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 Gurugītā (Gurugita) - Versão curta: Śrīgurupādukāpañcakam (Srigurupadukapancakam) - Comentário

Cinco (estrofes que cantam as louvações do) venerável calçado do Guru - Comentário


 Importante

Tudo o que está entre parênteses e em itálico dentro da tradução foi adicionado por mim para completar o sentido de uma determinada frase ou oração. Por sua vez, tudo o que está entre hífens duplos (--...--) constitui informação esclarecedora adicional também adicionada por mim.


Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.


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 Estrofe 1

श्रीगुरुपादुकापञ्चकम्

ॐ नमो गुरुभ्यो गुरुपादुकाभ्यो नमः परेभ्यः परपादुकाभ्यः।
आचार्यसिद्धेश्वरपादुकाभ्यो नमो नमः श्रीगुरुपादुकाभ्यः॥१॥

Śrīgurupādukāpañcakam

Om̐ namo gurubhyo gurupādukābhyo namaḥ parebhyaḥ parapādukābhyaḥ|
Ācāryasiddheśvarapādukābhyo namo namaḥ śrīgurupādukābhyaḥ||1||

Cinco (estrofes que cantam as louvações do) venerável calçado do Guru

Om̐ (Om̐) - Saudação (namaḥ) aos Guru-s (gurubhyaḥ), (saudação aos) calçados (pādukābhyaḥ) dos Guru-s (guru); saudação (namaḥ) aos mais elevados (Guru-s) (parebhyaḥ) (, bem como aos seus) supremos (para) calçados (pādukābhyaḥ)|
Saudação (namaḥ) aos calçados (pādukābhyaḥ) do Senhor (īśvara), dos Siddha-s --seres aperfeiçoados-- (siddha) (e) dos Ācārya-s --guias espirituais-- (ācārya); saudação (namaḥ) aos veneráveis (śrī) calçados (pādukābhyaḥ) dos Guru-s (guru)||1||

Comentário

ॐ — परमगुरवे सर्वेष्वन्तरात्मेव वसतेऽस्या वृत्तेः सन्निबन्ध्रे नमो नमः॥

Om̐ - Paramagurave sarveṣvantarātmeva vasate'syā vṛtteḥ sannibandhre namo namaḥ||

Om̐ (Om̐) - Saudações de novo e de novo (namaḥ namaḥ) ao Supremo (parama) Guru (gurave) que vive (vasate) em todos (sarveṣu) como (iva) o Ser (ātmā) interior (antar) (e é) o verdadeiro (sat) autor (nibandhre) deste (asyāḥ) comentário (vritteḥ).


A palavra "guru" significa literalmente: pesado. Também tem outro importante significado: preceptor espiritual. Indubitavelmente, todos os preceptores espirituais são guru-s, mas o termo "Guru", com letra maiúscula, por assim dizer, designa unicamente alguém que pode libertar uma pessoa dos grilhões da sua ignorância espiritual. É por isso que a primeira estrofe do Śrīgurupādukāpañcakam especifica uma saudação aos Guru-s e uma outra para os mais altos Guru-s. Na prática, costumo diferenciá-los por meio da utilização de minúsculas e maiúsculas: guru e Guru. Como você sabe, as palavras são sempre limitadas para definir realidades sutis, mas a definição anterior de Guru é aceitável, eu acho. O Ser Supremo leva a cabo cinco atos:

1) Sṛṣṭi (manifestação do universo)
2) Sthiti (manutenção do universo)
3) Saṁhāra (dissolução do universo)
4) Tirodhāna (ocultação da própria natureza verdadeira)
5) Anugraha (graça)

O Guru Supremo é o quinto ato do Ser Supremo, ou seja, Anugraha. Por meio de Anugraha, o indivíduo condicionado redescobre a sua própria natureza espiritual, e cumpre, dessa maneira, a meta da vida. O Supremo Guru não é um ser humano, de um ponto de vista cósmico, mas sim um Poder que concede Graça divina aos seres limitados. Com relação a esse assunto, eu gostaria de esclarecer a seguinte questão:

Guru interno e Guru externo

Na verdade, o Guru é somente um e não é externo nem interno, já que o espaço não existe na Sua experiência. De qualquer maneira, no mundo das palavras, é necessário usar esses termos com muita frequência para indicar se se está falando sobre um Guru humano, por assim dizer, que pode ser percebido pelos sentidos, ou então sobre uma realidade interna que não pode ser percebida por meio deles. Essa questão sobre Guru interno e externo surge devido à presença de um ego em conjunto com o corpo. Consequentemente, do ponto de vista de um buscador mediano (a grande maioria), os termos "Guru interno" e "Guru externo" são realmente úteis. Obviamente, para os grandes discípulos (apenas alguns poucos buscadores), esses termos não têm utilidade alguma. Então, usarei esses dois termos de vez em quando de modo que a minha explicação seja acessível a todos os buscadores. Esse assunto nos conduz a outra questão:

dualismo e não dualismo,
isto é, "sou diferente e estou separado de Deus" (dualismo), ou então "eu sou Deus" (não dualismo)

Para um grande ser, a Realidade Suprema não é nem dual nem não dual, pois essas distinções são também manifestações da Divindade. O Ser Mais Elevado manifesta dualismo e não dualismo junto com todas as misturas intermediárias, mas está além disso tudo. Quando um buscador experimenta a Divindade em toda a Sua glória, todas as diferenças entre dual e não dual cessam e somente Isso permanece. Não pode dizer o que Isso é ou não é, pois as palavras não existem nesse momento. Até mesmo "esse momento" não existe de modo algum, já que o tempo não está mais ali. Nem tempo, nem espaço, nem corpo, nem mente, nem ego, nem mundo... somente Consciência aproveitando o Svātantrya (total Liberdade). Quando um buscador experimenta Isso, não é mais um buscador. De fato, ninguém pode dizer o que ele é. Você pode chamá-lo de grande ser, grande Yogī, alma liberta e coisas assim, mas todos esses apelativos, ainda que sejam úteis no reino das palavras, sempre fracassarão no que se refere a descrever a grandeza dessa realização. Estamos aqui para ser como ele. Esse é o propósito da vida humana. Tudo que existe por aí está destinado a fazer com que se atinja esse Estado Supremo. Quando não se percebe isso, dedica-se a própria vida meramente a satisfazer os sentidos e, desse modo, torna-se presa do erro. O Guru é a graça divina que resgata esse tipo de pessoa do doloroso oceano da ignorância espiritual.

Por outro lado, com relação ao dualismo e não dualismo, às vezes, falarei de uma maneira dual, enquanto que, em outras ocasiões, falarei não dualmente. É muito problemático indicar o ponto de vista (dual ou não dual) cada vez que escrevo alguma coisa. Portanto, tente compreender que serei forçado a mover-me entre esses dois pontos de vista, de modo que este comentário possa ser útil a todos os tipos de buscador. Além disso, como não estou escrevendo-o em só uma sessão e, por isso, levarei muito tempo para terminar o comentário, certamente passarei por muitas fases, duais e não duais. É claro, apesar dessas fases, tentarei manter o comentário tão consistente quanto possível. Também espero que seja didático.

A palavra "pādukā" da estrofe significa "calçado". De qualquer maneira, é muito frequentemente traduzida de maneira errônea como "sandália", porque os Guru-s da Índia têm o hábito de usar esse tipo de calçado devido às temperaturas geralmente elevadas nesse país, ou talvez por ser tradicional. Outros países quentes como a Índia também representam os seus santos utilizando sandálias. Porém, um Guru da Groenlândia (se existir algum) pode não usar sandálias... pelo menos não em pleno inverno... exceto que ele queira que os pés fiquem completamente congelados, hehe. Ou também, pode ser que em outros países, mesmo que sejam quentes, os Guru-s não usem sandálias, por não ser uma tradição estabelecida. É por isso que Vedavyāsa, de modo a evitar esses problemas e diferenças, escreveu "pādukā" ou calçado, e não "kośī, koṣī ou caraṇadāsī" (sandália), já que os seus escritos (Purāṇa-s, nesse caso) são destinados a toda a humanidade, e não somente à Índia. Os significados que dei podem ser facilmente verificados consultando-se um sério dicionário de Sânscrito, se você duvidar de minhas palavras.

Os pādukā-s ou calçados do Guru simbolizam os sons "Ha" e "Sa". O célebre Vijñānabhairava estabelece, nas estrofes 155 e 156, que:

सकारेण बहिर्याति हकारेण विशेत्पुनः।
हंसहंसेत्यमुं मन्त्रं जीवो जपति नित्यशः॥१५५॥
षट्शतानि दिवारात्रौ सहस्राण्येकविंशतिः।
जपो देव्या विनिर्दिष्टः सुलभो दुर्लभो जडैः॥१५६॥

Sakāreṇa bahiryāti hakāreṇa viśetpunaḥ|
Haṁsahaṁsetyamuṁ mantraṁ jīvo japati nityaśaḥ||155||
Ṣaṭśatāni divārātrau sahasrāṇyekaviṁśatiḥ|
Japo devyā vinirdiṣṭaḥ sulabho durlabho jaḍaiḥ||156||

(O mantra sutil) "Haṁsa, Haṁsa" (haṁsahaṁsa iti) sai (bahis yāti) com o som (kāreṇa) "Sa" (sa) e entra (viśet) novamente (punar) com o som (kāreṇa) "Ha" (ha). (Por essa razão), o ser vivo (jīvaḥ) constantemente (nityaśaḥ) murmura (japati) esse (amum) mantra (mantram)||155||

Dia e noite (divārātrau), (esse ser vivo o murmura) 21.600 (vezes) (ṣaṭśatāni... sahasrāṇi ekaviṁśatiḥ). O murmúrio (japaḥ) da Deusa (devyāḥ) foi indicado (vinirdiṣṭaḥ) como muito fácil (sulabhaḥ) (para os sábios, mas) difícil (durlabhaḥ) para os que não o são (jaḍaiḥ)||156||

A técnica do mantra Haṁsa é explicada em detalhes em Meditação 5 (Lá, ver Varṇa). Mesmo assim, terei que falar sobre ela, pelo menos até certo ponto, aqui e no comentário sobre a estrofe seguinte. Escute com atenção:

Os sons "Ha" e "Sa" são os pādukā-s ou calçados do Guru, porque são a base sobre a qual descansam os Seus pés. Por meio dos pādukā-s chamados de Ha e Sa, Ele "anda", isto é, concede Graça divina aos indivíduos. O Ser Supremo, por meio de Ha e Sa, demonstra os dois atos de manifestação (sṛṣṭi) e dissolução (saṁhāra) do universo, porque tudo o que se manifesta e dissolve é simplesmente a Sua expiração e inspiração, respectivamente. Quando ele inspira ou dissolve o universo, o som Ha é emitido, e, quando expira ou manifesta o universo, o som Sa emerge. De um ponto de vista dualista, o Senhor é a Mais Elevada Realidade, manifestando e dissolvendo miríades de mundos e indivíduos que neles residem, enquanto que, de um ponto de vista não dualista, estamos manifestando e dissolvendo tudo o que nos rodeia. Apesar dessas formas distintas de ver as coisas, a recôndita natureza do Senhor jaz além de todas as distinções.

Além disso, todas as criaturas que vivem nesse universo estão vivas devido a Ha e Sa, porque, se não puderem respirar, a vida vai embora, como você sabe. Então, o Seu segundo ato, chamado de sthiti (manutenção do universo), é levado a cabo, também por Ha e Sa. Por sua vez, esse mesmo Ser Supremo, quando exibe o Seu aspecto Anugraha, também utiliza Ha e Sa para dar aos seres limitados a revelação da sua (dos seres limitados) natureza essencial.

De qualquer forma, deveria-se entender que Ele não está somente dando revelação às pessoas que transitam por um caminho espiritual como Yoga, por exemplo, mas, sim, está sempre conferindo Graça ou Anugraha a todos. Ele o faz, como mencionei há pouco, por meio dos sons Ha e Sa, que ocorrem espontaneamente em cada criatura viva. Dessa forma, "qualquer" criatura viva pode refugiar-se nessas pādukā-s (Ha e Sa) simplesmente prestando atenção aos sons emitidos pela sua própria inspiração (Ha) e expiração (Sa). Quando fui iniciado, recebi esse método de escutar os sons da minha respiração, mas toda essa parafernália chamada de iniciação foi necessária devido à minha completa ignorância, pois esses sons "sempre" estiveram presentes... desde que eu tinha nascido, no mínimo, isto é, havia dezenove anos na época. Portanto, Anugraha não é algo que ocorre em um determinado momento ou com uma determinada pessoa, mas, sim, é um ato de compaixão universal, e a vida, em sua totalidade, está penetrada pela Graça. Sem dúvidas, Vedavyāsa, estando consciente da importância das divinas Gurupādukā-s (os sons Ha e Sa), sentiu-se inspirado a compor esse hino em sua honra.

Uma última coisa: O composto "Ācāryasiddheśvarapādukābhyaḥ", que foi traduzido na estrofe como:

"... aos calçados (pādukābhyaḥ) do Senhor (īśvara), dos Siddha-s --seres aperfeiçoados-- (siddha) (e) dos Ācārya-s --guias espirituais-- (ācārya)... ".

pode ser alternativamente traduzido, jogando com os termos, da seguinte maneira:

"... aos calçados (pādukābhyaḥ) do Senhor (īśvara) dos Siddha-s --seres aperfeiçoados-- (siddha) (e) dos Ācārya-s --guias espirituais-- (ācārya)... ".

O Senhor dos Siddha-s é o Ser Supremo.

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 Estrofe 2

ऐँकारह्रीँकाररहस्ययुक्तश्रीँकारगूढार्थमहाविभूत्या।
ॐकारमर्मप्रतिपादिनीभ्यां नमो नमः श्रीगुरुपादुकाभ्याम्॥२॥

Aim̐kārahrīm̐kārarahasyayuktaśrīm̐kāragūḍhārthamahāvibhūtyā|
Om̐kāramarmapratipādinībhyāṁ namo namaḥ śrīgurupādukābhyām||2||

Saudação (namaḥ) ao (calçado) que comunica (pratipādinībhyām) a secreta qualidade ou núcleo (marma) do som (kāra) Om̐ (Om̐) (e que é) dotado do grande (mahā) poder (vibhūtyā) do significado (artha) oculto (gūḍha) do som (kāra) Śrīm̐ (śrīm̐), acompanhado (yukta) do mistério (rahasya) dos sons (kāra... kāra) Aim̐ (aim̐) (e) Hrīm̐ (hrīm̐). Saudação (namaḥ) ao venerável (śrī) calçado (pādukābhyām) do Guru (guru)||2||

Aqui, Vyāsa estabelece que as duas pādukā-s (Ha e Sa) ou calçados comunicam a secreta qualidade ou núcleo (ou seja, "marma") do som Om̐, porque esse som sagrado localiza-se bem no meio delas, isto é, entre Ha e Sa. O mantra Haṁsa é, na verdade, Ha-Om̐-Sa, já que, quando uma pessoa presta completa atenção ao som produzido pela inspiração (Ha) e expiração (Sa), é conduzida, por último, ao espaço entre inspiração e expiração, onde Om̐ se revela. Por essa razão, o venerável Vedavyāsa diz que Ha e Sa (as duas pādukā-s do Guru Supremo) comunicam o núcleo de Om̐. Como você certamente sabe, Om̐ é o Próprio Absoluto aparecendo na forma de um som. É a origem de todos os sons restantes, daí a sua extrema importância. Você pode ver a palavra Om̐ no nosso logotipo, e também obter muita informação sobre ela em Mantra-s sagrados 1 e Meditação 6.

À medida que um buscador continua a ouvir os sons Ha e Sa emitidos pela sua respiração, o intervalo ou espaço entre inspiração e expiração aumenta. Há um termo técnico para indicar "pontos de vazio" por meio dos quais um buscador pode alcançar a revelação de Om̐: dvādaśānta. Dvādaśānta significa, literalmente, "aquilo que está ao final (anta) de doze (dvādaśa)". Doze o quê? Doze dedos. Há vários dvādaśānta-s. Por exemplo, a aplicação "normal" da técnica de Haṁsa envolve focalizar, primeiramente, a sua atenção nos sons Ha e Sa durante a inspiração e a expiração, mas, logo depois, a atenção deve ser focalizada no espaço entre Ha e Sa. Esse espaço pode ser encontrado onde a expiração "normal" termina e a inspiração "normal" começa, ou seja, a doze dedos da ponta do nariz, no espaço externo... e sim, esse é um dvādaśānta, chamado de bahirdvādaśānta ou dvādaśānta externo, um ponto vazio através do qual se pode "espremer-se" e, no seu devido tempo, conseguir a revelação do Om̐. Com essa revelação do Om̐, tudo se revela e você cumpre a sua missão na vida. Quando consegue introduzir-se nesse ponto de vazio, você permanece em um estado denominado madhyadaśā ou estado médio.

Conforme a sua prática continua, esse estado médio vai se expandindo, ou seja, você fica sem inspirar e expirar "espontaneamente" por períodos de tempo cada vez mais prolongados, de maneira gradual. Alguns buscadores se assustam diante da possibilidade de morrer no processo, já que a respiração para sozinha, às vezes durante muito tempo; mas não há perigo se a respiração parar de forma espontânea durante a aplicação da técnica de Haṁsa na meditação. É claro, se estiver "forçando" essa parada, você terá problemas, a menos que saiba exatamente o que está fazendo. O processo de permanecer no estado médio ou madhyadaśā por períodos de tempo mais longos se chama madhyavikāsa ou desenvolvimento do estado médio. Quando se completa o desenvolvimento, Om̐ se revela e esse é o fim da busca.

De qualquer maneira, há outro ponto de vazio que você pode usar durante a sua prática de Haṁsa. É conhecido como antardvādaśānta ou dvādaśānta interno. Está situado na região do coração, a exatamente doze dedos medidos a partir do dvādaśānta externo (bahirdvādaśānta) até o tórax. A inspiração "normal" termina no antardvādaśānta e a expiração "normal" emerge de lá. Então, a revelação de Om̐ também pode ser obtida focalizando-se a atenção no antardvādaśānta.

Talvez você se pergunte por que eu escrevi inspiração "normal" e expiração "normal". Bem, não estava me referindo ao fato de que você pode inspirar ou expirar mais profundamente ou menos profundamente, mas, sim, à presença de outros dvādaśānta-s. Doze dedos acima do antardvādaśānta, isto é, na região da garganta, existe outro dvādaśānta. Também há outro a doze dedos do anterior, ou seja, no meio do crânio --à altura do espaço entre as sobrancelhas--. E há ainda outro situado a doze dedos do dvādaśānta anterior, ou seja, suspenso logo acima da cabeça, na região das fontanelas.

Ao inspirar, um yogī pode focalizar a sua atenção em qualquer um desses dvādaśānta-s, em vez de fazê-lo no antardvādaśānta e|ou no bahirdvādaśānta utilizados na técnica tradicional de Haṁsa. Se esse yogī sentir que a sua inspiração termina no dvādaśānta da garganta e a sua expiração brota de lá, terá uma experiência de felicidade em todo o seu corpo no longo prazo. Por sua vez, se o yogī previamente mencionado sentir que a sua inspiração termina no dvādaśānta localizado no meio do crânio e a sua expiração surge de lá, a sua cabeça se tornará mais pesada devido ao acúmulo de energia vital nessa região. Finalmente, se esse yogī fixar a atenção no dvādaśānta suspenso acima da cabeça e sentir que a sua inspiração termina lá e a sua expiração emerge de lá, sua cabeça se tornará ainda mais pesada do que antes e ele alcançará Samādhi ou Concentração Perfeita (para mais informação, leia "Aforismos III-1 a III-8" em Aṣṭāṅgayoga) em um piscar de olhos. De fato, se esse yogī for elevado, pode focalizar a sua atenção sucessivamente nesses três dvādaśānta-s, um após o outro, e alcançar Samādhi à vontade em três rodadas de inspiração e expiração. Logo antes de entrar em Samādhi profundo, tal yogī experimenta uma onda de imensa Felicidade que cala a sua mente. Ao longo de suas meditações, experimenta distintos tipos de Samādhi e, logo depois, retorna ao estado normal de consciência, ou seja, "miséria", mas, um dia, não volta mais, embora possa abrir os olhos e o resto dos sentidos funcione perfeitamente. Desse momento em diante, vive como um Jīvanmukta ou liberto (mukta) em vida (jīvat).

Após estabelecer que as duas pādukā-s do Guru comunicam a secreta qualidade ou núcleo do som Om̐, Vyāsa afirma que esse calçado é:

"...dotado do grande (mahā) poder (vibhūtyā) do significado (artha) oculto (gūḍha) do som (kāra) Śrīm̐ (śrīm̐), acompanhado (yukta) do mistério (rahasya) dos sons (kāra... kāra) Aim̐ (aim̐) (e) Hrīm̐ (hrīm̐)".

Ele disse isso porque, durante o processo de escutar os sons Ha e Sa produzidos por sua respiração, um yogī experiente tem uma dupla experiência na forma de duas visões ocorrendo uma após a outra. Daí Vedavyāsa ter usado a palavra "yukta" (acompanhado, unido, etc.) no hino. Primeiramente, esse yogī contempla o repentino surgimento de um brilhante sol em meditação, e, então, esse sol se torna um imenso olho azul que se aproxima dele gradualmente. O sol tem atributos definidos que tentarei desenhar agora, enquanto que o olho azul é como o de um ser humano, mas não está na posição horizontal, e sim levemente inclinado para cima. Aqui, você pode ver a forma do sol, aproximadamente, é claro:

Sun and birds

Não preste atenção ao número de aves, porque coloquei três simplesmente para mostrar que o sol não está sozinho, mas, sim, acompanhado por essas silhuetas sobre o fundo laranja. A imagem não é estática, mas, sim, esses pássaros estão se movendo constantemente. Essa visão encarna o oculto significado do som Śrīm̐. Esse som está relacionado com a deusa Mahālakṣmī, como é estudado em Mantra-s sagrados 1, a qual confere riqueza tanto espiritual quanto material àqueles que a adoram. Esses adoradores sempre repetem o seu Bījamantra ou mantra semente, isto é, Śrīm̐, de modo a alcançar a sua graça. Dessa forma, Vyāsa está dizendo que as veneráveis pādukā-s (Ha e Sa) são dotadas do oculto significado do som monossilábico previamente mencionado, o que é verificado por uma pessoa quando ela tem a visão do sol acima. Quando isso acontece, tal buscador alcançou o núcleo de Śrīm̐, obviamente, e os correspondentes frutos virão a ele espontaneamente. Em suma, dá-se conta, plenamente, da Icchāśakti ou Poder de Vontade, e todos os seus desejos são plenamente realizados também. A visão desse sol é, para esse sortudo buscador, como a de Kāmadhenu (a célebre vaca do sábio Vasiṣṭha --o Guru de Rāma--, a qual satisfaz todos os desejos).

Imediatamente após essa visão, o já pasmado buscador contempla um gigantesco olho azul, que é a encarnação do mistério dos sons Aim̐ e Hrīm̐. Por um lado, o primeiro Bījamantra é sagrado para a deusa Sarasvatī, como descrito em Mantra-s sagrados 1, a qual concede Conhecimento divino a todos os seguidores que a adoram. Esses adoradores sempre repetem o seu Bījamantra ou mantra semente, isto é, Aim̐, de modo que possam alcançar esse supremo Conhecimento. Por outro lado, o segundo Bījamantra, ou seja, Hrīm̐, se relaciona com a deusa Bhuvaneśvarī, como explicado em Mantra-s sagrados 1, a qual dá a Libertação Final aos seus adoradores, pois Ela é a Mais Alta Śakti ou Poder. Dessa forma, quando ocorre a visão do gigantesco olho azul, tal buscador é penetrado por onisciência e onipotência. Em outras palavras, ele se dá conta, plenamente, da Jñānaśakti e da Kriyāśakti (Poderes de Conhecimento e Ação, respectivamente). Não pense nele como se fosse uma espécie de Super-Homem ou algo parecido. Não, um homem sábio não é uma pessoa comum superpoderosa, e sim um tipo distinto de ser humano. O ser humano comum está sempre ansioso, mesmo quando está aparentemente aproveitando, e a sua felicidade é completamente dependente das circunstâncias externas e da condição em que estiver o seu corpo. Da mesma forma, os seus interesses são igualmente miseráveis: quase toda a vida dedicada a sobreviver e satisfazer os seus sentidos.

Muito pelo contrário, um homem sábio experimenta verdadeira paz e a sua felicidade não depende das circunstâncias externas ou do que possa acontecer ao seu corpo. Os seus interesses são de uma qualidade diferente também, se comparados aos de uma pessoa comum. Esse sábio não está interessado em "sobreviver", no sentido de uma frenética busca por dinheiro para comprar alimento e coisas similares, já que compreende que a Realidade Superior está administrando a sua vida, e não ele. Ele aparentemente continua realizando ações, mas é, na verdade, o Senhor que faz tudo para ele. Isso é verdade com relação a todas as pessoas, e não somente a esse sábio, mas só alguns poucos podem dar-se conta dessa verdade. Além disso, esse grande ser não está interessado em satisfazer os seus sentidos o tempo todo, porque entende plenamente que os frutos de tal tipo de ação são sempre amargos no longo prazo. Em suma, uma pessoa sábia pode parecer como um indivíduo comum, mas existem grandes diferenças subjacentes debaixo da superfície, não há dúvida alguma quanto a isso.

Além disso, por onisciência e onipotência quis dizer a capacidade de ganhar conhecimento e poder de uma maneira natural e espontânea, sem fazer tremendos esforços como um ser limitado. De fato, a Suprema Śakti ou Poder sabe e faz tudo para esse yogī, enquanto que ele permanece como uma mera testemunha da Sua demonstração. As pessoas comuns se esforçam para conhecer e fazer, mas esse yogī sabe e faz sem esforçar-se nem um pouco, porque, com essas três revelações, os três Poderes de Vontade, Conhecimento e Ação estão, por assim dizer, à sua disposição. Bem, chega de desemaranhar esses mistérios... pelo menos por enquanto.

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 Estrofe 3

होत्राग्निहौत्राग्निहविष्यहोतृहोमादिसर्वाकृतिभासमानम्।
यद्ब्रह्म तद्बोधवितारिणीभ्यां नमो नमः श्रीगुरुपादुकाभ्याम्॥३॥

Hotrāgnihautrāgnihaviṣyahotṛhomādisarvākṛtibhāsamānam|
Yadbrahma tadbodhavitāriṇībhyāṁ namo namaḥ śrīgurupādukābhyām||3||

Saudação (namaḥ) ao (calçado) que concede (vitāriṇībhyām) conhecimento (bodha) desse (tad) Brahma --o Absoluto-- (brahma), que (yad) se manifesta lampejantemente (bhāsamānam) (como) todas (sarva) as formas (ākṛti) (, tais como) o fogo (agni) do sacrifício (hotra), o fogo (agni) do sacerdote Hotā (hautra), a oblação que é oferecida (haviṣya), o (próprio) sacerdote Hotā (hotṛ), o Homa ou ato de fazer uma oblação em honra dos deuses (homa), etc. (ādi). Saudações (namaḥ) ao venerável (śrī) calçado (pādukābhyām) do Guru (guru)||3||

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 Estrofe 4

कामादिसर्पव्रजगारुडाभ्यां विवेकवैराग्यनिधिप्रदाभ्याम्।
बोधप्रदाभ्यां द्रुतमोक्षदाभ्यां नमो नमः श्रीगुरुपादुकाभ्याम्॥४॥

Kāmādisarpavrajagāruḍābhyāṁ vivekavairāgyanidhipradābhyām|
Bodhapradābhyāṁ drutamokṣadābhyāṁ namo namaḥ śrīgurupādukābhyām||4||

Saudação (namaḥ) ao (calçado) cuja forma é como a de Garuḍa (gāruḍa) para as tropas (vraja) de serpentes (sarpa) dos desejos (kāma), etc. (ādi), que concede (pradābhyām... pradābhyām) o tesouro (nidhi) do discernimento ou discriminação (viveka) (e) da renúncia (vairāgya) (, bem como) conhecimento (bodha), (e) que concede (dābhyām) rápida (druta) Libertação (mokṣa). Saudação (namaḥ) ao venerável (śrī) calçado (pādukābhyām) do Guru (guru)||4||

Sem comentário por enquanto

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 Estrofe 5

अनन्तसंसारसमुद्रतारनौकायिताभ्यां स्थिरभक्तिदाभ्याम्।
जाड्याब्धिसंशोषणवाडवाभ्यां नमो नमः श्रीगुरुपादुकाभ्याम्॥५॥

ॐ शान्तिः शान्तिः शान्तिः॥

Anantasaṁsārasamudratāranaukāyitābhyāṁ sthirabhaktidābhyām|
Jāḍyābdhisaṁśoṣaṇavāḍavābhyāṁ namo namaḥ śrīgurupādukābhyām||5||

Om̐ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ||

Saudação (namaḥ) ao (calçado) que é um barco (naukāyitābhyām) para cruzar (tāra) o infinito (ananta) oceano (samudra) da Trasmigração (saṁsāra), que confere (dābhyām) firme (sthira) devoção (bhakti) (e) que é um fogo submarino (vāḍavābhyām) que seca por completo (saṁśoṣaṇa) o oceano (abdhi) da insensibilidade e da estupidez (jāḍya). Saudação (namaḥ) ao venerável (śrī) calçado (pādukābhyām) do Guru (guru)||5||

Om̐ (Om̐), paz (śāntiḥ), paz (śāntiḥ), paz (śāntiḥ)||

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 Informação adicional

Gabriel Pradīpaka

Este documento foi concebido por Gabriel Pradīpaka, um dos dois fundadores deste site, e guru espiritual versado em idioma Sânscrito e filosofia Trika.

Para maior informação sobre Sânscrito, Yoga e Filosofia Indiana; ou se você quiser fazer um comentário, perguntar algo ou corrigir algum erro, sinta-se à vontade para enviar um e-mail: Este é nosso endereço de e-mail.



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