālinī)|

Isso (etad eva) (foi) indiretamente (bhaṅgyā) explicado (pratipāditam) pela frase (uktyā) inicial (ādi) (do seguinte aforismo das Spandakārikā-s):

"Tomando posse (ākramya) dessa (tad) Força (balam), os Mantra-s (mantrāḥ)..."||
(Ver Spandakārikā-s II, 1)

Portanto (tad), tendo começado (essa escritura) (upakramya) dessa forma (evam): "A Consciência que é onisciente e onipotente (caitanyam) (é) o Ser, ou a verdadeira natureza da Realidade (ātmā... iti)" —aforismo 1 da primeira Seção (1-1)— a aquisição (samāpattiḥ) de Bhairava (bhairava) --isto é, dar-se conta do Ser--, que é (ātmaka) um repentino brilho ou elevação de Consciência divina (udyama), como foi descrito (no quinto aforismo) (yathā ukta), extingue (praśamayantī) toda (sarvam eva) escravidão (bandham) que consiste em (mayam) ignorância (akhyāti) sobre Isso --sobre Bhairava-- (tad) manifestada (avabhāsita) pela Sua (tad) Liberdade Absoluta (svātantrya). (Tal aquisição de Bhairava) faz com que (karoti) o universo (viśvam) fique repleto (mayam) de Néctar (amṛta) através da sua própria (sva) Bem-aventurança (ānanda) e (ca) concede (dadāti) todos (sarvāḥ) os poderes sobrenaturais e perfeições (siddhīḥ) até (antāḥ) (a própria) entrada (anupraveśa) na fonte geradora --virilidade ou potência-- (vīrya) de (todos) os mantra-s (mantra)|

Dessa maneira (iti), essa (ayam) primeira (prathamaḥ) Seção (unmeṣaḥ) foi descrita (uktaḥ) como o desdobramento (prathana-ātmā) do Śāmbhavopāya --o meio que pertence a Śambhu, isto é, a Śiva-- (śāmbhava-upāya)|

No entanto (tu), aqui (atra) no meio (madhye), mencionou-se (uktam) a natureza essencial (sva-rūpam) de Śakti (śakti). Isso (tad) (foi feito) com o propósito (abhiprāyeṇa) de mostrar (pradarśana) o Poder (pratipāditam) relativo a Śiva (śāmbhava-rūpasya). Que haja prosperidade (para todos os seres) (iti śivam)!||22||

1  Em outras palavras, o universo começa com o terceiro tattva ou categoria (Sadāśiva) e termina nos objetos brutos compostos por Mahābhūta-s (tattva-s 32-36).Return 

2  Khecarī, Gocarī, Dikcarī e Bhūcarī são os grupos de poderes (śakti-s) mencionados. O primeiro grupo tem a ver com o experimentador limitado, o segundo com o seu intelecto-ego-mente, o terceiro com os sentidos externos e o último com os objetos brutos (objetos externos).Return 

3  Devo explicar a você, até certo ponto, esse difícil parágrafo. O alfabeto sânscrito é exibido de duas maneiras: Mātṛkā (e) Mālinī. a primeira é a maneira regular de apresentá-lo (Ver Alfabeto sânscrito), enquanto a última é a maneira irregular (ou promíscua) de apresentá-lo (Ver Tantrismo). O alfabeto regular começa com "a" e termina com "ha", enquanto o irregular começa com "na" e termina com "pha". Aham (que significa "Eu") como o mantra da Suprema consciência do Eu denota que inclui o universo inteiro (pois inclui "a" e "ha", todo o alfabeto sânscrito em sua forma Mātṛkā). A origem dessas duas formas de dispor o alfabeto provém de duas importantes obras que são sagradas para o Trika: Svacchandatantra e Mālinīvijaya (também denominado Mālinīvijayottara). O Svacchandatantra menciona apenas a forma Mātṛkā do alfabeto, enquanto o Mālinīvijaya encoraja os aspirantes a usar a forma Mālinī. A forma pela qual as letras são ordenadas é muito importante para os rituais de nyāsa (See Ritual tântrico 1), onde cada parte do corpo é associada a uma letra/som sânscrita específica.

A expressão: "—que constitui o universo inteiro—" refere-se a "a forma Mātṛkā (e) Mālinī". Tive que usar dois travessões por conveniência, senão a oração teria ficado mais difícil de entender do que já é.

Finalmente, mais uma coisa: Mātṛkā também é conhecida como Pūrvamālinī, enquanto Mālinī também é denominada Uttaramālinī. Muito bem, basta de revelar esses mistérios por enquanto.Return 

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 Fim da Seção I

इति श्रीमन्महामाहेश्वराचार्याभिनवगुप्तपादपद्मोपजीविश्रीक्षेमराजविरचितायां शिवसूत्रविमर्शिन्यां शाम्भवोपायप्रकाशनं नाम प्रथम उन्मेषः॥१॥

Iti śrīmanmahāmāheśvarācāryābhinavaguptapādapadmopajīviśrīkṣemarājaviracitāyāṁ śivasūtravimarśinyāṁ śāmbhavopāyaprakāśanaṁ nāma prathama unmeṣaḥ||1||


Aqui, termina (iti) a primeira (prathamaḥ) Seção (unmeṣaḥ), chamada (nāma) Śāmbhavopāyaprakāśana --(a Seção) que revela o meio que pertence a Śambhu, isto é, Śiva-- (śāmbhava-upāya-prakāśanam), na Śivasūtravimarśinī (śivasūtravimarśinyām), escrita (viracitāyām) pelo venerável (śrī) Kṣemarāja (kṣemarāja), que depende (upajīvi) dos pés de lótus --ou seja, pés belos como um lótus-- (pāda-padma) do eminente (śrīmat) preceptor espiritual (ācārya) Abhinavagupta (abhinavagupta), o grande (mahā) devoto de Maheśvara, Grande Senhor --epíteto de Śiva-- (māheśvara)||1||

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 Informação adicional

Gabriel Pradīpaka

Este documento foi concebido por Gabriel Pradīpaka, um dos dois fundadores deste site, e guru espiritual versado em idioma Sânscrito e filosofia Trika.

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