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 Śivasūtravimarśinī: Seção III (aforismos 34 a 45)

Tradução normal


 Introdução

A Śivasūtravimarśinī continua: Kṣemarāja continua a comentar os aforismos.

Este é o quarto e último grupo de 12 aforismos dos 45 aforismos que formam a terceira Seção (que versa sobre Āṇavopāya). Como você sabe, a obra inteira é composta dos 77 aforismos dos Śivasūtra-s mais os respectivos comentários.

É claro que também inserirei os aforismos de Śiva sobre os quais Kṣemarāja estiver comentando. Apesar de que não comentarei sobre os sūtra-s originais ou sobre o comentário de Kṣemarāja, escreverei algumas notas para esclarecer certos pontos sempre que for necessário. Se você quiser uma explicação detalhada dos significados ocultos dessa escritura, vá a "Escrituras (estudo)/Śivasūtravimarśinī" na seção Trika.

O Sânscrito de Kṣemarāja estará em verde escuro, enquanto os aforismos originais de Śiva serão exibidos em vermelho escuro. Por sua vez, dentro da transliteração, os aforismos originais estarão em marrom, enquanto os comentários de Kṣemarāja estarão em preto. Além disso, dentro da tradução, os aforismos oriiginais de Śiva, ou seja, os Śivasūtra-s, estarão em verde e preto, enquanto o comentário de Kṣemarāja terá palavras tanto em preto quanto em vermelho.

Leia a Śivasūtravimarśinī e experimente Supremo Deleite, querido Śiva.

Importante: Tudo o que está entre parênteses e em itálico dentro da tradução foi agregado por mim para completar o sentido de uma determinada frase ou oração. Por sua vez, tudo o que está dentro de um duplo hífen (-- ... --) constitui informação esclarecedora adicional também agregada por mim.


Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.


Ao início


 Aforismo 34

यतश्चोत्तीर्णपुर्यष्टकप्रमातृभावस्य योगिनो नान्तः सुखदुःखसंस्पर्शोऽत एवासौ—


तद्विमुक्तस्तु केवली॥३४॥


ताभ्यां सुखदुःखाभ्यां विशेषेण मुक्तः संस्कारमात्रेणाप्यन्तरसंस्पृष्टः केवली केवलं चिन्मात्रप्रमातृतारूपं यस्य। तदुक्तं श्रीकालिकाक्रमे

सुखदुःखादिविज्ञानविकल्पानल्पकल्पितम्।
भित्त्वा द्वैतमहामोहं योगी योगफलं लभेत्॥

इति। तुशब्दो वक्ष्यमाणापेक्षया विशेषद्योतक एवमुत्तरसूत्रगतोऽप्येतत्सूत्रापेक्षया॥३४॥

Yataścottīrṇapuryaṣṭakapramātṛbhāvasya yogino nāntaḥ sukhaduḥkhasaṁsparśo'ta evāsau—


Tadvimuktastu kevalī||34||


Tābhyāṁ sukhaduḥkhābhyāṁ viśeṣeṇa muktaḥ saṁskāramātreṇāpyantarasaṁspṛṣṭaḥ kevalī kevalaṁ cinmātrapramātṛtārūpaṁ yasya| Taduktaṁ śrīkālikākrame

Sukhaduḥkhādivijñānavikalpānalpakalpitam|
Bhittvā dvaitamahāmohaṁ yogī yogaphalaṁ labhet||

iti| Tuśabdo vakṣyamāṇāpekṣayā viśeṣadyotaka evamuttarasūtragato'pyetatsūtrāpekṣayā||34||


E (ca), visto que (yatas), para o Yogī (yoginaḥ) que transcendeu o estado (uttīrṇa... bhāvasya) onde (se considera) o corpo sutil --intelecto, ego, mente e elementos sutis-- (puryaṣṭaka) (como sendo) o (verdadeiro) Experimentador (pramātṛ), a percepção (saṁsparśaḥ) de prazer e dor (sukha-duḥkha) não é (na) interna (antar) --não toca o seu "Eu" real, como indica o comentário sobre o aforismo anterior--1 , portanto (atas eva), ele (asau)


(O nobre Yogī) está totalmente livre (vimuktaḥ) disso --prazer e dor-- (tad), então (tu) (está) sozinho (kevalī); (em suma, alcançou seu próprio Ser, que é tanto um "único" Conhecedor como uma "única" Massa de Consciência pura)||34||


Estando completa e especialmente (viśeṣeṇa) livre (muktaḥ) de ambos (tābhyām) —de prazer e dor (sukha-duḥkhābhyām)(e) não sendo tocado (asaṁspṛṣṭaḥ) internamente (antar) nem mesmo (api) por meras (mātreṇa) impressões residuais (saṁskāra)2 , (ele está) sozinho (kevalī), (ou seja, é) alguém cuja (yasya) natureza (rūpam) consiste unicamente (kevalam) em ser um experimentador ou conhecedor (pramātṛtā) que é Consciência pura (cit-mātra) --em outras palavras, ele é somente Consciência pura, o único e verdadeiro Conhecedor de tudo--|

Isso (tad) (também) foi dito (uktam) no venerável Kālikākrama (śrī-kālikākrame):

"O Yogī (yogī) deve obter (labhet) o fruto (phalam) do Yoga (yoga) partindo em dois (bhittvā) a grande (mahā) ilusão (moham) (chamada) dualidade (dvaita), que é fabricada (kalpitam) por numerosos (analpa) pensamentos (vikalpa) (baseados em) cognições (vijñāna) (tais como) prazer (sukha), dor (duḥkha), etc. (ādi... iti)"||

O termo (śabdaḥ) "tu" --então-- (tu) (que aparece neste aforismo) mostra claramente (dyotakaḥ) a diferença (viśeṣa) com relação ao (apekṣayā) que está prestes a ser mencionado (vakṣyamāṇa) (no próximo aforismo); além disso (evam... api), (a palavra "tu") que aparece (gataḥ) no seguinte (uttara) aforismo (sūtra) (mostra claramente a diferença) com relação ao (apekṣayā) (que é mencionado) neste (etad) aforismo (sūtra)3 ||34||

1  Existe outra possível tradução para "saṁsparśa": contato. Então, a frase "a percepção (saṁsparśaḥ) de prazer e dor (sukha-duḥkha) não é (na) interna (antar)" torna-se "o contato (saṁsparśaḥ) com prazer e dor (sukha-duḥkha) não é (na) interno (antar)". De qualquer maneira, o ensinamento final é o mesmo: prazer e dor não tocam a sua natureza essencial de forma alguma.Return 

2  Ele não está identificado com seu corpo sutil (intelecto, ego, mente e elementos sutis), nem muito menos com o corpo físico. Além disso, por não ser tocado internamente nem sequer por algumas impressões residuais de ações, ele também não é afetado pelo corpo causal. Ele mora em seu corpo espiritual, chamado supracausal, e inclusive além dele. É por isso que ele é alguém cuja natureza é Consciência pura. Na verdade, "todos" são Consciência pura, mas, devido à identificação com os corpos causal, sutil e físico, a maioria das pessoas não se dá conta da sua natureza essencial e, como consequência disso, vive em escravidão.Return 

3  Por um lado, o termo "tu" é utilizado no sentido de "então" neste aforismo para completar a descrição do estado iluminado de um grande Yogī. Por outro lado, a mesma palavra é utilizada no sentido de "no entanto" no aforismo seguinte, antes de descrever o estado de um ser limitado. De qualquer maneira, o ser limitado também é capaz de tornar-se uma alma emancipada. Isso será mostrado em aforismos futuros. De fato, se o ser limitado "já não fosse" o Ser Supremo, he não poderia dar-se conta Dele. Não se pode alcançar o que já não está aqui. Isso é muito difícil de entender para a maioria das pessoas, eu sei disso, mas é completamente verdadeiro. Sei disso por experiência direta, e não meramente por inferência ou testemunho.

Quando você percebe o próprio Ser pelo menos uma vez, dá-se conta de que sempre o percebeu. Outra verdade difícil de compreender para a maioria dos leitores, hehe, mas é completamente certo. Se você não entender isso agora, não se preocupe, pois o entederá cedo ou tarde se perseverar na sua leitura, prática, etc. Continue cortando o galho a partir da posição "correta" e, em algum momento, cairá de repente. Quando você corta a partir dessa posição, nada parece estar acontecendo até que ouça um estalo, haha. Estou falando sério, apesar do riso. Essa escritura inteira também tem ensinado a mesma verdade. Se você continuar lendo-a de novo e de novo, o galho vai ser cortado e você perceberá que é o Ser Supremo. É sempre a mesma história, apenas mudando "aparentemente" os corpos/personalidades. Em suma, é sempre a mesma história de "Você" tornando-se "você" e então "Você" novamente, pois nunca há mais ninguém aqui. É por isso que o aforismo estabelece que o grande Yogī é kevalī ou está sozinho.Return 

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 Aforismo 35

यदाह—


मोहप्रतिसंहतस्तु कर्मात्मा॥३५॥


मोहेनाज्ञानेन प्रतिसंहतस्तदेकघनस्तत एव सुखदुःखाश्रयो यः स पुनः कर्मात्मा नित्यं शुभाशुभकलङ्कितः। तदुक्तं तत्रैव

यदविद्यावृततया विकल्पविधियोगतः।
शिवादीन्नैव झटिति समुद्भावयतेऽखिलान्॥
ततः शुभाशुभा भावा लक्ष्यन्ते तद्वशत्वतः।
अशुभेभ्यश्च भावेभ्यः परं दुःखं प्रजायते॥

इति॥३५॥

Yadāha—


Mohapratisaṁhatastu karmātmā||35||


Mohenājñānena pratisaṁhatastadekaghanastata eva sukhaduḥkhāśrayo yaḥ sa punaḥ karmātmā nityaṁ śubhāśubhakalaṅkitaḥ| Taduktaṁ tatraiva

Yadavidyāvṛtatayā vikalpavidhiyogataḥ|
Śivādīnnaiva jhaṭiti samudbhāvayate'khilān||
Tataḥ śubhāśubhā bhāvā lakṣyante tadvaśatvataḥ|
Aśubhebhyaśca bhāvebhyaḥ paraṁ duḥkhaṁ prajāyate||

iti||35||


(Śiva, o autor dos Śivasūtra-s,) disse (āha) que --isto é, o seguinte-- (yad)


No entanto (tu), aquele que é uma massa compacta (pratisaṁhataḥ) de engano (moha) (está meramente) envolvido (ātmā) em ações (karma)||35||


Com engano (ou) ignorância (mohena ajñānena). (O termo) pratisaṁhata (pratisaṁhataḥ) (significa) que ele --um ser limitado-- é uma compacta massa (eka-ghanaḥ) (repleta) disso --de engano ou ignorância-- (tad). Por essa mesma razão (tatas eva), é um recipiente (āśrayaḥ yaḥ) de prazer e dor (sukha-duḥkha). Por outro lado (punar), ao estar envolto (ātmā) em ações (karma), ele (saḥ) está sempre manchado (nityam kalaṅkitaḥ) com boas e más ações (śubha-aśubha)|

Isso (tad) foi declarado (uktam) nessa mesma (escritura) --no Kālikākrama-- (tatra eva):

"(No caso de uma pessoa ignorante,) ao estar coberta ou velada (āvṛtatayā) pela ignorância (avidyā) sobre Isso --o Ser-- (yad) (e) por meio do (yogatas) uso ou aplicação (vidhi) de pensamentos (vikalpa), não se torna instantaneamnte consciente de (na eva jhaṭiti samudbhāvayate) que todos (os tattva-s ou categorias) (akhilān) que começam com (ādīn) Śiva (śiva) (são sua própria natureza essencial, que é uma compacta massa de Consciência)1 . Então (tatas), bons e maus (śubha-aśubhāḥ) estados (bhāvāḥ) aparecem (lakṣyante); e (ca), como (tal pessoa) está sob o controle (vaśatvataḥ) dessa (ignorância sobre o seu próprio Ser) (tad), sobrevém (a ele) (prajāyate) grande (param) dor (duḥkham) devido aos (supracitados) maus estados (aśubhebhyaḥ... bhāvebhyaḥ... iti)2 "||

||35||

1  Evidentemente, os requisitos da métrica forçaram o autor a omitir algumas palavras. Deveria ter sido escrito algo assim: "शिवादितत्त्वांश्चिद्घनस्वभावतया नैव झटिति समुद्भावयतेऽखिलान्॥" - "Śivāditattvāṁścidghanasvabhāvatayā naiva jhaṭiti samudbhāvayate'khilān||" - "não se torna instantaneamente consciente de (na eva jhaṭiti samudbhāvayate) que todos (akhilān) os tattva-s ou categorias (tattvān) que começam com (ādi) Śiva (śiva) são (sua própria) natureza essencial (sva-bhāvatayā), que é uma compacta massa (ghana) de Consciência (cit)".

A conjugação "samudbhāvayate" (lit. considera, pensa, etc.) deve ser interpretada aqui como "parāmṛśati" (apodera-se mentalmente de, torna-se consciente de, etc.). A palavra "jhaṭiti" significa "instantaneamente". O sentido resultante de toda a declaração é que uma pessoa ignorante cai vítima do Māyīyamala (impureza Máyica) e, portanto, experimenta dualidade. Em outras palavras, ela percebe todos esses tattva-s como diferentes dela mesma. Leia Trika 4 para conseguir mais informação sobre esse mala ou impureza.Return 

2  Esses maus estados têm como raiz o Kārmamala (impureza Kármica). Essa impureza é simplesmente confusão sobre o verdadeiro Fazedor das ações. Como essa pessoa ignora que somente o Senhor é o verdadeiro Fazedor de tudo, pensa que ela é a fazedora. Dessa forma, envolve-se em boas e más ações, e sobrevém a ele uma horrível dor devido aos inevitáveis frutos das suas más ações. Em Trika 4, você também encontrará mais imformação sobre Kārmamala.Return

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 Aforismo 36

एवमीदृशस्यापि कर्मात्मनो यदानर्गलमाहेशशक्तिपातवशोन्मिषितसहजस्वातन्त्र्ययोगो भवति तदास्य—


भेदतिरस्कारे सर्गान्तरकर्मत्वम्॥३६॥


शरीरप्राणाद्यहन्ताभिमानात्मनः सकलप्रलयाकलादिप्रमात्रुचितस्य भेदस्य तिरस्कारे स्थितस्यापि चिद्घनस्वभावोन्मज्जनादपहस्तने सति क्रमेण मन्त्रमन्त्रेश्वरमन्त्रमहेश्वरात्मकस्वमाहात्म्यावाप्तौ सर्गान्तरकर्मत्वं यथाभिलषितनिर्मेयनिर्मातृत्वं भवति। तथा च श्रीस्वच्छन्दे

त्रिगुणेन तु जप्येन स्वच्छन्दसदृशो भवेत्।

इति स्वच्छन्दसादृश्येन भेदतिरस्कारमस्योक्त्वा

ब्रह्मविष्ण्विन्द्रदेवानां सिद्धदैत्योरगेशिनाम्॥
भयदाता च हर्ता च शापानुग्रहकृद्भवेत्।
दर्पं हरति कालस्य पातयेद्भूधरानपि॥

इत्युक्तम्॥३६॥

Evamīdṛśasyāpi karmātmano yadānargalamāheśaśaktipātavaśonmiṣitasahajasvātantryayogo bhavati tadāsya—


Bhedatiraskāre sargāntarakarmatvam||36||


Śarīraprāṇādyahantābhimānātmanaḥ sakalapralayākalādipramātrucitasya bhedasya tiraskāre sthitasyāpi cidghanasvabhāvonmajjanādapahastane sati krameṇa mantramantreśvaramantramaheśvarātmakasvamāhātmyāvāptau sargāntarakarmatvaṁ yathābhilaṣitanirmeyanirmātṛtvaṁ bhavati| Tathā ca śrīsvacchande

Triguṇena tu japyena svacchandasadṛśo bhavet|

iti svacchandasādṛśyena bhedatiraskāramasyoktvā

Brahmaviṣṇvindradevānāṁ siddhadaityorageśinām||
Bhayadātā ca hartā ca śāpānugrahakṛdbhavet|
Darpaṁ harati kālasya pātayedbhūdharānapi||

ityuktam||36||


Dessa forma (evam), inclusive (api) para tal (pessoa ignorante) (īdṛśasya) que está envolta (ātmanaḥ) em ações (karma), quando (yadā) se produz (bhavati) uma união (yogaḥ) com a natural (sahaja) Liberdade Absoluta (do Ser Supremo) (svātantrya) que emerge (unmiṣita) devido a (vaśa) uma concessão de Graça --lit. descida de Poder-- (śakti-pāta) sem impedimentos (anargala) proveniente de Maheśa --lit. "Grande Senhor", um epíteto de Śiva-- (māheśa), então (tadā), no seu caso (asya)


Quando a diferença (bheda) desaparece (tiraskāre), a capacidade para realizar (karmatvam) outra (antara) Criação (sarga) (aparece no Yogī iluminado)||36||


(Por um lado, no composto "Bhedatiraskāre", a palavra "bheda" significa) "da diferença ou dualidade" (bhedasya) (que consiste em diferentes campos de experiência) adequados para (ucitasya) os experimentadores (pramātṛ) (tais como) Sakala (sakala), Pralayākala (pralaya-akala), etc. (ādi), cujas naturezas (ātmanaḥ) (têm a ver com) a (errônea) concepção ou noção (abhimāna) de que (o seu) "Eu" ou "Ser verdadeiro" (ahantā) é o corpo (śarīra), a energia vital (prāṇa), etc. (ādi)1 . (Por outro lado, no mesmo composto "Bhedatiraskāre", o termo "tiraskāre" significa) "no desaparecimento" --ou, de forma menos literal e mais legível: "ao desaparecer"-- (tiraskāre), (isto é,) quando há descarte ou eliminação (apahastane sati) da (diferença ou dualidade) existente (sthitasya api) devido ao surgimento (unmajjanāt) da própria natureza essencial (sva-bhāva), que é uma compacta massa (ghana) de Consciência (cit). (Em suma, todo o composto "Bhedatiraskāre" significa, literalmente, "No desaparecimento da diferença ou dualidade", ou, de forma mais legível, "Ao desaparecer a diferença ou dualidade", ou seja,) na gradual obtenção (krameṇa avāptau) do seu (sva) exaltado estado (māhātmya) que aparece na forma (ātmaka) (dos experimentadores superiores denominados) Mantra (mantra), Mantreśvara (mantra-īśvara) (e) Mantramaheśvara (mantra-mahā-īśvara). (Quando tudo isso acontece,) a capacidade para realizar (karmatvam) outra (antara) Criação (sarga), (ou seja,) o estado de ser o criador (nirmātṛtvam) (para criar) coisas (nirmeya) segundo o seu desejo (yathā-abhilaṣita), aparece (bhavati) (no Yogī iluminado)|

Assim (tathā ca), no venerável Svacchandatantra (śrī-svacchande), mencionando (tacitamente) (uktvā), (na seguinte linha,) o desaparecimento (tiraskāram) da diferença ou dualidade (bheda) no seu caso (asya) devido à semelhança (sādṛśyena) com Svacchanda --o Independente Senhor que é absolutamente Livre-- (svacchanda):

"Com o triplo (triguṇena tu) japya (japyena)2 , ele se torna (bhavet) similar (sadṛśaḥ) a Svacchanda --o Senhor Livre-- (svacchanda... iti)"||
(Ver primeira linha de VI, 54 no Svacchandatantra)

(imediatamente depois disso,) foi dito (uktam):

"Entre os deuses --seres divinos-- (devānām) Brahmā (brahma), Viṣṇu (viṣṇu) (e) Indra (indra), (e também) entre (os seres semidivinos conhecidos como) siddha-s --não os seres aperfeiçoados, mas sim um tipo de entidade superior aos meros fantasmas-- (siddha), daitya-s --demônios-- (daitya) (e) urageśī-s --reis das serpentes-- (uraga-īśinām), torna-se (bhavet) um dador (dātā) e (ca... ca) um dissipador (hartā) de medo (bhaya), amaldiçoando (śāpa...kṛt) (e) concedendo Graça (anugraha-kṛt), (respectivamente). Ele destrói (harati) o orgulho (darpam) de Kāla --tanto a morte como Yama, o regente dos mortos-- (kālasya) (e) causa a queda (pātayet) inclusive de (api) montanhas (bhūdharān... iti)"||
(Ver porção final de VI, 54 junto com a estrofe VI, 55 no Svacchandatantra)

||36||

1  Esse tópico já foi explicado sucintamente por mim na nota 4 de III, 19. Mas tenho que repetir minha explicação aqui, pois direi algumas outras coisas sobre esse tema. Existem sete experimentadores, ou, melhor, sete etapas para um único Experimentador:

(1) Śiva (sua esfera de ação são os tattva-s Śiva e Śakti, as primeiras duas categorias) - Ele é o Experimentador Supremo e a própria natureza essential. Nenhum universo está presente aqui.
(2) Mantramaheśvara (sua esfera de ação é o Sadāśiva-tattva, a terceira categoria) - Embora o universo tenha começado a manifestar-se, ainda é uma experiência indistinta. Então, esse experimentador ainda está plenamente absorvido em seu próprio Ser ou Aham ("Eu").
(3) Mantreśvara (sua esfera de ação é o Īśvara-tattva, a quarta categoria) - O universo aparece como uma realidade nítida, e, como resultado, esse experimentador se absorve totalmente nessa maravilha, mas ainda mantém a sua consciência de Ser intacta.
(4) Mantra (sua esfera de ação é o tattva Sadvidyā ou Śuddhavidyā, a quinta categoria) - Existe um equilíbrio entre Aham ("Eu") e Idam ("Isto", o universo). Esse experimentador está igualmente consciente de ambos os aspectos ao mesmo tempo.

Os quatro experimentadores anteriores são divinos ou superiores. Estão completamente desprovidos de mala ou impureza. De fato, o primeiro experimentador não é realmente nem mesmo um tipo de experimentador, mas sim o Próprio Senhor! Ele não possui nenhum universo para experimentar, pois permanece inteiramente estabelecido em Si Mesmo como Aham ou "Eu", ou seja, Ele não tem nenhum "Idam" ("Isto") ou universo como Seu campo de experiência.

Agora, os seguintes experimentadores restantes estão afundados em miséria, isto é, em bheda ou dualidade:

(5) Vijñānākala (sua esfera de ação jaz entre os tattva-s Sadvidyā e Māyā, entre a quinta e sexta categorias). Ele se dá conta de que Śiva é seu verdadeiro "Eu", mas carece de poder (daí o nome "akala") devido ao Āṇavamala;
(6) Pralayākala (sua esfera de ação é Māyā e seus cinco Kañcuka-s, a partir da sexta até a décima primeira categoria). Esse experimentador também está desprovido de poder (akala) e plenamente identificado com a energia vital. Consequentemente, o universo aparece de maneira dissolvida para ele. Em outras palavras, ele o experimenta como um vazio. Ele mantém as impurezas, ou seja, Āṇavamala, Māyīyamala e Kārmamala, mas as últimas não são operativas, porque o universo atravessou um "pralaya" ou "dissolução".
(7) Sakala (sua esfera de ação abrange desde Puruṣa --a décima segunda categoria-- até a última). Por um lado, esse experimentador não está desprovido de poder (daí que seja um "sakala" ou "com poder"), mas está limitado em todos os aspectos, especialmente em relação à sua concepção de "Eu". Está convencido de que o corpo físico (composto dos cinco elementos brutos) e o corpo sutil (composto de intelecto, ego, mente e elementos sutis) são o seu verdadeiro "Eu". Essa noção errônea o força a usar os seus já limitados poderes de vontade, conhecimento e ação de muitas formas inúteis. Em vez de usá-los para alcançar o ato de dar-se conta do Ser, ele corre como um louco atrás de prazeres e foge a todo custo da dor, constantemente em busca da Alegria Suprema mas ignorando tanto o seu estado de buscador da Alegria Suprema quanto o verdadeiro local onde tal Alegria reside (isto é, em seu próprio Ser verdadeiro).

 

Muito bem, "bheda" ou "diferença/dualidade" é "adequado para" (a palavra "bheda" é de gênero masculino) todo experimentador, no seguinte sentido: "प्रमातॄणां यथास्वस्वभावं भिन्नप्रमेयात्मकभेदाभासः" - "Pramātṝṇāṁ yathāsvasvabhāvaṁ bhinnaprameyātmakabhedābhāsaḥ" - "A manifestação de bheda ou dualidade, composta de diferentes prameya-s, (ocorre) em conformidade com a natureza essencial dos experimentadores". Prameya é tudo aquilo que um experimentador percebe. Cada um dos experimentadores tem um prameya ou campo de experiência apropriado ou adequado para sua própria natureza. Por exemplo, um Sakala tem um universo formado a partir de distintas realidades, desde o próprio deus Brahmā até o último verme, enquanto um Pralayākala temcomo campo de experiência ou prameya o mero vazio. Perfeito, se você quiser saber mais sobre esses assuntos: Leia todas as páginas, desde Trika 1 até Trika 6. Adicionalmente, você também pode ler o Ṣaṭtriṁśattattvasandoha.Return 

2  O termo "japya" significa literalmente "mantra ou oração murmurada", enquanto a conhecida palavra "japa" significa literalmente "murmuração de um mantra ou oração". Então, o primeiro indica o que é murmurado, enquanto o segundo indica o ato de murmurar. De qualquer maneira, nesse contexto, por triplo japya, não se indica nenhum desses significados literais. Há três tipos de japya: (1) Śāmbhava, onde se fixa a atenção no ponto de união de Śiva e Śakti (o Senhor e o Seu Poder); (2) Śākta, onde se fixa a atenção no ponto de união de pramāṇa and prameya (meios de conhecimento mais o próprio conhecimento, e objeto cognoscível) (3) Āṇava, onde se fixa a atenção no ponto de união de prāṇa e apāna (energias vitais que saem e entram com expiração e inspiração, respectivamente).

Obviamente, a maioria dos aspirantes começa com o japya mais simples, ou seja, a conhecida concentração no ponto de união de inspiração e expiração (ou vice versa). Depois disso, avança até o próximo nível ao tornarem-se conscientes do ponto de união de mente/sentidos/cognição e objeto cognoscível. Cada vez que você percebe algo com a mente/sentidos, produz-se uma cognição ou conhecimento como resultado (por exemplo, você vê uma árvore e pensa, "Oh, isso é uma árvore"). As pessoas comuns (os meros Sakala-s) estão conscientes do próprio objeto ou ou de suas mentes/sentidos/cognições, mas os yogī-s são diferentes, por serem conscientes do ponto de união dessas duas entidades (pramāṇa e prameya). Finalmente, um aspirante muito avançado chegará à mais elevada forma de japya, Śāmbhavajapya, ao tornar-se consciente do ponto de união do Senhor e Seu Poder. Em suma, fixará a sua atenção na união entre o "Eu" ou "Ser" e Sua "consciência de Eu". Bem, se você conseguir chegar a esse nível de espiritualidade, meus parabéns a você, sublime Yogī ou Yoginī, pois fazer isso é tão difícil que não consigo evitar rir toda vez que penso nisso, haha! Somente a Graça do Senhor, concedida abundantemente a uma pessoa, é capaz de torná-la apta para Śāmbhavajapya.Return 

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 Aforismo 37

न चैतदस्यासम्भाव्यं यतः—


करणशक्तिः स्वतोऽनुभवात्॥३७॥


स्वतः स्वस्मादेवानुभवात्सङ्कल्पस्वप्नादौ करणशक्तिः तत्तदसाधारणार्थनिर्मातृत्वमात्मनः सिद्धमेव। अनेनैवाशयेन श्रीप्रत्यभिज्ञायाम्

अत एव यथाभीष्टसमुल्लेखावभासनात्।
ज्ञानक्रिये स्फुट एव सिद्धे सर्वस्य जीवतः॥

इत्युक्तम्। तथासम्भवाद्यदि चैतद्गाढाभिनिवेशेन विमृशति तदा सर्वसाधारणाभीष्टार्थनिर्मातृतापि भवति। तदुक्तं तत्त्वगर्भे

यदा तु तेऽपि सुव्यक्तस्वसामर्थ्यगुणोज्ज्वलाः।
भवेद्दृढतरादूरदारिता दार्ढ्यदीनता।
तदा च तेषां सङ्कल्पः कल्पपादपतां व्रजेत्॥

इति॥३७॥

Na caitadasyāsambhāvyaṁ yataḥ—


Karaṇaśaktiḥ svato'nubhavāt||37||


Svataḥ svasmādevānubhavātsaṅkalpasvapnādau karaṇaśaktiḥ tattadasādhāraṇārthanirmātṛtvamātmanaḥ siddhameva| Anenaivāśayena śrīpratyabhijñāyām

Ata eva yathābhīṣṭasamullekhāvabhāsanāt|
Jñānakriye sphuṭa eva siddhe sarvasya jīvataḥ||

ityuktam| Tathāsambhavādyadi caitadgāḍhābhiniveśena vimṛśati tadā sarvasādhāraṇābhīṣṭārthanirmātṛtāpi bhavati| Taduktaṁ tattvagarbhe

Yadā tu te'pi suvyaktasvasāmarthyaguṇojjvalāḥ|
Bhaveddṛḍhatarādūradāritā dārḍhyadīnatā|
Tadā ca teṣāṁ saṅkalpaḥ kalpapādapatāṁ vrajet||

iti||37||


Essa (capacidade criativa) (etad) não é (na ca) impossível (asambhāvyam) para ele (asya), porque (yatas)


(Qualquer um pode dar-se conta de seu) poder (śaktiḥ) criativo (karaṇa) a partir de sua própria (svataḥ) experiência (anubhavāt)||37||


O próprio (ātmanaḥ) poder (śaktiḥ) criativo (karaṇa) (ou) capacidade para criar (nirmātṛtvam) diversas (tad-tad) coisas (artha) extraordinárias (asādhāraṇa) fica provado ou estabelecido (siddham) "svato'nubhavāt" (svataḥ... anubhavāt), (ou seja,) a partir de sua própria (svasmāt eva) experiência --anubhava-- (anubhavāt) durante imaginação, sonhos, etc. (saṅkalpa-svapna-ādau)|

Com essa intenção (anena eva āśayena), declarou-se (uktam) na venerável Īśvarapratyabhijñā (śrī-pratyabhijñāyām):

"Por essa mesma razão (atas eva), a partir dos poderes de concepção e execução (samullekha-avabhāsanāt) de acordo com o próprio desejo (yathā-abhīṣṭa), (os poderes de) conhecer e fazer (jñāna-kriye) de todos os seres vivos (sarvasya jīvataḥ) (ficam) claramente (sphuṭe eva) provados ou estabelecidos (siddhe... iti)1 "||
(Ver I, VI, 11 na Īśvarapratyabhijñā)

Sendo tal a possibilidade (tathā-sambhavāt), se (yadi ca) esse (Yogī) (etad), com firme e forte determinação (gāḍha-abhiniveśena), deseja manifestar mediante (seu) Vimarśa (ou consciência do Eu) (vimṛśati), então (tadā), também (api) aparece (bhavati) o estado de ser criador (nirmātṛtā) de coisas (artha) segundo os desejos (abhīṣṭa), o qual é comum (sādhāraṇā) a todos (sarva)2 |

Isso (tad) foi estabelecido (uktam) no Tattvagarbha (tattvagarbhe):

"Quando (yadā tu) eles --os grandes Yogī-s-- (te api) brilham --lit. luminosos-- (ujjvalāḥ) com seu (sva) atributo (guṇa) de eficácia (sāmarthya) claramente manifesto (su-vyakta), (toda) falta (dīnatā) de estabilidade e força (dārḍhya) é (bhavet) logo (adūra) (e) muito firmemente (dṛḍhatara) quebrada em pedaços --figurativamente falando-- (dāritā) e (ca), então (tadā) sua (teṣām) volição --poder de vontade-- (saṅkalpaḥ) se torna (vrajet) um Kalpapādapa ou Kalpataru --uma árvore que concede todos os desejos-- (kalpapādapatām... iti)3 "||

||37||

1  Segundo Abhinavagupta, tal como ele escreve em seu comentário sobre a Īśvarapratyabhijñā. conhecida como Īśvarapratyabhijñāvimarśinī, "Avabhāsana" (poder de concepção) indica "Jñānaśakti" (Poder de Conhecimento) e "Samullekha" (poder de execução) indica "Kriyāśakti" (Poder de Ação). O primeiro concebe, enquanto o segundo executa, isto é, leva a cabo aquilo que foi concebido pelo primeiro. Então, o Poder de Ação materializa tudo o que foi previamente concebido pelo Poder de Conhecimento. Simples!

Traduzirei para você o comentário inteiro sobre essa estrofe, não somente para provar o que falei, mas também para que você possa compreender a estrofe em profundidade. Farei o melhor que puder, pois Abhinavagupta é um mestre tão erudito e denso que é frequentemente difícil para mim compreender corretamente os seus escritos. E, visto que a maneira de escrever desse mestre é refinada e complexa, também explicarei cada porção do texto entre hífen duplo (--...--). Vamos lá:

"यदिदं यथाभीष्टस्य बहिरसत्त्वादननुभूतस्यापि सम्यगुल्लेखनमवभासनं च विकल्पस्य प्रसङ्गाद्दर्शितमस्मादेव हेतोरिदमपि सिद्ध्यति— यः कश्चित्कीटो वा ब्रह्मा वा जीवनक्रियाविष्टस्तस्यावभासनरूपा ज्ञानशक्तिरुल्लेखनरूपा च क्रियाशक्तिर्नैसर्गिकी ततस्तस्यां भूमौ व्यतिरिक्तेश्वरोपकल्पितपूर्वसिद्धसृष्ट्युपजीवनसम्भावनापि नास्तीति स्वमेवैश्वर्यं स्फुटं प्रत्यभिज्ञेयं जानाति करोति च— इति ज्ञानक्रियास्वातन्त्र्यलक्षणमेकवचनेन सर्वस्य जीवजातस्य वस्तुत एकेश्वररूपतां सूचयति। इति शिवम्॥११॥" -

"Yadidaṁ yathābhīṣṭasya bahirasattvādananubhūtasyāpi samyagullekhanamavabhāsanaṁ ca vikalpasya prasaṅgāddarśitamasmādeva hetoridamapi siddhyati— Yaḥ kaścitkīṭo vā brahmā vā jīvanakriyāviṣṭastasyāvabhāsanarūpā jñānaśaktirullekhanarūpā ca kriyāśaktirnaisargikī tatastasyāṁ bhūmau vyatirikteśvaropakalpitapūrvasiddhasṛṣṭyupajīvanasambhāvanāpi nāstīti svamevaiśvaryaṁ sphuṭaṁ pratyabhijñeyaṁ jānāti karoti ca— Iti jñānakriyāsvātantryalakṣaṇamekavacanena sarvasya jīvajātasya vastuta ekeśvararūpatāṁ sūcayati| Iti śivam||11||" -

"(O termo 'samullekha' na estrofe significa) aquilo que (é) pleno 'ullekha' (ou) execução ou ato de dar forma. (Conota o ato de dar forma), conforme a vontade, a algo que ainda não foi experimentado, já que não existia externamente. E (o termo 'avabhāsana' ou) o poder de concepção é mostrado na contingência de vikalpa ou pensamento --ou seja, é óbvio a partir de meramente contemplar como os próprios pensamentos concebem coisas novas--. Este --o poder de concepção-- é provado devido à (presença) daquele --o poder de execução; ou seja, visto que, se algo foi executado ou realmente criado, essa é uma prova válida de que foi primeiramente concebido-- — Tudo o que estiver dotado de atividade e vida, seja um verme ou (o próprio) Brahmā --o criador do universo material--, o poder de conhecimento e o natural poder de ação desses (seres vivos) têm como natureza os poderes de concepção e execução, (respectivamente). Portanto, sobre essa base --sobre a base da imaginação que tem lugar no reino da fantasia de tais seres vivos, etc.--, não há nem sequer suposição de que a subsistência da criação, que foi previamente admitida como verdadeira, tenha sido produzida por um senhor diferente --em suma, a partir da experiência de qualquer ser vivo, tudo o que é concebido e criado em sua mente não requer a presença de outro senhor além dele(a) mesmo(a) para que subsista ali--. Dessa forma, (tal ser vivo) claramente conhece e leva a cabo seu próprio senhorio, o qual deve ser reconhecido --isto é, ele(a) conhece e realiza coisas como um senhor, mas ainda tem que reconhecer/dar-se conta do seu próprio senhorio-- — Dessa maneira, (esse senhorio) caracterizado por conhecimento, ação e liberdade, em número singular --há somente um senhorio, e não dois ou mais--, no caso de todos os que possuem vida --os seres vivos--, realmente indica sua condição de seres formados a partir de um Senhor --em poucas palavras, o senhorio exibido pelas criaturas vivas, ao ser somente um em cada uma delas, realmente indica que têm como natureza essencial 'um único' Senhor--.

Que haja bem-estar para todos os seres!".

Espero que eu tenha entendido tudo corretamente. Abhinavagupta é um mestre e pensador tão grande que é necessária a presença de um discípulo do calibre do próprio Kṣemarāja (seu principal discípulo) para decifrar seus ensinamentos em Sânscrito. Seja misericordioso, Senhor, e lembre-se de que estou sozinho estou sozinho com meu pequeno barco no meio desse oceano de escritos originais, comentários e explicações de eruditos com a sabedoria de videntes védicos, a maioria dos quais está em Sânscrito puto (nem sequer uma transliteração). Infelizmente, não tenho ninguém, fisicamente falando, sussurrando as traduções nos meus ouvidos, por assim dizer. Seria uma maravilha ter alguém assim, como você sabe. Bem, enquanto isso, devo continuar remando.Return 

2  Aparentemente, o estado de ser o criador que é comum a todos indica que é universal. Isso é correto a partir do ponto de vista de que "todos os seres" têm o mesmo estado que o Yogī de ser criadores, porque o único Senhor reside em todos igualmente. De qualquer forma, segundo os sábios, nesse contexto em particular, a interpretação da frase é assim: "विमर्शातिशयवशात्सर्वजनैस्तन्निर्मितिर्द्रष्टुं शक्यते" - "Vimarśātiśayavaśātsarvajanaistannirmitirdraṣṭuṁ śakyate" - "Devido à preeminência de Vimarśa ou consciência do Eu --ou seja, Śakti--, sua criação pode ser vista por todas as pessoas". Agora está totalmente claro!Return 

3  Refere-se a uma das cinco árvores do paraíso de Indra. Diz-se que esse Kalpapādapa ou Kalpataru realiza todos os desejos. Da mesma maneira, quanto a eficácia (o poder criativo) dos Yogī-s está em seu apogeu, seu poder de vontade pode realizar todos os desejos. Sucintamente: Eles podem manifestar qualquer coisa segundo a sua vontade. Isso é assim porque são como o Próprio Senhor a todo momento. Sendo esse o caso, o que mais eu poderia dizer sobre eles?Return 

Ao início


 Aforismo 38

यतश्च करणशक्तिशब्दोक्त्या तुर्यात्मा स्वातन्त्र्यशक्तिरेव बोधरूपस्य प्रमातुः सारमतो मायाशक्त्यपहस्तिततत्स्वरूपोत्तेजनाय—


त्रिपदाद्यनुप्राणनम्॥३८॥


त्रयाणां भावौन्मुख्यतदभिष्वङ्गतदन्तर्मुखीभावनामयानां सृष्टिस्थितिलयशब्दोक्तानां पदानामवस्थानां यदादि प्रधानं त्रिचमत्कृतित्वेनानन्दघनं तुर्याख्यं पदं मायाशक्त्याच्छादितमपि तत्तद्विषयोपभोगाद्यवसरेषु विद्युद्वदाभासमानं तेन तत्तदवसरेषु क्षणमात्रोदितेनाप्यनुप्राणनमन्तर्मुखतद्विमर्शावस्थितितारतम्येनानुगततया प्राणनमात्मनस्तेनैव जीवितेनापि जीवितस्योत्तेजनं कुर्यात्। तदुक्तं श्रीविज्ञानभैरवे

अन्तः स्वानुभवानन्दा विकल्पोन्मुक्तगोचरा।
यावस्था भरिताकारा भैरवी भैरवात्मनः॥
तद्वपुस्तत्त्वतो ज्ञेयं विमलं विश्वपूरणम्।

इत्याद्युपक्रम्य

शक्तिसङ्गमसङ्क्षुब्धशक्त्यावेशावसानिकम्।
यत्सुखं ब्रह्मतत्त्वस्य तत्सुखं स्वाक्यमुच्यते॥
लेहनामन्थनाकोटैः स्त्रीसुखस्य भरात्स्मृतेः।
शक्त्यभावेऽपि देवेशि भवेदानन्दसम्प्लवः॥
आनन्दे महति प्राप्ते दृष्टे वा बान्धवे चिरात्।
आनन्दमुद्गतं ध्यात्वा तन्मयस्तल्लयीभवेत्॥
जग्धिपानकृतोल्लासरसानन्दविजृम्भणात्।
भावयेद्भरितावस्थां महानन्दस्ततो भवेत्॥
गीतादिविषयास्वादासमसौख्यैकतात्मनः।
योगिनस्तन्मयत्वेन मनोरूढेस्तदात्मता॥

इत्यादिनोपायप्रदर्शनेन प्रपञ्चितम्। एतच्च

अतिक्रुद्धः प्रहृष्टो वा किं करोमीति वा मृशन्।
धावन्वा यत्पदं गच्छेत्तत्र स्पन्दः प्रतिष्ठितः॥

इत्यादिना

... प्रबुद्धः स्यादनावृतः॥

इत्यन्तेन प्रदर्शितम्। एतत्स्पन्दनिर्णये निराकाङ्क्षं मयैव निर्णीतम्। त्रिषु चतुर्थम्... (३-२०) इति सूत्रेण जागरादौ तुर्यानुप्राणनमुक्तम्। अनेन सर्वदशानुगतादिमध्यान्तेषु सृष्तिस्थितिसंहारनिरूपितया भङ्ग्या निरूपितेष्विति विशेषः॥३८॥

Yataśca karaṇaśaktiśabdoktyā turyātmā svātantryaśaktireva bodharūpasya pramātuḥ sāramato māyāśaktyapahastitatatsvarūpottejanāya—


Tripadādyanuprāṇanam||38||


Trayāṇāṁ bhāvaunmukhyatadabhiṣvaṅgatadantarmukhībhāvanāmayānāṁ sṛṣṭisthitilayaśabdoktānāṁ padānāmavasthānāṁ yadādi pradhānaṁ tricamatkṛtitvenānandaghanaṁ turyākhyaṁ padaṁ māyāśaktyācchāditamapi tattadviṣayopabhogādyavasareṣu vidyudvadābhāsamānaṁ tena tattadavasareṣu kṣaṇamātroditenāpyanuprāṇanamantarmukhatadvimarśāvasthititāratamyenānugatatayā prāṇanamātmanastenaiva jīvitenāpi jīvitasyottejanaṁ kuryāt| Taduktaṁ śrīvijñānabhairave

Antaḥ svānubhavānandā vikalponmuktagocarā|
Yāvasthā bharitākārā bhairavī bhairavātmanaḥ||
Tadvapustattvato jñeyaṁ vimalaṁ viśvapūraṇam|

ityādyupakramya

Śaktisaṅgamasaṅkṣubdhaśaktyāveśāvasānikam|
Yatsukhaṁ brahmatattvasya tatsukhaṁ svākyamucyate||
Lehanāmanthanākoṭaiḥ strīsukhasya bharātsmṛteḥ|
Śaktyabhāve'pi deveśi bhavedānandasamplavaḥ||
Ānande mahati prāpte dṛṣṭe vā bāndhave cirāt|
Ānandamudgataṁ dhyātvā tanmayastallayībhavet||
Jagdhipānakṛtollāsarasānandavijṛmbhaṇāt|
Bhāvayedbharitāvasthāṁ mahānandastato bhavet||
Gītādiviṣayāsvādāsamasaukhyaikatātmanaḥ|
Yoginastanmayatvena manorūḍhestadātmatā||

ityādinopāyapradarśanena prapañcitam| Etacca

Atikruddhaḥ prahṛṣṭo vā kiṁ karomīti vā mṛśan|
Dhāvanvā yatpadaṁ gacchettatra spandaḥ pratiṣṭhitaḥ||

ityādinā

... prabuddhaḥ syādanāvṛtaḥ||

ityantena pradarśitam| Etatspandanirṇaye nirākāṅkṣaṁ mayaiva nirṇītam| Triṣu caturtham... (3-20) iti sūtreṇa jāgarādau turyānuprāṇanamuktam| Anena sarvadaśānugatādimadhyānteṣu sṛṣtisthitisaṁhāranirūpitayā bhaṅgyā nirūpiteṣviti viśeṣaḥ||38||


E (ca), visto que (yatas), expressando (uktyā) a palavra (śabda) "karaṇaśakti" --poder criativo-- (karaṇa-śakti), (mostra-se inegavelmente que Seu) Poder (śaktiḥ) de Liberdade Absoluta (svātantrya... eva), cuja natureza (ātmā) é Turya --o Quarto Estado-- (turya), (é) a essência (sāram) do experimentador (pramātuḥ), que não é nada mais que Bodha ou Consciência (bodha-rūpasya), portanto (atas), para estimular (uttejanāya) a natureza essencial (sva-rūpa) desse (Turya) (tad) que foi repelido (apahastita) por māyāśakti (māyā-śakti)1 


(Deve haver) vivificação (anuprāṇanam) dos três estados --manifestação, manutenção e reabsorção-- (tri-pada) por meio do principal (ādi), (em outras palavras, "por meio do quarto estado de consciência, que é uma Testemunha dos outros três e está cheio de Bem-Aventurança transcendental")||38||


Dos três (trayāṇām) pada-s ou estados (padānām avasthānām) mencionados (uktānām) mediante as palavras (śabda) manifestação (sṛṣṭi), manutenção (sthiti) (e) reabsorção (laya) —caracterizados por (mayānām) orientação (aunmukhya) a objetos (bhāva), intenso apego (abhiṣvaṅga) a eles (tad) (e) assimilação (bhāvanā) interna (antarmukhī) desses (mesmos objetos) (tad), (respectivamente)—, aquilo que (yad) (é) ādi (ādi) (ou) o principal (pradhānam) (é) um estado (padam) chamado (ākhyam) Turya --o Quarto-- (turya), uma compacta massa (ghana) de Bem-aventurança (ānanda), pois penetra ou preenche os (outros) três --manifestação, manutenção e reabsorpção-- com Deleite Supremo (tri-camatkṛtitvena). (Turya,) embora (api) esteja coberto ou velado (ācchāditam) por māyāśakti (māyā-śakti), aparece (abhāsamānam) (por um momento) como (vat) um relâmpago (vidyut) ao ocasionar-se (avasareṣu) o desfrute (upabhoga) de vários (tad-tad) objetos (viṣaya), etc. (ādi). Por causa disso (tena), nas diversas ocasiões (tad-tad-avasareṣu) (em que Turya aparece), ainda que (api) tivesse surgido (uditena) somente por um instante (kṣaṇa-mātra), deveria-se realizar (kuryāt) anuprāṇana --vivificação-- (anuprāṇanam), (isto é, "anugatatayā prāṇana" ou) vivificação (prāṇanam), seguindo (anugatatayā), em diferentes graus (tāratamyena) de permanência (avasthiti), a consciência (vimarśa) dessa (massa compacta de Bem-aventurança) (tad) que reside internamente (antarmukha). (Resumindo, deveria-se realizar) estimulação (uttejanam) de (tal) vitalidade (jīvitasya) vivificando(-se) (jīvitena api) a si mesmo (ātmanaḥ) com essa vitalidade (tena eva jīvitena api)|

Isso (tad) foi descrito (uktam) no venerável Vijñānabhairava (śrī-vijñānabhairave), começando com (upakramya) --agora a escritura descreverá Parā (um termo de gênero feminino que significa literalmente "o Mais Alto", isto é, o Mais Alto Estado ou a Mais Alta Deusa), também denominada Turyātīta (o Estado além do Quarto)--:

"(Parā, o Mais Alto Estado ou Deusa, é) Bem-aventurança (ānandā) que se pode experimentar --lit. a partir da própria experiência-- (sva-anubhava) internamente --na consciência do Eu-- (antar), (Seu) campo de ação (gocarā) está livre de (unmukta) pensamentos (vikalpa) --deve-se liberar-se de todos os pensamentos para experimentar tal Estado ou Deusa--, (é) esse estado (yā avasthā) do próprio Ser (ātmanaḥ) que é Bhairava --Śiva ou o Senhor-- (bhairava), (é) Bhairavī --Śakti ou divino Poder de Bhairava-- (bhairavī), cuja forma (ākārā) é plena (bharita) --ou seja, está repleta de Deleite Supremo derivado da experiência de unidade com o universo--.

Esse (Mais Alto Estado ou Deusa) (tad) deve ser realmente conhecido como (tattvatas jñeyam) a forma --natureza essencial-- (vapus) pura (vimalam) que preenche (pūraṇam) o universo (viśva)— etc. (iti ādi)"||

(E, posteriormente, esse tema) é tratado extensamente (no Vijñānabhairava) (prapañcitam) por (uma série de estrofes) que mostram (pradarśanena) um meio (de aproximação a esse Mais Alto Estado ou Deusa) (upāya):

"Esse deleite que (yad sukham) (ocorre) no final (āvasānikam) da absorção (āveśa) no Poder da Bem-aventurança (śakti), qie --isto é, a absorção-- se produz (saṅkṣubdha) pelo coito (saṅgama) com uma mulher (śakti) --em poucas palavras, 'esse deleite que ocorre durante o orgasmo'-- diz-se ser (ucyate) o deleite (tad sukham) do Supremo Brahma --o Absoluto-- (brahmatattvasya), (ou seja, é um deleite) relacionado ao próprio Ser (svākyam)2 .

Oh deusa (deva-īśi)!, inclusive (api) na ausência (abhāve) de uma mulher (śakti), há (bhavet) uma inundação ou dilúvio (samplavaḥ) de bem-aventurança (ānanda) ao lembrar (smṛteḥ), de maneira total (bharāt), o prazer (sukhasya) experimentado com uma mulher (strī) na forma de beijar efusivamente, abraçar e pressionar (lehana-āmanthana-ākoṭaiḥ)3 .

Quando se obtém uma grande alegria (ānande mahati prāpte) ou (vā) quando se vê um parente, amigo, etc. (dṛṣṭe... bāndhave) depois de muito tempo (cirāt), após meditar (dhyātvā) na alegria (ānandam) que surgiu (udgatam), identifica-se (mayaḥ) com ela (tad) (e) dissolve-se (layībhavet) nela (tad)4 .

A partir da expansão (vijṛmbhaṇāt) da alegria (ānanda) relacionada ao sabor (rasa) que surge (ullāsa) dos atos (kṛta) de comer (jagdhi) (e) beber (pāna), deve-se contemplar --no sentido de fixar a própria atenção-- (bhāvayet) no estado (avasthā) de plenitude (de tal alegria) (bharita); (e,) então (tatas), aparece (bhavet) uma grande (mahā) bem-aventurança (ānandaḥ)5 .

No caso de um Yogī (yoginaḥ) que está (ātmanaḥ) em unidade (ekatā) com o incomparável (asama) deleite (saukhya) (gerado) a partir do desfrute (āsvāda) de objetos (viṣaya) (tais como) uma canção (gītā), etc. (ādi), devido à exaltação (rūḍheḥ) da (sua) mente (manas), (ocorre) uma identificação (mayatvena) com ele --com o incomparável deleite-- (tad), (e, por causa disso, emerge) a identificação com Isso --com o Supremo Brahma, o Absoluto-- (tad-ātmatā)6 — etc. (iti ādinā)"||

Essa (mesma verdade) (etad ca) foi mostrada (nas Spandakārikā-s) (pradarśitam), começando com (ādinā):

"Spanda (spandaḥ) is firmly established (pratiṣṭhitaḥ) in that (tatra) state or condition (padam) into which (yad) (a person) enters (gacchet) (when he is) excessively angry (atikruddhaḥ), exceedingly pleased or delighted (prahṛṣṭaḥ), reflecting (mṛśan) "what (kim) do I do (karomi iti)?", or (vā.. vā... vā) running (for his life) (dhāvan... iti)"||
(Ver Spandakārikā-s I, 22)

e terminando com (antena):

"... (No entanto, um Yogī que) não esteja coberto (pela escuridão da ignorância) (anāvṛtaḥ) permanece (syāt) desperto e iluminado (prabuddhaḥ... iti) (nessa mesma condição)"||
(Ver Spandakārikā-s I, 25 - porção final)

Esse (tema) (etad) foi investigado (nirṇītam) por mim (mayā eva) no Spandanirṇaya (spandanirṇaye) sem que haja a necessidade de adicionar uma palavra (a mais) para completar (essa investigação) (nis-ākāṅkṣam) --no sentido de que o tema foi "completamente" examinado ali, no Spandanirṇaya, seu comentário erudito sobre as Spandakārikā-s--|

Por meio do aforismo (sūtreṇa) "O quarto estado de consciência, (o qual é uma Testemunha) (caturtham), [deve ser vertido como (um fluxo contínuo de) azeite] nos (outros) três (triṣu), (isto é, na vigília, sono e sono profundo). (III, 20) (da presente escritura) (3-20 iti)" --o resto do aforismo citado foi adicionado entre colchetes--, mencionou-se (uktam) vivificação (anuprāṇanam) mediante Turya --o Quarto-- (turya) com relação a vigília, etc. (jāgarā-ādau) --i.e. vigília, sono e sono profundo--|

Nesse aforismo --o que está sendo estudado agora-- (anena), (vivificação mediante Turya é) com referência aos pontos inicial, intermediário e final (ādi-madhya-anteṣu) presentes (anugata) em todos (sarva) os estados (daśā) --em vigília, sono e sono profundo--, (mas) definidos e examinados (nirūpiteṣu) de maneira indireta como (nirūpitayā bhaṅgyā) manifestação (sṛṣti), manutenção (sthiti) (e) reabsorção (saṁhāra). Essa é a diferença (iti viśeṣaḥ)||38||

1  A palavra "māyāśakti" não é sinônimo de "māyātattva" (a conhecida 6a categoria no processo de manifestação universal), porque, enquanto o primeiro é um "poder", o segundo é uma "manifestação". Assim, māyāśakti é um poder mediante o qual o Senhor é capaz de produzir diferença ou dualidade. Usa a própria māyāśakti para ocultar Sua natureza essencial de Si Mesmo. Todo um paradoxo! Obviamente, tudo se refere a você, leitor! Isso está acontecendo agora mesmo (e não em uma galáxia distante!)... Observe como a Sua própria māyāśakti oculta o seu verdadeiro "Eu" e o substitui pelo que se conhece como ego ou falso "Eu". Você não é o corpo sutil composto de intelecto, ego, mente e elementos sutis, nem mesmo o causal feito de energia vital. Você é Ele! Quando percebe isso, "está no Estado Correto" segundo o Trika, onde quer que o seu corpo físico esteja localizado, onde quer que a sua mente possa ter ido e qualquer que seja a sua situação na vida.

Feche os seus olhos por um momento. Agora abra-os. Essa é a Sua manifestação de objetos. Agora, mantenha os olhos abertos e contemple os objetos na sua frente. Essa é a Sua manutenção de objetos. Finalmente, feche os olhos novamente. Essa é a Sua reabsorção de objetos. Então, repita o processo, mas fixando a atenção em "Você" (a Testemunha ou Conhecedor), e não nos objetos. Bem, isso é Turya. Em seu devido tempo, se fizer isso da maneira correta, você experimentará Deleite Supremo, pois tal é a natureza de Turya. É todo o Deleite que existe colocado em um lugar, isto é, em Você, a Testemunha ou Conhecedor. Você sente alegria nos outros três estados porque uma diminuta parte desse Supremo Deleite se infiltra através da rede produzida por māyāśakti. Qualdo essa rede é removida, experimenta-se, ao mesmo tempo, toda a Alegria existente. Alegria imensa te inundando a cada instante. Obviamente, o processo de conseguir essa Alegria colossal será gradual e de acordo com a sua capacidade. Você prefere isso ou o miserável estado de um Sakala, constantemente mendigando por um pouco de felicidade?

Mas, inclusive depois de obter toda a Aletria existente ou possível (Turya), pode-se ir além, em direção a Turyātīta (o estado além de Turya ou o Quarto Estado). Nesse estado, você experimenta nada mais que Consciência pura e é completamente invulnerável. Porém, não é invulnerável no sentido de um super-humano que para balas com as mãos... não... isso não é sobre o mesmo miserável estado de Sakala mas "melhorado", mas sim sobre um novo tipo de existência. Você é invulnerável porque não depende de nada mais para "ser". Você é sempre assim, mas, em Turyātīta, tem uma percepção real de que isso é absolutamente verdadeiro. Enquanto mantém essa percepção ou "dar-se conta", experimenta "sem a menor dúvida" de que você é o Mais Elevado Ser, não importa se o seu corpo físico está vivo ou morto, ou se a sua mente está trabalhando ou parada, ou se você vive na Via Láctea ou na galáxia mais distante do universo, e por aí vai. Não é uma mera indiferença ou pretensão (pois estas estão ainda no reino da mente), mas sim um verdadeiro e absoluto desapego de tudo (individualidade, mente, corpo, vida, morte, tempo, medo... tudo!). Você permanece como Consciência pura em Liberdade Absoluta!

A princípio, essa experiência dura só um momento e apenas ocorre mediante a Sua Graça, mas, à medida que estabiliza-se em Turya, as probabilidades de entrar em contato com Turyātīta aumentam na mesma proporção. Essa experiência é absolutamente esmagadora e além de qualquer descrição. É interessante o ponto onde se alcança Turyātīta pela primeira vez. Dura un instante, mas não se pode dizer "quando tempo durou", pois tempo e espaço não estão presentes em Turyātīta, apesar de que se pode continuar percebendo o corpo, objetos externos, etc. De fato, pode-se continuar com as atividades normais enquanto se está em Turyātīta. No entanto, embora se perceba espaço, tempo, movimento, etc., nada disso está ali como antes (ou seja, antes de obter essa percepção). Não consigo explicar isso adequadamente por meio do uso de palavras, obviamente. Eu poderia escrever um livro inteiro e ainda assim a minha explicação seria inexata, já que as palavras vêm a existir após Turyātīta, e não antes. Então, a princípio, surge de repente e vai embora em pouco tempo, isso é tudo o que você detecta. Após tal realização, você se pergunta o que diabos esteve fazendo antes disso. Em comparação com esse estado sublime, tudo o que você experimentou antes é como "pó". Bem, isso foi só o jogo da Consciência, como você sabe. De qualquer maneira, durante Turyātīta, tudo aparece impregnado pela equanimidade absoluta, isto é, não há opiniões contra ou a favor de nada. Apesar de que as ações continuem sendo realizadas, e os pensamentos continuem emergindo, cheios de opiniões e coisas assim, você permanece totalmente desapegado disso. É unicamente o "Ser" além de todo "desejar", "conhecer" e "fazer". Incrível! E, é claro, you você quer mais. É o seu Tesouro, e, uma vez que o tenha descoberto, não pode simplesmente ir embora e esquecer disso. NÃO, você quer, a todo custo, recuperar Turyātīta, pois fazer isso é a coisa mais importante da sua vida ("nada mais é relevante que conseguir isso denovo", essa é a maneira como você se sente, e sim!, o que poderia ser mais importante que a sua Liberdade?)... mas... você percebe que não pode obtê-lo "à vontade". Está sempre relacionado com a Sua Graça, apesar de que, paradoxalmene, Você é Ele.

Nesse ponto, você deve ser paciente e continuar aproveitando Turya e sua compacta massa de Bem-aventurança mais e mais até que preencha toda a sua vida. Gradualmente, Turyātīta fará mais e mais visitas até que você se liberte completamente, isto é, até que seja plenamente Livre como o Senhor. Meu próprio Guru me disse esta verdade: "Deus mora dentro de você como você", e é isso que você descobrirá mais cedo ou mais tarde se perseverar. Fique seguro de que um encontro com Deus é a experiência mais incrível que um ser humano pode ter! Quem quer que possa ser o leitor, o Senhor brilha em toda a Sua Glória sempre e em todos os lugares. O autor dirá algo assim, mas de maneira velada, ou seja, não com as minhas explicações detalhadas. Muito bem, já chega de revelar esses segredos sobre Turyātīta por enquanto.

Returnando ao processo de manifestar, manter e reabsorver objetos, não há nada complicado sobre isso tudo, já que está relacionado com a sua própria experiência. E, inclusive no caso em que todos os seus sentidos estão apagados (durante o sono), os objetos mentais continuam manifestando-se, durando por um tempo e finalmente sendo reabsorvidos. Inclusive o vazio do sono profundo é manifestado, mantido e reabsorvido. No entanto, Turya está sempre presente, penetrando todos os outros três estados. Não é manifestado, mantido e reabsorvido, pois não é um objeto (algo que possa ser percebido, por exemplo, o seu corpo, uma mesa, um pensamento, etc.) mas sim o Mais Alto Sujeito ou Senhor (Você!).

De fato, quer você perceba ou não que é a Testemunha ou Conhecedor (o Senhor), você ainda é Ele. Não há ninguém mais que o Senhor aqui. Tudo o que parece existir como diferente e separado Dele se deve somente ao jogo de Sua māyāśakti.Return 

2  Essa estrofe do Vijñānabhairava é bem capciosa e, se você for um studante de Sânscrito tentando traduzi-la, provavelmente cometerá alguns equívocos sem ajuda extra. Para impedir esses equívocos e também para mostrar às outras pessoas lendo essa nota por que traduzi a estrofe dessa maneira, terei que citar algumas explicações a partir do comentário escrito por Śivopādhyāya... sim, terei que continuar traduzindo, hehe. Vamos começar: "शक्तिसङ्गमः स्त्रीसङ्गस्तेन सङ्क्षुब्धः सम्प्रवृत्तः शक्त्यावेश आनन्दशक्तिसमावेशस्तदावसानिकं तत्पार्यन्तिकम्।" - "Śaktisaṅgamaḥ strīsaṅgastena saṅkṣubdhaḥ sampravṛttaḥ śaktyāveśa ānandaśaktisamāveśastadāvasānikaṁ tatpāryantikam|" - "'Śaktisaṅgama' (significa) 'coito ou relação sexual com uma mulher'; 'saṅkṣubdha' (é) 'sendo produzida por esse (coito)'; 'śaktyāveśa' (refere-se a) 'absorção no Poder de Bem-aventurança --Śakti--'; (e) 'tadāvasānika' (indica) 'no final dessa (absorção)'". Depois disso, o sábio explica o seguinte: "... ब्रह्मतत्त्वस्य सुखं परब्रह्मानन्दस्..." - "... brahmatattvasya sukhaṁ parabrahmānandas..." - "... deleite do Brahmatattva, (isto é,) Alegria do Supremo Brahma --o Absoluto--", e, finalmente "... तत्सुखं स्वकमेव स्वाक्यम्... आत्मन एव सम्बन्धि..." - "... tatsukhaṁ svakameva svākyam... ātmana eva sambandhi..." - "... o deleite (é) 'svākya' ou 'próprio', (em suma,) relacionado unicamente com o próprio Ser...", (isto é,) uma pessoa é "sempre" a única fonte desse deleite.

No entanto, o sábio cita uma estrofe, caso alguém possa ter compreendido as estrofes erroneamente:

"जायया सम्परिष्वक्तो न बाह्यं वेद नान्तरम्।
निदर्शनं श्रुतिः प्राह मूर्खस्तं मन्यते विधिम्॥
" -

"Jāyayā sampariṣvakto na bāhyaṁ veda nāntaram|
Nidarśanaṁ śrutiḥ prāha mūrkhastaṁ manyate vidhim||" -

"Quando se está abraçando intimamente uma mulher, não se conhece/percebe nem fora, nem dentro --há total unidade--. A escritura védica disse (isso como) exemplo ou ilustração. (Somente) um tolo considera isso como um mandamento (para mero prazer carnal)".

Então, não seja um tolo e considere essa analogia como um exemplo de como a Bem-aventurança do Senhor se infiltra através da rede produzida pela Sua própria māyāśakti durante a relação com uma mulher. A mera relação física com uma mulher não te vivifica, mas torna o seu corpo/mente cansado e sem energia. Para experimentar vivificação durante a relação física com uma mulher, é necessário ser um poderoso Yogī dotado de abundante conhecimento exato sobre o que uma mulher realmente é com relação a um homem. Mas, como a maioria dos homens não possui esse tipo de conhecimento e poder de forma alguma, não se recomenda que busquem a Bem-aventurança de Turya durante a mera cópula com uma mulher. Obviamente, o mesmo é válido para as mulheres. Qualquer pessoa que seja um mero Sakala ou alguém plenamente identificado com seu corpo físico/ego/intelecto não pode obter a Alegria "plena" de Brahma tendo uma relação sexual, mas sim "somente" uma gota Dela que se infiltra.

Serão dadas mais analogias por meio de mais estrofes extraídas do Vijñānabhairava. Muito bem, tudo deve estar completamente claro agora.Return 

3  Adivinhe? Outra estrofe capciosa no Vijñānabhairava. Não recomendo nem um pouco essa escritura para novatos em Sânscrito. É unicamente para tradutores avançados que sejam capazes de ler o respectivo comentário escrito parcialmente por Kṣemarāja e parcialmente por Śivopādhyāya. Existe outro comentário chamado Vijñānakaumudī por Ānandabhaṭṭa. Se você conseguir ambos, cuidado com os números das estrofes, pois nem sempre coincidem entre si (por exemplo, agora, estou prestes a explicar a estrofe 70, de acordo com o primeiro comentário, mas, no Vijñānakaumudī, é a estrofe 69!). Bem, utilizarei o comentário escrito em parte por Kṣemarāja e em parte por Śivopādhyāya para dissipar qualquer dúvida ou mal-entendido com relação ao significado de certos termos:

"लेहनं वक्त्रासवास्वादनं परिचुम्बनमिति यावत्। आमन्थनं प्रधानाङ्गविलोडनमालिङ्गनं वा। आकोटः पुनःपुनर्मर्दनं नखक्षतादिर्वा।" - "Lehanaṁ vaktrāsavāsvādanaṁ paricumbanamiti yāvat| Āmanthanaṁ pradhānāṅgaviloḍanamāliṅganaṁ vā| Ākoṭaḥ punaḥpunarmardanaṁ nakhakṣatādirvā|" - "(O termo) 'lehana' (significa literalmente) 'que saboreia o néctar ou suco dos lábios de uma mulher com (a própria) boca', (isto é,) 'que beija efusivamente' --o prefixo 'pari' intensifica a raiz 'cumb', 'beijar', daí a adição desse 'efusivamente' à expresão--; esse é o significado. (Por outro lado,) 'āmanthana' (é) 'que agita com os membros principais do corpo' ou 'que abraça'. (E) 'ākoṭa' (indica) 'que pressiona de novo e de novo' ou 'arranhão (dado) com as unhas, etc.'".

Oh, isso foi formidável!, hehe. Agora, você entende plenamente o que significam esses termos. Um bom dicionário de Sânscrito não é suficiente para decifrar a estrofe, como você pode ver. Isso é muito comum no caso da vasta maioria de escrituras em Sânscrito que versam sobre filosofia em profundidade, mas algumas delas são especialmente difíceis de traduzir corretamente sem muita ajuda extra, por exemplo, Vijñānabhairava, Svacchandatantra e Mālinīvijayatantra. Sem a ajuda dos respectivos comentários compostos por eminentes eruditos e mestres, não se pode sem sequer começar a traduzi-los adequadamente. E, com muita frequência, leva-se mais tempo para entender o comentário do que a própria escritura (não é brincadeira). Resumindo, o seu conhecimento de Sânscrito, assim como o seu conhecimento filosófico, devem ser muito fortes ou você naufragará se empreender a tradução de escrituras monumentais como as que citei como exemplo.Return 

4  Muito bem, preciso fazer duas declarações: (1) De acordo com Ānandabhaṭṭa em seu Vijñānakaumudī: "... बान्धवे वा सुहृदादौ चिरकालानन्तरं... दृष्टे..." - "... bāndhave vā suhṛdādau cirakālānantaraṁ... dṛṣṭe..." - "... ou, quando se vê um 'bāndhava', (isto é,) um 'suhṛd', etc., depois de muito tempo...". A palavra "suhṛd" (lit. de bom coração) implica uma pessoa que alguém ama. É muito frequentemente traduzido como "amigo", mas também significa "aliado". E, segundo o comentário de Kṣemarāja e Śivopādhyāya: "... बान्धवे पुत्रमित्रादौ..." - "... bāndhave putramitrādau..." - "... um 'bāndhava', (isto é,) filho, amigo, etc...". Agora, você entende por que traduzi o termo "bāndhava" como "parente, amigo, etc.".

(2) No comentário escrito por esses dois grandes sábios (Kṣemarāja e Śivopādhyāya), e também na Vijñānakaumudī, existe uma diferente leitura para a linha final da estrofe: "आनन्दमुद्गतं ध्यात्वा तल्लयस्तन्मना भवेत्" - "Ānandamudgataṁ dhyātvā tallayastanmanā bhavet" - "Após meditar na alegria que surgiu, dissolve-se nela (e) a sua mente se absorve nela --lit. 'torna-se alguém cuja mente está absorvida nisso'--".

Isso é tudo!Return 

5  A porção "Bhāvayedbharitāvasthāṁ..." na estrofe é difícil de entender, mas, felizmente, o sábio Ānandabhaṭṭa lança muita luz sobre isso em sua Vijñānakaumudī: "... तदनुभवेनानन्दपूर्णत्वावस्थायां भावयत एकाग्रचित्तस्य परमानन्दप्राप्तिर्..." - "... tadanubhavenānandapūrṇatvāvasthāyāṁ bhāvayata ekāgracittasya paramānandaprāptir..." - "Por meio da experiência dessa alegria (relacionada ao sabor), gera-se a obtenção de uma suprema alegria no caso de alguém que contempla —que tem sua mente concentrada— no estado de plenitude de (tal) alegria".

Agora, o meu modo de traduzir essa porção deve estar totalmente claro.Return 

6  Como a última parte dessa estrofe é bem espinhosa, tive que recorrer ao comentário composto por Kṣemarāja e Śivopādhyāya para compreender plenamente o sentido: "... तस्य मनोरूढेर्हेतोर्यत्तन्मयत्वं शाक्तस्पर्शावेशस्तेन हेतुना तदात्मता— परब्रह्ममयत्वापत्तिः।..." - "... tasya manorūḍherhetoryattanmayatvaṁ śāktasparśāveśastena hetunā tadātmatā— parabrahmamayatvāpattiḥ|..." - "Devido à exaltação da mente desse Yogī, (brota) identificação com isso --com tal deleite incomparável--, o qual é absorção no toque ou contato de Śakti --o divino Poder na forma de consciência do Eu--. Por causa dessa (identificação ou absorção, produz-se) identificação com Isso, (ou seja,) identificação com o Supremo Brahma --o Absoluto--".

Muito bem, pronto!Return 

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 Aforismo 39

एतच्च त्रिपदाद्यनुप्राणनमन्तर्मुखत्वावष्टम्भत्वदशायामेवासाद्य न सन्तुष्येदपि तु—


चित्तस्थितिवच्छरीरकरणबाह्येषु॥३९॥


त्रिपदाद्यनुप्राणनमित्येव। यथान्तर्मुखरूपायां चित्तस्थितौ तुर्येणानुप्राणनं कुर्यात्तथा शरीरकरणबाह्याभासात्मिकायां बहिर्मुखतायामप्यान्तरविमर्शावष्टम्भबलात्क्रमात्क्रमं तारतम्यभाजा तेनानुप्राणनं कुर्यात्। यदुक्तं श्रीविज्ञानभैरवे

सर्वं जगत्स्वदेहं वा स्वानन्दभरितं स्मरेत्।
युगपत्स्वामृतेनैव परानन्दमयो भवेत्॥

इति। एवं ह्यानन्दात्मा स्वातन्त्र्यशक्तिः सर्वदशासु स्फुटीभूता सती यथेष्टनिर्माणकारिणी भवति॥३९॥

Etacca tripadādyanuprāṇanamantarmukhatvāvaṣṭambhatvadaśāyāmevāsādya na santuṣyedapi tu—


Cittasthitivaccharīrakaraṇabāhyeṣu||39||


Tripadādyanuprāṇanamityeva| Yathāntarmukharūpāyāṁ cittasthitau turyeṇānuprāṇanaṁ kuryāttathā śarīrakaraṇabāhyābhāsātmikāyāṁ bahirmukhatāyāmapyāntaravimarśāvaṣṭambhabalātkramātkramaṁ tāratamyabhājā tenānuprāṇanaṁ kuryāt| Yaduktaṁ śrīvijñānabhairave

Sarvaṁ jagatsvadehaṁ vā svānandabharitaṁ smaret|
Yugapatsvāmṛtenaiva parānandamayo bhavet||

iti| Evaṁ hyānandātmā svātantryaśaktiḥ sarvadaśāsu sphuṭībhūtā satī yatheṣṭanirmāṇakāriṇī bhavati||39||


E (ca) esse (Yogī) (etad), tendo obtido (āsādya) vivificação (anuprāṇanam) dos três estados --manifestação, manutenção e reabsorção-- (tri-pada) por meio do principal --por meio de Turya-- (ādi), somente (eva) na condição (daśāyām) de um firme agarramento (avaṣṭambhatva) interno (antarmukhatva), não deveria contentar-se (na santuṣyet) (apenas com isso), mas também (api tu)


Assim como (no caso) (vat) dos estados (sthiti) mentais (citta), (e também com relação) ao corpo (śarīra), órgãos dos sentidos (karaṇa) e objetos externos --bāhya-- (bāhyeṣu), (deve haver uma "vivificação" infundindo-os na Bem-Aventurança do quarto estado de consciência)||39||


(Deve-se adicionar ao aforismo anterior para completar o seu sentido:) "(Deve haver) vivificação (anuprāṇanam) dos três estados --manifestação, manutenção e reabsorção-- (tri-pada) por meio do principal (ādi... iti eva), (em outras palavras, 'por meio do quarto estado de consciência, que é uma Testemunha e está repleto de Bem-aventurança transcendental')"|

Assim como (yathā) ele deve realizar (kuryāt) vivificação (anuprāṇanam) mediante Turya --o Quarto, que é uma massa compacta de Bem-aventurança-- (turyeṇa) com relação ao estado mental interno (antarmukha-rūpāyām citta-sthitau), da mesma forma (tathā), inclusive (api) com relação à condição exteriorizada (bahis-mukhatāyām) cuja natureza (ātmikāyām) é a manifestação de (ābhāsa) corpo (śarīra), órgãos dos sentidos (karaṇa) (e) objetos externos (bāhya), deve realizar (kuryāt) vivificação (anuprāṇanam) mediante isso --mediante Turya-- (tena), muito gradualmente (kramāt-kramam), (ou seja,) paulatinamente (tāratamya-bhājā), por meio da força (conseguida a partir do) (balāt) firme agarramento (avaṣṭambha) da consciência (vimarśa) interna (āntara)|

Isso (yad) foi descrito (uktam) no venerável Vijñānabhairava (śrī-vijñānabhairave):

"Deve-se lembrar (smaret) do mundo (jagat) inteiro (sarvam) ou (vā) do próprio (sva) corpo (deham) como repleto (bharitam) da sua própria (sva) bem-aventurança (ānanda). Simultaneamente (yugapad) --isto é, quando se é capaz de lembrar dessa maneira--, preenche-se (mayaḥ bhavet) da Mais Elevada (para) Alegria (ānanda) devido ao seu próprio Néctar (sva-amṛtena eva... iti)"||

Dessa forma (evam hi), o Poder (śaktiḥ) de Liberdade Absoluta (svātantrya), cuja natureza (ātmā) é Bem-aventurança (ānanda), torna-se manifesto (sphuṭī-bhūtā satī) em todos os estados (sarva-daśāsu) (e, como resultado final,) transforma-se (bhavati) em um Criador (nirmāṇakāriṇī) (que é capaz de manifestar qualquer coisa) à vontade --conforme desejar-- (yathā-iṣṭa)1 ||39||

1  A Liberdade Absoluta do Senhor está sempre manifesta em todos os estados de todos os seres, mas, no caso de um grande Yogī, a diferença está no fato de que ele é plenamente consciente dessa Liberdade Absolute a. Em outras palavras, dá-se conta constantemente Dela, enquanto o resto dos seres em escravidão não tem tal percepção. Essa é a distinção! E, é claro, é nesse sentido que o sábio Kṣemarāja estabeleceu que o Poder de Liberdade Absoluta se transforma em Criador de qualquer coisa à vontade nesse eminente Yogī. Muito bem!Return 

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 Aforismo 40

यदा त्वयमेवान्तरीं तुर्यदशामात्मत्वेन न विमृशति तदा देहादिप्रमातृताभावादपूर्णम्मन्यतात्मकाणवमलरूपात्—


अभिलाषाद्बहिर्गतिः संवाह्यस्य॥४०॥


शक्तिचक्राधिष्ठितैः कञ्चुकान्तःकरणबहिष्करणतन्मात्रभूतैः सह संवाह्यते योनेर्योन्यन्तरं नीयत इति संवाह्यः कर्मात्मरूपः पशुः तस्य

... अभिलाषो मलोऽत्र तु।

इति श्रीस्वच्छन्दोक्तनीत्यापूर्णम्मन्यतात्मकाविद्याख्याणवमलरूपादभिलाषाद्धेतोर्बहिर्गतिर्विषयोन्मुखत्वमेव भवति न त्वन्तर्मुखरूपावहितत्वं जातुचित्। यदुक्तं कालिकाक्रमे

यदविद्यावृततया विकल्पविधियोगतः।
शिवादीन्नैव झटिति समुद्भावयतेखिलान्॥
ततः शुभाशुभा भावा लक्ष्यन्ते तद्वशत्वतः।
अशुभेभ्यश्च भावेभ्यः परं दुःखं प्रजायते॥
अतथ्यां कल्पनां कृत्वा पच्यन्ते नरकादिषु।
स्वोत्थैर्दोषैश्च दह्यन्ते वेणवो वह्निना यथा॥
मायामयैः सदा भावैरविद्यां परिभुञ्जते।
मायामयीं तनुं यान्ति ते जनाः क्लेशभाजनम्॥

इति॥४०॥

Yadā tvayamevāntarīṁ turyadaśāmātmatvena na vimṛśati tadā dehādipramātṛtābhāvādapūrṇammanyatātmakāṇavamalarūpāt—


Abhilāṣādbahirgatiḥ saṁvāhyasya||40||


Śakticakrādhiṣṭhitaiḥ kañcukāntaḥkaraṇabahiṣkaraṇatanmātrabhūtaiḥ saha saṁvāhyate yoneryonyantaraṁ nīyata iti saṁvāhyaḥ karmātmarūpaḥ paśuḥ tasya

... abhilāṣo malo'tra tu|

iti śrīsvacchandoktanītyāpūrṇammanyatātmakāvidyākhyāṇavamalarūpādabhilāṣāddhetorbahirgatirviṣayonmukhatvameva bhavati na tvantarmukharūpāvahitatvaṁ jātucit| Yaduktaṁ kālikākrame

Yadavidyāvṛtatayā vikalpavidhiyogataḥ|
Śivādīnnaiva jhaṭiti samudbhāvayatekhilān||
Tataḥ śubhāśubhā bhāvā lakṣyante tadvaśatvataḥ|
Aśubhebhyaśca bhāvebhyaḥ paraṁ duḥkhaṁ prajāyate||
Atathyāṁ kalpanāṁ kṛtvā pacyante narakādiṣu|
Svotthairdoṣaiśca dahyante veṇavo vahninā yathā||
Māyāmayaiḥ sadā bhāvairavidyāṁ paribhuñjate|
Māyāmayīṁ tanuṁ yānti te janāḥ kleśabhājanam||

iti||40||


Mas (tu), quando (tadā) esse mesmo (Yogī) (ayam eva) não está consciente do (na vimṛśati) estado (daśām) interno (āntarīm) de Turya (turya) como o estado do Ser (ātmatvena), então (tadā), por causa da condição (bhāvāt) na qual corpo (deha), etc. --corpo, ego, etc.-- (ādi) (são considerados como) o experimentador ou conhecedor (pramātṛtā) que consiste em --refere-se à "condição", e não ao "experimentador ou conhecedor"-- (rūpāt) Āṇavamala --impureza primordial-- (āṇava-mala), caracterizado (ātmaka) pela noção (manyatā) de imperfeição e falta de plenitude (apūrṇam)1 


Devido ao desejo baseado em um sentimento de carência (abhilāṣāt), há exteriorização (bahirgatiḥ) no ser limitado (saṁvāhyasya), (que fica, dessa forma, sujeito à roda do Saṁsāra ou Transmigração de uma forma de existência a outra)||40||


Um "saṁvāhya" (saṁvāhyaḥ) (é) um ser limitado (paśuḥ) envolvido (ātma-rūpaḥ) em ações (karma) (que), "junto com (saha) Kañcuka-s --envoltórios de Ignorância--, órgão (psíquico) interno --composto de intelecto, ego e mente--, órgãos externos --conectados com os Poderes de percepção e ação--, elementos sutis e elementos brutos (kañcuka-antaḥkaraṇa-bahiṣkaraṇa-tanmātra-bhūtaiḥ), os quais são regidos (adhiṣṭhitaiḥ) pelo grupo (cakra) de poderes (śakti)2 , é conduzido (saṁvāhyate) (ou) guiado (nīyate) de uma forma de existência (yoneḥ) até outra (antaram) forma de existência (yoni... iti)". No caso desse (ser limitado) (tasya), segundo o que foi mencionado (ukta-nītyā) no venerável Svacchandatantra (śrī-svacchanda) (da seguinte maneira:)

"... nesse caso (atra tu), o desejo (abhilāṣaḥ) (é) mala ou impureza (malaḥ... iti)"|

existe exteriorização (bahirgatiḥ) por causa de (hetoḥ) abhilāṣa --desejo baseado em um sentimento de carência-- (abhilāṣāt) na forma de (rūpāt) Āṇavamala (āṇava-mala), (também) conhecido como (ākhya) Avidyā ou Ignorância (avidyā), que consiste (ātmaka) na noção (manyatā) de imperfeição ou falta de plenitude (apūrṇam). (Extroversão) é (bhavati) orientação --interesse-- (unmukhatvam) somente (eva) a objetos (viṣaya), (e) nunca (na tu... jātucid) atenção (avahitatvam) à natureza (rūpa) interna (antarmukha)|

Isso (yad) foi declarado (uktam) no Kālikākrama (kālikākrame):

"(No caso de uma pessoa ignorante,) ao estar coberta ou velada (āvṛtatayā) pela ignorância (avidyā) sobre Isso --o Ser-- (yad) (e) por meio do (yogatas) uso ou aplicação (vidhi) de pensamentos (vikalpa), não se torna instantaneamente consciente de (na eva jhaṭiti samudbhāvayate) todos (os tattva-s ou categorias) (akhilān) que começam com (ādīn) Śiva (śiva) (são a sua própria natureza essencial, que é uma compacta massa de Consciência).

Então (tatas), bons e maus (śubha-aśubhāḥ) estados (bhāvāḥ) aparecem (lakṣyante); e (ca), como (tal pessoa) está sob o controle (vaśatvataḥ) dessa (ignorância sobre o seu próprio Ser) (tad), sobrevém (a ele) (prajāyate) grande (param) dor (duḥkham) devido aos (supracitados) maus estados (aśubhebhyaḥ... bhāvebhyaḥ)3 .

Abrigando --lit. tendo abrigado-- (kṛtvā) falsas (atathyām) ideias e imaginações (kalpanām), (essas pessoas ignorantes) são tormentadas (pacyante) no inferno (naraka), etc. (ādiṣu), e (ca) são queimadas (dahyante) pelas suas próprias falhas e vícios (sva-utthaiḥ doṣaiḥ) assim como (yathā) os bambus (veṇavaḥ) (queimam em seu próprio) fogo (vahninā).

Essas (te) pessoas (janāḥ) sempre (sadā) sofrem de (paribhuñjate) ignorância (avidyām) devido aos (seus) estados enganosos --estados Máyicos-- (māyā-mayaiḥ... bhāvaiḥ); (em quando) obtêm um corpo (tanum yānti) feito por Māyā --a própria Ilusão-- (māyā-mayīm), (tornam-se) um receptáculo (bhājanam) para a aflição (kleśa... iti)4 "

||40||

1  Āṇavamala é a impureza primordial (a primeira e mais poderosa), que faz com que o Senhor (Você!) sinta que é imperfeito e incompleto. Por meio de esforços, podem-se eliminar todas as impurezas, exceto Āṇavamala. A sua eliminação está relacionada unicamente à Sua Graça, e não a algum tipo de esforço. A palavra "impureza" não está indicando nada "imoral". Em Trika, impureza indica "ausência de unidade", enquanto pureza é "presença de unidade". Então, um mala ou impureza é algo que limita e profuz, ao final, dualidade, isto é, cessação de unidade. Leia Trika 4 para obter mais informação relevante sobre essa impureza.Return 

2  O sábio está mencionando toda a série de tattva-s (categorias da manifestação universal), desde Kañcuka-s (que incluem Māyā, sua fonte) até o último elemento bruto. Leia esta Tabela de Tattva-s para conseguir mais informação. E, com relação às deidades que regem os respectivos tattva-s, você deve primeiramente ler Tattva-s & Sânscrito para averiguar quais letras estão associadas aos tattva-s 6 a 36; finalmente, identifique as respectivas deidades lendo a nota 1 de III, 19 na presente scritura.Return 

3  Essas duas estrofes do Kālikākrama já foram citadas por Kṣemarāja, bem como traduzidas por mim, em III, 35 da presente escritura. No entanto, as próximas duas estrofes são novas em folha!Return 

4  Segundo o sábio Patañjali, existem cinco tipos de aflição. Leia Pātañjalayogasūtra-s II, 3.Return 

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 Aforismo 41

यदा तु पारमेशशक्तिपातवशोन्मिषितं स्वं स्वभावमेव विमृशति तदाभिलाषाभावान्नास्य बहिर्गतिरपि त्वात्मारामतैव नित्यमित्याह—


तदारूढप्रमितेस्तत्क्षयाज्जीवसङ्क्षयः॥४१॥


तदिति पूर्वनिर्दिष्टसंवेत्त्रात्मनि तुर्यपद आरूढा तद्विमर्शनपरा प्रमितिः संविद्यस्य योगिनस्तस्य। तदित्यभिलाषक्षयाज्जीवस्य संवाह्यात्मनः पुर्यष्टकप्रमातृभावस्य क्षयः प्रशमश्चित्प्रमातृतयैव स्फुरतीत्यर्थः। यदुक्तं तत्रैव

यथा स्वप्नानुभूतार्थान्प्रबुद्धो नैव पश्यति।
तथा भावनया योगी संसारं नैव पश्यति॥

इति। तथा

निरस्य सदसद्वृत्तीः संश्रित्य पदमान्तरम्।
विहाय कल्पनाजालमद्वैतेन परापरम्॥
यः स्वात्मनिरतो नित्यं कालग्रासैकतत्परः।
कैवल्यपदभाग्योगी स निर्वाणपदं लभेत्॥

इति। कैवल्यपदभागितीन्द्रियतन्मात्राभिरसंवाह्यः॥४१॥

Yadā tu pārameśaśaktipātavaśonmiṣitaṁ svaṁ svabhāvameva vimṛśati tadābhilāṣābhāvānnāsya bahirgatirapi tvātmārāmataiva nityamityāha—


Tadārūḍhapramitestatkṣayājjīvasaṅkṣayaḥ||41||


Taditi pūrvanirdiṣṭasaṁvettrātmani turyapada ārūḍhā tadvimarśanaparā pramitiḥ saṁvidyasya yoginastasya| Tadityabhilāṣakṣayājjīvasya saṁvāhyātmanaḥ puryaṣṭakapramātṛbhāvasya kṣayaḥ praśamaścitpramātṛtayaiva sphuratītyarthaḥ| Yaduktaṁ tatraiva

Yathā svapnānubhūtārthānprabuddho naiva paśyati|
Tathā bhāvanayā yogī saṁsāraṁ naiva paśyati||

iti| Tathā

Nirasya sadasadvṛttīḥ saṁśritya padamāntaram|
Vihāya kalpanājālamadvaitena parāparam||
Yaḥ svātmanirato nityaṁ kālagrāsaikatatparaḥ|
Kaivalyapadabhāgyogī sa nirvāṇapadaṁ labhet||

iti| Kaivalyapadabhāgitīndriyatanmātrābhirasaṁvāhyaḥ||41||


No entanto (tu), quando (yadā) (o Yogī) se torna consciente (vimṛśati) da própria (svam) natureza essencial (sva-bhāvam eva), exibida (unmiṣita) devido a uma concessão de Graça --lit. descida de Poder-- (śakti-pāta) por parte do Senhor Supremo (pārameśa), então (tadā), pela ausência (abhāvāt) de abhilāṣa ou desejo baseado em um sentimento de carência (abhilāṣa), não há exteriorização (na... bahirgatiḥ) no seu caso (asya), e sim (api tu) o estado de regozijar-se (ārāmatā) sempre (nityam) em seu próprio Ser (ātma). (Śiva) disse (āha) assim (iti) (no seguinte aforismo)


(Entretanto,) no caso do (grande Yogī) cuja consciência (pramiteḥ) (está) estabelecida (ārūḍha) Nisso --no quarto estado ou Turya-- (tad), com a eliminação (kṣayāt) desse (desejo) --ver aforismo 40-- (tad), (produz-se também) a total eliminação (saṅkṣayaḥ) da (condição de) ser limitado (jīva)||41||


(O primeiro) "tad" (tad iti) (significa) no estado (pade) de Turya (turya), cuja natureza (ātmani) é o (Supremo) Conhecedor (saṁvettṛ) indicado (nirdiṣṭa) anteriormente (pūrva) --em III, 32--. (A palavra) ārūḍha --estabelecida-- (ārūḍhā) (significa) consagrada a (parā) perceber e dar-se conta (vimarśana) desse (Turya) (tad). (E pramiteḥ significa) no caso desse Yogī (yoginaḥ tasya) cuja (yasya) pramiti (pramitiḥ) (ou) consciência (saṁvid) --então, a primeira expressão "Tadārūḍhapramiteḥ" no aforismo significa "No caso desse Yogī cuja consciência está estabelecida no estado de Turya, isto é, cuja consciência está consagrada a perceber e dar-se conta desse Quarto Estado, que é o Conhecedor Supremo"--|

(O segundo) "tad" (tad) (representa abhilāṣa ou desejo baseado em um sentimento de carência. Consequentemente, a expressão "tatkṣayāt" significa) com a eliminação (kṣayāt) do desejo baseado em um sentimento de carência (abhilāṣa). (Finalmente, a expressão "jīvasaṅkṣayaḥ" significa total) eliminação (kṣayaḥ) (ou) cessação (praśamaḥ) do jīva (jīvasya) (ou) ser limitado (saṁvāhya-ātmanaḥ), (isto é,) do estado (bhāvasya) onde (se considera) o corpo sutil --formado por intelecto, ego, mente e elementos sutis-- (puryaṣṭaka) (como) o (verdadeiro) experimentador (pramātṛ). (Em poucas palavras, esse grande Yogī) aparece brilhantemente (sphurati) como (dotado do) estado de Experimentador, que é Consciência (pura) (cit-pramātṛtayā eva) --Em poucas palavras, ele aparece brilhantemente como o Senhor Supremo--. Esse é o significado (iti arthaḥ)|

Isso (yad) foi declarado (uktam) naquele mesmo (livro) (tatra eva) --no Kālikākrama--:

"Assim como (yathā) alguém que está desperto (prabuddhaḥ) não (na eva)(paśyati) os objetos (arthān) experimentados (anubhūta) em sonho (svapna), da mesma forma (tathā), contemplando (o seu próprio Ser) (bhāvanayā), o Yogī (yogī) não (na eva)(paśyati) o mundo (como mundo, e sim como Consciência) (saṁsāram... iti)1 "||

Da mesma forma (tathā):

"Tendo rejeitado (nirasya) os modos (vṛttīḥ) de existentes e inexistentes (tais como como azul, prazer, etc.,) (sat-asat) recorrendo ao (saṁśritya) estado interno --ao Ser, que está no meio do que existe e do que não existe-- (padam āntaram) (e) tendo abandonado (vihāya) a grande quantidade (jālam) de imaginações (kalpanā) (tais como) diferente e não diferente (para-aparam) por meio do não dualismo (advaitena), o Yogī (yogī), que (yaḥ) está sempre consagrado ao (nirataḥ) próprio (sva) Ser (ātma), unicamente (eka) dedicado a (tatparaḥ) tragar (grāsa) a morte (kāla) (e) dedicado ao (bhāk) estado (pada) de Kaivalya ou Isolamento (kaivalya), obtém (saḥ... labhet) o estado (padam) de Nirvāṇa (nirvāṇa... iti)2 "||

(A expressão) "Kaivalyapadabhāk" (kaivalya-pada-bhāk iti) (significa) alguém que são é levado (asaṁvāhyaḥ) por (seus) Indriya-s e Tanmātra-s (indriya-tanmātrābhiḥ)3 ||41||

1  Assim como não se vê, em vigília, os objetos que se manifestaram durante o sono, da mesma forma, um grande Yogī, devido à perfeição da sua contemplação, percebe o universo apenas como Consciência, e não como algo cheio de dualidade. Vê-se dualidade no mundo somente quando se é um saṁsārī, isto é, alguém atado à existência transmigratória (Saṁsāra) devido ao Āṇavamala. A palavra saṁsārī é sinônima de saṁvāhya ou jīva (um ser limitado). Quando a Graça do Senhor cai sobre ele, o Āṇavamala é eliminado e a sua contemplação no Ser se torna perfeita. Então, o mundo não é mais visto como mundo, e sim como Consciência pura. Esse é o sentido.Return 

2  O termo Nirvāṇa não deve ser interpretado de uma maneira budista aqui. Em Trika, significa "Śivaśaktisāmarasya". A palavra "sāmarasya" significa "o estado relacionado a samarasa". Como "samarasa" é "que tem igual sabor", Śivaśaktisāmarasya significa, literalmente, esse "estado onde Śiva e Śakti têm o mesmo sabor". Agora, para ser menos literal e mais "philosophical", hehe, Śivaśaktisāmarasya é esse estado não diferenciado onde a dualidade na forma de Śiva-Śakti (Sujeito-objeto) cessa completamente.Return 

3  Kaivalya ou Isolamento em Trika não deve ser interpretado como no sistema denominado Sāṅkhya-yoga, isto é, como um isolamento da Prakṛti, mas sim como um estado onde não se é mais levado por seus Poderes de percepção/ação (Jñānendriya-s e Karmendriya-s) e elementos sutis (Tanmātra-s). É nesse sentido que tal Yogī é um Kaivalyapadabhāk ("bhāk" é o Nominativo singular de "bhāj"). Não é um mero saṁvāhya (lit. que é levado) ou ser limitado que é levado a todo momento por seus Indriya-s e Tanmātra-s.Return 

Ao início


 Aforismo 42

नन्वेवं जीवसङ्क्षये सत्यस्य देहपातः प्राप्तो न चासौ सुप्रबुद्धस्यापि देहिनः सद्य एव दृश्यते तत्कथमयं तदारूढप्रमितिरित्याशङ्क्याह—


भूतकञ्चुकी तदा विमुक्तो भूयः पतिसमः परः॥४२॥


तदेत्यभिलाषक्षयाज्जीवसङ्क्षये पुर्यष्टकप्रमातृताभिमानविगलने सत्ययं भूतकञ्चुकी शरीरारम्भीणि भूतानि कञ्चुकमिव व्यतिरिक्तं प्रावरणमिव न त्वहन्तापदस्पर्शीनि यस्य तथाभूतः सन् विमुक्तो निर्वाणभाग्यतो भूयो बाहुल्येन पतिसमः चिद्घनपारमेश्वरस्वरूपाविष्टस्तत एव परः पूर्णः शरीरवृत्तिर्व्रतम् (३-२६) इत्युक्तसूत्रार्थनीत्या दलकल्पे देहादौ स्थितोऽपि न तत्प्रमातृतासंस्कारेणापि स्पृष्टः। तदुक्तं श्रीकुलरत्नमालायां

यदा गुरुवरः सम्यक् कथयेत्तन्न संशयः।
मुक्तस्तेनैव कालेन यन्त्रस्तिष्ठति केवलम्॥
किं पुनश्चैकतानस्तु परे ब्रह्मणि यः सुधीः।
क्षणमात्रस्थितो योगी स मुक्तो मोचयेत्प्रजाः॥

इति। श्रीमृत्युजित्यपि

निमेषोन्मेषमात्रेण यदि चैवोपलभ्यते।
ततः प्रभृति मुक्तोऽसौ न पुनर्जन्म चाप्नुयात्॥

इति। कुलसारेऽपि

अहो तत्त्वस्य माहात्म्यं ज्ञातमात्रस्य सुन्दरि।
श्रोत्रान्तरं तु सम्प्राप्ते तत्क्षणादेव मुच्यते॥

इति॥४२॥

Nanvevaṁ jīvasaṅkṣaye satyasya dehapātaḥ prāpto na cāsau suprabuddhasyāpi dehinaḥ sadya eva dṛśyate tatkathamayaṁ tadārūḍhapramitirityāśaṅkyāha—


Bhūtakañcukī tadā vimukto bhūyaḥ patisamaḥ paraḥ||42||


Tadetyabhilāṣakṣayājjīvasaṅkṣaye puryaṣṭakapramātṛtābhimānavigalane satyayaṁ bhūtakañcukī śarīrārambhīṇi bhūtāni kañcukamiva vyatiriktaṁ prāvaraṇamiva na tvahantāpadasparśīni yasya tathābhūtaḥ san vimukto nirvāṇabhāgyato bhūyo bāhulyena patisamaḥ cidghanapārameśvarasvarūpāviṣṭastata eva paraḥ pūrṇaḥ śarīravṛttirvratam (3-26) ityuktasūtrārthanītyā dalakalpe dehādau sthito'pi na tatpramātṛtāsaṁskāreṇāpi spṛṣṭaḥ| Taduktaṁ śrīkularatnamālāyāṁ

Yadā guruvaraḥ samyak kathayettanna saṁśayaḥ|
Muktastenaiva kālena yantrastiṣṭhati kevalam||
Kiṁ punaścaikatānastu pare brahmaṇi yaḥ sudhīḥ|
Kṣaṇamātrasthito yogī sa mukto mocayetprajāḥ||

iti| Śrīmṛtyujityapi

Nimeṣonmeṣamātreṇa yadi caivopalabhyate|
Tataḥ prabhṛti mukto'sau na punarjanma cāpnuyāt||

iti| Kulasāre'pi

Aho tattvasya māhātmyaṁ jñātamātrasya sundari|
Śrotrāntaraṁ tu samprāpte tatkṣaṇādeva mucyate||

iti||42||


Uma objeção (nanu)!: "Dessa forma (evam), quando existe total eliminação da (condição de) ser limitado (jīva-saṅkṣaye sati), o seu (asya) corpo cai (também) ----lit. a queda do corpo é alcançada; isto é, o corpo morre-- (deha-pātaḥ prāptaḥ), mas (ca) isso --a queda ou morte do corpo-- (asau) não é (na) notado (dṛśyate) imediatamente (sadyas eva) no caso do perfeitamente bem desperto (suprabuddhasya api) (Yogī) que tem um corpo (dehinaḥ) --em outras palavras, ele alcançou Libertação final, mas, ainda assim, o seu corpo não morreu--. Portanto (tad), como (katham) (é) ele (ayam) alguém cuja consciencia (pramitiḥ) está estabelecida (ārūḍha) Nisso --em Turya-- (tad)? --como pode ele estar completamente liberto e, ao mesmo tempo, manter o seu corpo?--". Tendo assim contestado (iti-āśaṅkya), (Śiva) disse (āha)


Então, (quando o desejo finalmente desaparece) (tadā), (esse Yogī utiliza o corpo que está composto de) elementos brutos (bhūta) como um envoltório (kañcukī); (e, ao estar) completamente libertado (vimuktaḥ), (já que é) preeminentemente (bhūyas) igual (samaḥ) ao Senhor (Śiva) (pati), (é) perfeito e pleno (paraḥ)||42||


"Tadā" --Então-- (tadā iti), (ou seja,) a partir da eliminação (kṣayāt) de abhilāṣa ou desejo baseado em um sentimento de carência (abhilāṣa), quando há total eliminação (saṅkṣaye) da (condição de) ser limitado (jīva) —quando há desaparecimento (vigalane sati) da noção (abhimāna) de que o corpo sutil --intelecto, ego, mente e elementos sutis-- (puryaṣṭaka) é o (verdadeiro) experimentador (pramātṛtā)—, ele --o grande Yogī-- (ayam) (se torna) bhūtakañcukī (bhūta-kañcukī) (ou) alguém cujos (yasya) elementos brutos --espaço, ar, fogo, água e terra-- (bhūtāni) que formam (ārambhīṇi) (o seu) corpo (śarīra) (são) como (iva... iva) um Kañcuka (kañcukam) (ou) envoltório (prāvaraṇam) separado (vyatiriktam), (e) não (na tu) tocam (sparśīni) o estado (pada) de "Eu" (ahantā). Aquele que é assim (tathābhūtaḥ san) (é) completamente liberatado (vimuktaḥ) (e) desfruta do Nirvāṇa (nirvāṇa-bhāk)1 . (E,) já que (yatas) (é) preeminentemente (bhūyas) (ou) principalmente (bāhulyena) igual (samaḥ) ao Senhor (Śiva) (pati), (ou seja, visto que) ingressou na (āviṣṭaḥ) natureza essencial (sva-rūpa) do Senhor Supremo (pārameśvara), que é uma compacta massa (ghana) de Consciência (cit), consequentemente (tatas eva), (ele é) para (paraḥ) (ou) perfeito e pleno (pūrṇaḥ). "A permanência (vṛttiḥ) no corpo (śarīra) (é seu) voto (vratam), (isto é, mantém uma forma física devido à sua enorme compaixão pela humanidade; é, na verdade, um ato piedoso de sua parte). (III, 26) (da presente escritura) (3-26 iti)"; de acordo com o significado (artha-nītyā) do previamente mencionado (uktam) aforismo (sūtra), ainda que (api) ele exista (sthitaḥ) em corpo, etc. (deha-ādau), como (se estes fossem) (kalpe) a bainha de uma espada (dala) --apesar de que cobre a espada firmemente, está sempre separada da espada propriamente dita--, não é tocado (na... spṛṣṭaḥ) nem mesmo (api) por uma impressão residual (saṁskāreṇa) (da noção de que) isso --corpo, etc.-- (tad) é o (verdadeiro) experimentador ou conhecedor --o Ser-- (pramātṛtā)2 |

Essa (verdade) (tad) foi (também) mencionada (uktam) na venerável Kularatnamālā (śrī-kularatnamālāyām):

"Quando (yadā) o mais eminente entre (varaḥ) os mestres espirituais (guru) fala sobre (kathayet) Isso --Deus-- (tad) em sua totalidade (samyak), não existe dúvida (na saṁśayaḥ) (de que seu discípulo) se liberta (muktaḥ) nesse mesmo instante (tena eva kālena), (e, posteriormente, tal discípulo) permanece (tiṣṭhati) (em seu corpo) unicamente (kevalam) (como) uma máquina (yantraḥ) --ele não o considera mais como o seu verdadeiro Ser--.

Quanto mais, então (kim punar ca), o sábio (sudhīḥ) que (yaḥ) está totalmente concentrado (ekatānaḥ tu) no Mais Alto Brahma --o Absoluto-- (pare brahmaṇi)? (Se tal) Yogī (yogī) permanecer (sthitaḥ) apenas por um momento (kṣaṇa-mātra) (no Mais Alto Brahma), torna-se libertado (saḥ muktaḥ) (e) liberta (mocayet) (outros) seres (prajāḥ... iti)"||

No venerável Mṛtyujit --também chamado Netratantra-- (śrī-mṛtyujiti), também (foi dito) (api):

"E, se (yadi ca eva) (o Mais Elevado e Imperecível Śiva) for percebido (por alguém) --se alguém se der conta Dele-- (upalabhyate), inclusive pelo tempo de um piscar de olhos (nimeṣa-unmeṣa-mātreṇa), a partir de então (tatas prabhṛti), essa (pessoa) (asau) se libertará (muktaḥ) e (ca) não nascerá --lit. não obterá um nascimento-- (na... janma... āpnuyāt) de novo (punar... iti)3 "||
(Ver VIII, 8 no Netratantra)

No Kulasāra (kulasāre), (foi) também (mencionado) (api):

"Ah (aho)!, a exaltada posição e majestade (māhātmyam) do Princípio (Supremo) (tattvasya) (é tal,) oh bela (sundari), (que,) quando é meramente (mātrasya) conhecido (por alguém) --somente com o intelecto-- (jñāta), ao ser comunicado (por essa pessoa) (samprāpte) a outra --lit. a outro ouvido-- (śrotra-antaram), (aquela que o recebe) é libertada (mucyate) imediatamente (tatkṣaṇāt eva... iti)"||

||42||

1  Já expliquei o significado de "Nirvāṇa" nesse sistema por meio da nota 2 de III, 41.Return 

2  Ele mora no corpo, etc., como uma espada em sua bainha. De qualquer forma, nunca considera o seu corpo como sendo o seu verdadeiro Ser ou Eu. Por quê? Porque, ao estar ele totalmente identificado com o Senhor Supremo, que é uma massa compacta de Consciência, é sempre como Ele: absolutamente livre! O resto das pessoas, por estar completamente identificado com os seus corpo, etc., e sob o controle do Āṇavamala, falham em dar-se conta da sua natureza essential. Em outras palavras, são essencialmente o Senhor, mas não se dão conta da sua verdadeira identidade e pensam erroneamente que não o são de jeito nenhum!Return 

3  Em seu Netroddyota, Kṣemarāja explica, de maneira simples, o significado dessa estrofe do Netratantra. O seu comentário inteiro diz: "केनचिदिति मध्येऽध्याहार्यम्। उपलभ्यते समाविश्यते। ततःप्रभृति न तु कालान्तरे। मुक्तः स्थितैरपि देहप्राणैरगुणीकृतः। न च तद्देहत्यागे पुनर्जन्म देहान्तरसम्बन्धमाप्नोत्यपितु परमशिव एव भवति॥" - "Kenaciditi madhye'dhyāhāryam| Upalabhyate samāviśyate| Tataḥprabhṛti na tu kālāntare| Muktaḥ sthitairapi dehaprāṇairaguṇīkṛtaḥ| Na ca taddehatyāge punarjanma dehāntarasambandhamāpnotyapitu paramaśiva eva bhavati||" - "(A palavra) 'kenacid' --'por alguém'-- deve ser adicionada no meio (da estrofe, para completar o sentido) --isto é, deve haver 'alguém' que realize o que se declara na estrofe--. (O termo) 'upalabhyate' (significa) 'é penetrado' --no sentido de 'é percebido'; refere-se ao Mais Elevado e Imperecível Śiva... sei isso porque li a estrofe anterior no Netratantra--. (A expressão) 'Tataḥprabhṛti' ou 'a partir de então' (significa que) não é em outro momento, (mas sim desse momento em diante) --você também pode separar as duas palavras desta forma: Tataḥ prabhṛti--. 'Mukta' ou 'libertado' de corpos e energias vitais, ainda que estes continuem existindo, (ou seja,) desprovido de atributos ou qualidades. E, após abandonar o seu corpo, não nasce outra vez, (isto é,) não entra em associação com outro corpo, mas sim se torna o Śiva Supremo".

Com a ajuda do sábio Kṣemarāja, o Netratantra é muito mais fácil de entender, não é?Return 

Ao início


 Aforismo 43

ननु भूतकञ्चुकित्वमप्यस्य कस्मात्तदैव न निवर्तत इत्याह—


नैसर्गिकः प्राणसम्बन्धः॥४३॥


निसर्गात्स्वातन्त्र्यात्मनः स्वभावादायातो नैसर्गिकः प्राणसम्बन्धः संवित् किल भगवती विश्ववैचित्र्यमवबिभासयिषुः सङ्कोचावभासपूर्वकं सङ्कुचदशेषविश्वस्फुरत्तात्मकप्राणनारूपग्राहकभूमिकां श्रित्वा ग्राह्यरूपजगदाभासात्मना स्फुरतीति नैसर्गिकः स्वातन्त्र्यात्प्रथममुद्भासितोऽस्याः प्राणसम्बन्धः। तथा च श्रीवाजसनेयायाम्

या सा शक्तिः परा सूक्ष्मा व्यापिनी निर्मला शिवा।
शक्तिचक्रस्य जननी परानन्दामृतात्मिका॥
महाघोरेश्वरी चण्डा सृष्टिसंहारकारिका।
त्रिवहं त्रिविधं त्रिस्थं बलात्कालं प्रकर्षति॥

इति संविद एव भगवत्याः प्राणक्रमेण नाडित्रयवाहिसोमसूर्यवह्न्यात्मावस्थितातीतानागतवर्तमानरूपबाह्यकालोल्लासनविलापनकारित्वमुक्तम्। तदुक्तं स्वच्छन्देऽपि

प्राणापानमयः प्राणो विसर्गापूरणं प्रति।
नित्यमापूरयन्नेव प्राणिनामुरसि स्थितः॥

इति। प्राणस्य

हकारस्तु स्मृतः प्राणः स्वप्रवृत्तो हलाकृतिः।

इत्युक्तनीत्या श्रीस्वच्छन्दभट्टारकरूपप्राणमयत्वाद्विसर्गापूरतया सृष्टिसंहारकारित्वमभिहितमिति युक्तमुक्तं नैसर्गिकः प्राणसम्बन्ध इति। अत एव श्रीभट्टकल्लटेन प्राणाख्यनिमित्तदार्ढ्यम्

प्राक् संवित् प्राणे परिणता।

इति तत्त्वार्थचिन्तामणावुक्तम्॥४३॥

Nanu bhūtakañcukitvamapyasya kasmāttadaiva na nivartata ityāha—


Naisargikaḥ prāṇasambandhaḥ||43||


Nisargātsvātantryātmanaḥ svabhāvādāyāto naisargikaḥ prāṇasambandhaḥ saṁvit kila bhagavatī viśvavaicitryamavabibhāsayiṣuḥ saṅkocāvabhāsapūrvakaṁ saṅkucadaśeṣaviśvasphurattātmakaprāṇanārūpagrāhakabhūmikāṁ śritvā grāhyarūpajagadābhāsātmanā sphuratīti naisargikaḥ svātantryātprathamamudbhāsito'syāḥ prāṇasambandhaḥ| Tathā ca śrīvājasaneyāyām

Yā sā śaktiḥ parā sūkṣmā vyāpinī nirmalā śivā|
Śakticakrasya jananī parānandāmṛtātmikā||
Mahāghoreśvarī caṇḍā sṛṣṭisaṁhārakārikā|
Trivahaṁ trividhaṁ tristhaṁ balātkālaṁ prakarṣati||

iti saṁvida eva bhagavatyāḥ prāṇakrameṇa nāḍitrayavāhisomasūryavahnyātmāvasthitātītānāgatavartamānarūpabāhyakālollāsanavilāpanakāritvamuktam| Taduktaṁ svacchande'pi

Prāṇāpānamayaḥ prāṇo visargāpūraṇaṁ prati|
Nityamāpūrayanneva prāṇināmurasi sthitaḥ||

iti| Prāṇasya

Hakārastu smṛtaḥ prāṇaḥ svapravṛtto halākṛtiḥ|

ityuktanītyā śrīsvacchandabhaṭṭārakarūpaprāṇamayatvādvisargāpūratayā sṛṣṭisaṁhārakāritvamabhihitamiti yuktamuktaṁ naisargikaḥ prāṇasambandha iti| Ata eva śrībhaṭṭakallaṭena prāṇākhyanimittadārḍhyam

Prāk saṁvit prāṇe pariṇatā|

iti tattvārthacintāmaṇāvuktam||43||


Uma objeção (nanu)!: "Por que (kasmāt) não (na) desaparece (nivartate) então (tadā eva) nem sequer (api) o seu (asya) estado de usar os elementos brutos (que formam o seu corpo) como envoltório (bhūtakañcukitvam... iti) --quando o Yogī alcança Libertação final--?" (Em resposta a essa objeção, Śiva) disse (āha)


O vínculo ou associação (sambandhaḥ) da energia vital (prāṇa) (com o corpo é) natural (naisargikaḥ)||43||


O vínculo ou associação (sambandhaḥ) da energia vital (prāṇa) (com o corpo é) natural (naisargikaḥ), (isto é,) proveniente (āyātaḥ) de nisarga ou natureza (nisargāt), cuja essência (sva-bhāvāt) é a Liberdade Absoluta (do Senhor Supremo) (svātantrya-ātmanaḥ). A gloriosa (bhagavatī) Consciência (saṁvid), realmente (kila), com desejo de manifestar (avabibhāsayiṣuḥ) diversidade (vaicitryam) no universo (viśva), tendo primeiramente recorrido (pūrvakam... śritvā) à manifestação (avabhāsa) da contração --limitação-- (saṅkoca), aparece brilhantemente como (ābhāsa-ātmanā sphurati) o mundo (jagat), que é grāhya ou cognoscível --aquilo que se pode conhecer ou experimentar-- (grāhya-rūpa), assumindo (śritvā) a condição (bhūmikām) de grāhaka ou conhecedor --aquele que conhece e experimenta-- (grāhaka), que é uma forma adotada por (rūpa) Prāṇanā --a energia vital universal-- (prāṇanā), cuja essência é (ātmaka) Sphurattā ou a vibrante Luz de Deus que manifesta (sphurattā) o universo (viśva) inteiro (aśeṣa), mas em uma forma contraída ou limitada (saṅkucat) --já que essa vibrante Luz de Deus, a gloriosa Consciência, primeiramente recorreu a saṅkoca ou contração--. Dessa forma (iti), o vínculo ou associação (sambandhaḥ) da energia vital (prāṇa) (com o corpo é) natural (naisargikaḥ), (porque) surgiu inicialmente (prathamam udbhāsitaḥ) a partir Dela --a partir da gloriosa Consciência-- (asyāḥ) devido a Svātantrya --Sua Liberdade Absoluta-- (svātantryāt) --em suma, o vínculo entre corpo e energia vital é natural porque foi manifestado dessa maneira pelo Senhor do universo--|

Assim também (tathā ca) (se declarou) no venerável Vājasaneyā (śrī-vājasaneyāyām):

"A Śakti --o Poder do Senhor-- (sā śaktiḥ), que (yā) (é) suprema (parā), sutil (sūkṣmā), que a tudo penetra --onipresente-- (vyāpinī), (que é) pura (nirmalā), auspiciosa (śivā), mãe (jananī) do grupo (cakrasya) de poderes (śakti), a mais alta bem-aventurança (para-ānandā), cuja natureza (ātmikā) é o néctar que confere imortalidade (amṛta), senhora (īśvarī) das mahāghorā-s --os grandemente terríveis poderes que atam e subjugam os seres limitados-- (mahā-ghorā), terrível --pois Ela oculta a própria natureza essencial-- (caṇḍā) (e) aquela que produz (kārikā) manifestação (sṛṣṭi) (e) reabsorção (saṁhāra) (do universo). Ela, pela força, manifesta e retira (balāt... prakarṣati) o Tempo (kālam), que aparece como três fluxos ou correntes --isto é, o tempo flui através dos canais sutis denominados Iḍā, Piṅgalā e Suṣumnā-- (tri-vaham), de três maneiras --o Tempo surge na forma de lua, sol e fogo, os quais representam objeto cognoscível, conhecedor ou sujeito e conhecimento, respectivamente-- (trividham) (e) em três aspectos --o Tempo se manifesta como passado, presente e futuro-- (tristham... iti)"||

O supracitado (uktam) estado de ser a produtora (kāritvam) (tanto) da manifestação externa (ullāsa) (quanto) da retirada interna (vilāpana) com referência ao Tempo externo (bāhya-kāla) na forma de uma série (krameṇa) de energias vitais (prāṇa) (pertence) unicamente (eva) à gloriosa Consciência (saṁvidaḥ... bhagavatyāḥ). (O Tempo externo aparecendo como uma série de energias vitais foi mostrado na própria estrofe pelos termos "tristham", "trividham" e "trivaham", isto é, o Tempo externo é aquilo) cuja forma é (rūpa) passado (atīta), futuro (anāgata) (e) presente (vartamāna), (é aquilo que) permanece como (ātma-avasthita) lua --objeto cognoscível-- (soma), sol --conhecedor ou sujeito-- (sūrya) (e) fogo --conhecimento-- (vahni), (e) flui (vāhi) através dos três (traya) canais sutis --Iḍā, Piṅgalā and Suṣumnā-- (nāḍi)1 |

Isso (tad) foi mencionado também (uktam... api) no Svacchandatantra (svacchande):

"A energia vital (prāṇaḥ) consiste em (mayaḥ) prāṇa (prāṇa) (e) apāna (apāna) em cada (prati) expiração (visarga) (e) inspiração (āpūraṇam), (e) existe (sthitaḥ) no tórax (urasi) dos seres vivos (prāṇinām) como aquilo que enche de ar --de vida-- (āpūrayan eva) constantemente (nityam... iti)2 "||
(Ver VII, 25 no Svacchandatantra)

Segundo o que foi mencionado (ukta-nītyā) (no próprio Svacchandatantra):

"Diz-se, certamente, que (tu smṛtaḥ) a letra (kāraḥ) 'ha' (ha) é energia vital (prāṇaḥ) que ocorre por si mesma --automaticamente-- (svapravṛttaḥ) (e) tem a forma (ākṛtiḥ) de um arado (hala... iti)3 "||
(Ver IV, 257 no Svacchandatantra)

diz-se que (abhihitam) o estado de ser o produtor (kāritvam) de manifestação (sṛṣṭi) (e) reabsorção (saṁhāra) na forma de emissão e preenchimento (visarga-āpūratayā) pertence à energia vital ou prāṇa (prāṇasya) porque está repleto (mayatvāt) do vigor e poder (prāṇa) cuja natureza (rūpa) é o mais digno de adoração (śrī... bhaṭṭāraka) Svacchanda --o Absolutamente Livre Senhor-- (svacchanda). Então (iti), foi dito corretamente (na estrofe) (yuktam uktam): "O vínculo ou associação (sambandhaḥ) da energia vital (prāṇa) (com o corpo é) natural (naisargikaḥ... iti)"|

Por essa mesma razão (atas eva), umaa corroboração (dārḍhyam) de que o que se conhece como (ākhya) prāṇa ou energia vital (prāṇa) é a causa (de manifestação e reabsorção) (nimitta) foi mencionada (uktam) pelo venerável Kallaṭa (śrī-bhaṭṭa-kallaṭena) em (seu) Tattvārthacintāmaṇi (tattvārthacintāmaṇau):

"No início (prāk), a Consciência (saṁvid) se converte (pariṇatā) em energia vital (prāṇe... iti)"|

||43||

1  Como o Tempo é uma manifestação de Prāṇanā, a energia vital universal cuja essência é a vibrante Luz de Deus, assim, aparece na forma de uma série de prāṇa-s ou energias vitais. Sim, talvez seja difícil de entender o conceito de Tempo como energia vital, mas é verdade. Com relação ao resto da minha tradução do parágrafo, obviamente, tive que organizá-la convenientemente ou esse composto sesquipedálico (longo e abstruso) que começa com "nāḍitraya" e termina com "kāritvam" teria matado facilmente os nossos intelectos, haha! Esse tipo de compostos extra-longos é visto comumente nas obras de alguns mestres de Trika (por exemplo, Abhinavagupta e seu discípulo Kṣemarāja).

Felizmente, esse estilo de empilhar palavras não aparece geralmente em escrituras mais antigas. O problema com os compostos sesquipedálicos é que quanto mais palavras contiver, mais problemática se torna a sua tradução. Se você for um estudante de Sânscrito, já sabe que cada palavra em Sânscrito pode ter muitos significados (às vezes, uma quantidade gigantesca). Então, por exemplo, se você tiver um composto de três palavras, cada uma delas com cinco significados possíveis, bem, terá quinze significados possíveis na combinação. Para um tradutor com suficiente experiência e conhecimento, compostos curtos dessa forma são relativamente fáceis de traduzir. De qualquer forma, se o composto tiver mais de cinco ou seis palavras, o tradutor vai suar proporcionalmente à medida que o número de possíveis combinações aumenta. O composto escrito por Kṣemarāja no composto anterior tinha mais de quinze palavras! Sim, a maioria delas é bastante compreensível para um tradutor experiente com um sólido conhecimento de filosofia, mas existem dois termos que não são nada fáceis de traduzir: "ullāsa" e "vilāpana". Para traduzi-los, é necessário ler os comentários de eruditos especialistas nesse sistema filosófico. Se você apenas utilizar um dicionário de Sânscrito, pode chegar a deduzir que "ullāsa" talvez seja algo como "manifestação", mas "vilāpana" é mais problemático, e, se você traduzi-lo meramente como "destruição, morte, etc.", a sua tradução não ficará muito boa. Os significados corretos desses termos nesse contexto são, segundo os grandes eruditos, "manifestação externa" e "retirada interna". Assim, o meu conselho para estudantes de Sânscrito é sempre: "obtenham os comentários antes de empreender uma tradução".

Obviamente, às vezes não existe nenhum comentário disponível, e você está absolutamente "por sua conta" (por exemplo, eu mesmo, quando traduzi o Netroddyota, Svacchandoddyota, etc., para lançar mais luz sobre um certo tema). Nesse caso, você terá que se apoiar em Deus com muita frequência, hehe, pois essa posição não é nem um pouco desejável. Os textos de sábios como Abhinavagupta, Kṣemarāja, etc., podem facilmente acabar com qualquer estudante de Sânscrito que seja principiante ou inclusive intermediário. E os avançados precisarão de abundante conhecimento de Trika mais alguns comentários como apoio se quiserem ter um dia feliz, tenha certeza disso. De fato, alguns escritos de Abhinavagupta (se não forem todos eles!) precisam de um grupo de eruditos para produzir uma boa tradução. É por isso que sempre estou com medo de Abhinavagupta e seus estudos. Podem facilmente afundar o meu pequeno barco, sem dúvidas.Return 

2  A energia vital como um todo se chama: "prāṇa". Mas este é dividido em dez categorias, cinco das quais são principais e as outras cinco são subsidiárias. O problema jaz em uma dessas categorias (uma das cinco que são as principais) por ter o mesmo nome, isto é, "prāṇa". Muito frequentemente, as pessoas confundem essa categoria com prāṇa ou a energia vital "como um todo". Uma maneira de contornar essa confusão é chamar a energia vital de Prāṇa ("p" inicial maiúsculo) e a categoria de prāṇa ("p" inicial minúsculo), ou então chamar a energia vital como um tudo de "mahāprāṇa" (grande prāṇa) e deixar a palavra "prāṇa" para a mera categoria. Esses são os métodos que se utilizam geralmente para contornar o pequeno obstáculo. De qualquer forma, a palavra "prāṇa" da frase "Prāṇāpānamayaḥ" na estrofe claramente se refere à categoria, e não ao "prāṇa" como um todo. Por outro lado, a segunda ocorrência (isto é, "prāṇo" na estrofe) realmente refere à energia vital "como um todo". Leia Uccāra em Meditação 4 para obter mais informação.

Por sua vez, as categorias "prāṇa" e "apāna" são duas energias vitais, uma saindo por meio da expiração e outra entrando por meio da inspiração, respectivamente. É por isso que a estrofe specifica "em cada" (prati).

Embora Kṣemarāja não mencione isto aqui, posso ler uma declaração que segue a estrofe citada no Svacchandatantra, a qual completa o sentido: "प्राणनं कुरुते यस्मात्तस्मात्प्राणः प्रकीर्तितः।" - "Prāṇanaṁ kurute yasmāttasmātprāṇaḥ prakīrtitaḥ|" - "Visto que dá vida, portanto, chama-se prāṇa --lit. sopro de vida--".

Agora, creio que tudo esteja claro como cristal.Return 

3  Eu mesmo poderia explicar isso, já que o significado é relativamente simples, mas citarei o Svacchandoddyota (o comentário erudito de Kṣemarāja sobre o Svacchandatantra) para que você receba a explicação diretamente a partir de uma fonte oficial. De qualquer forma, apesar de que citarei apenas uma porção muito pequena que aparece no início do comentário inteiro escrito pelo sábio, terei que explicá-la a você também, hehe!... não há outra saída!:

"योऽयं हलाकृतिरनच्को हकारोऽनाहतध्वन्यात्मा" - "Yo'yaṁ halākṛtiranacko hakāro'nāhatadhvanyātmā" - "Aquilo que tem a forma de um arado (é) a letra 'ha', desprovida de uma vogal (e) sua natureza é o som não produzido por golpe".

Excelente! Bem, o grande gramático Pāṇini criou um termo técnico para designar todas as vogais ou qualquer vogal: "ac". Então, "anacka" significa "qualquer consoante sem vogal, isto é, isolada". Como é óbvio meramente olhando o 'h' (ou seja, 'ha' com a vogal 'a' omitida) em Sânscrito —veja!: "ह्" - "h"—, essa letra realmente tem a forma de um arado. Mas isso não é tão fácil, pois há outra maneira de ler "halākṛti" (tem a forma de um arado). Em vez de considerar que se compõe de "hala + ākṛti" - "arado + forma", poderia ser interpretado como formado a partir de "hal + ākṛti". Nesse caso, "hal" é um termo técnico criado por Pāṇini para designar todas as consoantes ou qualquer consoante. Assim, a tradução dessa pequena porção do Svacchandoddyota se torna:

"(A expressão) 'hakāra' (na estrofe indica) aquilo que tem a forma da consoaante ('ha',) mas sem vogal, e cuja natureza é o som não produzido por golpe".

E a sua natureza é o som "não produzido por golpe" porque esse som é produzido naturalmente pela inspiração, sem a necessidade de objetos se golpeando. Em todos os seres vivos, a respiração prossegue contínua e espontaneamente com os sons "ha" e "sa" a cada inspiração e expiração. Esse processo ocorre por si mesmo, automaticamente.Return 

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 Aforismo 44

अतश्च स्थितेऽपि नैसर्गिके प्राणसम्बन्धे यस्तदारूढ आन्तरीं कलां विमृशन्नास्ते स लोकोत्तर एवेत्याह—


नासिकान्तर्मध्यसंयमात् किमत्र सव्यापसव्यसौषुम्नेषु॥४४॥


सर्वनाडीचक्रप्रधानरूपेषु सव्यापसव्यसौषुम्नेषु दक्षिणवाममध्यनाडीपदेषु या नासिका नसते कौटिल्येन वहतीति कृत्वा कुटिलवाहिनी प्राणशक्तिस्तस्या अन्तरित्यान्तरी संवित् तस्या अपि मध्यं सर्वान्तरतमतया प्रधानम्।

तस्य देवातिदेवस्य परबोधस्वरूपिणः।
विमर्शः परमा शक्तिः सर्वज्ञा ज्ञानशालिनी॥

इति श्रीकालिकाक्रमोक्तनीत्या यद्विमर्शमयं रूपं तत्संयमादन्तर्निभालनप्रकर्षात्किमत्रोच्यत अयं हि सर्वदशासु देदीप्यमानो निर्व्युत्थानः परः समाधिः। तदुक्तं श्रीविज्ञानभैरवे

ग्राह्यग्राहकसंवित्तिः सामान्या सर्वदेहिनाम्।
योगिनां तु विशेषोऽयं सम्बन्धे सावधानता॥

इति॥४४॥

Ataśca sthite'pi naisargike prāṇasambandhe yastadārūḍha āntarīṁ kalāṁ vimṛśannāste sa lokottara evetyāha—


Nāsikāntarmadhyasaṁyamāt kimatra savyāpasavyasauṣumneṣu||44||


Sarvanāḍīcakrapradhānarūpeṣu savyāpasavyasauṣumneṣu dakṣiṇavāmamadhyanāḍīpadeṣu yā nāsikā nasate kauṭilyena vahatīti kṛtvā kuṭilavāhinī prāṇaśaktistasyā antarityāntarī saṁvit tasyā api madhyaṁ sarvāntaratamatayā pradhānam|

Tasya devātidevasya parabodhasvarūpiṇaḥ|
Vimarśaḥ paramā śaktiḥ sarvajñā jñānaśālinī||

iti śrīkālikākramoktanītyā yadvimarśamayaṁ rūpaṁ tatsaṁyamādantarnibhālanaprakarṣātkimatrocyata ayaṁ hi sarvadaśāsu dedīpyamāno nirvyutthānaḥ paraḥ samādhiḥ| Taduktaṁ śrīvijñānabhairave

Grāhyagrāhakasaṁvittiḥ sāmānyā sarvadehinām|
Yogināṁ tu viśeṣo'yaṁ sambandhe sāvadhānatā||

iti||44||


É por isso que (atas ca), enquanto o vínculo ou associação natural da energia vital (com o corpo) existir (sthite api naisargike prāṇa-sambandhe), aquele que (yaḥ), ao estar estabelecido (ārūḍhaḥ) nisso --no estado de conhecedor, que é uma forma adotada por Prāṇanā, a energia vital universal-- (tad)1 , continua (āste) estando consciente (vimṛśan) da interior (āntarīm) (e) perfeita consciência do Eu --Śakti-- (kalām), (é) extraordinário --lit. está além do que é comum-- (saḥ loka-uttaraḥ eva). (Śiva) disse (āha) assim (iti) (no seguinte aforismo)


(Há energia vital --prāṇaśakti ou prāṇa--) no canal sutil esquerdo --Iḍā-- (apasavya), no canal sutil direito --Piṅgalā-- (savya) (e) em Suṣumnā --o do meio-- (sauṣumneṣu).

Mediante a intensa e constante consciência (saṁyamāt) do centro --isto é, da perfeita consciência do Eu-- (madhya) do aspecto interno (antar) (da mencionada) prāṇaśakti (nāsikā), (o Yogī permanece na constante percepção da suprema e perfeita consciência do Eu para sempre).

O que mais (poderia ser dito) (kim) a este respeito (atra)?||44||


(Há) nāsikā --prāṇaśakti ou prāṇa-- (yā nāsikā) nos principais (pradhāna-rūpeṣu) do grupo (cakra) (composto por) todos (sarva) os canais sutis (nāḍī) —em savya, apasavya e Suṣumnā (savya-apasavya-sauṣumneṣu)—, (isto é,) nos canais sutis direito, esquerdo e intermediário (dakṣiṇa-vāma-madhya-nāḍī-padeṣu) --conhecidos como Piṅgalā, Iḍā e Suṣumnā--, (respectivamente)2 . (E "nāsikā" é) prāṇaśakti --ou prāṇa-- (prāṇa-śaktiḥ), aquela que flui (vāhinī) em zigue-zagues (kuṭila), considerando que (iti kṛtvā) (os termos "nāsikā" e "kuṭilavāhinī" derivam de "nasate kauṭilyena vahati" ou) "ela zigue-zagueia (nasate), (isto é,) ela flui (vahati) fazendo zigue-zague (kauṭilyena)"3 . (A palavra) "antár" (antar iti) (significa) aspecto interno (āntarī) (ou) Consciência (saṁvid) dessa (nāsikā) (tasyāḥ). (E) "madhya" ou "centro" (madhyam) desse (aspecto interno de nāsikā) (tasyāḥ) também (api), por ser o mais recôndito (antaratamatayā) de tudo (sarva), (é) "Pradhāna" ou "a Realidade essencial" --em suma, a perfeita consciência do Eu, que está no centro de tudo-- (pradhānam)|

"Desse Deus que sobrepuja todos os outro deuses (deva-atidevasya) (e) cuja natureza essencial (sva-rūpiṇaḥ) é a Mais Elevada (para) Consciência (bodha) --esse Deus é Śiva ou Prakāśa--, Vimarśa --a consciência do Eu-- (vimarśaḥ) (é) o Supremo (paramā) Poder (śaktiḥ), que é onisciente (sarvajñā), (isto é,) cheio de (śālinī) conhecimento (jñāna... iti)"||

Usando o que se foi expressado no venerável Kālikākrama como guia (śrī-kālikākrama-ukta-nītyā), mediante saṁyama (saṁyamāt) (ou) a intensidade (prakarṣāt) de uma (constante) consciência (nibhālana) interna (antar) dessa (tad) natureza essencial (rūpam), que (yad) é Vimarśa --a consciência do Eu-- (vimarśa-mayam), diz-se (ucyate) "kimatra" --uma exclamação que mostra deleite e cujo significado é "O que mais (poderia ser dito) a este respeito?"-- (kim atra) (no sentido de que, como resultado de tal saṁyama, brota) esse (ayam hi) supremo (paraḥ) Nirvyutthānasamādhi (nirvyutthānaḥ... samādhiḥ), que brilha intensamente (dedīpyamānaḥ) em todos os estados --isto é, sob todas as circunstâncias-- (sarva-daśāsu)4 |

Isso (tad) foi declarado (uktam) no venerável Vijñānabhairava (śrī-vijñānabhairave):

"A consciência (saṁvittiḥ) de objeto (grāhya) (e) sujeito (grāhaka) é comum (sāmānyā) a todos os seres encarnados (sarva-dehinām), mas (tu), no caso dos Yogī-s (yoginām), esta (ayam) (é a) distinção (viśeṣaḥ): há atenção (sa-avadhānatā) à relação (entre objeto e sujeito) (sambandhe... iti)"||

||44||

1  Isso não é invenção minha, e sim o que comentam os grandes eruditos sobre essa palavra "tad" (aquilo) no presente contexto. Além disso, você pode facilmente verificar que essa declaração concorda completamente com o que se afirmou no comentário sobre o aforismo anterior.Return 

2  Para não ter uma manada de estudantes de Sânscrito corrigindo a minha tradução de "savya" e "apasavya" como "direito" e "esquerdo", respectivamente, preciso dizer algo: Sim, está certo! Se consultar um dicionário, verá que "savya" significa "esquerdo" e "apasavya" significa "direito". De qualquer forma, Kṣemarāja gosta de considerar os significados de "savya" e "apasavya" como se fossem sempre indeclináveis (não importando se eles atuam ou não como indeclináveis). Se você checar o dicionário, "savya" e "apasavya", como indeclináveis --ou seja, como savyam/savyena e apasavyam/apasavyena--, significam "à direta" e "à esquerda", respectivamente. Agora, você pode entender facilmente por que ele interpreta os significados de "savya" e "apasavya" de modo oposto ao que se esperaria. Sim, é um pouco infernal e confuso... de fato, fico tonto só de ler savya e apasavya, é como um trava-língua!... mas não podemos evitar isso, como você sabe. Lembre-se disso no futuro, por favor.Return 

3  Ela (em suma, nāsikā ou prāṇaśakti, a energia vital) zigue-zagueia porque flui através dos canais sutis no corpo sutil/astral, os quais, em geral, são curvos. Isso é especialmente verdadeiro com relação a Iḍā e Piṅgalā, já que estas se movem à esquerda e à direta de Suṣumnā, zigue-zagueando.Return 

4  A partir dessa estrofe do Kālikākrama, fica muito claro que o Poder Supremo do Senhor não é nada mais que a própria consciência do Eu. Usando esse ensinamento como guia, o comentador explica que, mediante saṁyama dessa suprema consciência do Eu, o grande Yogī alcança Nirvyutthānasamādhi ou uma absorção em seu "Eu" da qual nunca retornará ao estado normal ou vyutthāna, mas sim manterá tal percepção sob todas as circunstâncias, em todos os estados e condições. A palavra saṁyama não deve ser interpretada aqui como define o grande sábio Patañjali em seus Yogasūtra-s III, 4, mas sim como "antarnibhālanaprakarṣa" ou "a intensidade de uma (constante) consciência interna". Consciência de quê? Da sua própria e supremamente perfeita consciência do Eu ou Vimarśa, que é a Realidade central mais recôndita. Em outras palavras, torna-se consciente da sua verdadeira natureza de novo e de novo (constantemente). Tendo tal sublime Yogī alcançado o mais alto estado de consciência, "kimatra", ou seja, "O que mais (poderia ser dito) a este respeito?".

Ainda assim, o Senhor escreverá outro aforismo (o 45o) apenas para descrever sucintamente o estado final alcançado pelo imortal Yogī que é o próprio Ser.Return 

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 Aforismo 45

एवमीदृशस्य योगफलं दर्शयन् प्रकरणमुपसंहरति—


भूयः स्यात्प्रतिमीलनम्॥४५॥


चैतन्यात्मनः स्वरूपादुदितस्यास्य विश्वस्य भूयः पुनर्विगलितभेदसंस्कारात्मना बाहुल्येन च प्रतिमीलनम् चैतन्याभिमुख्येन निमीलनं पुनरपि चैतन्यात्मस्वस्वरूपोन्मीलनरूपं परयोगाभिनिविष्टस्य योगिनो भवति। तदुक्तं श्रीस्वच्छन्दे

उन्मनापरतो देवि तत्रात्मानं नियोजयेत्।
तस्मिन्युक्तस्ततो ह्यात्मा तन्मयश्च प्रजायते॥

इति। तथा च

उद्बोधितो यथा वह्निर्निर्मलोऽतीव भास्वरः।
न भूयः प्रविशेत्काष्ठं तथात्माध्वन उद्धृतः॥
मलकर्मकलाद्यैस्तु निर्मुक्तो विगतक्लमः।
तत्रस्थोऽपि न बध्येत यतोऽतीव सुनिर्मलः॥

इति। भूयः स्यादित्यभिदधतोऽयमाशयो यत् शिवत्वमस्य योगिनो नापूर्वमपि तु स्वभाव एव केवलं मायाशक्त्युत्थापितस्वविकल्पदौरात्म्याद्भासमानमपि तन्नायं प्रत्यवम्रष्टुं क्षम इत्यस्योक्तोपायप्रदर्शनक्रमेण तदेवाभिव्यज्यत इति शिवम्॥४५॥

Evamīdṛśasya yogaphalaṁ darśayan prakaraṇamupasaṁharati—


Bhūyaḥ syātpratimīlanam||45||


Caitanyātmanaḥ svarūpāduditasyāsya viśvasya bhūyaḥ punarvigalitabhedasaṁskārātmanā bāhulyena ca pratimīlanam caitanyābhimukhyena nimīlanaṁ punarapi caitanyātmasvasvarūponmīlanarūpaṁ parayogābhiniviṣṭasya yogino bhavati| Taduktaṁ śrīsvacchande

Unmanāparato devi tatrātmānaṁ niyojayet|
Tasminyuktastato hyātmā tanmayaśca prajāyate||

iti| Tathā ca

Udbodhito yathā vahnirnirmalo'tīva bhāsvaraḥ|
Na bhūyaḥ praviśetkāṣṭhaṁ tathātmādhvana uddhṛtaḥ||
Malakarmakalādyaistu nirmukto vigataklamaḥ|
Tatrastho'pi na badhyeta yato'tīva sunirmalaḥ||

iti| Bhūyaḥ syādityabhidadhato'yamāśayo yat śivatvamasya yogino nāpūrvamapi tu svabhāva eva kevalaṁ māyāśaktyutthāpitasvavikalpadaurātmyādbhāsamānamapi tannāyaṁ pratyavamraṣṭuṁ kṣama ityasyoktopāyapradarśanakrameṇa tadevābhivyajyata iti śivam||45||


Dessa forma (evam), (agora, Śiva) faz um resumo (upasaṁharati) do livro e do seu tema --Śivasūtra-s-- (prakaraṇam), mostrando (darśayan) o fruto (phalam) do Yoga (yoga) para (tal Yogī) (īdṛśasya)


(No que se refere ao Yogī iluminado), existe (syāt), de novo e de novo (bhūyas), a consciência do the Ser Supremo, tanto internamente como externamente (pratimīlanam)||45||


Um pratimīlana (pratimīlanam) —completamente (bāhulyena ca) livre (vigalita) de (qualquer) impressão residual (saṁskāra-ātmanā) de dualidade (bheda)— ocorre (bhavati) de novo e de novo (bhūyas punar) no caso do Yogī (yoginaḥ) que está imerso (abhiniviṣṭasya) no Yoga (yoga) Mais Elevado (para). (Um pratimīlana) desse (asya) universo (viśvasya), que surgiu (uditasya) a partir da sua natureza essencial (sva-rūpāt) (ou) Consciência em Liberdade Absoluta (caitanya-ātmanaḥ). (Esse pratimīlana é, por um lado,) uma absorção interna no Ser Supremo (nimīlanam) —quando (o Yogī está) orientado (abhimukhyena) em direção à Consciência (interior) (caitanya)(e,) por outro lado (punar api), uma absorção externa no (mesmo) Ser Supremo (unmīlana-rūpam), (onde o Yogī experimenta que o universo inteiro é a) sua própria (sva) Essência (sva-rūpa), cuja natureza (ātma) é (o mesmo) Caitanya ou Consciência (caitanya)1 |

Isso (tad) foi descrito (uktam) no venerável Svacchandatantra (śrīsvacchande):

"Oh deusa (devi)!, Unmanā (unmanā) está além de (Samanā) (paratas); deve-se unir-se (ātmānam niyojayet) a isso --a Unmanā-- (tatra). Consequentemente (tatas hi), o ser (ātmā) que está unido (yuktaḥ) com isso (tasmin) torna-se (prajāyate) idêntico (mayaḥ ca) a isso (tad... iti)2 "||
(Ver IV, 332 no Svacchandatantra)

Além disso (tathā ca), (no mesmo Svacchandatantra, foi dito):

"Assim como (yathā) um fogo (vahniḥ) que se ergueu (udbodhitaḥ) puro (nirmalaḥ) (e) muito (atīva) radiante (bhāsvaraḥ) (de um pedaço de madeira) não (na) entra (praviśet) no pedaço de madeira (kāṣṭham) novamente (bhūyas), da mesma forma (tathā), o Ser (ātmā) que surgiu (uddhṛtaḥ) a partir do Ṣaḍadhvā --os Seis Cursos-- (ādhvanaḥ), por estar libertado (nirmuktaḥ) de Āṇavamala, Kārmamala e Māyīyamala, etc. (mala-karma-kalā-ādyaiḥ tu), é um vigataklama ou alguém cuja fadiga cessou (vigata-klamaḥ). Ainda que (api) ele more (sthaḥ) ali --no mundo-- (tatra), não é (na) atado (pelos prazeres desse mundo) (badhyeta), já que (yatas) é extremamente imaculado (atīva sunirmalaḥ... iti)3 "||
(Ver X, 371-372 no Svacchandatantra)

(Ao dizer) "Bhūyaḥ syāt" ou "existe de novo e de novo" (bhūyaḥ syāt iti) (no aforismo), essa (ayam) (é) a intenção (āśayaḥ) Daquele que o declara --isto é, de Śiva, o autor dos Śivasūtra-s-- (abhidadhataḥ):

Que (yad) o estado de Śiva (śivatvam) desse (asya) Yogī (yoginaḥ) não é (na) totalmente novo (apūrvam), mas sim (api tu) a (sua) própria natureza essencial (sva-bhāvaḥ eva)! Apenas (kevalam) por causa da perversão (daurātmyāt) dos seus (sva) pensamentos (vikalpa) despertados (utthāpita) por māyāśakti --Seu poder para produzir dualidade-- (māyā-śakti)4 , ainda que (api) isso --o estado de Śiva-- (tad) estava manifesto (bhāsamānam), ele (ayam) não foi (na) capaz (kṣamaḥ) de reconhecê(-lo) --de tocá-lo-- (pratyavamraṣṭum). Dessa maneira (iti), esse (estado de Śiva) (tad eva) foi (agora) manifestado (abhivyajyate) para ele --para o Yogī iluminado-- (asya) pela série (de aforismos) (krameṇa) que exibem e explicam (pradarśana) os meios (upāya) que foram descritos (uktam). Que haja bem-estar (para todos os seres) (iti śivam)!||45||

1  Dito de maneira simples: Esse Yogī experimenta o Ser Supremo tanto internamente quanto externamente. Internamente, o Senhor aparece como o seu Ser interior ou "Eu" real e, externamente, aparece como o universo inteiro. Portnato, tal Yogī iluminado percebe unicamente a Deus a todo momento. Esse extraordinário estado de consciência é denominado Pratimīlana.Return 

2  Para compreender plenamente o tema que versa sobre Samanā e Unmanā, leia Meditação 6.Return 

3  A expressão "que surgiu a partir do Ṣaḍadhvā --os Seis Cursos--" indica que semelhante alma libertada foi além deles. Por sua vez, as palavras "mala, karma e kalā" indicam "Āṇavamala, Kārmamala e Māyīyamala". Por quê? Em primeiro lugar, Āṇavamala é muito frequentemente designado meramente pelo termo "mala" (impureza), pois é a mais importante impureza. Em segundo lugar, como a palavra "karma" significa "ação", é óbvia a razão pela qual Kārmamala (impureza relacionada ao estado de fazedor) seja denominada dessa forma. Mas é misterioso que o Māyīyamala esteja sendo chamado "kalā" na estrofe do Svacchandatantra, porque "kalā" geralmente significa "śakti" ou "poder". De qualquer forma, se você recorrer a um dicionário, encontrará que a palavra significa principalmente "parte". E esta é a chave para resolver o mistério: Māyīyamala te força a considerar as coisas como diferentes entre si. Dessa forma, Māyīyamala gera um universo inteiro composto de partes, cada uma delas distinta das outras. Agora, acabou o mistério!

E, obviamente, ele é alguém cuja fadiga cessou (vigataklama), já que é totalmente livre de tudo o que esteja relacionado com esse mundo. Ele não tem mais problemas, porque, "para ter um problema", é necessário "um indivíduo" primeiro. Como esse grande Yogī foi além da sua individualidade e se deu conta da sua divindade, "o indivíduo" não está mais nele. Como o indivíduo está ausente, os problemas também não podem existir. Um mero corpo vivente não basta para "ter um problema". Isso é complicado quando posto em palavras, mas simples se você tiver essa experiência. Assim, com todas as suas forças e toda a sua honestidade, esforce-se para ser como ele: Absolutamente Livre!Return 

4  O significado desse termo já foi explicado por meio da nota 1 de III, 38.Return 

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 Fim da Seção III e da escritura

सेयमागमसंवादस्पन्दसङ्गतिसुन्दरा।
वृत्तिः शैवरहस्यार्थे शिवसूत्रेषु दर्शिता॥१॥

शिवरहस्यनिदर्शनसंस्रवन्नवनवामृतसाररसोल्बणाम्।
सुकृतिनो रसयन्तु भवच्छिदे स्फुटमिमां शिवसूत्रविमर्शिनीम्॥२॥

इयमरोचकिनां रुचिवर्धिनी परिणतिं तनुते परमां मतेः।
रसनमात्रत एव सुधौघवन्मृतिजराजननादिभयापहृत्॥३॥

देहप्राणसुखादिभिः परिमिताहन्तास्पदैः संवृतश्चैतन्यं चिनुते निजं न सुमहन्माहेश्वरं स्वं जनः।
मध्ये बोधसुधाब्धि विश्वमभितस्तत्फेनपिण्डोपमं यः पश्येदुपदेशतस्तु कथितः साक्षात्स एकः शिवः॥४॥

तरत तरसा संसाराब्धिं विधत्त परे पदे पदमविचलं नित्यालोकप्रमोदसुनिर्भरे।
विमृशत शिवप्रोक्तं सूत्रं रहस्यसमुज्ज्वलं प्रसभविलसत्सद्युक्त्यान्तः समुत्प्लवदायि तत्॥५॥

इति श्रीमन्महामाहेश्वराचार्यवर्याभिनवगुप्तपादपद्मोपजीविश्रीक्षेमराजविरचितायां शिवसूत्रविमर्शिन्यामाणवोपायप्रकाशनं नाम तृतीय उन्मेषः॥३॥

समाप्ता चेयं शिवसूत्रविमर्शिनी॥

 

कृतिः श्रीक्षेमराजस्य क्षेमायास्तु विमर्शिनाम्।
शिवस्वात्मैक्यबोधार्था शिवसूत्रविमर्शिनी॥

Seyamāgamasaṁvādaspandasaṅgatisundarā|
Vṛttiḥ śaivarahasyārthe śivasūtreṣu darśitā||1||

Śivarahasyanidarśanasaṁsravannavanavāmṛtasārarasolbaṇām|
Sukṛtino rasayantu bhavacchide sphuṭamimāṁ śivasūtravimarśinīm||2||

Iyamarocakināṁ rucivardhinī pariṇatiṁ tanute paramāṁ mateḥ|
Rasanamātrata eva sudhaughavanmṛtijarājananādibhayāpahṛt||3||

Dehaprāṇasukhādibhiḥ parimitāhantāspadaiḥ saṁvṛtaścaitanyaṁ cinute nijaṁ na sumahanmāheśvaraṁ svaṁ janaḥ|
Madhye bodhasudhābdhi viśvamabhitastatphenapiṇḍopamaṁ yaḥ paśyedupadeśatastu kathitaḥ sākṣātsa ekaḥ śivaḥ||4||

Tarata tarasā saṁsārābdhiṁ vidhatta pare pade padamavicalaṁ nityālokapramodasunirbhare|
Vimṛśata śivaproktaṁ sūtraṁ rahasyasamujjvalaṁ prasabhavilasatsadyuktyāntaḥ samutplavadāyi tat||5||

Iti śrīmanmahāmāheśvarācāryavaryābhinavaguptapādapadmopajīviśrīkṣemarājaviracitāyāṁ śivasūtravimarśinyāmāṇavopāyaprakāśanaṁ nāma tṛtīya unmeṣaḥ||3||

Samāptā ceyaṁ śivasūtravimarśinī||

Kṛtiḥ śrīkṣemarājasya kṣemāyāstu vimarśinām|
Śivasvātmaikyabodhārthā śivasūtravimarśinī||


"Este (sā iyam) comentário (vṛttiḥ) sobre os Śivasūtra-s (śivasūtreṣu), embelezado (sundarā) pela sua conexão (saṅgati) com as Spandakārikā-s --um comentário contínuo sobre os Śivasūtra-s-- (spanda) (e) pela sua conformidade (saṁvāda) com as Escrituras Reveladas (āgama), foi desenvolvido (darśitā) para (expor) (arthe) o segredo (rahasya) de Śiva (śaiva)1 "||1||

"Que os virtuosos (sukṛtinaḥ) saboreiem (rasayantu) —para cortar (chide) a existência transmigratória (bhava), evidentemente (sphuṭam)— esta (imām) Śivasūtravimarśinī (śivasūtravimarśinīm) abundantemente dotada do (ulbaṇām) elixir (rasa) feito a partir da essência (sāra) do sempre novo (navanava) Néctar (amṛta) que flui (saṁsravat) a partir do ensinamento (nidarśana) sobre a secreta doutrina (rahasya) de Śiva (śiva)!"||2||

"Esta (Śivasūtravimarśinī) (iyam) aumenta (vardhinī) o apetite (ruci) (de conhecimento --na forma da doutrina de Śiva--) daqueles que não o têm (arocakinām) (e) produz (tanute) uma suprema (paramām) transformação (pariṇatim) do entendimento (mateḥ). Meramente saboreando(-a) (rasana-mātratas eva), ela remove (apahṛt) o medo (bhaya) da morte (mṛti), velhice (jarā), nascimento (janana), etc. (ādi), como (vat) uma inundação (ogha) de Néctar (sudhā)2 "||3||

"Coberto (saṁvṛtaḥ) por corpo, energia vital, prazer, etc. (deha-prāṇa-sukha-ādibhiḥ), devido a limitados assentos (parimita... āspadaiḥ) para (o seu) sentido de Eu --para a sua consciência de Eu-- (ahantā), o homem (janaḥ) não (na) percebe (cinute) a Consciência Absolutamente Livre (caitanyam) do Muito Glorioso Senhor (sumahat-māheśvaram) como própria (nijam... svam). No entanto (tu), aquele que (yaḥ) —por meio do ensinamento (comunicado) (upadeśatas)— contempla (paśyet) o universo (viśvam), no meio (madhye) do oceano (abdhi) do Néctar (sudhā) da Consciência (bodha), como (upamam) uma massa (piṇḍa) da sua --desse oceano-- (tad) espuma (phena) em todos os lugares (abhitas), diz-se que (kathitaḥ... saḥ) (é) o Próprio Śiva (ekaḥ śivaḥ) em pessoa (sākṣāt)3 "||4||

"Cruzem (tarata) rapidamente (tarasā) o oceano (abdhim) do Saṁsāra --Transmigração cheia de miséria-- (saṁsāra) (e) estabeleçam-se (vidhatta) firmemente (padam avicalam) no Mais Elevado Estado (pare pade), que está completamente cheio (sunirbhare) de Luz (āloka) (e) Alegria (pramoda) eternas (nitya)! Reflita (vimṛśata) sobre o Sūtra --os aforismos-- (sūtram) enunciado (proktam) por Śiva (śiva), (o qual parece) radiante (samujjvalam) (por causa) da doutrina secreta (contida Nele --no Sūtra--) (rahasyam)! Esse (Sūtra) (tad) causa (dāyi) um salto (de Bem-aventurança) (samutplava) (e) brilha (vilasat) vigorosamente (prasabha) dentro (antar) (quando é ensinado) por um sábio (sat-yuktyā)"||5||

Aqui termina (iti) a terceira (tṛtīyaḥ) Seção (unmeṣaḥ) chamada (nāma) Āṇavopāyaprakāśana --(a Seção) que revela o meio que pertence a um aṇu ou ser limitado-- (āṇava-upāya-prakāśanam), na Śivasūtravimarśinī (śivasūtravimarśinyām), escrita (viracitāyām) pelo venerável (śrī) Kṣemarāja (kṣemarāja), que depende (upajīvi) dos pés de lótus --ou seja, pés belos como um lótus-- (pāda-padma) do eminente (śrīmat) Abhinavagupta (abhinavagupta), o melhor (varya) dos preceptores espirituais (ācārya) (e) um grande (mahā) devoto de Maheśvara, o Grande Senhor --epíteto de Śiva-- (māheśvara)||3||

Esta (iyam) Śivasūtravimarśinī (śivasūtra-vimarśinī) está concluída (samāptā)||

Que a obra do venerável Kṣemarāja seja (kṛtiḥ śrī-kṣemarājasya... astu) para a paz e segurança (kṣemāya) daqueles que ponderam (profundamente sobre o significado da existência) (vimarśinām)! A Śivasūtravimarśinī (śivasūtravimarśinī) (foi exposta) com o objetivo (arthā) de (despertar) bodha ou consciência --compreensão-- (bodha) da (inerente) unidade (aikya) entre o próprio (sva) Ser (ātma) (e) Śiva (śiva)||

1  Em Sânscrito, a palavra "vṛtti" ou "comentário" é de gênero feminino, assim como o título deste comentário sobre os Śivasūtra-s: "Śivasūtravimarśinī". As célebres Spandakārikā-s foram compostas por Vasugupta (o sábio ao qual Śiva revelou os Seus Śivasūtra-s), segundo Kṣemarāja, ou pelo seu principal discípulo, chamado Kallaṭa, segundo outros autores.

As Escrituras Reveladas são os antigos Tantra-s (por exemplo, o Svacchandatantra, o Mālinīvijayatantra, etc.). O tema é longo e complexp (como sempre nesse oceano de Sânscrito, hehe!), mas, se você leu o texto inteiro do presente comentário, certamente viu muitas citações extra~idas dessas mesmas escrituras.

O segredo de Śiva não é nada mais que o segredo do Śaivayoga ou união com o Senhor por meio de métodos śaiva-s. A palavra "śaiva" significa "de Śiva, relacionado a Śiva, que pertence a Śiva, e por aí vai".Return 

2  Para esclarecer as coisas: "ela remove o medo da morte, velhice, nascimento, etc." significa "ela remove o medo da morte, medo da velhice, medo do nascimento, etc.", e NÃO "ela remove o medo da morte, remove a velhice, remove o nascimento, etc.". É algo de pouca importância, mas achei que era importante esclarecer esse ponto. Enquanto a "ordem" em uma oração é fundamental em inglês, não é tão importante em Sânscrito. A concordância em Sânscrito depende principalmente de gênero, número, pessoa e tempo (ou modo). Enquanto estes estiverem bem, você pode mover as palavras livremente "em geral" (obviamente, há várias exceções).

Além disso, a expressão "naqueles que não o tem" significa "naqueles que não tem tal apetite".Return 

3  Há um "aparente" erro nessa estrofe (a quarta). De qualquer forma, não é um erro, mas sim uma licença poética. Permita-me explicar isso a você:

O sábio Kṣemarāja utiliza, nessa estrofe, a métrica conhecida como Śārdūlavikrīḍita (lit. o jogo do tigre... que nome ominoso!, hehe), que consiste de 19 sílabas por pāda (ou quarto). Na poesia acima, a quarta estrofe é assim:

Dehaprāṇasukhādibhiḥ parimitāhantāspadaiḥ saṁvṛtaścaitanyaṁ cinute nijaṁ na sumahanmāheśvaraṁ svaṁ janaḥ|
Madhye bodhasudhābdhi viśvamabhitastatphenapiṇḍopamaṁ yaḥ paśyedupadeśatastu kathitaḥ sākṣātsa ekaḥ śivaḥ||4||

Mas, para reconhecer a métrica, é necessário dividi-la em quatro quartos com 19 sílabas cada, desta forma:

Dehaprāṇasukhādibhiḥ parimitāhantāspadaiḥ saṁvṛta-
ścaitanyaṁ cinute nijaṁ na sumahanmāheśvaraṁ svaṁ janaḥ|
Madhye bodhasudhābdhi viśvamabhitastatphenapiṇḍopamaṁ
yaḥ paśyedupadeśatastu kathitaḥ sākṣātsa ekaḥ śivaḥ||4||

Agora, está pronta para marcar as sílabas, mas, antes, um pouco de prosódia sânscrita:

Segundo a prosódia sânscrita, uma estrofe ou padya consiste em quatro pāda-s --também conhecidos como "pada-s"-- ou quartos. Tal estrofe pode ser vṛtta (com métrica regulada pelo número e posição de sílabas --akṣara-- em cada pāda ou quarto) ou jāti (com métrica regulada pelo número de instantes silábicos --mātrā-- em cada pāda ou quarto). Esqueça-se de "jāti" aqui, pois a métrica da presente estrofe é da classe "vṛtta". Essa classe contém três subclasses: (1) samavṛtta (os quatro quartos de uma estrofe são similares), (2) ardhasamavṛtta (os quartos são similares, mas de maneira alternada) e (3) viṣama (os quatro quartos não são similares).

Bem, a atual estrofe pertence à subclasse samavṛtta (todos os quartos são similares). Essa subclasse é composta de 26 variedades, desde 1 sílaba por quarto até 26 sílabas por quarto. Por sua vez, cada variedade é dividida em subvariedades de acordo com a posição de sílabas curtas (lit. leves) e longas (lit. pesadas), etc. Dentro da variedade de 19 sílabas por quarto, Kṣemarāja escolheu a subvariedade chamada Śārdūlavikrīḍita. Existem outros dois espécimes chamados Meghavisphūrjitā (lit. o estrondo da nuvem) e Sumadhurā (lit. muito doce), todas elas dentro da variedade de 19 sílabas por quarto. Muito bem!

As sílabas são curtas ou longas porque contêm vogais curtas ou longas. As vogais curtas são: a, i, u, ṛ, ḷ. As vogais longas são longas por duas razões: (1) São naturalmente longas (ā, ī, ū, ṝ, e, ai, o, au), (2) são prosodicamente longas porque são seguidas por Anusvāra ou Visarga, ou por duas ou mais consoantes (e.g. aṁ, aḥ, antr). A última sílaba de um quarto é "sempre" curta ou longa de acordo com os requisitos da métrica, embora seja curta ou naturalmente/prosodicamente longa, isto é, os autores estão livres para usar qualquer sílaba (curta ou longa) como a última sílaba de um quarto e isso "sempre" satisfará os requisitos da métrica. Lembre-se disso!

Por sua vez, para tornar as coisas mais simples (não é brincadeira), a prosódia sânscrita toma cada série em particular de três sílabas em um quarto e lhe dá um certo nome. Esses grupos de três sílabas são conhecidos como "gaṇa-s" (não os confunda com os conhecidos gaṇa-s ou cadas utilizadas para classificar verbos) e apenas existem dessa forma em estrofes que são vṛtta (com métrica regulada pelo número e posição de sílabas --akṣara-- em cada pāda ou quarto), como o atual que estou analisando. Cada gaṇa é formado por três sílabas, mas deste modo em particular:

As três sílabas são longas ou as três sílabas são curtas ou há uma mistura (várias combinações de sílabas curtas e longas). Veja:

  1. ma: longa-longa-longa
  2. na: curta-curta-curta
  3. bha: longa-curta-curta
  4. ya: curta-longa-longa
  5. ja: curta-longa-curta
  6. ra: longa-curta-longa
  7. sa: curta-curta-longa
  8. ta: longa-longa-curta

O nome "la" é usado para designar uma sílaba curta, e o nome "ga" indica uma sílaba longa no final de um quarto. Bem, meu Deus, sim, isso foi difícil, mas, se eu não explicasse isso, você não entenderia o que direi posteriormente. Mais uma coisa, a subvariedade chamada Śārdūlavikrīḍita (escolhida pelo sábio para compor essa estrofe) segue este padrão de gaṇa em cada um dos seus quartos:

ma, sa, ja, sa, ta, ta, ga — isto é, longa-longa-longa, curta-curta-longa, curta-longa-curta, curta-curta-longa, longa-longa-curta, longa-longa-curta, longa (nesse caso, a última sílaba é longa, mas lembre-se de que a última sílaba "sempre" satisfaz os requisitos da métrica, não importa se for curta ou longa, isto é, o autor está livre para utilizar uma sílaba curta ou longa no final de um quarto).

Vamos marcar as sílabas na poesia original para verificar se a estrofe (como formulada originalmente) está seguindo o padrão de gaṇa como deveria:

De-ha-prā-ṇa-su-khā-di-bhiḥ-pa-ri-mi-tā-ha-ntā-spa-daiḥ-saṁ-vṛ-ta-
ścai-ta-nyaṁ-ci-nu-te-ni-jaṁ-na-su-ma-ha-nmā-he-śva-raṁ-svaṁ-ja-naḥ|
Ma-dhye-bo-dha-su-dhā-bdhi-vi-śva-ma-bhi-ta-sta-tphe-na-pi-ṇḍo-pa-maṁ
yaḥ-pa-śye-du-pa-de-śa-ta-stu-ka-thi-taḥ-sā-kṣā-tsa-e-kaḥ-śi-vaḥ||4||

longa-longa-longa, curta-curta-longa, curta-longa-curta, curta-curta-longa, longa-longa-curta, longa-longa-curta, longa
longa-longa-longa, curta-curta-longa, curta-longa-curta, curta-curta-longa, longa-longa-curta, longa-longa-curta, longa
longa-longa-longa, curta-curta-longa, curta-longa-curta, curta-curta-longa, longa-longa-curta, longa-longa-curta, longa
longa-longa-longa, curta-curta-longa, curta-longa-curta, curta-curta-longa, longa-longa-curta, longa-longa-curta, longa

Excelente, Kṣemarāja! Evidentemente, você conhece prosódia sânscrita! (brincadeira). Bem, como você pode ver, o sábio satisfez plenamente os requisitos da métrica. De qualquer forma, quando você analisa a estrofe de um ponto de vista gramatical, nota algo estranho. Veja a primeira expressão do terceiro quarto: "Madhye bodhasudhābdhi" (No meio... o oceano do Néctar de Consciência?!). Quando você tenta traduzir, percebe que "abdhi" (oceano) NÃO está declinado adequadamente, nem no caso Genitivo (abdheḥ), nem no caso Locativo (abdhau), já que "abdhi" é um substantivo masculino terminado em "i" [Ver Declension (2)]. Como você sabe que as palavras associadas ao indeclinável "madhye" (no meio) devem estar declinadas no Genitivo em geral, e, às vezes, inclusive no Locativo, quando não estão formando um composto, você pode se perguntar o que houve ali. Simples: Se o sábio tivesse declinado a palavra corretamente no Genitivo ou Locativo (abdheḥ se tornaria abdher pela 7a Regra do Sandhi de Visarga, e abdhau continuaria igual), a frase ficaria: "Madhye bodhasudhābdher" ou "Madhye bodhasudhābdhau", e, agora, poderia ser traduzida sem nenhum problema como "No meio do oceano do Néctar da Consciência". E o pāda ou quarto ficaria assim:

Ma-dhye-bo-dha-su-dhā-bdhe-rvi-śva-ma-bhi-ta-sta-tphe-na-pi-ṇḍo-pa-maṁ
or else
Ma-dhye-bo-dha-su-dhā-bdhau-vi-śva-ma-bhi-ta-sta-tphe-na-pi-ṇḍo-pa-maṁ

Isso ficou bom do ponto de vista gramatical, mas e a satisfação dos requisitos da métrica? Vejamos:

longa-longa-longa, curta-curta-longa, longa-longa-curta, curta-curta-longa, longa-longa-curta, longa-longa-curta, longa
or
longa-longa-longa, curta-curta-longa, longa-longa-curta, curta-curta-longa, longa-longa-curta, longa-longa-curta, longa

Oh não, deveria ser uma sílaba "curta"! Isso não satisfez os requisitos da métrica (nem "abdher", nem "abdhau"!). É por isso que Kṣemarāja optou por deixar a palavra "abdhi" como tal, em uma forma bruta (em um estado sem declinar ou prātipadika), da maneira como aparece a palavra "abdhi" nos dicionários. Ao fazer isso, deixa muito claro que não é um erro gramatical, e sim uma licença poética que implementou para satisfazer os requisitos da métrica Śārdūlavikrīḍita.Return 

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 Informação adicional

Gabriel Pradīpaka

Este documento foi concebido por Gabriel Pradīpaka, um dos dois fundadores deste site, e guru espiritual versado em idioma Sânscrito e filosofia Trika.

Para maior informação sobre Sânscrito, Yoga e Filosofia Indiana; ou se você quiser fazer um comentário, perguntar algo ou corrigir algum erro, sinta-se à vontade para enviar um e-mail: Este é nosso endereço de e-mail.



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