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 Śivasūtravimarśinī: Seção III (aforismos 1 a 11)

Tradução normal


 Introdução

A Śivasūtravimarśinī continua: Kṣemarāja continua a comentar os aforismos.

Este é o primeiro grupo de 11 aforismos dos 45 aforismos que formam a terceira Seção (que versa sobre Āṇavopāya). Como você sabe, a obra inteira é composta dos 77 aforismos dos Śivasūtra-s mais os respectivos comentários.

É claro que também inserirei os aforismos de Śiva sobre os quais Kṣemarāja estiver comentando. Apesar de que não comentarei sobre os sūtra-s originais ou sobre o comentário de Kṣemarāja, escreverei algumas notas para esclarecer certos pontos sempre que for necessário. Se você quiser uma explicação detalhada dos significados ocultos dessa escritura, vá a "Escrituras (estudo)/Śivasūtravimarśinī" na seção Trika.

O Sânscrito de Kṣemarāja estará em verde escuro, enquanto os aforismos originais de Śiva serão exibidos em vermelho escuro. Por sua vez, dentro da transliteração, os aforismos originais estarão em marrom, enquanto os comentários de Kṣemarāja estarão em preto. Além disso, dentro da tradução, os aforismos oriiginais de Śiva, ou seja, os Śivasūtra-s, estarão em verde e preto, enquanto o comentário de Kṣemarāja terá palavras tanto em preto quanto em vermelho.

Leia a Śivasūtravimarśinī e experimente Supremo Deleite, querido Śiva.

Importante: Tudo o que está entre parênteses e em itálico dentro da tradução foi agregado por mim para completar o sentido de uma determinada frase ou oração. Por sua vez, tudo o que está dentro de um duplo hífen (-- ... --) constitui informação esclarecedora adicional também agregada por mim.


Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.


Ao início


 Aforismo 1

इदानीमाणवोपायं प्रतिपिपादयिषुरणोः तावत्स्वरूपं दर्शयति—


आत्मा चित्तम्॥१॥


यदेतद्विषयवासनाच्छुरितत्वान्नित्यं तदध्यवसायादिव्यापारबुद्ध्यहङ्कृन्मनोरूपं चित्तं तदेवातति चिदात्मकस्वस्वरूपाख्यात्या सत्त्वादिवृत्त्यवलम्बनेन योनीः सञ्चरतीत्यात्माणुरित्यर्थः। न तु चिदेकरूपस्यास्यातनमस्ति। अत एव चैतन्यमात्मा (१-१) इति स्वभावभूततात्त्विकैतत्स्वरूपप्रतिपादनाशयेन पूर्वमात्मा लक्षितः। इदानीं त्वेतदीयसङ्कोचावभासप्रधानाणवदशौचित्येनेति न पूर्वापरवैषम्यम्॥१॥

Idānīmāṇavopāyaṁ pratipipādayiṣuraṇoḥ tāvatsvarūpaṁ darśayati—


Ātmā cittam||1||


Yadetadviṣayavāsanācchuritatvānnityaṁ tadadhyavasāyādivyāpārabuddhyahaṅkṛnmanorūpaṁ cittaṁ tadevātati cidātmakasvasvarūpākhyātyā sattvādivṛttyavalambanena yonīḥ sañcaratītyātmāṇurityarthaḥ| Na tu cidekarūpasyāsyātanamasti| Ata eva caitanyamātmā (1-1) iti svabhāvabhūtatāttvikaitatsvarūpapratipādanāśayena pūrvamātmā lakṣitaḥ| Idānīṁ tvetadīyasaṅkocāvabhāsapradhānāṇavadaśaucityeneti na pūrvāparavaiṣamyam||1||


Agora (idānīm), (Śiva,) estando com desejo de explicar (pratipipādayiṣuḥ) Āṇavopāya (āṇava-upāyam)1 , primeiramente (tāvat) mostra (darśayati) a natureza essencial (sva-rūpam) de um aṇu ou ser limitado --o Ser individual-- (aṇoḥ)


O Ser individual (ātmā) (é) a mente (cittam)||1||


Citta --nesse contexto-- (cittam) (é) aquilo (etad) que (yad), por estar vestida (ācchuritatvāt) com desejos (vāsanā) por objetos (dos sentidos) (viṣaya), consiste (rūpam) em buddhi --intelecto, ou seja, o tattva ou categoria 14-- (buddhi), ahaṅkāra --ego, ou seja, o tattva 15-- (ahaṅkṛt) (e) manas --mente comum, ou seja, o tattva 16-- (manas), os quais estão sempre (nityam) engajados em (vyāpāra) indagar (adhyavasāya), etc. (ādi) sobre eles (tad) --isto é, sobre os objetos anteriormente mencionados--2 . Esse mesmo (citta) (tad eva) (é) ātmā --o Ser individual-- (ātmā) (ou) aṇu --lit. átomo, ou seja, o Ser Supremo reduzido a um mero ser limitado-- (aṇuḥ) (, porque,) como primordialmente ignora --lit. devido à ignorância primordial-- (akhyātyāḥ) que a sua (sva) verdadeira natureza (sva- rūpa) é (ātmaka) Consciência (cit), move-se constantemente (atati), (isto é,) ele se direciona (o tempo inteiro) (sañcarati) a (diversas) formas de existência (yonīḥ), prendendo-se (avalambanena) às condições ou modalidades (vṛtti) de Sattva (sattva), etc. (ādi... iti)3 . Este é o significado (iti arthaḥ)|

(Na realidade,) não existe nenhuma (na tu... asti) vagueação (atanam) deste (asya) (ātmā), cuja natureza não é nada mais que (eka-rūpasya) Consciência (cit)|

Por essa mesma razão (atas eva), ātmā (ātmā) (foi) indicado (lakṣitaḥ) anteriormente (pūrvam) (como) "A Consciência que é onisciente e onipotente (caitanyam) (é) ātmā --o Ser ou a verdadeira natureza da Realidade-- (ātmā iti)" em I, 1 (da presente escritura) (1-1), com a intenção (āśayena) de estabelecer e explicar (pratipādana) a sua (etad) real (tāttvika) natureza (sva-rūpa), que é (bhūta) o seu (sva) verdadeiro estado (bhāva)|

Mas (tu), agora (idānīm), (a definição de ātmā) é apropriada (aucityena) com relação ao (seu) estado (daśā) de aṇu --ser limitado-- (āṇava), (o qual) tem a ver principalmente (pradhāna) com sua (etadīya) manifestação (avabhāsa) em limitação ou contração (saṅkoca). Deste modo (iti), não há inconsistência ou incongruência (vaiṣamyam) entre a (definição) anterior (pūrva) (e) a posterior (apara)4 ||1||

1  Āṇavopāya é o meio que diz respeito ao aṇu ou Ser individual (isto é, um ser condicionado). Assim, começou a terceira Seção, que trata do meio ou método que usa o ponto de vista de um aṇu.Return 

2  Com a palavra "etc.", o autor indica as atividades do ego e da mente comum. Enquanto buddhi indaga sobre objetos dos sentidos, o ego se ocupa em tomar posse deles (por exemplo, esta coisa é minha). Manas (mente comum) não é nada mais que os vikalpa-s ou pensamentos associados com esses mesmos objetos. Os três formam o Antaḥkaraṇa ou órgão psíquico interno, segundo o sistema Trika. Portanto, citta aqui é "mente", mas no sentido de Antaḥkaraṇa, e não como mero manas. Essa é a diferença entre citta e manas. Entendeu? Muito bem!Return 

3  Em outras palavras, as modalidades de Sattva, Rajas e Tamas. Para mais informação, leia o meu estudo dessas três modalidades de Prakṛti.Return 

4  Com "I, 1", o autor indica o primeiro aforismo da primeira Seção da presente escritura, obviamente. E esse aforismo também é o mesmo primeiro aforismo dos veneráveis Śivasūtra-s. Lá, define-se claramente a natureza inata de "ātmā" como "Consciência que é onisciente e onipotente" (Caitanya). Contudo, nesta terceira Seção, o que está sendo descrito não é a sua "condição essencial", mas sim sua "āṇavadaśā" ou "estado de aṇu ou ser limitado". Sob essas circunstâncias, ātmā é o mesmo que citta (o conjunto de intelecto, ego e mente comum). Em outras palavras, com sua manifestação na limitação, o Ser Supremo, que é essencialmente nada mais que Consciência pura, identifica-se com citta. Não existem "dois" ātmā-s, um ilimitado e outro limitado! Então, não há inconsistência entre o que I, 1 e III, 1 declaram em relação a ātmā.Return 

Ao início


 Aforismo 2

अस्य चित्तस्वरूपस्याण्वात्मनः—


ज्ञानं बन्धः॥२॥


सुखदुःखमोहमयाध्यवसायादिवृत्तिरूपं तदुचितभेदावभासनात्मकं यज्ज्ञानं तद्बन्धः। तत्पाशितत्वादेव ह्ययं संसरति। तदुक्तं श्रीतन्त्रसद्भावे

सत्त्वस्थो राजसस्थश्च तमस्थो गुणवेदकः।
एवं पर्यटते देही स्थानात्स्थानान्तरं व्रजन्॥

इति। एतदेव

तन्मात्रोदयरूपेण मनोऽहम्बुद्धिवर्तिना।
पुर्यष्टकेन संरुद्धस्तदुत्थं प्रत्ययोद्भवम्॥
भुङ्क्ते परवशो भोगं तद्भावात्संसरेत्...।

इत्यनेनानूदितम्।

... अतः।
संसृतिप्रलयस्यास्य कारणं सम्प्रचक्ष्महे॥

इत्येतत्प्रतिविधानाय स्पन्दशास्त्रे॥२॥

Asya cittasvarūpasyāṇvātmanaḥ—


Jñānaṁ bandhaḥ||2||


Sukhaduḥkhamohamayādhyavasāyādivṛttirūpaṁ taducitabhedāvabhāsanātmakaṁ yajjñānaṁ tadbandhaḥ| Tatpāśitatvādeva hyayaṁ saṁsarati| Taduktaṁ śrītantrasadbhāve

Sattvastho rājasasthaśca tamastho guṇavedakaḥ|
Evaṁ paryaṭate dehī sthānātsthānāntaraṁ vrajan||

iti| Etadeva

Tanmātrodayarūpeṇa mano'hambuddhivartinā|
Puryaṣṭakena saṁruddhastadutthaṁ pratyayodbhavam||
Bhuṅkte paravaśo bhogaṁ tadbhāvātsaṁsaret...|

ityanenānūditam|

... ataḥ|
Saṁsṛtipralayasyāsya kāraṇaṁ sampracakṣmahe||

ityetatpratividhānāya spandaśāstre||2||


Desse (ātmā) (asya), que é (agora) (ātmanaḥ) um aṇu ou ser limitado (aṇu) cuja natureza (sva-rūpasya) é citta (citta)


O conhecimento (nascido da mente) (jñānam) (é) escravidão (bandhaḥ)||2||


(É) escravidão (bandhaḥ) esse (tad) conhecimento (jñānam) cuja natureza (rūpam) é modos (vṛtti) de indagação (adhyavasāya), etc. (ādi)1  cheios de (maya) prazer (sukha), dor (duḥkha) (e) ilusão ou engano (moha), (e) que --isto é, o conhecimento-- consiste na (ātmakam) manifestação (avabhāsana) de diferenças --dualidade-- (bheda) próprias (ucita) aos mesmos --isto é, aos modos anteriormente mencionados-- (tad)|

Já que (tal aṇu ou ser limitado) está atado (pāśitatvāt) por esse (conhecimento nascido da mente) (tad... eva), ele (ayam) transmigra (saṁsarati), realmente (hi)!|

Isso (tad) (também) é dito (uktam) no venerável Tantrasadbhāva (śrī-tantrasadbhāve):

"Permanecendo (sthaḥ) em Sattva (sattva), Rajas --lit. relativo a Rajas-- (rājasa) e (ca) Tamas (tama), (e) conhecendo (vedakaḥ) (apenas) por meio dos (seus) sentidos (guṇa), o encarnado (dehī) vaga (paryaṭate) desta maneira (evam), movendo-se (vrajan) de um lugar (sthānāt) a outro (antaram) lugar (sthāna... iti) --real e figurativamente--2 "||

Essa mesma (verdade) (etad eva) foi repetida (anūditam) por meio desta (citação) (anena):

"Completamente detido e bloqueado (saṁruddhaḥ) por Puryaṣṭaka (puryaṣṭakena), que brota (udaya-rūpeṇa) a partir dos (cinco) Tanmātra-s --isto é, elementos sutis-- (tanmātra) (e) reside (vartinā) na mente (manas), ego (aham) (e) intelecto (buddhi), o subserviente (ser limitado or paśu) (paravaśaḥ) experimenta (bhuṅkte) o surgimento ou geração (udbhavam) de ideias (pratyaya) derivadas (uttham) desse (Puryaṣṭaka) (tad), (junto com) o desfrute (do prazer e dor que provêm dessas mesmas ideias) (bhogam). Ele transmigra (saṁsaret) devido à continuação (bhāvāt) desse (Puryaṣṭaka) (tad... iti)..."|
(Ver Spandakārikā-s III, 17 e uma porção do 18)

Na escritura (śāstre) que versa sobre o Spanda (spanda) --ou seja, nas Spandakārikā-s--, para impedir (pratividhānāya) essa (transmigração ou Saṁsāra,) (etad) (o autor especifica:)

"... Por essa razão (atas), (procedemos a) explicar (sampracakṣmahe) a causa (kāraṇam) dessa (asya) dissolução (pralayasya) da transmigração (saṁsṛti)"||
(Ver Spandakārikā-s, porção restante do III, 18)

||2||

1  Indagação ou averiguação é a tarefa de buddhi oi intelecto. Com "etc.", o autor está mencionando tacitamente as atividades de "pensamento comum cheio de fantasias" e "envaidecimento", que são própriso de manas (mente comum) e ahaṅkāra (ego). Em suma, o sábio Kṣemarāja está falando sobre citta, ou seja, sobre o antaḥkaraṇa ou órgão psíquico interno.Return 

2  De uma cidade a outra cidade, de um estado mental state a outro estado mental, de um desejo a outro desejo, e assim sucessivamente. Tudo isso não leva a nenhum lugar!Return 

Ao início


 Aforismo 3

ननु च

ज्ञानं प्रकाशकं लोक आत्मा चैव प्रकाशकः।
अनयोरपृथग्भावाज्ज्ञाने ज्ञानी प्रकाशते॥

इति श्रीविज्ञानभैरवोक्तदृष्ट्या ज्ञानमपि प्रकाशमयमेवेति कथमस्य बन्धरूपत्वम्। सत्यमेतद्यदि परमेश्वरप्रसादादेवं प्रत्यभिज्ञायेत यदा तु तन्मायाशक्तितो नैवं विमर्शस्तदा—


कलादीनां तत्त्वानामविवेको माया॥३॥


किञ्चित्कर्तृतादिरूपकलादिक्षित्यन्तानां तत्त्वानां कञ्चुकपुर्यष्टकस्थूलदेहत्वेनावस्थितानां योऽयमविवेकः पृथक्त्वाभिमतानामेवापृथगात्मत्वेन प्रतिपत्तिः सा माया तत्त्वाख्यातिमयः प्रपञ्चः। तदुक्तं श्रीतन्त्रसद्भावे

कलोद्वलितचैतन्यो विद्यादर्शितगोचरः।
रागेण रञ्जितात्मासौ बुद्ध्यादिकरणैर्युतः॥
एवं मायात्मको बन्धः प्रोक्तस्तस्य दरात्मकः।
तदाश्रयगुणो धर्मोऽधर्मश्चैव समासतः॥
तत्रासौ संस्थितः पाश्यः पाशितस्तैस्तु तिष्ठति।

इति। स्पन्दे तु

अप्रबुद्धधियस्त्वेते स्वस्थितिस्थगनोद्यताः।

इत्यनेनैतद्भङ्ग्योक्तम्॥३॥

Nanu ca

Jñānaṁ prakāśakaṁ loka ātmā caiva prakāśakaḥ|
Anayorapṛthagbhāvājjñāne jñānī prakāśate||

iti śrīvijñānabhairavoktadṛṣṭyā jñānamapi prakāśamayameveti kathamasya bandharūpatvam| Satyametadyadi parameśvaraprasādādevaṁ pratyabhijñāyeta yadā tu tanmāyāśaktito naivaṁ vimarśastadā—


Kalādīnāṁ tattvānāmaviveko māyā||3||


Kiñcitkartṛtādirūpakalādikṣityantānāṁ tattvānāṁ kañcukapuryaṣṭakasthūladehatvenāvasthitānāṁ yo'yamavivekaḥ pṛthaktvābhimatānāmevāpṛthagātmatvena pratipattiḥ sā māyā tattvākhyātimayaḥ prapañcaḥ| Taduktaṁ śrītantrasadbhāve

Kalodvalitacaitanyo vidyādarśitagocaraḥ|
Rāgeṇa rañjitātmāsau buddhyādikaraṇairyutaḥ||
Evaṁ māyātmako bandhaḥ proktastasya darātmakaḥ|
Tadāśrayaguṇo dharmo'dharmaścaiva samāsataḥ||
Tatrāsau saṁsthitaḥ pāśyaḥ pāśitastaistu tiṣṭhati|

iti| Spande tu

Aprabuddhadhiyastvete svasthitisthaganodyatāḥ|

ityanenaitadbhaṅgyoktam||3||


Uma objeção (nanu ca)! Em vista do (dṛṣṭyā) que foi dito (ukta) no venerável Vijñānabhairava (śrī-vijñānabhairava):

"No mundo (loke), o conhecimento (jñānam) (é) dador de luz (prakāśakam) e (ca eva) ātmā (ātmā) (é) dador de luz (prakāśakaḥ). O conhecedor (jñānī) torna-se manifesto ou revelado (prakāśate) no conhecimento (jñāne), já que não há nenhuma (a... bhāvāt) diferença (pṛthak) entre esses dois (anayoḥ... iti) --entre conhecimento e conhecedor--1 "||

(assim,) inclusive (api) "o conhecimento (nascido da mente) (jñānam) está cheio (mayam eva) de luz (prakāśa... iti)", (então,) como (katham) ele --o conhecimento nascido da mente-- (pode ser) escravidão (asya bandharūpatvam)?2 |

Isso (etad) (é) verdadeiro (satyam) se (yadi), por meio do favor (prasādāt) do Senhor (īśvara) Supremo (parama), puder-se reconhecer (pratyabhijñāyeta) de tal maneira (evam) --ou seja, dar-se conta de que inclusive o conhecimento nascido da mente está cheio de luz--. No entanto (tu), quando (yadā), por meio da Sua māyāśakti (tad-māyāśaktitaḥ)3 , não há nenhum (na) "dar-se conta" (vimarśaḥ) como esse (evam), então (tadā)


A não discriminação (avivekaḥ) de princípios (tattvānām) (tais como) Kalā (kalā), etc. (ādīnām), (é) Māyā (māyā)||3||


Essa (ayam) não discriminação (avivekaḥ) dos tattva-s ou princípios (tattvānām) a partir de Kalā --tattva 7-- (kalā-ādi) até a terra --tattva 36-- (kṣiti-antānām) —cujas naturezas (rūpa) são limitada (kiñcid) eficácia (kartṛtā), etc. (ādi)— dispostos (avasthitānām) como Kañcuka-s, puryaṣṭaka (e) corpo físico (kañcuka-puryaṣṭaka-sthūladehatvena)4 , a qual --isto é, a não discriminação-- (yaḥ) (consiste em) perceber (pratipattiḥ) como idênticos (apṛthak-ātmatvena) esses (tattva-s) que são considerados (abhimatānām eva) como separados (pṛthaktva), (é) Māyā (sā māyā) (ou) uma manifestação --ou seja, o tattva 6-- (prapañcaḥ) cheia (mayaḥ) de ignorância primordial (akhyāti) sobre o Princípio Supremo (tattva)|

Isso (tad) foi dito (uktam) no venerável Tantrasadbhāva (śrī-tantrasadbhāve):

"Esse (ser limitado) (asau) tem a sua consciência (caitanyaḥ) coberta (udvalita) por Kalā (kalā), os objetos dos seus sentidos (gocaraḥ) são exibidos (darśita) por Vidyā (vidyā); ele está tingido --isto é, ele é (emocionalmente) afetado-- (rañjita-ātmā) por Rāga (rāgeṇa), (e) está dotado (yutaḥ) de órgãos (karaṇaiḥ) de percepção (buddhi), etc. (ādi). Dessa forma (evam), diz-se (proktaḥ) que a escravidão (bandhaḥ) máyica (māyā-ātmakaḥ) é dolorosa (dara-ātmakaḥ) para ele (tasya). Em uma palavra (samāsatas), os Guṇa-s --Rajas, Sattva e Tamas-- (guṇaḥ) dependem (āśraya) disso --de Māyā-- (tad), e também (ca eva) as atividades justas e injustas (dharmaḥ adharmaḥ) (dependem de Māyā). Permanecendo (saṁsthitaḥ) nessa (Māyā) (tatra), ele (asau) está em escravidão (pāśyaḥ), (e) continua (tiṣṭhati) atado (pāśitaḥ) por essas (coisas que foram mencionadas acima) (taiḥ), certamente (tu... iti)"|

Nas Spandakārikā-s (spande tu), esse (ensinamento) (etad) foi expresso (uktam) indiretamente (bhaṅgyā) por meio desta (primeira linha do aforismo) (anena):

"No entanto (tu), essas (mesmas emanações do Spanda) (ete), trabalhando diligentemente e incessantemente (udyatāḥ) para cobrir ou velar (sthagana) o seu --isto é, das pessoas que têm intelectos não despertos-- (sva) (verdadeiro) estado ou natureza (sthiti), faz com que as pessoas de intelecto não desperto caiam (aprabuddha-dhiyaḥ... iti)"|
(Ver Spandakārikā-s I, 20)

||3||

1  Outra possível tradução para prakāśaka é "que revela", ou, inclusive, "luz que revela". O conhecedor não é outro que o ātmā, cuja natureza é "luz", pois é o que lança luz e não é distinto da própria luz. Portanto, o conhecimento (luz) e o conhecedor (dador de luz) são sempre a mesma coisa.Return 

2  Para estudantes de Sânscrito: A frase "kathamasya bandharūpatvam" significa literalmente "Como (katham) desse --isto é, seu-- (asya) o estado de ter a natureza da escravidão (bandharūpatvam)?". Obviamente, não posso traduzir dessa maneira!Return 

3  Māyāśakti (lit. poder máyico) não é o mesmo que Māyātattva (ou Māyā, simplesmente), a sexta categoria no processo de manifestação universal tal como se ensina em Trika. Não, senhor! Māyāśakti é o Seu poder para produzir diferenças (dualidade) onde há eterna unidade. Portanto, o Seu favor or prasāda é simplesmente o Seu ato de remover a māyāśakti, o que revela a inerente unidade subjacente. Então, se alguém desfrutar do Seu favor, o conhecimento nacsido da mente nunca pode atá-lo, pois essa pessoa se dá conta de que mesmo esse miserável conhecimento também é luz. Então, liberdade e escravidão estão relacionadas com o Seu ato de remover ou não a māyāśakti. É simple assim!Return 

4  Kalā é o sétimo tattva (categoria ou princípio) na manifestação universal. A natureza de Kalā é limitada eficácia ou capacidade de ação. Com "etc.", o autor menciona tacitamente as naturezas do resto dos tattva-s (do 8 ao 36 --a terra--). Kañcuka-s são envoltórios de ignorância, enquanto puryaṣṭaka é o corpo sutil, composto de buddhi (intelecto), ahaṅkāra (ego), manas (mente comum) e os cinco Tanmātra-s (elements sutis, os tattva-s 27 a 31). Para mais informação sobre todas essas coisas e também para entender a próxima citação do Tantrasadbhāva, leia Trika 4, Trika 5 and Trika 6.Return 

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 Aforismo 4

अतश्चैतत्प्रशमाय—


शरीरे संहारः कलानाम्॥४॥


महाभूतात्मकं पुर्यष्टकरूपं समनान्तं यत्स्थूलं सुक्ष्मं परं शरीरं तत्र याः पृथिव्यादिशिवान्ततत्त्वरूपाः कला भागास्तासां संहारः स्वकारणे लयभावनया दाहादिचिन्तनयुक्त्या वा ध्यातव्य इति शेषः। यदुक्तं श्रीविज्ञानभैरवे

भुवनाध्वादिरूपेण चिन्तयेत्क्रमशोऽखिलम्।
स्थूलसूक्ष्मपरस्थित्या यावदन्ते मनोलयः॥

इति। तथा

कालाग्निना कालपदादुत्थितेन स्वकं पुरम्।
प्लुष्टं विचिन्तयेदन्ते शान्ताभासः प्रजायते॥

इति। एवमादि च सर्वागमेष्वस्ति। अत एव

उच्चारकरणध्यानवर्णस्थानप्रकल्पनैः।
यो भवेत्स समावेशः सम्यगाणव उच्यते॥

इति श्रीपूर्वशास्त्रे ध्यानाद्येवाणवत्वेनोक्तम्। एतच्च स्थूलत्वात्शाक्तोपायप्रकाशात्मनि स्पन्दशास्त्रे न सङ्गृहीतम्। यत्त्वत्र पर्यवसानभङ्ग्या शाक्ताद्यस्ति तदस्माभिरत्रापि स्पन्दग्रन्थात्संवादितं संवादयिष्यते च किञ्चित्॥४॥

Ataścaitatpraśamāya—


Śarīre saṁhāraḥ kalānām||4||


Mahābhūtātmakaṁ puryaṣṭakarūpaṁ samanāntaṁ yatsthūlaṁ sukṣmaṁ paraṁ śarīraṁ tatra yāḥ pṛthivyādiśivāntatattvarūpāḥ kalā bhāgāstāsāṁ saṁhāraḥ svakāraṇe layabhāvanayā dāhādicintanayuktyā vā dhyātavya iti śeṣaḥ| Yaduktaṁ śrīvijñānabhairave

Bhuvanādhvādirūpeṇa cintayetkramaśo'khilam|
Sthūlasūkṣmaparasthityā yāvadante manolayaḥ||

iti| Tathā

Kālāgninā kālapadādutthitena svakaṁ puram|
Pluṣṭaṁ vicintayedante śāntābhāsaḥ prajāyate||

iti| Evamādi ca sarvāgameṣvasti| Ata eva

Uccārakaraṇadhyānavarṇasthānaprakalpanaiḥ|
Yo bhavetsa samāveśaḥ samyagāṇava ucyate||

iti śrīpūrvaśāstre dhyānādyevāṇavatvenoktam| Etacca sthūlatvātśāktopāyaprakāśātmani spandaśāstre na saṅgṛhītam| Yattvatra paryavasānabhaṅgyā śāktādyasti tadasmābhiratrāpi spandagranthātsaṁvāditaṁ saṁvādayiṣyate ca kiñcit||4||


Portanto (atas ca), para pôr fim (praśamāya) a essa (escravidão) (etad)


A dissolução (saṁhāraḥ) das partes (kalānām) --dos tattva-s ou princípios da manifestação-- no corpo --físico, sutil e causal-- (śarīre) (deve ser realizada mediante Bhāvanā ou contemplação criativa)||4||


Śarīra --lit. corpo-- (śarīram) (significa aqui) o (corpo) bruto (sthūlam) que (yad) consiste (ātmakam) em grandes (mahā) elementos (bhūta) --isto é, tattva-s 32 a 36--, o (corpo) sutil (sukṣma) que (yad) é (rūpam) puryaṣṭaka (puryaṣṭaka) --isto é, intelecto, ego, mente comum e Tanmātra-s--, (e) o (corpo) mais alto --o causal-- (param), que (yad) termina (antam) em Samanā (samanā) --isto é, o corpo formado por energia vital e mente sutil até Samanā, sendo esta última a Śakti ou Poder do Senhor, que se manifesta como pensamento desde śūnya ou estado de vazio até o tattva 361 --. Nesse (śarīra ou corpo) (tatra), essas (yāḥ) kalā-s (kalāḥ) (ou) partes (bhāgāḥ) são (rūpāḥ) as tattva-s --princípios ou categorias-- (tattva) que começam com (ādi) a terra --tattva 36-- (pṛthivī) (e) terminam em (anta) Śiva (śiva). Deve-se meditar (dhyātavyaḥ) na dissolução (saṁhāraḥ) dessas (partes) (tāsām) em suas próprias causas (sva-kāraṇe), (seja) mediante Bhāvanā --contemplação criativa-- (bhāvanayā) do desaparecimento (de um tattva no precedente) (laya) ou (vā) por meio (yuktyā) de pensar (cintana) na combustão (dāha), etc. (ādi)2 . Isso deve ser acrescentado (ao aforismo para completar o sentido) (iti śeṣaḥ)|

Isso (yad) foi dito (uktam) no venerável Vijñānabhairava (śrī-vijñānabhairave):

"Deve-se pensar (cintayet) gradualmente --ou seja, pouco a pouco-- (kramaśas) sobre todo (o universo) (akhilam), que aparece como (rūpeṇa) Bhuvanādhvā (bhuvana-adhvā)3 , etc. (ādi), permanecendo (sthityā) em bruto, sutil e causal --ou seja, dissolvendo um no outro sucessivamente-- (sthūla-sūkṣma-para) até que (yāvat) (tenha lugar,) finalmente (ante), a dissolução (laya) da mente (manas... iti)"||

Da mesma forma (tathā):

"Deve-se imaginar (vicintayet) que o próprio (svakam) corpo (puram) foi queimado (pluṣṭam) por Kālāgni (kāla-agninā), que surge (utthitena) do dedão do pé direito (kālapadāt). No final (ante), a luz (ābhāsaḥ) de Śānta --lit. o Pacífico, isto é, Śiva-- (ante) emerge (prajāyate... iti)4 "||

Tal (descrição da dissolução) (evam-ādi ca) existe (asti) em todos os Āgama-s --as escrituras reveladas-- (sarva-āgameṣu)|

Por essa mesma razão (atas eva), no venerável Pūrvaśāstra --isto é, no Mālinīvijayatantra-- (śrī-pūrva-śāstre), diz-se (uktam) que dhyāna (dhyāna), etc. (ādi eva), são āṇava --pertencentes a Āṇavopāya-- (āṇavatvena):

"A completa (saḥ... samyak) absorção na própria natureza essencial (samāveśaḥ) que (yaḥ) ocorre (bhavet) por meio de Uccāra, Karaṇa, Dhyāna, Varṇa e Sthānakalpanā (uccāra-karaṇa-dhyāna-varṇa-sthānaprakalpanaiḥ) é conhecida como (ucyate) Āṇava (āṇavaḥ... iti)5 "||
(Ver II, 21 no Mālinīvijaya)

Essa (classe de métodos) --isto é, métodos de Āṇavopāya-- (etad ca), por ser bruta (sthūlatvāt), não foi sumarizada (na saṅgṛhītam) no Spandaśāstra --isto é, nas Spandakārikā-s-- (spanda-śāstre), o qual revela (prakāśa-ātmani) Śāktopāya (śāktopāya) --em suma, o Spandaśāstra trata do Śāktopāya--|

Não obstante (tu), tudo o que (yad) tange a Śāktopāya (śākta), etc. (ādi) pode ser encontrado (asti) aqui (atra) na forma de um meio concluinte (paryavasāna-bhaṅgyā), o qual (tad), mesmo (api) nesse (contexto) (atra), tornamos concordante (com Āṇavopāya) (asmābhiḥ... saṁvāditam) a partir do livro (granthāt) que trata do Spanda (spanda) --ou seja, por meio de citações extraídas do próprio Spandakārikā-s--, e (ca) será tornado concordante (saṁvādayiṣyate) (no futuro também, só) um pouco (kiñcid)||4||

1  Para mais informações sobre Samanā, leia as últimas três etapas de Meditação 6.Return 

2  Para realizar contemplação criativa (uma espécie de imaginação visual) da dissolução de cada tattva no anterior, deve-se primeiro ter pleno conhecimento do esquema táttvico conforme formulado pelo sistema Trika: Tabela táttvica. O método que utiliza combustão está descrito aqui na parte onde explico Dhyāna segundo Āṇavopāya.Return 

3  Leia o meu estudo sobre os Seis Cursos para compreender plenamente esse tópico.Return 

4  O termo "Śānta" também significa "Paz". Então, há uma mudança na tradução. Mas, é claro, o Senhor Supremo também é Paz. Adicionalmente, em algumas versões do Vijñānabhairava, a porção final varia de "prajāyate" (emerge) a "तदा भवेत्" - "tadā bhavet" (então, há). Portanto, a tradução muda de novo: "Então, há um lampejo de Paz ao final". Aqui está... você não vai querer ser tradutor depois disso tudo, haha. Brincadeiras à parte, às vezes posso refletir por cerca de uma hora sobre o mais exato/possível significado de um único termo. Alguns parágrafos estranhos podem levar horas, não por eu não entender o significado rapidamente (ler em Sânscrito é bastante fácil no meu caso... bem, ao menos geralmente, porque, às vezes, o texto é tão complicado que eu fico empacado por um tempo), mas sim porque eu quero ser o mais preciso/literal possível e, ao mesmo tempo, compreensível para o leitor. Dessa forma, não é só questão de meramente consultar um dicionário e, caramba!, a tradução exata surge magicamente. Verdade?

O primeiro e principal problema com isso é que cada termo pode conter uma pilha gigantesca de possíveis significados segundo diferentes contextos, e, em geral, você tem que escolher só um desses. Há outros significados que não podem ser encontrados em um dicionário "comum", e há a necessidade de consultar outras fontes (por exemplo, comentários em Sânscrito e coisas desse tipo). Em outras ocasiões, as traduções de passagens muito difíceis devem vir por meio de revelação divina, caso contrário o tradutor fica empacado e não consegue mais avançar. Ainda que repetidas saudações ao Senhor satisfaçam-No e o Misericordioso acabe finalmente dando a tradução, na maioria das vezes isso depende somente da Sua ahaitukī karuṇā ou compaixão sem causa. O que eu quis dizer é que, por pura compaixão, Ele traz os significados ocultos à luz desde as profundezas do Seu próprio Ser e ocorre uma revelação na mente do "aparente" tradutor. É a luz de Śānta, é um lampejo de Paz, como especificam as possíveis traduções da estrofe do Vijñānabhairav acima. No final, tudo é somente a Sua obra e destreza. Estas são Suas escrituras também. Por essa razão, à medida que traduz este idioma sagrado, a sua individualidade desaparece e só Ele permanece. Não é nenhuma surpresa, porque o divino Senhor é o Único aqui! O que se chama "você" não é "você", mas sim "Ele" sempre.Return 

5  Leia Meditação 4 e Meditação 5 para entender isso completamente. Mas também leia Meditação 1 como introdução ao longo tema.Return 

Ao início


 Aforismo 5

एवं ध्यानाख्यमाणवमुपायं प्रदर्श्य तदेकयोगक्षेमान् प्राणायामधारणाप्रत्याहारसमाधीन् प्रदर्शयति—


नाडीसंहारभूतजयभूतकैवल्यभूतपृथक्त्वानि॥५॥


योगिना भावनीयानीति शेषः। नाडीनां प्राणापानादिवाहिनीनां सुषीणां संहारः प्राणापानयुक्त्याकत्रोदानवह्न्यात्मनि मध्यनाड्यां विलीनतापादनम्। यदुक्तं श्रीमत्स्वच्छन्दे

अपसव्येन पूर्येत सव्येनैव विरेचयेत्।
नाडीसंशोधनं चैतन्मोक्षमार्गपथस्य च॥
रेचनात्पूरणाद्रोधात्प्राणायामस्त्रिधा स्मृतः।
सामान्या बहिरेते तु पुनश्चाभ्यन्तरे त्रयः॥
आभ्यन्तरेण रेच्येत पूर्येताभ्यन्तरेण तु।
निष्कम्पं कुम्भकं कृत्वा कार्याश्चाभ्यन्तरास्त्रयः॥

इति। भूतानां पृथिव्यादीनां जयो धारणाभिर्वशीकारः। यथोक्तं तत्रैव

वायवी धारणाङ्गुष्ठ आग्नेयी नाभिमध्यतः।
माहेयी कण्ठदेशे तु वारुणी घण्टिकाश्रया॥
आकाशधारणा मूर्ध्नि सर्वसिद्धिकरी स्मृता।

इति। भूतेभ्यः कैवल्यं चित्तस्य ततः प्रत्याहरणम्। यदुक्तं तत्रैव

नाभ्यां हृदयसञ्चारान्मनश्चेन्द्रियगोचरात्।
प्राणायामश्चतुर्थस्तु सुप्रशान्त इति श्रुतः॥

इति। हृदयान्नाभौ प्राणस्य विषयेभ्यो मनसश्च तत्रैव सञ्चारणादित्यर्थः। भूतेभ्यः पृथक्त्वं तदनुपरक्तस्वच्छस्वच्छन्दचिदात्मता। यदुक्तं तत्रैव

भित्त्वा क्रमेण सर्वाण्युन्मनान्तानि यानि च।
पूर्वोक्तलक्षणैर्देवि त्यक्त्वा स्वच्छन्दतां व्रजेत्॥

इति। भूतसन्धानभूतपृथक्त्वविश्वसङ्घट्टाः (१-२०) इति यत्पूर्वमुक्तं तच्छाम्भवोपायसमाविष्टस्यायत्नतो भवति। इदं त्वाणवोपायप्रयत्नसाध्यमिति विशेषः॥५॥

Evaṁ dhyānākhyamāṇavamupāyaṁ pradarśya tadekayogakṣemān prāṇāyāmadhāraṇāpratyāhārasamādhīn pradarśayati—


Nāḍīsaṁhārabhūtajayabhūtakaivalyabhūtapṛthaktvāni||5||


Yoginā bhāvanīyānīti śeṣaḥ| Nāḍīnāṁ prāṇāpānādivāhinīnāṁ suṣīṇāṁ saṁhāraḥ prāṇāpānayuktyāikatrodānavahnyātmani madhyanāḍyāṁ vilīnatāpādanam| Yaduktaṁ śrīmatsvacchande

Apasavyena pūryeta savyenaiva virecayet|
Nāḍīsaṁśodhanaṁ caitanmokṣamārgapathasya ca||
Recanātpūraṇādrodhātprāṇāyāmastridhā smṛtaḥ|
Sāmānyā bahirete tu punaścābhyantare trayaḥ||
Ābhyantareṇa recyeta pūryetābhyantareṇa tu|
Niṣkampaṁ kumbhakaṁ kṛtvā kāryāścābhyantarāstrayaḥ||

iti| Bhūtānāṁ pṛthivyādīnāṁ jayo dhāraṇābhirvaśīkāraḥ| Yathoktaṁ tatraiva

Vāyavī dhāraṇāṅguṣṭha āgneyī nābhimadhyataḥ|
Māheyī kaṇṭhadeśe tu vāruṇī ghaṇṭikāśrayā||
Ākāśadhāraṇā mūrdhni sarvasiddhikarī smṛtā|

iti| Bhūtebhyaḥ kaivalyaṁ cittasya tataḥ pratyāharaṇam| Yaduktaṁ tatraiva

Nābhyāṁ hṛdayasañcārānmanaścendriyagocarāt|
Prāṇāyāmaścaturthastu supraśānta iti śrutaḥ||

iti| Hṛdayānnābhau prāṇasya viṣayebhyo manasaśca tatraiva sañcāraṇādityarthaḥ| Bhūtebhyaḥ pṛthaktvaṁ tadanuparaktasvacchasvacchandacidātmatā| Yaduktaṁ tatraiva

Bhittvā krameṇa sarvāṇyunmanāntāni yāni ca|
Pūrvoktalakṣaṇairdevi tyaktvā svacchandatāṁ vrajet||

iti| Bhūtasandhānabhūtapṛthaktvaviśvasaṅghaṭṭāḥ (1-20) iti yatpūrvamuktaṁ tacchāmbhavopāyasamāviṣṭasyāyatnato bhavati| Idaṁ tvāṇavopāyaprayatnasādhyamiti viśeṣaḥ||5||


Dessa maneira (evam), após descrever (pradarśya) o método āṇava --que tange ao Āṇavopāya-- (āṇavam upāyam) chamado (ākhyam) dhyāna (dhyāna), (Śiva agora) descreve (pradarśayati) prāṇāyāma, dhāraṇā, pratyāhāra e samādhi (prāṇāyāma-dhāraṇā-pratyāhāra-samādhīn)1 , os quais são (úteis) para a aquisição e preservação (yogakṣemān) desse (dhyāna) (tad), unicamente (eka)


(O Yogī deve produzir) a dissolução (da energia vital) (saṁhāra) nos canais sutis (nāḍī), a conquista (jaya) dos elementos brutos (bhūta), o afastamento (de sua mente) (kaivalya) dos elementos brutos (bhūta) (e) a separação --pṛthaktva-- (pṛthaktvāni) dos elementos brutos (bhūta) (também por meio de Bhāvanā ou contemplação criativa)||5||


"(Esses métodos) devem ser efetuados ou realizados por meio de Bhāvanā --contemplação criativa-- (bhāvanīyāni) pelo Yogī (yoginā)", isso deve ser adicionado (ao aforismo para completar o sentido) (iti śeṣaḥ)|

O saṁhāra (da energia vital) (saṁhāraḥ) que flui nos sutis canais (nāḍīnām) (ou) tubos --suṣi-- (suṣīṇām) que transportam (vāhinīnām) prāṇa (prāṇa), apāna (apāna), etc. (ādi), (consiste em) produzir ou efetuar (āpādanam) a dissolução (dessa energia vital) (vilīnatā) em um lugar (ekatra), (isto é,) no canal sutil médio (madhya-nāḍyām)(em Suṣumnā), cuja natureza (ātmani) (é) o fogo (vahni) de udāna (udāna)—, por meio do mecanismo (yuktyā) de prāṇa e apāna (prāṇa-apāna)2 |

Isso (yad) é estabelecido (uktam) no venerável Svacchandatantra (śrīmat-svacchande):

"Deve-se inspirar (pūryeta) pela (narina) esquerda (apasavyena) (e) expirar (virecayet) pela (narina) direita (savyena eva)3 . Isso (etad) (é) completa purificação (saṁśodhanam) dos canais sutis (nāḍī) e (ca.. ca) do caminho (mārga-pathasya) até a Libertação (mokṣa) --isto é, da Suṣumnā--. A partir do(s) ato(s) de expirar (recanāt), inspirar (pūraṇāt) (e) parar --ou seja, prender-- (rodhāt) (a respiração,) diz-se que (smṛtaḥ) prāṇāyāma (prāṇa-āyāmaḥ) (é) triplo (tridhā). Esses (três prāṇāyāma-s) (ete) (são) certamente (tu) comuns (sāmānyāḥ) (e) externos --porque a respiração é prendida fora do corpo, e não dentro, após expirar-- (bahis). No entanto (punar ca), (existem) três (trayaḥ) que são internos --porque a respiração é prendida dentro do corpo, e não fora, após inspirar-- (ābhyantare). Os três (trayaḥ) (prāṇāyāma-s) internos (ābhyantarāḥ) devem ser realizados (kāryāḥ ca) (desta forma:) Por meio do (prāṇāyāma) interno (ābhyantareṇa), deve-se expirar (recyeta), (e,) por meio do interno (ābhyantareṇa), deve-se inspirar (pūryeta), certamente (tu). (Por último, por meio do interno), realiza-se --lit. tendo realizado-- (kṛtvā) (o ato de) prender a respiração (kumbhakam... iti) sem tremor (niṣkampam)"||
(Ver estrofes 294-297 no 7o paṭala do Svacchandatantra)

A conquista (jayaḥ) dos elementos brutos (bhūtānām) (tais como) terra, etc. (pṛthivī-ādīnām) (é) a supremacia ou domínio (sobre eles) (vaśīkāraḥ) por meio de concentrações ou dhāraṇā-s (dhāraṇābhiḥ)4 |

Como foi dito (yathā uktam) nesse mesmo (Svacchandatantra) (tatra eva):

"Concentração (dhāraṇā) relativa ao ar (vāyavī), no dedão (aṅguṣṭhe); relativa ao fogo (āgreyī), no meio (madhyatas) do umbigo (nābhi); relativa à terra (māheyī), na região (deśe) da garganta; (kaṇṭha... tu), relativa à água (vāruṇī), com seu assento --isto é, assento ou foco da concentração-- (āśrayā) na úvula --campainha-- (ghaṇṭikā); (e, finalmente,) concentração (dhāraṇā) no éter ou espaço (ākāśa) na parte superior da cabeça (mūrdhni). Diz-se que (essa série de concentrações) (smṛtā) produz (karī) todos (sarva) os poderes sobrenaturais (siddhi... iti)5 "|
(Ver estrofes 299-300 no 7o paṭala do Svacchandatantra)

O retiro (kaivalyam) da mente (cittasya) em relação aos elementos brutos (bhūtebhyaḥ) (é, ) portanto (tatas), pratyāhāra (pratyāharaṇam)|

Isso (yad) é declarado (uktam) nesse mesmo (Svacchandatantra) (tatra eva):

"(Restringindo e retendo muito gradualmente a energia vital no umbigo), transferindo(-a) (sañcārāt) do coração (hṛdaya) até o umbigo (nābhyām), e também (ca) (restringindo e retendo) a mente (manas) (no umbigo por meio do mecanismo de retirá-la) dos sentidos e dos objetos dos sentidos (, trazendo-a para o umbigo) (indriya-gocarāt), (ocorre) certamente (tu) o quarto (caturthaḥ) prāṇāyāma (prāṇāyāmaḥ), (conhecido como) o muito tranquilo ou calmo (supraśāntaḥ). Isso é o que foi ensinado (iti śrutaḥ... iti)6 "||
(Ver estrofe 297 no 7o paṭala do Svacchandatantra)

Por meio da transferência (sañcāraṇāt) da energia vital (prāṇasya) do coração (hṛdayāt) até o umbigo (nābhau), e também (ca) (por meio da transferência) da mente (manasaḥ) até ele --isto é, até o umbigo-- (tatra eva) a partir dos objetos dos sentidos (viṣayebhyaḥ) (por meio de pratyāhāra, ou seja, o mecanismo de retiro). Esse é o significado (iti arthaḥ)|

Separação (pṛthaktva) em relação aos elementos brutos (bhūtebhyaḥ) (é assumir) a natureza (ātmatā) da pura (svaccha) (e) independente (svacchanda) Consciência --isto é, Śiva-- (cit), a qual não é afetada (anuparakta) por eles --isto é, pelos elementos brutos-- (tad)|

Isso (yad) é dito (uktam) nesse mesmo (Svacchandatantra) (tatra eva):

"Ó, deusa (devi), após perfurar gradualmente (bhittvā krameṇa) todos (os granthi-s ou nós --coração, garganta, etc.--) (sarvāṇi) que (yāni ca) terminam (antāni) em Unmanā (unmanā), pelas experiências --que atuam como um meio-- (lakṣaṇaiḥ) previamente mencionadas (pūrva-ukta) (no sexto paṭala ou capítulo do Svacchandatantra); abandonando (tyaktvā) (tudo isso, o Yogī) alcança (vrajet) (Supreme) Liberdade (svacchandatām... iti)7 "|
(Ver estrofe 327 no 7o paṭala do Svacchandatantra)

O (tad) que (yad) foi dito anteriormente (pūrvam uktam) em I, 20 (da presente escritura) (1-20), (a saber,) "(Os outros poderes sobrenaturais do Yogī iluminado são: o poder de) unir (sandhāna) entidades existentes (bhūta); (o poder de) separá-las (pṛthaktva) todas --isto é, as entidades existentes-- (bhūta) (e o poder de) juntar --saṅghaṭṭa-- (saṅghaṭṭāḥ) tudo (viśva... iti) (que foi separado por espaço e tempo)", acontece (bhavati) sem esforço (ayatnatas) para quem tenha ingressado (samāviṣtasya) em Śāmbhavopāya --o meio que tange a Śiva-- (śāmbhava-upāya)|

Mas (tu) isso --isto é, o que é descrito em I, 20-- (idam) deve ser cumprido e alcançado (sādhyam) com esforço (prayatna) em Āṇavopāya --o meio que tange ao ser limitado-- (āṇava-upāya). Essa é a diferença (iti viśeṣaḥ)||5||

1  Esses termos devem ser compreendidos practicamente da mesma forma como foram definidos pelo sábio Patañjali em seus Yogasūtra-s II, 49 (prāṇāyāma) - III, 1 (dhāraṇā) - II, 54 (pratyāhāra) - III, 3 (samādhi), respectivamente. Para obter todas as informações de que precisa, leia esses aforismos na página contendo todos os sūtra-s originais, ou seja, Pātañjalayogasūtra-s, e também na que explica Aṣṭāṅgayoga.Return 

2  Esse longo tópico foi tratado quando expliquei Uccāra em Meditação 4. O mecanismo de prāṇa (a energia vital que sai com a expiração) e apāna (a energia vital que entra com a inspiração) é simplesmente uma interrupção respiratória que força a energia vital interna a proceder até Suṣumnā (o canal médio ou central). Falei sobre Suṣumnā em Meditação 6 também. Quando prāṇa e apāna se estabilizam no canal médio, isso é samāna. Finalmente, esse samāna se dissolve em udāna, logo o último é chamado de "fogo" em sentido figurado. Bem, leia essas páginas, por favor, para que eu não tenha que escrever uma nota interminável aqui, hehe.Return 

3  Apesar de "savya" e "apasavya" significarem literalmente "esquerda" e "direita" respectivamente, interpretei "savyena" e "apasvyena" tal como Kṣemarāja indica em seu comentário sobre o Svacchandatantra, isto é, como os indeclináveis "à direita" e "à esquerda". Ele inicia o seu comentário sobre VII, 294 em Svacchandatantra da seguinte forma: "सव्येन दक्षनासापथेन रेचयेद्रेचकं कुर्यादपसव्येन वामेन पूर्येत वायुपूरणं कुर्यादित्यर्थः" - "Savyena dakṣanāsāpathena recayedrecakaṁ kuryādapasavyena vāmena pūryeta vāyupūraṇaṁ kuryādityarthaḥ" - "Ele deveria expirar —(ou seja,) ele deveria realizar o ato de expiração— por meio de savya —(ou seja,) por meio da fossa nasal da direita—; (e) deveria inspirar —(ou seja,) encher-se de ar— por meio de apasavya —(isto é,) por meio da (fossa nasal) esquerda—. Esse é o significado". Então, agora está claro, não é?

Além disso, como vi sérias inconsistências entre as estrofes citadas aqui e as originais do Svacchandatantra (possivelmente alguns erros de digitação no processo de transcrição), tomei a decisão de importar diretamente essas estrofes originais, a partir do venerável Svacchandatantra, no texto da Śivasūtravimarśinī, de modo a corrigir todos os erros. Estou louco? Sim, pelo menos temporariamente! Essas traduções, estudos e explicações podem facilmente enlouquecer uma pessoa, com certeza, não apenas porque são extremamente difíceis de realizar e o meu intelecto está sempre a 100% por horas, mas também porque o texto contém, além dos ensinamentos, poderes esmagadores emanando dos próprios símbolos. Não consigo descrever a experiência em palavras. É como estar na presença de algo extremamente curativo e radioativo ao mesmo tempo. As pessoas que dizem constantemente que estão em busca de Deus (o Senhor absoluto de todo o universo), confie em mim, a maioria delas não sabe o que está dizendo. Se um ser limitado, como tal (isto é, sem a Sua graça, sem nenhuma preparação/treinamento especial, etc.), encontrar o Senhor e Seu Poder, seu corpo físico não sobreviverá à experiência. O impacto da experiência é tão bendito que destrói a sua individualidade até as raízes! Todos esses textos que estou traduzindo foram escritos por Ele Próprio e comentados por grandes sábios. Portanto, estão cheios do Seu Poder e divinos mistérios. Então, quando alguém se aproxima deles, deveria ser muito cuidadoso e respeitoso.Return 

4  O termo "dhāraṇā" (concentração) deve ser interpretado aqui tal como o sábio Patañjali o definiu em seus Yogasūtra-s (III, 1).Return 

5  Kṣemarāja comenta extensivamente sobre essas duas estrofes do Svacchandatantra, dando o método exato para praticá-los. De qualquer forma, aconselha-se ao leitor que não estude isso, senão obterá todos os poderes sobrenaturais no processo! Meu Deus, você não vai querer conseguir todos esses superpoderes, eu te asseguro. Como declara o eminente sábio Patañjali em seus célebres Yogasūtra-s (III, 37):

"ते समाधावुपसर्गा व्युत्थाने सिद्धयः" - "Te samādhāvupasargā vyutthāne siddhayaḥ" - "Esses (poderes sobre-humanos) são obstáculos ou estorvos no Samādhi, (mas) conquistas em Vyutthāna --isto é, o estado comum de consciência no qual a mente flutua--".

Então, embora esses poderes sobrenaturais sejam verdadeiras conquistas para alguém cuja meta é permanecer no estado de consciência no qual a mente funciona o tempo inteiro, são como uma maldição para alguém que queira permanecer em Perfeita Concentração (Samādhi) e finalmente alcançar Liberação.

OK, de volta ao tema. O primeiro parágrafo do comentário de Kṣemarāja sobre estas duas estrofes do Svacchandatantra tornarão ao minha própria tradução muito mais compreensível, eu acho:

"पाददेशे तिर्यग्गतेः नाभौ जाठराग्नेः कण्ठे स्थितिपदे धरण्या घण्टिकायां रसस्य ब्रह्मरन्ध्रे च व्योम्नः सद्भावात्तथैव धारणा उक्ताः।" - "Pādadeśe tiryaggateḥ nābhau jāṭharāgneḥ kaṇṭhe sthitipade dharaṇyā ghaṇṭikāyāṁ rasasya brahmarandhre ca vyomnaḥ sadbhāvāttathaiva dhāraṇā uktāḥ|" - "As concentrações são descritas (como segue:) (Concentração) naquele que se move horizontalmente --um epíteto para o ar--, na região do pé; no fogo abdominal, na (região do) umbigo; na terra —cujo estado é permanecer firmemente—, na (região da) garganta; na água, na (região da) úvula; e, da mesma maneira, no éter ou espaço —que é o (próprio) Ser verdadeiro—, em Brahmarandhra --isto é, no furo central do Sahasrāracakra, na parte superior da cabeça--".

Muito bem, agora está claro, não é? Se você esperava outra tradução palavra-por-palavra nesta nota, você é mais louco que eu, haha. Não se preocupe, a tradução está correta. Só confie em mim, então. De qualquer modo, você pode checá-la com a ajuda de um dicionário, se o seu conhecimento de Sânscrito for suficiente para fazê-lo. Traduções palavra-por-palavra são muito boas, mas também consomem muito tempo. É por isso que não estou incluindo-as nas notas explicativas.

Evidentemente, ar, fogo abdominal, terra, água e éter/espaço são os conhecidos Mahābhūta-s (lit. grandes elementos, a saber, os elementos brutos); em suma, os tattva-s ou categorias 32 a 36 no esquema de manifestação universal segundo o sistema Trika.Return 

6  Bem, para compreender por que traduzi essa estrofe do Svacchandatantra dessa forma, você precisará ler "todo" o comentário de Kṣemarāja sobre tal estrofe. O tópico é muito complexo, mas as palavras dele dissiparão todas as dúvidas. A propósito, o comentário inteiro que Kṣemarāja compôs sobre o Svacchandatantra é conhecido como Svacchandoddyota. Esse comentário contém 15 paṭala-s ou capítulos, e os eruditos sabem que Kṣemarāja foi o autor desde o próprio início, quando o sábio escreveu, no quinto verso de sua introdução ao livro: "क्षेमराजो विवृणुते श्रीस्वच्छन्दनयं मनाक्॥५॥" - "Kṣemarājo vivṛṇute śrīsvacchandanayaṁ manāk||5||" - "Kṣemarāja explica levemente a doutrina do venerável Svacchandatantra". Sim, apesar de a palavra manāk (levemente, um pouco, de forma superficial) parecer uma espécie de piada, ele tem razão, se comparado a outros grandes eruditos sânscritos e sábios, mas não em relação ao resto de nós, obviamente. De qualquer forma, ao ver a profundidade e espiritualidade dos ensinamentos dados no venerável Svacchandatantra, sim, o sábio foi bastante conciso (cerca de 2000 páginas, não estou brincando). É claro, para uma mente ocidental acostumada a ler sempre resumos, esse comentário parecerá muito volumoso, mas isso é só uma aparência... vamos tratar de ser otimistas, por favor, hehe. Sinto, Senhor, mas preciso ser um pouco sarcástico aqui e fazer algumas brincadeiras, ou morrerei enquanto contemplo o conciso Svacchandoddyota aqui mesmo na minha frente, agora. Sim, tenho a obra diante de mim agora mesmo, amigo(a). A quantidade de ensinamentos e sabedoria contidos neste livro é simplesmente avassaladora. Nenhum ser humano poderia "compreender" plenamente esse livro, nem mesmo em uma vida inteira, mas com o Seu divino favor tudo é possível, sabe.

Agora, voltemos ao tema do "breve" comentário do sábio sobre VII, 297 (capítulo 7, estrofe 297). Lembre-se de que as estrofes anteriores (desde a 294a) do Svacchandatantra já foram traduzidas acima [ver "Deve-se inspirar (pūryeta) pela (narina) esquerda (apasavyena) (e) expirar (virecayet) pela (narina) direita... (Por último, por meio do interno), realiza-se --lit. tendo realizado-- (kṛtvā) (o ato de) prender a respiração (kumbhakam... iti) sem tremor (niṣkampam)"]. Assim, a técnica comentada por Kṣemarāja começa a partir desse ato de prender a respiração sem tremor. Verifique a estrofe VII, 297 acima para entender o significado deste comentário:

"निष्कम्पकुम्भकानन्तरं हृदयसञ्चारादिति शनैः शनैर्हृदयादधःसञ्चारयुक्त्या प्राणं नाभ्यामेव नियम्येत्यर्थात्तथा मन इन्द्रियगोचरादिति तत्प्रत्याहारयुक्त्या नाभ्यामेव मनो नियम्य मनोनियमपूर्वकं प्राणं नाभौ नियच्छतः सुप्रशान्तः प्राणायामो भवति॥२९७॥" - "Niṣkampakumbhakānantaraṁ hṛdayasañcārāditi śanaiḥ śanairhṛdayādadhaḥsañcārayuktyā prāṇaṁ nābhyāmeva niyamyetyarthāttathā mana indriyagocarāditi tatpratyāhārayuktyā nābhyāmeva mano niyamya manoniyamapūrvakaṁ prāṇaṁ nābhau niyacchataḥ supraśāntaḥ prāṇāyāmo bhavati||297||" - "(Este prāṇāyāma vem) imediatamente depois desse (ato de) prender a respiração sem tremor. (Na estrofe,) 'hṛdayasañcārāt' significa, na verdade, 'Restringindo e retendo muito gradualmente a energia vital no umbigo por meio do mecanismo de transferência --isto é, transferindo a energia vital-- do coração para baixo --isto é, até o umbigo--'. Da mesma forma, 'mana indriyagocarāt' (significa) restringindo e retendo a mente no umbigo por meio do mecanismo de retirá-(la) deles --isto é, dos sentidos e objetos dos sentidos--, (levando-a em direção ao umbigo). Restringindo e retendo a energia vital no umbigo, e ao mesmo tempo restringindo e retendo a mente (ali também), ocorre o prāṇāyāma (chamado de) supraśānta --muito tranquilo ou calmo--||297||"

É o quarto prāṇāyāma porque vem depois dos três internos anteriores: expiração, inspiração e ato de prender a respiração. Agora você entende por que eu traduzi a estrofe acima dessa forma.Return 

7  A palavra "lakṣaṇa" significa "marca, atributo, característica, etc.". Então, "lakṣaṇaiḥ" significaria "pelas marcas, atributos, características, etc.". De qualquer forma, o sábio Kṣemarāja explica o significado de "lakṣaṇaiḥ", em seu comentário sobre essa estrofe do Svacchandatantra, desta forma:

"लक्षणैरिति प्रणवाधिकारोक्तैरनुभवैर्युज्यत इति शेषः" - "Lakṣaṇairiti praṇavādhikāroktairanubhavairyujyata iti śeṣaḥ" - "(A palavra) 'lakṣaṇaiḥ' (na estrofe) significa que 'ele está dotado das experiências mencionadas no Praṇavādhikāra --isto é, o sexto capítulo do Svacchandatantra, também denominado Pañcapraṇavādhikāra--'. Isso deve ser adicionado (à estrofe para completar o sentido)"

Assim, o significado é que o Yogī é capaz de perfurar todos os granthi-s (nós), etc., até Unmanā, ao estar dotado das experiências de diversos estados associados com cada etapa. Essas experiências são mencionadas nesse capítulo do Svacchandatantra e atuam como um meio para que ele alcance o Supremo Espírito. Escrevi um estudo sobre "O caminho de Praṇava" em Meditação 6.Return 

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 Aforismo 6

एवं देहशुद्धिभूतशुद्धिप्राणायामप्रत्याहारधारणाध्यानसमाधिभिर्या तत्तत्तत्त्वरूपा सिद्धिर्भवति सा मोहावरणान्न तु तत्त्वज्ञानादित्याह—


मोहावरणात्सिद्धिः॥६॥


मोहयतीति मोहो माया तत्कृतादावरणात्प्रोक्तधारणादिक्रमसमासादिता तत्तत्तत्त्वभोगरूपा सिद्धिर्भवति। न तु परतत्त्वप्रकाशः। यदुक्तं श्रीमल्लक्ष्मीकौलार्णवे

स्वयम्भूर्भगवान्देवो जन्मसंस्कारवर्जितः।
निर्विकल्पं परं धाम अनादिनिधनं शिवम्॥
प्रत्यक्षं सर्वजन्तूनां न च पश्यति मोहितः।

इति। विगलितमोहस्य तु

मध्यमं प्राणमाश्रित्य प्राणापानपथान्तरम्।
आलम्ब्य ज्ञानशक्तिं च तत्स्थं चैवासनं लभेत्॥
प्राणादिस्थूलभावं तु त्यक्त्वा सूक्ष्ममथान्तरम्।
सूक्ष्मातीतं तु परमं स्पन्दनं लभ्यते यतः॥
प्राणायामः स निर्दिष्तो यस्मान्न च्यवते पुनः।
शब्दादिगुणवृत्तिर्या चेतसा ह्यनुभूयते॥
त्यक्त्वा तां परमं धाम प्रविशेत्तत्स्वचेतसा।
प्रत्याहार इति प्रोक्तो भवपाशनिकृन्तनः॥
धीगुणान्समतिक्रम्य निर्ध्येयं परमं विभुम्।
ध्यात्वा ध्येयं स्वसंवेद्यं ध्यानं तच्च विदुर्बुधाः॥
धारणा परमात्मत्वं धार्यते येन सर्वदा।
धारणा सा विनिर्दिष्टा भवपाशनिवारिणी॥
स्वपरस्थेषु भूतेषु जगत्यस्मिन्समानधीः।
शिवोऽहमद्वितीयोऽहं समाधिः स परः स्मृतः॥

इति श्रीमन्मृत्युजिद्भट्टारकनिरूपितनीत्या धारणादिभिरपि परतत्त्वसमावेश एव भवति न तु मितसिद्धिः॥६॥

Evaṁ dehaśuddhibhūtaśuddhiprāṇāyāmapratyāhāradhāraṇādhyānasamādhibhiryā tattattattvarūpā siddhirbhavati sā mohāvaraṇānna tu tattvajñānādityāha—


Mohāvaraṇātsiddhiḥ||6||


Mohayatīti moho māyā tatkṛtādāvaraṇātproktadhāraṇādikramasamāsāditā tattattattvabhogarūpā siddhirbhavati| Na tu paratattvaprakāśaḥ| Yaduktaṁ śrīmallakṣmīkaulārṇave

Svayambhūrbhagavāndevo janmasaṁskāravarjitaḥ|
Nirvikalpaṁ paraṁ dhāma anādinidhanaṁ śivam||
Pratyakṣaṁ sarvajantūnāṁ na ca paśyati mohitaḥ|

iti| Vigalitamohasya tu

Madhyamaṁ prāṇamāśritya prāṇāpānapathāntaram|
Ālambya jñānaśaktiṁ ca tatsthaṁ caivāsanaṁ labhet||
Prāṇādisthūlabhāvaṁ tu tyaktvā sūkṣmamathāntaram|
Sūkṣmātītaṁ tu paramaṁ spandanaṁ labhyate yataḥ||
Prāṇāyāmaḥ sa nirdiṣto yasmānna cyavate punaḥ|
Śabdādiguṇavṛttiryā cetasā hyanubhūyate||
Tyaktvā tāṁ paramaṁ dhāma praviśettatsvacetasā|
Pratyāhāra iti prokto bhavapāśanikṛntanaḥ||
Dhīguṇānsamatikramya nirdhyeyaṁ paramaṁ vibhum|
Dhyātvā dhyeyaṁ svasaṁvedyaṁ dhyānaṁ tacca vidurbudhāḥ||
Dhāraṇā paramātmatvaṁ dhāryate yena sarvadā|
Dhāraṇā sā vinirdiṣṭā bhavapāśanivāriṇī||
Svaparastheṣu bhūteṣu jagatyasminsamānadhīḥ|
Śivo'hamadvitīyo'haṁ samādhiḥ sa paraḥ smṛtaḥ||

iti śrīmanmṛtyujidbhaṭṭārakanirūpitanītyā dhāraṇādibhirapi paratattvasamāveśa eva bhavati na tu mitasiddhiḥ||6||


Desta maneira (evam), o poder sobrenatural (siddhiḥ sā) —constituído (rūpā) por diversas (tad-tad) realidades (manifestadas pelo Ser Supremo) (tattva)— que (yā) (se produz) por meio de purificação do corpo, purificação dos elementos brutos, Prāṇāyāma, Pratyāhāra, Dhāraṇā, Dhyāna e Samādhi (dehaśuddhi-bhūtaśuddhi-prāṇāyāma-pratyāhāra-dhāraṇā-dhyāna-samādhibhiḥ), ocorre (bhavati) por causa de um véu (āvaraṇāt) (lançado por) Moha --isto é, Māyā-- (moha), e não (na tu) por causa do conhecimento (jñānāt) do (Mais Alto) Princípio --o qual não é um mero tattva ou realidade manifestada, mas sim o próprio e verdadeiro Ser-- (tattva). (O autor dos Śivasūtra-s, ou seja, Śiva,) disse assim (iti āha)


O poder sobrenatural (siddhiḥ) (ocorre) por causa de um véu (āvaraṇāt) (lançado por) Māyā ou Ignorância (moha)||6||


Moha (mohaḥ) é o que engana (mohayati iti), (isto é,) Māyā --ignorância-- (māyā). Por causa de um véu (āvaraṇāt) lançado (kṛtāt) por esse (Moha) (tad), ocorre (bhavati) o poder sobrenatural (siddhiḥ) obtido (samāsāditā) por meio da anteriormente mencionada (prokta) sucessão (krama) de dhāraṇā (dhāraṇā), etc. (ādi), o qual --referindo-se ao poder sobrenatural-- aparece na forma (rūpā) de desfrute (bhoga) de diversas (tad-tad) realidades (tattva)|

Contudo (tu), (esse poder sobrenatural) não (na) (denota) a manifestação (prakāśaḥ) do Mais Alto (para) Princípio (tattva)|

Isso (yad) é declarado (uktam) no venerável Lakṣmīkaulārṇava (śrīmat-lakṣmīkaulārṇave):

"Deus (devaḥ), o divino Senhor (bhagavān) que é auto-existente (svayambhūḥ) (e) não possui (varjitaḥ) impressões residuais (saṁskāra) de nascimentos (anteriores) (janma) --isto é, Deus não está sob a lei do Karma (causa e efeito)--, ao estar enganado (por Sua própria Māyāśakti) (mohitaḥ), não (na ca)(paśyati) Śiva (śivam), o qual não possui pensamentos (nirvikalpam), é a suprema (param) Morada (dhāma), é sem começo e sem final (an-ādi-nidhanam) (e) está presente diante dos próprios olhos (pratyakṣam) de todos os seres (sarva-jantūnām... iti)1 "|

Não obstante (tu), para aquele cuja ilusão (mohasya) se dissolveu (vigalita):

"Recorrendo (āśritya) à energia vital (prāṇam) que está no meio (madhyamam) --a saber, udāna--, entre (antaram) as passagens (patha) de prāṇa e apāna (ādi), e (ca) (posteriormente) recorrendo (ālambya) ao Poder do Conhecimento (jñāna-śaktim); e (ca eva) tendo-se estabelecido (stham) nesse (Poder do Conhecimento) (tad), (o Yogī) deveria tomar (labhet) assento (āsanam) (ali)2 .

Porque (yatas) o Supremo (paramam) Spanda ou Vibração --Śakti-- (spandanam) que está além (atītam tu) do (prāṇāyāma) sutil (sūkṣma) é obtido (labhyate) depois de abandonar (tyaktvā) o estado (bhāvam tu) bruto (sthūla) da energia vital (prāṇa), etc. (ādi) --ou seja, o prāṇāyāma bruto composto de expiração, inspiração e ato de parar a respiração-- e logo então (atha) o (prāṇāyāma) sutil (sūkṣmam), que é interno --isto é, marcado por udāna ascendendo dentro da Suṣumnā-- (āntaram), esse (tad) Prāṇāyāma --isto é, o Supremo Spanda ou Vibração-- (prāṇāyāmaḥ) a partir do qual (yasmāt) (o Yogī) não (na) cai (cyavate) novamente (punar) é prescrito como (o mais excelente) (nirdiṣṭaḥ)3 .

Já que (hi) essa (yā) condição (vṛttiḥ) de som como tal (śabda), etc. (ādi) --isto é, os cinco Tanmātra-s ou elementos sutis, tattva-s 27 a 31-- (produzida) pelas modalidades de Prakṛti --tattva 13-- (guṇa) é experimentada (anubhūyate) pela mente (cetasā), abandonando-a --isto é, abandonando essa condição-- (tyaktvā tām), (o Yogī) entra (praviśet) nessa (tad) Suprema (paramam) Morada ou Estado (dhāma), apoderando-se mentalmente da Consciência que está desprovida de pensamentos (sva-cetasā)4 . Diz-se que isso é Pratyāhāra --retiro-- (pratyāhāraḥ iti proktaḥ), que corta (nikṛntanaḥ) o nó corrediço (pāśa) da existência transmigratória --Saṁsāra-- (bhava).

Tendo transcendido (samatikramya) os atributos (guṇān) de pensamento (dhī) (e) tendo meditado (dhyātvā) na suprema (paramam) (Realidade) que a tudo penetra (vibhum) —e na qual são se pode meditar --isto é, que não é um objeto de meditação-- (nirdhyeyam)— como sendo a própria Luz (sva-saṁvedyam) —o qual é apto para meditação (dhyeyam)5 , os sábios (budhāḥ) conhecem (viduḥ) isso --o ato que acabou de ser mencionado-- (tad ca) como Dhyāna ou neditação (dhyānam).

Dhāraṇā ou concentração (dhāraṇā) (ocorre quando) o Ser Supremo (parama-ātmatvam) é sempre sustentado (na consciência) (dhāryate... sadā) por ele --pelo Yogī-- (yena). Essa (sā) concentração (dhāraṇā) é indicada (vinirdiṣṭā) como sendo capaz de remover (nivāriṇī) o nó (pāśa) da existência transmigratória (bhava).

Nesse (asmin) mundo (jagati), o pensamento (dhīḥ) de identidade (samāna) (na forma de) 'Eu (aham) (sou) Śiva (śivaḥ)', 'Eu (aham) (sou) o Único sem segundo (advitīyaḥ)', com relação a (todos) os seres (bhūteṣu) que aparecem (stheṣu) como o próprio (ser) (sva) (e) os outros (para), é conhecido como (smṛtaḥ) o mais elevado (saḥ paraḥ) Samādhi ou perfeita concentração (samādhiḥ... iti)"||

(Portanto,) por meio do(s) preceito(s) (nītyā) (acima) definido(s) (nirūpita) no muito venerável (śrīmat... bhaṭṭāraka) Mṛtyujit --Netratantra-- (mṛtyujit), também (api) por meio de Dhāraṇā, etc. (dhāraṇā-ādibhiḥ), ocorre (bhavati) certamente (eva) uma absorção (samāveśaḥ) no Princípio (tattva) Supremo (para), e não (na tu) (simplesmente) um limitado (mita) poder sobrenatural (siddhiḥ)||6||

1  Se você achar que a escritura está falando sobre algum outro Deus além de Você Mesmo, então não entendeu adequadamente. É Você (seu verdadeiro Ser, e não o seu ego chamado John, João, etc.) que existe por si mesmo e não é governado pela lei do Karma. É você que, enganado pelo seu próprio poder máyico (que manifesta dualidade), não percebe Śiva (sua natureza essencial), que está desprovido de qualquer pensamento, que é a suprema Moradia ou Estado, que não possui começo ou fim e que está presente diante dos próprios olhos de todos os seres, ou seja, que é bem óbvio para todos eles. Não importa o quão grande erudito de Trika você possa ser, se você falhar em entender que é essencialmente Deus, nunca entenderá realmente o Trika. Inclusive nesse meio (Āṇavopāya) onde prevalece o ponto de vista de um ser limitado e onde ocorre o apogeu do delicioso jogo devoto-Senhor, escravidão-Libertação, você nunca deve perder de vista a Realidade.Return 

2  Udāna corre através de Suṣumnā (o canal sutil central). Por sua vez, apāna está associado com Iḍā e prāṇa com Piṅgalā. É por isso que a escritura diz que Udāna está no meio, entre as passagens de prāṇa e apāna, pois Suṣumnā corre entre as passagens (nāḍī-s ou canais sutis) conhecidos como Piṅgalā e Iḍā. À medida que Udāna ascende (sobe), o seu estado de energia vital se vai e evolui até converter-se em Poder de Conhecimento (Jñānaśakti) devido ao surgimento de Cit ou Consciência pura (Śiva). Então, finalmente, o Yogī deve sentar-se ali, em Jñānaśakti.Return 

3  O prāṇāyāma bruto é simplesmente expiração, inspiração e o ato de prender a respiração. O prāṇāyāma sutil está relacionado com o surgimento de udāna na Suṣumnā. Quando Udāna evolui e se transforma em Poder de Conhecimento e, finalmente, o Yogī se estabelece no Supremo Spanda ou Vibração, ele alcançou o mais excelente prāṇāyāma. Esse sublime prāṇāyāma, que está inclusive além do sutil, não deve ser entendido como uma mera restrição ou controle (āyāma) da energia vital (prāṇa), mas sim como uma cessação das energias vitais que participam das variedades dos prāṇāyāma-s bruto e sutil, isto é, prāṇa (expiração), apāna (inspiração), samāna (ato de prender a respiração) e udāna. O Supremo Spanda ou Vibração não é nada mais que Śakti (o Poder do Senhor), a Fonte de todas as energias vitais. Assim, não é nenhuma surpresa que o melhor prāṇāyāma seja o estado onde todas as energias vitais ou prāṇa-s terminem novamente Nela.

Não há nenhuma queda do Yogī, uma vez que ele tenha alcançado Śakti, que é inseparável do Seu Senhor Śiva. Dessa forma, o grande Yogī, tendo tomado plenamente consciência da sua unidade com Cit ou pura Consciência (Śiva), nunca regressa ao estado comum de consciência, ou seja, nunca mais regressa à miséria. OK, já chega por enquanto.Return 

4  A expressão "sva-cetasā" não significa, nesse contexto, "com/mediante a sua própria mente", mas sim "अविकल्पसंवित्परमार्शनेन" - "avikalpasaṁvitparamārśanena" ou "apoderando-se mentalmente (paramārśanena) da Consciência (saṁvid) que está desprovida de pensamentos (avikalpa)". Em outras palavras, o Yogī deve entrar no Mais Alto Estado com plena consciência de Ser. Esse é o significado.Return 

5  Nesse contexto, "svasaṁvedyam" significa "स्वप्रकाशम्" - "svaprakāśam" (como sendo a própria Luz), e "dhyeyam" é "ध्यानार्हम्" - "dhyānārham" ou "apto para a meditação". Aparentemente, há uma contradição na frase, pois como poderia alguém meditar na suprema Realidade que tudo penetra e na qual não se pode meditar? É por isso que a expressão "dhyeyaṁ svasaṁvedyam" foi adicionada depois. Em suma, não se pode meditar no Mais Alto Ser, pois Ele não é um objeto de meditação, e sim o Supremo Sujeito em tudo. Mas ninguém pode meditar Nele, por assim dizer, como sendo a própria Luz, ou seja, dando-se conta de que é Ele. O termo "dhyātvā" (tendo meditado) deve ser entendido aqui como "विमृश्य" - "vimṛśya" (tendo percebido, tendo tomado consciência de). Nesse sentido, apesar de que não é possíevl meditar no Senhor Supremo como sendo um objeto, é possível tomar consciência da sua inerente unidade com Ele. Agora, o significado é claro.Return 

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 Aforismo 7

तदाह—


मोहजयादनन्ताभोगात्सहजविद्याजयः॥७॥


मोहस्याख्यात्यात्मकसमनान्तपाशात्मनो मायाया जयादभिभवात्। कीदृशाद् अनन्तः संस्कारप्रशमपर्यन्त आभोगो विस्तारो यस्य तादृशात्

वेदनानादिधर्मस्य...।

इत्यादिना निरूपितरूपायाः सहजविद्याया जयो लाभो भवति। आणवोपायस्यापि शाक्तोपायपर्यवसानादित्युक्तत्वात्। तथा च श्रीस्वच्छन्दे

समनान्तं वरारोहे पाशजालमनन्तकम्।

इत्युपक्रम्य

पाशावलोकनं त्यक्त्वा स्वरूपालोकनं हि यत्।
आत्मव्याप्तिर्भवत्येषा शिवव्याप्तिस्ततोऽन्यथा॥
सार्वज्ञ्यादिगुणा येऽर्था व्यापकान्भावयेद्यदा।
शिवव्याप्तिर्भवत्येषा चैतन्ये हेतुरूपिणी॥

इति ग्रन्थेनात्मव्याप्त्यन्तस्य मोहस्य जयादुन्मनाशिवव्याप्त्यात्मनः सहजविद्यायाः प्राप्तिरुक्ता। यदुक्तं तत्रैव

आत्मतत्त्वं ततस्त्यक्त्वा विद्यातत्त्वे नियोजयेत्।
उन्मना सा तु विज्ञेया मनः सङ्कल्प उच्यते॥
सङ्कल्पः क्रमतो ज्ञानमुन्मनं युगपत्स्थितम्।
तस्मात्सा तु परा विद्या यस्मादन्या न विद्यते।
विन्दते ह्यत्र युगपत्सार्वज्ञ्यादिगुणान्परान्॥
वेदनानादिधर्मस्य परमात्मत्वबोधना।
वर्जनापरमात्मत्वे तस्माद्विद्येति सोच्यते॥
तत्रस्थो व्यञ्जयेत्तेजः परं परमकारणम्।

इति॥७॥

Tadāha—


Mohajayādanantābhogātsahajavidyājayaḥ||7||


Mohasyākhyātyātmakasamanāntapāśātmano māyāyā jayādabhibhavāt| Kīdṛśād anantaḥ saṁskārapraśamaparyanta ābhogo vistāro yasya tādṛśāt

Vedanānādidharmasya...|

ityādinā nirūpitarūpāyāḥ sahajavidyāyā jayo lābho bhavati| Āṇavopāyasyāpi śāktopāyaparyavasānādityuktatvāt| Tathā ca śrīsvacchande

Samanāntaṁ varārohe pāśajālamanantakam|

ityupakramya

Pāśāvalokanaṁ tyaktvā svarūpālokanaṁ hi yat|
Ātmavyāptirbhavatyeṣā śivavyāptistato'nyathā||
Sārvajñyādiguṇā ye'rthā vyāpakānbhāvayedyadā|
Śivavyāptirbhavatyeṣā caitanye heturūpiṇī||

iti granthenātmavyāptyantasya mohasya jayādunmanāśivavyāptyātmanaḥ sahajavidyāyāḥ prāptiruktā| Yaduktaṁ tatraiva

Ātmatattvaṁ tatastyaktvā vidyātattve niyojayet|
Unmanā sā tu vijñeyā manaḥ saṅkalpa ucyate||
Saṅkalpaḥ kramato jñānamunmanaṁ yugapatsthitam||
Tasmātsā tu parā vidyā yasmādanyā na vidyate|
Vindate hyatra yugapatsārvajñyādiguṇānparān||
Vedanānādidharmasya paramātmatvabodhanā|
Varjanāparamātmatve tasmādvidyeti socyate||
Tatrastho vyañjayettejaḥ paraṁ paramakāraṇam|

iti||7||


(Śiva) disse (āha) isto --lit. aquilo-- (tad) (de quando se conquista Moha ou Ilusão)


(O Yogī adquire) domínio (jayaḥ) do Conhecimento (vidyā) Natural (sahaja) por meio de uma todo-penetrante conquista (jayāt anantābhogāt) de Māyā ou Ignorância (moha)||7||


Mohajayāt (mohasya... jayāt) (significa) por meio do ato de subjugar (abhibhavāt) Māyā (māyāyāḥ), cuja natureza --isto é, de Māyā-- é (ātmanaḥ) (ser) um nó corrediço (pāśa) que termina (anta) em Samanā (samanā) (e) consiste em (ātmaka) ignorância primordial (akhyāti)1 |

Por meio de que tipo (de subjugação) (kīdṛśāt)? Por meio daquela classe (de conquista) (tādṛśāt) cujo (yasya) ābhoga (ābhogaḥ) (ou) expansão (vistāraḥ) (é) ananta ou ilimitada (anantaḥ), (isto é,) que se estende até (antaḥ) a cessação (praśama) das impressões residuais (de ações passadas) (saṁskāra)2 |

(Então,)(bhavati) domínio ou conquista (jayaḥ), (em outras palavras,) aquisição (lābhaḥ) do Conhecimento Natural (sahaja-vidyāyāḥ) cuja natureza (rūpāyāḥ) é definida (nirūpita) (no seguinte fragmento do Svacchandatantra:)

"Ela produz investigação (vedanā) da característica sem começo (do Senhor) --isto é, a Sua absoluta Liberdade ou Svātantrya-- (anādi-dharmasya), etc. (iti ādinā)3 "||
(Ver IV, 396 no Svacchandatantra)

(Falou-se de aquisição do Conhecimento Natural) inclusive (api) (no contexto) de Āṇavopāya (āṇava-upāyasya), pois se diz que ele --isto é, o Āṇavopāya-- (iti uktatvāt) termina (paryavasānāt) em Śāktopāya (śākta-upāya)|

Assim (tathā ca), no venerável Svacchandatantra (śrī-svacchande), começando com (upakramya):

"Oh bela (vara-ārohe)! (Existe) uma interminável (anantakam) rede (jālam) de nós corrediços (pāśa) que vão até (antam) Samanā (samanā... iti)"||
(Ver IV, 432 no Svacchandatantra)

(e terminando com:)

"Depois de abandonar (tyaktvā) a identificação de si mesmo (avalokanam) com nós corrediços --isto é, ataduras, vínculos-- (pāśa), (ocorre) esse (hi yad) ato de ver (ālokanam) a própria natureza essencial (sva-rūpa). Isso (eṣā) é (bhavati) Ātmavyāpti --lit. inerência no Ser-- (ātma-vyāptiḥ)4 . Śivavyāpti --lit. inerência em Śiva-- (śiva-vyāptiḥ) (ocorre) de uma naneira diferente (anyathā) disso --isto é, de Ātmavyāpti-- (tatas). Os artha-s --objetos desejados-- (ye arthāḥ) (são) aqueles cuja característica (guṇāḥ) é onisciência (sārvajñya), etc. (ādi). Quando (yadā) (o Yogī) contempla, (dentro de si mesmo, nesses artha-s) (bhāvayet) como permeando (tudo) (vyāpakān), isso (eṣā) é (bhavati) Śivavyāpti (śiva-vyāptiḥ), o qual é a causa ou meio (hetu-rūpiṇī) para (a promoção ou desenvolvimento) de Caitanya (caitanye... iti) (em Svātantrya ou Liberdade Absoluta do Senhor Supremo)5 "||
(Ver IV, 434-435 no Svacchandatantra)

(Dessa forma,) segundo o livro --isto é, Svacchandatantra-- (granthena), diz-se (uktā) que (há) aquisição (prāptiḥ) de Sahajavidyā --Conhecimento Natural-- (sahaja-vidyāyāḥ), cuja natureza (ātmanaḥ) é Śivavyāpti --inerência em Śiva-- (śiva-vyāpti) (, que conduz a) Unmanā --o estado de Śiva, cheio da Sua Liberdade Absoluta-- (unmanā), por meio de uma conquista (jayāt) de Moha ou Māyā (mohasya), a qual se estende até (antasya) Ātmavyāpti ou inerência no Ser (ātma-vyāpti) --em outras palavras, Māyā termina quando Ātmavyāpti aparece--|

Isso (yad) é o que foi dito (uktam) nessa mesma (escritura) (tatra eva) --isto é, no Svacchandatantra--:

"Por essa razão (tatas), abandonando (tyaktvā) Ātmatattva --lit. o princípio do Ser, isto é, Ātmavyāpti ou inerência no Ser-- (ātma-tattva), (o Yogī) deveria unir(-se) (niyojayet) ao Vidyātattva --lit. o princípio do Conhecimento divino-- (vidyā-tattve). Essa (Vidyā ou Conhecimento divino) (sā) deve ser conhecida (vijñeyā) como Unmanā --o estado de Śiva-- (unmanā), certamente (tu). Diz-se (ucyate) (que) Manas --lit. mente, isto é, um estado no qual a mente está funcionando-- (manas) (é) uma noção ou desejo (saṅkalpaḥ). (Tal) noção ou desejo (saṅkalpaḥ) (é) conhecimento (jñānam) (surgindo) gradualmente (kramatas), enquanto Unmanā --o Supremo Estado desprovido de mente-- (unmanam) (ocorre) simultaneamente (yugapad) (e é) firme --isto é, eterno-- (sthitam). Portanto (tasmāt), já que (yasmāt) não há nenhuma (na vidyate) outra (anyā), Ela (sā) (é) certamente (tu) a Mais Alta (parā) Vidyā --isto é, divino Conhecimento-- (vidyā). Aqui --quando brota a Mais Alta Vidyā-- (atra), (o Yogī) verdadeiramente (ca) adquire (vindate) as qualidades (guṇān) superiores (parān) de onisciência (sārvajñya), etc. (ādi), simultaneamente (yugapad). (1) Ela produz investigação (vedanā) da característica sem começo (do Senhor) --isto é, a Sua absoluta Liberdade ou Svātantrya-- (anādi-dharmasya); (2) desperta e faz perceber/entender (bodhanā) o estado do Ser Supremo (parama-ātmatva); (e) (3) exclui (varjanā) o que não é o estado do Ser Supremo (a-parama-ātmatve); por causa de (tudo) isso (tasmāt), Ela (sā) é denominada (ucyate) 'Vidyā' (vidyā iti). Estabelecido (sthaḥ) ali --no estado desprovido de mente (unmanā), isto é, no Ser Supremo-- (tatra), ele manifesta (vyañjayet) a Mais Alta (param) Luz (tejas) --a saber, a Luz do Senhor--, a Suprema (parama) Causa (kāraṇam... iti)"||
(Ver IV, 393-397 no Svacchandatantra)

||7||

1  Samanā é a Śakti ou Pder do Senhor que se manifesta como um pensamento a partir de śūnya ou estado de vazio até o tattva 36. Para mais informações sobre Samanā, leia as três últimas etapas de Meditação 6.Return 

2  Uma ilimitada expansão, isto é, todo-penetrante (em outras palavras: que permeia tudo). Daí a minha tradução no aforismo: jayāt anantābhogāt - por meio de uma todo-penetrante conquista. Os Saṁskāra-s são as impressões residuais de karma-s ou ações passadas. O conjunto de todas essas impressões residuais é o ego. Então, quando tal conjunto é removido, a própria individualidade acaba, e somente o Senhor permanece, na forma do seu próprio Ser (Você Mesmo!).Return 

3  O sábio Kṣemarāja citou a estrofe completa antes, no aforismo 21 da primeira Seção. De qualquer forma, ele irá citá-la de novo no presente comentário deste aforismo.Return 

4  Esta é a primeira etapa no processo de Libertação Final segundo o Trika. Os vínculos são todas as limitações tais como Kañcuka-s, ego, mente, corpo, etc. Quando se percebe o próprio Ser interior ou natureza essencial como sendo somente Jñāna ou Conhecimento, desprovida de toda Kriyā ou atividade, isso é Ātmavyāpti ou inerência no Ser (a saber, inerente e inseparável presença do Ser no Yogī). Nesse caso, o Ser é percebido como uma Testemunha isolada de todo o resto. Tal como o sábio Kṣemarāja expressa em seu comentário sobre esta estrofe de Svacchandatantra: "... स्वरूपं पासोत्तीर्णचिन्मात्रत्वं यद्..." - "... svarūpaṁ pāsottīrṇacinmātratvaṁ yad..." - "... (O termo) svarūpa (na estrofe denota) o que consiste meramente em Consciência que transcende os nós corrediços ou vínculos...".

Por sua vez, o termo "avalokana", embora literalmente signifique "que contempla, que vê, etc.", segundo Kṣemarāja é "आत्मत्वेनाभिमनन" - "ātmatvenābhimanana" - "pensar (em algo como sendo) si próprio". Daí a minha tradução de "avalokana" como "identificação". Essa clarificação ajudará as pessoas a entender por que traduzi dessa maneira, especialmente aquelas pessoas que estudam Sânscrito em profundidade. O Svacchandatantra está repleto de "aparentes" inconsistências, como se de vez em quando o autor não seguisse as estritas regras gramaticais. Portanto, os tradutores precisam ler o comentário erudito de Kṣemarāja (ou seja, o Svacchandoddyota), já que ele pertence à tradição e consequentemente conhece os significados secretos de muitos termos e expressões obscuras que aparecem no venerável Svacchandatantra. A propósito, o Svacchandoddyota é o único comentário sobre o Svacchandatantra. Havia outro de um comentarista diferente, mas se perdeu ao longo dos séculos.

Além disso, e agora me dirigindo aos estudantes de Sânscrito: o Svacchandatantra é um claro exemplo de teoria vs. prática, quero dizer, você pode estudar todas as regras gramaticais, mas, quando encarar certos textos "reais", não conseguir traduzi-los. Por quê? Porque não seguem a teoria gramatical, seja porque houve erros na transcrição, ou porque o autor encriptou significados secretos de maneiras estranhas, ou porque o estilo é muito antigo, ou simplesmente porque os requisitos da métrica demandaram uma mudança na forma de escrever. É por isso que eu não gosto de ensinar o idioma Sânscrito por meio de exemplos como "Esta é uma caixa - Este é o meu gato" e coisas assim, como se o Sânscrito fosse inglês, espanhol, etc. Apesar de ser aparentemente indispensável quando se ensina Sânscrito para novatos, fazer dessa forma em excesso fará com que o estudante pense que os textos reais seguirão padrões lógicos e lindos sempre. Essa é a principal razão pela qual muitos estudantes avançados de Sânscrito são incapazes de traduzir "por si mesmos" um texto real no início, apesar de todo o seu grande conhecimento gramatical.Return 

5  Para estudantes de Sânscrito: o texto "Sārvajñyādiguṇā ye'rthā vyāpakānbhāvayedyadā" parece extranho porque está faltando a palavra "tān" [a esses - Acusativo plural de tad (m.)]. Assim, não existe uma conexão aparente entre "Sārvajñyādiguṇā ye'rthāḥ" e "vyāpakān", já que o primeiro está declinado no Nominative plural, enquanto o último está no Acusativo plural. Agora, para o resto dos mortais (hehe!): Preciso esclarecer bem alguns pontos de modo que vocês entendam por que traduzi a estrofe dessa maneira. Para fazê-lo, traduzirei o comentário inteiro de Kṣemarāja, em seu Svacchandoddyota, sobre as duas linhas "Sārvajñyādiguṇā ye'rthā vyāpakānbhāvayedyadā| Śivavyāptirbhavatyeṣā caitanye heturūpiṇī||":

"Ye vakṣyamāṇāḥ sarvajñatvasarvakartṛtvādiguṇā dharmāḥ paramopādeyatvenārthyamānatvādarthāstānvyāpakāniti aśeṣamantarabhedena kroḍīkurvato yadā svātmani bhāvayettadā tadbhāvanāpariniṣpattirātmanaḥ śivavyāptiḥ sā ca bhāvake caitanye heturūpiṇī prayojikā tatprasādādeva śuddhātmanastadbhāvanāprarūḍheḥ||435||" - "Os artha-s --objetos desejados--, que serão estudados depois, são aqueles cujo guṇa ou característica é onisciência, onipotência, etc., já que são indicados como muito excelentes. Quando (o grande Yogī) contempla, em seu próprio ser --isto é, dentro de si mesmo--, sobre esses (artha-s) como 'penetrando' ou 'permeando' (tudo), (ou seja,) como abraçando tudo por meio da não dualidade interna, então a perfeição em sua contemplação (é) o seu Śivavyāpti (ou inerência em Śiva, o Ser Supremo). Esta (Śivavyāpti) é causa ou meio para a promoção ou desenvolvimento de Caitanya --Consciência-- no (ser) de mente pura que alcançou essa contemplação unicamente por meio do seu Favor".

Agora, uma curta explicação do que disse o sábio: Enquanto, no início, em Ātmavyāpti, o grande Yogī experimentou a sua natureza essencial como mero Jñāna ou Knowledge, completamente desprovido de Kriyā ou Ação, depois disso, contempla-se que os artha-s como onisciência, onipotência, etc., penetram ou abraçam tudo por meio de não dualidade interna. Em suma, os poderes de onisciência, onipotência, etc., são projetados em direção a tudo, e, como resultado do processo inteiro, o Yogī vê unidade em todas as coisas. O Ser não é mais visto como isolado do resto, mas sim, pelo contrário, o Yogī se dá conta de que o seu Ser é o Senhor Supremo (Śiva) e, consequentemente, o universo inteiro.

De qualquer forma, existem frases no processo. O primeiro sintoma de Śivavyāpti é Kramamudrā. Nesse Mudrā (Selo), existe uma sequência ou successão (krama). Como? O Yogī não pode impedir que os seus olhos se abram e fechem sucessivamente. Quando os olhos estão fechados, ele contempla o seu Ser interior, e, quando estão abertos, vê o universo inteiro como penetrado pelo mesmo Ser. Essa sequência continua por algum tempo e é completamente controlada pelo Senhor (ou seja, nenhum ego, de maneira alguma, é capaz de produzir isso). No entanto, o aparecimento de Kramamudrā e o resultante "dar-se conta" de que tudo é o Ser Supremo não é Libertação Final de acordo com o Trika. A Libertação Final se alcança somente quando o Yogī obtém a Liberdade Absoluta (Svātantrya ou Svācchandya) do Senhor. E, nesse sentido Śivavyāpti é "भावके चैतन्ये हेतुरूपिणी प्रयोजिका" - "bhāvake caitanye heturūpiṇī prayojikā", isto é, "causa ou meio para a promoção ou desenvolvimento de Caitanya --Consciência--". Desenvolvimento ou transformação em quê? Em Liberdade Absoluta! Para resumir as coisas, Śivavyāpti conduz em direção à Libertação Final. E isso ocorre somente em alguém de mente pura que tenha alcançado esse tipo de contemplação. E, é claro, isso é possível somente por meio do Seu favor, e não por outros meios (por exemplo, mediante esforços pessoais). Há mais mistérios aqui, mas o Senhor está dizendo a mim que isso foi mais que suficiente.Return 

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 Aforismo 8

एवमयमासादितसहजविद्यः—


जाग्रद्द्वितीयकरः॥८॥


लब्ध्वापि शुद्धविद्यां तदैकध्यव्याप्तौ जागरूकः पूर्णविमर्शात्मकस्वाहन्तापेक्षया यद्द्वितीयमिदन्तावमृश्यं वेद्यावभासात्मकं जगत्तत्करो रश्मिर्यस्य तथाविधो भवति। विश्वमस्य स्वदीधितिकल्पं स्फुरतीत्यर्थः। यथोक्तं श्रीविज्ञानभैरवे

यत्र यत्राक्षमार्गेण चैतन्यं व्यज्यते विभोः।
तस्य तन्मात्रधर्मित्वाच्चिल्लयाद्भरितात्मता॥

इति। श्रीसर्वमङ्गलायामपि

शक्तिश्च शक्तिमांश्चैव पदार्थद्वयमुच्यते।
शक्तयोऽस्य जगत्कृत्स्नं शक्तिमांस्तु महेश्वरः॥

इति॥८॥

Evamayamāsāditasahajavidyaḥ—


Jāgraddvitīyakaraḥ||8||


Labdhvāpi śuddhavidyāṁ tadaikadhyavyāptau jāgarūkaḥ pūrṇavimarśātmakasvāhantāpekṣayā yaddvitīyamidantāvamṛśyaṁ vedyāvabhāsātmakaṁ jagattatkaro raśmiryasya tathāvidho bhavati| Viśvamasya svadīdhitikalpaṁ sphuratītyarthaḥ| Yathoktaṁ śrīvijñānabhairave

Yatra yatrākṣamārgeṇa caitanyaṁ vyajyate vibhoḥ|
Tasya tanmātradharmitvāccillayādbharitātmatā||

iti| Śrīsarvamaṅgalāyāmapi

Śaktiśca śaktimāṁścaiva padārthadvayamucyate|
Śaktayo'sya jagatkṛtsnaṁ śaktimāṁstu maheśvaraḥ||

iti||8||


Dessa forma (evam), aquele --lit. este-- (ayam) que atingiu o Conhecimento Natural (āsādita-sahaja-vidyaḥ)


(O Yogī que alcançou Sahajavidyā ou o Conhecimento Natural está) desperto e vigilante (jāgrat), (enquanto) o segundo, (isto é, "o mundo") (dvitīya), (aparece) como (sua) refulgência de luz (karaḥ)||8||


Inclusive (api) após obter (labdhvā) o Conhecimento Puro (śuddha-vidyām), ao obter (vyāptau) a concentração (aikadhya) nisso --no Conhecimento Puro-- (tad), (o Yogī permanece) desperto e vigilante (jāgarūkaḥ). Com relação ao (apekṣayā) seu próprio (sva) sentido de Eu --a porção Aham ou Eu-- (ahantā), que consiste no (ātmaka) perfeito (pūrṇa) Vimarśa --Śakti-- (vimarśa), aquilo que (yad) (é) o segundo (dvitīyam), (o qual) se considera (avamṛśyam) como o sentido de Eu --a porção Idam ou Isto-- (idantā), (que) aparece (avabhāsa-ātmakam) como um objeto --para o Sujeito Supremo-- (vedya), (em suma,) o mundo (jagat)1 ... (bem,) isso (tad) (é) a sua (yasya) refulgência de luz (karaḥ) (ou) esplendor (raśmiḥ). Ele --o grande Yogī-- é (bhavati) de tal tipo --isto é, ele é assim-- (tathāvidhaḥ)|

(De forma resumida,) o seu (asya) universo (viśvam) se manifesta de maneira resplandecente (sphurati) como (kalpam) o seu próprio (sva) esplendor (dīdhiti). Esse é o significado (iti arthaḥ)2 |

Como (yathā) foi dito (uktam) no venerável Vijñānabhairava (śrī-vijñānabhairave):

"Em qualquer coisa --por exemplo, azul, prazer, etc.-- (yatra yatra) em que esteja manifesto (vyajyate) Caitanya ou Consciência (caitanyam) do Onipresente --Parabhairava, o Mais Alto Senhor-- (vibhoḥ), visto que tal coisa --azul, prazer, etc.-- está caracterizada somente por Isso --por Caitanya do Onipresente-- (tasya tad-mātra-dharmitvā), (então,) por meio da dissolução (layāt) em Cit --Consciência que é onipresente-- (cit), (uma pessoa torna-se dotada) da essência (ātmatā) da plenitude (bharita... iti) --em suma, experimenta a plenitude de Parabhairava, o Mais Alto Senhor--3 "||

Também (api), no venerável Sarvamaṅgalā (śrī-sarvamaṅgalāyām):

"Diz-se que há (ucyate) somente (eva) duas (dvayam) categorias (padārtha), (a saber,) Śakti --Poder-- (śaktiḥ) e (ca... ca) Possuidor de Śakti (śaktimān). O Possuidor de Śakti (śaktimān) (é) o Grande (mahā) Senhor --Śiva-- (īśvaraḥ), certamente (tu), (e) Suas (asya) śakti-s ou poderes --os múltiplos aspectos assumidos por Śakti-- (śaktayaḥ) (são) o mundo (jagat... iti) inteiro (kṛtsnam)"||

||8||

1  Para mais informação sobre Aham e Idam (Eu e Isto), leia Trika 3.Return 

2  E, obviamente, toda essa detalhada descrição não é nada mais que o estado de Śivavyāpti, que foi discutido no comentário sobre o aforismo anterior.Return 

3  Uma pessoa comum considera que os objetos que são percebidos pelos seus sentidos estão relacionados somente com os sentidos, cérebro, etc. mas, na visão de um grande Yogī, a realidade não é assim, pois ele se dá conta de que a Consciência do Senhor Onipresente está em qualquer coisa que ele possa estar percebendo. Assim como um espelho que contém os reflexos de múltiplos objetos não é distinto desses reflexos, da mesma forma, o grande Yogī se dá conta de que tudo o que ele percebe por meio dos seus sentidos é somente Deus. O Sujeito (Deus) está presente como todos esses objetos ao nosso redor, como azul, prazer, etc. E, uma vez que essas coisas estão caracterizadas somente pelo Senhor, dissolvendo sua mente nesse Senhor (Consciência), o grande Yogī alcança Bharitātmā ou "Aquele cuja essência é plena" (Parabhairava, o Mais Elevado Ser). Tendo feito isso, torna-se dotado da essência da plenitude. Esse é o significado.Return 

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 Aforismo 9

ईदृशश्चायं सर्वदा स्वस्वरूपविमर्शाविष्टः—


नर्तक आत्मा॥९॥


नृत्यत्यन्तर्विगूहितस्वस्वरूपावष्टम्भमूलं तत्तज्जागरादिनानाभूमिकाप्रपञ्चं स्वपरिस्पन्दलीलयैव स्वभित्तौ प्रकटयतीति नर्तक आत्मा। तदुक्तं श्रीनैश्वासदेवीमहेश्वरनर्तकाख्ये सप्तमपटले देवीकृतस्तवे

त्वमेकांशेनान्तरात्मा नर्तकः कोशरक्षिता॥

इति। भट्टश्रीनारायणेनापि

विसृष्टाशेषसद्बीजगर्भं त्रैलोक्यनाटकम्।
प्रस्ताव्य हर संहर्तुं त्वत्तः कोऽन्यः कविः क्षमः॥

इति। सर्वागमोपनिषदि श्रीप्रत्यभिज्ञायाम्

संसारनाट्यप्रवर्तयिता सुप्ते जगति जागरूक एक एव परमेश्वरः॥

इति॥९॥

Īdṛśaścāyaṁ sarvadā svasvarūpavimarśāviṣṭaḥ—


Nartaka ātmā||9||


Nṛtyatyantarvigūhitasvasvarūpāvaṣṭambhamūlaṁ tattajjāgarādinānābhūmikāprapañcaṁ svaparispandalīlayaiva svabhittau prakaṭayatīti nartaka ātmā| Taduktaṁ śrīnaiśvāsadevīmaheśvaranartakākhye saptamapaṭale devīkṛtastave

Tvamekāṁśenāntarātmā nartakaḥ kośarakṣitā||

iti| Bhaṭṭaśrīnārāyaṇenāpi

Visṛṣṭāśeṣasadbījagarbhaṁ trailokyanāṭakam|
Prastāvya hara saṁhartuṁ tvattaḥ ko'nyaḥ kaviḥ kṣamaḥ||

iti| Sarvāgamopaniṣadi śrīpratyabhijñāyām

Saṁsāranāṭyapravartayitā supte jagati jāgarūka eka eva parameśvaraḥ||

iti||9||


E (ca) esse (Yogī) (ayam) dotado de tais qualidades (īdṛśaḥ) (está) sempre (sarvadā) absorto (āviṣṭaḥ) na consciência (vimarśa) da sua própria (sva) natureza essencial (sva-rūpa)


(Esse mesmo Yogī é) um Ser (ātmā) (que é meramente) um ator dançante (nartakaḥ)||9||


Ele atua e dança (nṛtyati), (isto é,) por meio do exercício (līlayā eva) de seus (sva) movimentos (parispanda), ele exibe (prakaṭayati), na sua própria tela --a tela da sua Consciência-- (sva-bhittau), a manifestação (prapañcam) de múltiplos (nānā) papéis (bhūmikā) durante os diversos (tad-tad) estados de vigília (jāgarā), etc. (ādi) --sono e sono profundo--. (Essa manifestação de múltiplos papéis) tem como raiz --se baseia em-- (avaṣṭambha-mūlam) a sua (sva) natureza essencial (sva-rūpa) que está escondida (vigūhita) internamente (antar). Dessa forma (iti), (ele é) um Ser (ātmā) (que é meramente) um ator dançante (nartakaḥ)|

Isso (tad) (é o que) se declara (uktam) na oração de louvor (stave) realizada (kṛtaḥ) pela deusa (devī) no sétimo capítulo (saptama-paṭale) do venerável Naiśvāsatantra (śrī-naiśvāsa), intitulado (ākhye) "A Deusa (devī) (e) o Grande (mahā) Senhor (īśvara) como ator dançante (nartaka)":

"Você (tvam), em um aspecto (ekāṁśena), (é) o ser (ātmā) interior (antar), o ator dançante (nartakaḥ), (mas, em outro aspecto, é) o protetor (rakṣitā) da Sua própria natureza essencial como o Ser Supremo (kośa... iti)1 "||

Também (disse) (api) Bhaṭṭaśrīnārāyaṇa (bhaṭṭaśrīnārāyaṇena) (em seu Stavacintāmaṇi):

"(Você produziu) o Drama (nāṭakam) dos três mundos --céu, inferno e terra-- (trailokya), o qual contém (garbham) a verdadeira (sat) semente ou fonte (bīja) de tudo (aśeṣa) o que foi manifestado (visṛṣṭa)2 . Tendo (Você) apresentado o prólogo (desse Drama) (prastāvya), Oh Hara --um epíteto de Śiva-- (hara)!, que (kaḥ) poeta (kaviḥ) além de Você (tvattaḥ... anyaḥ) está apto (kṣamaḥ) a conduzi-lo à sua conclusão (saṁhartum... iti)3 ?"||

(E inclusive) no venerável Īśvarapratyabhijñā (śrī-pratyabhijñāyām), que contém a secreta doutrina de todos os Āgama-s ou escrituras reveladas (sarva-āgama-upaniṣadi), (pode-se ler o seguinte):

"Quando o mundo está dormindo (supte jagati), somente (ekaḥ eva) o Senhor (īśvaraḥ) Supremo (parama), Aquele que põe em movimento (pravartayitā) o drama dançante (nāṭya) (denominado) Saṁsāra --Transmigração cheia de miséria-- (saṁsāra), está desperto (jāgarūkaḥ... iti)"||

||9||

1  No Seu aspecto como o ser interior (antarātmā), Ele é um ator dançante que, devido à sua conexão com o puryaṣṭaka (corpo sutil feito de intelecto, ego, mente e elementos sutis), está atado pelas tendências ou vāsanā-s de boas e más ações, que o forçam a vagar de uma forma de existência a outra. Isto é, ele passa por intermináveis nascimentos devido a essas tendências. Portanto, está sujeito a Saṁsāra ou Transmigração (ou seja, miséria). É denominado "ser interior" porque está dentro do ser exterior (corpo físico). Por sua vez, a palavra "kośa" não deve ser interpretada como "envoltório" nesse contexto, mas sim como "स्वस्वरूपपरमात्मत्व" - "svasvarūpaparamātmatva" ou "A sua própria natureza essencial como o Ser Supremo". Resumindo tudo, o Grande Senhor é tanto o ser limitado atado pelo seu corpo sutil, etc., quanto o Ser Supremo que mora sempre na Sua própria divindade. Ele protege a Sua própria natureza essencial no sentido de que não permite que nada a toque. Dessa forma, Ele, em Sua recôndita essência, permanece sempre além de toda a manifestação produzida por Sua Māyā ou Ignorância. Então, Ele é sempre tudo. Esse é o significado.Return 

2  O termo "bīja" (semente, fonte) significa, aqui, Māyā e sua progênie (Prakṛti, etc.), mas, em drama, significa "a origem do enredo ou trama". Então, a possível tradução dessa estrofe é dupla: por um lado, Māyā é a semente que origina tudo o que existe, e, por outro lado, Ela é também a origem da trama desse Drama universal. Esse é o significado.Return 

3  Uma vez que o Senhor escreveu o prólogo ou "prastāva" desse Drama universal, quem além Dele é capaz de escreveu o seu "saṁhāra" ou conclusão? Quando uma pessoa se dá conta de que a sua própria natureza essencial e, consequentemente, a verdade de que tudo e todos são Ele, essa é a conclusão do Drama. De qualquer forma, esse estado pode ser alcançado apenas por meio do Seu favor, e "não de outro modo" (por exemplo, mediante esforços pessoais), de acordo com o sistema Trika. Apesar de que os esforços pessoais podem levar uma pessoa a um certo estado de consciência, a conclusão (Libertação Final) é sempre "escrita" (figurativamente falando) unicamente por Ele. Esse é o significado.

Uma sutileza adicional: O termo "kaḥ", além de "o que, quem", também significa "प्रजापति" - "Prajāpati" (Senhor das criaturas), isto é, o criador das criaturas vivas. O tópico sobre Prajāpati é muito longo para essa nota explicativa. Por enquanto, simplesmente entenda que, se esse significado for introduzido na tradução, existe essa mudança: "(Onde) está o Prajāpati além de Você Mesmo...?". Suponho que o resto esteja claro.Return 

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 Aforismo 10

एवंविधस्यास्य जगन्नाट्यनर्तकस्य भूमिकाग्रहणपदबन्धस्थानरङ्गमाह—


रङ्गोऽन्तरात्मा॥१०॥


रज्यतेऽस्मिञ्जगन्नाट्यक्रीडाप्रदर्शनाशयेनात्मनेति रङ्गस्तत्तद्भूमिकाग्रहणस्थानमन्तरात्मा सङ्कोचावभाससतत्त्वः शून्यप्रधानः प्राणप्रधानो वा पुर्यष्टकरूपो देहापेक्षयान्तरो जीवः। तत्र ह्ययं कृतपदः स्वकरणपरिस्पन्दक्रमेण जगन्नाट्यमाभासयति। उक्तं च श्रीस्वच्छन्दे

पुर्यष्टकसमायोगात्पर्यटेत्सर्वयोनिषु।
अन्तरात्मा स विज्ञेयः...॥

इति॥१०॥

Evaṁvidhasyāsya jagannāṭyanartakasya bhūmikāgrahaṇapadabandhasthānaraṅgamāha—


Raṅgo'ntarātmā||10||


Rajyate'smiñjagannāṭyakrīḍāpradarśanāśayenātmaneti raṅgastattadbhūmikāgrahaṇasthānamantarātmā saṅkocāvabhāsasatattvaḥ śūnyapradhānaḥ prāṇapradhāno vā puryaṣṭakarūpo dehāpekṣayāntaro jīvaḥ| Tatra hyayaṁ kṛtapadaḥ svakaraṇaparispandakrameṇa jagannāṭyamābhāsayati| Uktaṁ ca śrīsvacchande

Puryaṣṭakasamāyogātparyaṭetsarvayoniṣu|
Antarātmā sa vijñeyaḥ...||

iti||10||


(No seguinte aforismo, Śiva) falou (āha) sobre um cenário (raṅgam) ou lugar (sthāna) (onde) esse tipo (evaṁvidhasya asya) de ator (nartakasya), no drama dançante (nāṭya) (chamado) mundo (jagat), planta (os) pés (pada-bandha) (e) faz (grahaṇa) (o seu) papel (bhūmikā)


O palco (para que esse Nartaka ou ator dançante atue --ver aforismo 9--) (raṅgaḥ) (é sua) alma (ātmā) interior (antar) (o qual consiste dos corpos causal e sutil)||10||


Raṅga ou cenário é (iti raṅgaḥ) onde (asmin) o Ser (ātmanā) se deleita (rajyate) com a intenção (āśayena) de mostrar (pradarśana) a execução (krīḍā) do drama dançante (nāṭya) (conhecido como) o mundo (jagat). (Em outras palavras, raṅga é) o lugar (sthānam) (onde o Ser) assume (grahaṇa) vários (tad-tad) papéis (bhūmikā). Antarātmā (antar-ātmā) (é) a alma ou ser (jīvaḥ) que é interno (antaraḥ) em relação ao (apekṣayā) corpo (físico) (deha). (Tal alma interior) tem o corpo sutil (puryaṣṭaka) como forma (rūpaḥ) (e) a sua natureza (satattvaḥ) é uma manifestação (avabhāsa) contraída (saṅkoca) cuja parte essencial (pradhānaḥ... pradhānaḥ) (é) vazio (śūnya) ou (vā) energia vital (prāṇa)1 |

Esse (Nartaka) (ayam), que tem os pés plantados (kṛta-padaḥ) nesse (cenário) (tatra hi), manifesta (ābhāsayati) o drama dançante (nāṭyam) (denominado) mundo (jagat) por uma sucessão (krameṇa) de movimentos (parispanda) dos seus próprios (sva) sentidos (internos) (karaṇa)2 |

(Foi) dito (uktam ca) no venerável Svacchandatantra (śrī-svacchande):

"Entrando em contato (samāyogāt) com o corpo sutil ou puryaṣṭaka (puryaṣṭaka), ele (saḥ) vaga (paryaṭet) em todas as formas de existência (sarva-yoniṣu) (e é consequentemente) conhecido como (vijñeyaḥ) o ser ou alma (ātmā... iti) interior (antar)...3 "||
(Ver X, 85 no Svacchandatantra)

||10||

1  O que o autor quis dizer é simplesmente que a natureza da alma interior é o corpo causal (vazio e energia vital, as quais são uma manifestação contraída de Śakti), mas a sua forma (como uma roupa) é o corpo sutil ou puryaṣṭaka (intelecto, ego, mente e os cinco elementos sutis denominados Tanmātra-s). É por isso que adicionei na minha tradução do atual aforismo: "que consiste dos corpos causal e sutil".Return 

2  Os movimentos dos seus sentidos internos são as vibrações da Natural Svātantryaśakti do Senhor (o Seu Poder de Liberdade Absoluta).Return 

3  Os três pontos representam a parte restante da estrofe: "निबद्धस्तु शुभाशुभैः।" - "nibaddhastu śubhāśubhaiḥ|" - "que está certamente atado por boas e más (vāsanā-s ou tendências)". O que adicionei entre parênteses está plenamente de acordo com o que o sábio Kṣemarāja comenta em seu Svacchandoddyota: "तत्सम्बन्धाद्वासनारूपैः शुभाशुभैर्निबद्धः सन् योनेर्योन्यन्तरं प्रसरन्" - "Tatsambandhādvāsanārūpaiḥ śubhāśubhairnibaddhaḥ san yoneryonyantaraṁ prasaran" - "Devido À (sua) conexão com esse (corpo sutil ou puryaṣṭaka), ele continua a estar atado por boas e más vāsanā-s ou tendências (que resultam de boas e más ações, e, como consequência,) move-se de uma forma de existência a outra". Agora, tudo está bem claro, certo?Return 

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 Aforismo 11

इत्थमन्तरात्मरङ्गे नृत्यतोऽस्य—


प्रेक्षकाणीन्द्रियाणि॥११॥


योगिनश्चक्षुरादीनीन्द्रियाणि हि संसारनाट्यप्रकटनप्रमोदनिर्भरं स्वस्वरूपमन्तर्मुखतया साक्षात्कुर्वन्ति तत्प्रयोगप्ररूढ्या विगलितविभागां चमत्काररससम्पूर्णतामापादयन्ति। यच्छ्रुतिः

कश्चिद्धीरः प्रत्यगात्मानमैक्षदावृत्तचक्षुरमृतत्वमश्नन् (...इच्छन्)॥
(कठोपनिषदि अ० २। व० १। मं० १)

इति॥११॥

Itthamantarātmaraṅge nṛtyato'sya—


Prekṣakāṇīndriyāṇi||11||


Yoginaścakṣurādīnīndriyāṇi hi saṁsāranāṭyaprakaṭanapramodanirbharaṁ svasvarūpamantarmukhatayā sākṣātkurvanti tatprayogaprarūḍhyā vigalitavibhāgāṁ camatkārarasasampūrṇatāmāpādayanti| Yacchrutiḥ

Kaściddhīraḥ pratyagātmānamaikṣadāvṛttacakṣuramṛtatvamaśnan (...icchan)||
(Kaṭhopaniṣadi a. 2 | v. 1 | maṁ. 1)

iti||11||


Dessa forma (ittham), desse (Nartaka) (asya) que atua e dança (nṛtyataḥ) no palco (raṅge) do ser ou alma (ātma) interior (antar)


Os sentidos (desse Nartaka ou ator dançante) (indriyāṇi) (são) os espectadores (de sua representação) (prekṣakāṇi)||11||


Os sentidos (indriyāṇi) do Yogī (yoginaḥ) —a faculdade de ver (cakṣus), etc. (ādīni)— certamente (hi) contemplam (sākṣāt-kurvanti) internamente (antar-mukhatayā) a sua própria (sva) natureza essencial (sva-rūpam), que está repleta (nirbharam) de alegria excessiva (pramoda) ao exibir (prakaṭana) o drama dançante (nāṭya) (denominado) Saṁsāra --Transmigração-- (saṁsāra). Por meio do desenvolvimento (prarūḍhyā) da representação (prayoga) desse (drama dançante) (tad), eles fazem com que (o Yogī) entre (āpādayanti) na plenitude (sampūrṇatām) do sabor (rasa) de Camatkāra (camatkāra)1 , na qual --isto é, na plenitude-- desapareceu a diferença ou dualidade (vigalita-vibhāgām)|

Como (expressam) os Veda-s (yad śrutiḥ):

"(De qualquer forma,) algum (kaścid) homem sábio (dhīraḥ), ganhando (aśnan) —desejando (icchan)2 — a imortalidade (amṛtatvam) com os olhos voltados para trás (āvṛtta-cakṣus) --isto é, introspectivamente--, contemplava (aikṣat) o Ser (ātmānam) internamente (pratyak... iti)"||
(Em Kaṭhopaniṣad II, 1, 1)

||11||

1  Camatkāra significa literalmente "assombro, surpresa", mas, em um ambiente artístico, significa "deleite da experiência artística", enquanto, em Trika, significa "alegria da suprema consciência do Eu". Então, esse termo é uma daquelas palavras que não é possível traduzir sempre com precisão, pois varia segundo os contextos. Nesse caso, como se está ensinando Trika, você poderia interpretar isso como "alegria da suprema consciência do Eu", mas, ao mesmo tempo, como se está falando de um drama dançante, você também poderia considerar a tradução "deleite da experiência artística" como perfeitamente válida. Incluir ambas as traduções no texto não seria conveniente. É por isso que deixei Camatkāra como tal na tradução. Às vezes, as pessoas reclamam sobre esses "irritantes" (hehe!) termos em sânscrito no meio das frases em inglês, espanhol, português, etc. Eles reclamam porque não entendem que a tradução exata é, às vezes, tão longa e/ou variada que simplesmente não é conveniente incluí-la na oração. Como você sabe, o inglês, o espanhol, o português e o resto das línguas vernáculas são tão limitadas e ambíguas, enquanto o sânscrito é tão ilimitado e exato.Return 

2  Duas possíveis leituras: "अश्नन्" - "aśnan" - "ganhando" ou "इच्छन्" - "icchan" - "desejando". É comum encontrar escrituras com múltiplas leituras em certas porções do texto. Portanto, nenhuma surpresa aqui.Return 

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 Informação adicional

Gabriel Pradīpaka

Este documento foi concebido por Gabriel Pradīpaka, um dos dois fundadores deste site, e guru espiritual versado em idioma Sânscrito e filosofia Trika.

Para maior informação sobre Sânscrito, Yoga e Filosofia Indiana; ou se você quiser fazer um comentário, perguntar algo ou corrigir algum erro, sinta-se à vontade para enviar um e-mail: Este é nosso endereço de e-mail.



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