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 Śivasūtravimarśinī: Seção I (aforismos 1 a 10 - pura)

Tradução pura


 Introdução

Tem início a Śivasūtravimarśinī. Primeiro, Kṣemarāja apresenta uma oração propiciatória a Śaṅkara (Śiva). Segundo, ele explica as razões que o forçaram a escrever o seu comentário. Terceiro, ele narra como ocorreu a descoberta dos Śivasūtra-s. Eu te disse antes que existem três versões que explicam como foram descobertos os Śivasūtra-s. Aqui, Kṣemarāja explica a sua versão dos fatos. Finalmente, ele começa a comentar os aforismos propriamente ditos.

Este é o primeiro grupo de 10 aforismos dos 22 aforismos que formam a primeira Seção (que versa sobre Śāmbhavopāya). Como você sabe, a obra inteira é composta dos 77 aforismos dos Śivasūtra-s mais os respectivos comentários.

É claro que também inserirei os aforismos de Śiva sobre os quais Kṣemarāja estiver comentando. Apesar de que não comentarei sobre os sūtra-s originais ou sobre o comentário de Kṣemarāja, escreverei algumas notas para esclarecer certos pontos sempre que for necessário. Se você quiser uma explicação detalhada dos significados ocultos dessa escritura, vá a "Escrituras (estudo)/Śivasūtravimarśinī" na seção Trika.

Leia a Śivasūtravimarśinī e experimente Supremo Deleite, querido Śiva.

Este é um documento de "tradução pura", ou seja, você não encontrará nenhum Sânscrito original, mas haverá, às vezes, uma quantidade mínima de Sânscrito transliterado nas próprias traduções do texto. É claro, não haverá nenhuma tradução palavra por palavra. De qualquer forma, haverá Sânscrito transliterado nas notas explicativas. Se você for uma pessoa cega utilizando um leitor de tela e não quiser ler as notas, ou simplesmente quiser pular as notas, clique no respectivo link "Pular as notas" para continuar lendo o texto.

Importante: Tudo o que está entre parênteses e em itálico dentro da tradução foi agregado por mim para completar o sentido de uma determinada frase ou oração. Por sua vez, tudo o que está dentro de um duplo hífen (-- ... --) constitui informação esclarecedora adicional também agregada por mim.


Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.


Ao início


 Oração propiciatória a Śaṅkara

Essa Consciência de Śaṅkara, que (é) completamente não dual (mas tem) aparência ou brilho de dualidade, que (é) a Realidade a partir da qual a classe ou grupo de Rudra-s (e) Kṣetrajña-s surge (e) na qual finalmente repousa, cujo universo consiste de uma pulsação --ou então, uma tradução alternativa seria "cujo universo se manifesta a partir Dela Própria"--, cuja extensão (é) este (próprio) universo, que está repleto Disso --ou seja, dessa Consciência--, triunfa --isto é, "é vitoriosa"--. (Em suma, essa Consciência de Śaṅkara é) o princípio da Vibração Primordial de Anuttara --isto é, "Śiva, o Ser Supremo"--, que é composto pelo Néctar que emerge de uma Massa de Liberdade e Bem-aventurança.

Ao início


 Razões para escrever este comentário

Tendo notado incongruência nos comentários desta época, por não serem consistentes com a Sagrada Tradição dos Guru-s ou Mestres, exponho os Śivasūtra-s de acordo com o seu verdadeiro significado.

Ao início


 Descoberta dos Śivasūtra-s

Neste mundo, sobre a Venerável montanha Mahādeva, (vivia) alguém digno de reverência. Seu coração havia sido purificado pela Nobre Tradição dos diversos Seres Aperfeiçoados e Yoginī-s do Senhor Supremo. Ele era dedicado à adoração do Auspicioso. Devido a um excesso de devoção ao Grande Senhor, a qual se manifestava brilhantemente (nele) devido à Descida de Poder --a Graça Divina--, dava um ensinamento que não concordava com o que era dado por Seres Aperfeiçoados (no Budismo) tais como Nāgabodhi, entre outros, que estavam ocupados com pontos de vista inferiores. Ele era um grande devoto do Senhor e um Guru. Seu nome: Vasugupta.

E, certa vez, o Supremo Śiva, disposto a mostrar Favor e munido da intenção de: "Que a Secreta Tradição não se interrompa neste mundo de seres vivos, que é, em sua maioria, perfumado pelo ponto de vista dualista!", expandiu, em sonho, a consciência desse (Vasugupta), conferindo-lhe Graça Divina. (Disse-lhe) isto:

"Aqui mesmo, nesta montanha, encontra-se o Secreto Ensinamento Esotérico embaixo de uma grande pedra. Tendo-a obtido, revele-a àqueles que estejam aptos a receber Graça Divina".

Após acordar, ele --Vasugupta-- começou a buscar essa grande pedra. (E, após encontrá-la,) virou-a para baixo com um mero toque da mão, vendo com os seus próprios olhos o sonho confirmado. Dessa forma obteve esses Aforismos de Śiva, os quais são um compêndio da Doutrina Esotérica de Śiva.

E, após estudá-los completamente, ele os revelou a nobres discípulos (tais como) o muito venerável Kallaṭa, entre outros, e os compilou na forma das Spandakārikā-s. Os aforismos que versam sobre a Vibração Primordial --isto é, Spandakārikā-s ou Spandasūtra-s--, obtidos a partir dessa ininterrupta sucessão discipular, foram completamente investigados por nós no Spandanirṇaya. E agora, os Śivasūtra-s estão sendo investigados.

Neles --ou seja, nos Śivasūtra-s--, ensina-se, primeiramente, em completa oposição aos que seguem a doutrina da diferença entre o homem e o Senhor, que "unicamente Śiva, no mais alto sentido da (palavra) Consciência, (é) o Ser do universo"—

Ao início


 Aforismo 1


A Consciência que é onisciente e onipotente (é) o Ser, ou a verdadeira natureza da Realidade||1||


Aqui, a atividade da Consciência é comum a todos --isto é, universal--, devido à inexistência de algo não percebido --ou seja, de algo fora do alcance da Consciência--. Um cetana é um ser que é consciente e capaz de formar uma ideia em sua mente, (e) que está dotado de Absoluta Liberdade com relação a todo conhecimento (e) atividade. "Caitanya" é o estado ou condição desse (ser consciente ou cetana). (A palavra Caitanya) contém (um afixo que conota) relação1 . (Portanto,) diz-se que (Caitanya é) total e perfeita Liberdade (com relação a todo conhecimento e atividade)|

E essa (Liberdade) é --pertence a-- unicamente do Senhor Paramaśiva --o Supremo Śiva--. (Os outros seres, desde os Sakala-s ou indivíduos limitados) até Anāśritaśiva --uma fase entre os tattva(s) Śiva e Śakti-- (não possuem essa Liberdade), já que (a sua) existência depende Dele|

Embora Ele --o Senhor-- tenha infinitos atributos (tais como) eternidade, onipresença, ausência de forma, etc., ainda assim, devido ao fato de que existe a possibilidade de que a eternidade, etc., (ocorra) inclusive em algum outro lugar, (aqui, está) somente sendo mostrada a predominância de Svātantrya ou Liberdade Absoluta, (já que esse Svātantrya) não é possível em (nenhum) outro (ser que não seja o Próprio Senhor)|

Dessa forma, (o Seu principal dharma ou atributo) foi indicado por meio do substantivo neutro "Caitanya", excluindo (todos) os outros atributos|

Por essa razão, esse (Caitanya é) o Ser, (e) nunca alguma outra coisa de natureza variada, como presumem os que seguem a doutrina da diferença (entre o Ser e os seres, e dos próprios seres entre si)|

(Por um lado,) se houvesse inconsciência nesse (Ātmā ou Ser), (Ele seria) matéria inerte, pois seria "não Ser". (Por outro lado,) se (Ātmā) fosse considerado essencialmente como Consciência, (haveria) insuficiência de meios para aplicar (a previamente mencionada doutrina da) diferença. Não é possível estabelecer ou aplicar (a doutrina da) diferença a Cit ou Consciência por meio de espaço, tempo (ou) forma --ākāra--, (porque, se) fossem percebidos --ou seja, se espaço, tempo e forma estivessem dentro do alcance da Consciência--, (então) seriam essencialmente Cit ou Consciência, mas, (se) não fossem percebidos --isto é, não estivessem dentro do alcance da Consciência--, por estarem desprovidos de Cit, seriam irreais. Então, a diferença nas naturezas dos seres não pode ser estabelecida. Inclusive por meio do contato com mala ou impureza (aparecendo na forma de Āṇava, Kārma e Māyīya2 ), (há) insuficiência de meios (para estabelecer a doutrina da) diferença, (já que mala) não é (algo que exite de forma) separada (da Consciência). Isso será explicado mais adiante. Ainda que haja existência de mala ou impureza anterior (à Libertação), é impossível postular a doutrina dos múltiplos seres, já que existe cessação desse (mala) no estado de Mukti ou Emancipação Final. Se houvesse aparição de vestígios residuais de mala, ou (se uma alma liberada estivesse) de alguma forma abaixo de Anādiśiva --o Śiva sem começo--, (então esses aparentes) śiva-s liberados seriam certamente saṁsārī-s ou seres transmigratórios3 |

Tal como foi estabelecido: "Caitanya ou Consciência com Absoluta Liberdade para conhecer e fazer tudo" (é) apenas um único Ser". (Por meio dessa máxima,) foi indicada a suficiência de meios (para manter) a doutrina de múltiplos seres|

E agora, para comunicar (a resposta à pergunta) "O que (é) o Ser?" para os discípulos que desejam saber, (Śiva --o autor dos Śivasūtra-s-- diz que) o Ser não é o corpo, a energia vital, Buddhi ou intelecto (ou) o Vazio --śūnya--, como presumem as pessoas comuns e o sistema Cārvāka, a tradição védica, o Budismo Yogācāra, o Budismo Mādhyamika, etc., (respectivamente,)4  mas sim, como (já) foi afirmado, (o Ser é) apenas Caitanya ou Consciência dotada de Absoluta Liberdade ou Svātantrya|

Mesmo na condição na qual se imagina que o experimentador ou sujeito é o corpo, etc., (ainda existe) um estado de Experimentador verdadeiro ou real que consiste na natural e não imaginada consciência do Eu devido a uma manifestação resplandecente desse (Caitanya)|

Isso (também) foi dito no venerável Mṛtyujidbhaṭṭāraka --um epíteto do Netratantra--:

"Em todas as escrituras, menciona-se que a natureza do Ser (é) Caitanya, o qual carece de toda condição limitante (e) é essencialmente o Supremo Ser, realmente"|

No Vijñānabhairava, também (foi estabelecido que):

"(O Ser) caracterizado pela consciência (está presente) em todos os corpos --deha(s)--. Não existe nenhuma diferença em nenhum lugar. Por essa razão, uma pessoa que contempla tudo (como) idêntico a esse (Ser) conquista a existência transmigratória."||

Tendo resumido ou sumarizado esse mesmo (conceito) na forma de dois aforismos (que se encontram) nas veneráveis Spandakārikā-s, (a saber,)

"Pelo qual esse grupo de órgãos ou instrumentos --intelecto, ego, mente, poderes de percepção e poderes de ação--..."|
(Ver Spandakārikā-s I, 6-7)

(esse conceito) foi ensinado aos discípulos, acompanhado de sinais ou indícios que sirvam como prova pelo guru --i.e. Vasugupta, o autor dos Spandakārikā-s, segundo Kṣemarāja--|

Além disso, esse Caitanya que foi descrito é apenas o Ser do mundo, (isto é,) do universo (inteiro), que consiste de objetos existentes (e) inexistentes --imaginados--. (Essa conclusão é possível) porque (,no aforismo,) não se promove o ser ou essência individual (de nenhum ser específico)|

Não há nada que não seja percebido (por Cit ou Consciência) --em outras palavras, fora do alcance da Consciência--, certamente. Se não for percebido (por Cit) --isto é, se não for percebido pela Consciência--, (não poderá) jamais haver a natureza ou ser de nada|

Entretanto, (se) for percebido (por Cit) --em outras palavras, se estiver dentro do alcance da Consciência--, (terá) somente a natureza da Consciência, já que está unido --ou seja, é um-- com o autoluminoso Cit ou Consciência|

Essa (mesma interpretação) foi mencionada no venerável Ucchuṣmabhairava:

"Oh querida, enquanto esses conhecedores (não estão presentes), como (podem esses) objetos cognoscíveis (existir) durante esse lapso de tempo? Conhecedor (e) cognoscível (são) certamente um único princípio. Por essa razão, não há nada que seja impuro."||

Essa mesma (interpretação) foi resumida em dois aforismos (dos Spandakārikā-s):

"Devido ao fato de que a alma individual é idêntica a tudo..."|
(Ver Spandakārikā-s II, 3-4)

Devido ao fato de que Caitanya (é) a natureza essencial do universo, consequentemente, Pramāṇa --ou o meio para obter conhecimento correto e válido--, etc., (são) miseráveis (e) inadequados para provar Isso --Caitanya ou Consciência com Absoluta Liberdade--, já que inclusive a prova desse (Pramāṇa, etc.) depende do autoluminoso Caitanya. E, de acordo com o que foi mencionado anteriormente, é impossível que algo vele ou cubra Caitanya, já que (este) está sempre emitindo luz --ou seja, Caitanya é sempre luminoso--|

Isso (também) foi dito no venerável Trikahṛdaya:

"Da mesma forma que, (quando) alguém tenta saltar com o pé em cima da sombra da sua cabeça, (a sombra da) cabeça não está no lugar (onde pisa) o pé, também (é assim com) essa Vaindavī Kalā --ou Poder do Bindu5 --"||

"Da mesma forma que a (sombra da) cabeça daquele que tenta saltar (sobre ela) não está no lugar (onde pisa) o pé, assim também é esse (Vaindavī Kalā)", (essa é) a conexão sintática aqui|

Com essa intenção, foi provado, nas Spandakārikā-s, por meio de uma grande quantidade de estrofes, que Caitanya ou Consciência com total Liberdade para conhecer e fazer tudo é sempre a autoluminosa Verdade Absoluta (e) tem por natureza o principio do Spanda --a Vibração Suprema--, o qual é, essencialmente, Śaṅkara --ou Śiva--, (na estrofe) que começa (com):

"No qual descansa...6 "|
(Ver Spandakārikā-s I, 2)

(e) termina (com):

"... isso é, no mais alto sentido, (o princípio do Spanda)"|
(Ver Spandakārikā-s I, 5)

||1||

Pular as notas

1  O afixo ao qual o autor se refere aqui é o conhecido afixo secundário ou Taddhita "yañ". Muito bem, vamos lá: pegue a palavra "cetana" (ser consciente), omita o "a" final e adicione "yañ" ao "cetan" resultante. Assim, você obtém "cetanyañ". Agora, mude o "e" para a sua forma Vṛddhi (alongada), ou seja, "ai". Bem, o resultado obtido é "caitanyañ". Agora, omita esse "ñ" final. Muito bem!: "caitanya" (o estado de um ser consciente, ou seja, a Consciência). Entretanto, a palavra Consciência não basta para definir Caitanya... Consciência Absoluta seria uma tradução melhor, mas é longa. Por isso, é geralmente traduzida como "Consciência". Bem, o afixo "yañ" indica "relação"... entre o ser e o seu estado, nesse caso, entendeu? Quer mais informação sobre afixos Taddhita?... vá ler os documentos de Afixos.Return 

2  O Āṇavamala é uma contração da suprema Vontade de Śiva por meio da qual Śiva sente que não é perfeito e pleno. O Māyīyamala é uma contração do supremo Conhecimento de Śiva por meio da qual Śiva sente que é diferente dos objetos (seres, coisas, etc.) e que esses objetos são diferentes entre si. Finalmente, o Kārmamala é uma contração da suprema Atividade de Śiva por meio da qual Śiva sente que é um fazedor limitado de ações igualmente limitadas.Return 

3  A teoria de Anādiśiva (Śiva sem começo) e dos śiva-s liberados é explicada no estudo desta escritura [Ver "Escrituras (estudo)/Śivasūtravimarśinī" na seção Trika].Return 

4  Por um lado, as pessoas comuns, bem como o sistema Cārvāka, pensam que o Ser é o corpo. Por outro lado, a tradição védica postula que o Ser é apenas prāṇa ou energia vital. Por sua vez, o Budismo Yogācāra estabelece que Ele é Buddhi ou intelecto. Finalmente, o Budismo Mādhyamika afirma que o Ser é apenas Vazio ou Śūnya. Isso é explicado em detalhes no meu estudo [Ver "Escrituras (estudo)/Śivasūtravimarśinī" na seção Trika].Return 

5  Vaindavī (ou Baindavī) Kalā é o Poder (Kalā) de Vindu ou Bindu. O Vindu ou Bindu é Śakti em uma forma extremamente compacta. Bem, o sentido, aqui, é que o Poder dessa Śakti ou Consciência do Eu sempre permanece como o conhecedor. Explico Baindavī Kalā em detalhes no meu estudo [Ver "Escrituras (estudo)/Śivasūtravimarśinī" na seção Trika].Return 

6  Escrevi três pontos para representar "Iti ādi" ou "etc.".Return 

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 Aforismo 2

"Se a natureza essencial do universo composto de seres limitados (e) matéria inerte (é) apenas Caitanya --Consciência onisciente e onipotente--, cuja forma é Paramaśiva --o Supremo Śiva--, então, como (pode existir) essa escravidão?". Para dissipar (essa) dúvida, (o Senhor Śiva) declarou (o segundo) aforismo, (mas) dotado de uma (dupla) leitura: com coalescência (e) sem coalescência da letra "a". (Em outras palavras, Śiva o expressou) por meio da combinação de letras segundo as regras eufônicas --Regras de Sandhi-- e também de maneira contrária --sem nenhum Sandhi ou combinação--—


O conhecimento (limitado ou contraído é) escravidão||2||


Aqui, por meio de uma conexão com o que foi mencionado (antes), (provou-se que) "nada existe de forma separada da Luz da Consciência". Então, como é possível a existência (separada) de mala --impureza--, e --lit. "ou"-- de que tipo é a (sua) obstrução Disso --do Ser Supremo--? --em outras palavras, "A que se assemelha a sua obstrução Disso?"--. Dessa forma, excluindo mediante argumento o procedimento expresso pela doutrina dualista1 :

"(Os grandes sábios) sustentam que mala ou impureza (é) ignorância (e) o motivo para que brote o Saṁsāra --Transmigração--"||

"O mundo está atado pela ignorância, (e,) por essa razão, (atravessa) manifestação e dissolução"||

como estabelecem firmemente as veneráveis (escrituras) Mālinīvijaya (e) Sarvācāra (nas duas estrofes anteriores, respectivamente. Existe) uma contração --uma limitação-- que o Senhor --Īśvara-- Supremo faz aparecer por meio do poder de Mahāmāyā2 , cuja forma consiste em ocultar a própria natureza essencial. (Essa Mahāmāyā) é manifestada pelo poder da Sua Liberdade Absoluta. (Tal contração ou limitação aparece de maneira resplandecente no) Seu Ser, que é como o céu, desde Anāśritaśiva3 , etc., até māyāpramātā --os experimentadores pralayākala e sakala--4 . (É) escravidão unicamente essa (limitação), cuja natureza (jaz em) ignorância, que consiste em "não se dar conta" da (própria) unidade com Śiva (e) cuja essência (é) conhecimento contraído na forma de Āṇavamala, o qual --Āṇavamala-- consiste em considerar(-se) como imperfeito|

E, assim como não pode ser provado que mala ou impureza (é) separado (da Consciência), da mesma forma, (o mesmo fato) foi mostrado extensamente por nós ao investigar dīkṣā --iniciação-- no (comentário) Uddyota sobre o venerável Svacchandatantra, no final do quinto capítulo|

Esse (mesmo) significado do aforismo foi resumido em uma porção das Spandakārikā-s:

"... desse (indivíduo limitado), que está incapacitado pela sua própria impureza --aśuddhi--..."|
(Ver Spandakārikā-s I, 9)

Dessa forma, não é somente escravidão esse conhecimento (limitado) que consiste em ignorância, a qual aparece como "um não se dar conta" caracterizado por considerar o Ser como "não Ser"; mas sim, inclusive, o (limitado) conhecimento -a raiz da ignorância- que consiste em considerar o não Ser, ou seja, o corpo, etc., como sendo o Ser, (é) também escravidão, certamente|

Esse (conceito) foi (também) resumido por meio do (seguinte) aforismo das Spandakārikā-s:

"... (implica) a perda da seiva ou vigor do Supremo Néctar da Imortalidade..."|
(Ver Spandakārikā-s III, 14)

Dessa forma, qualquer coisa cuja natureza consista em Svātantrya --consciência do Eu, isto é, Liberdade para conhecer e fazer tudo-- é descrita mediante a palavra Caitanya (tal como indicado no primeiro aforismo dos Śivasūtra-s). Então, mesmo que exista (somente) Cit --Śiva ou Prakāśa--, como no caso de um Vijñānākala que não alcança consciência do Eu ou Liberdade --a saber, kartṛtvasvātantrya ou liberdade para fazer--5 , (há um Āṇavamala) na forma de meramente considerar (a si mesmo) como imperfeito; (ou,) ainda, se existir consciência do Eu --liberdade para fazer-- (mas) com ignorância (aparecendo) na forma de considerar o não Ser, como o corpo, etc., como sendo o Ser, (haverá também Āṇavamala6 . (Portanto,) por meio desse aforismo, declarou-se que Āṇavamala (é) de dois tipos|

Isso é o que foi dito na venerável Īśvarapratyabhijñā:

"Esse Āṇavamala aparece em duas formas: (1) Como um estado de conhecimento sem liberdade, (ou) ainda (2) como um estado desprovido de conhecimento mas dotado de liberdade. (Ambas as facetas) se devem a uma diminuição (de consciência) com relação à própria natureza essencial"||
(Ver Īśvarapratyabhijñā III, 2, 4)

||2||

Pular as notas

1  A doutrina que postula a existência de diferença entre Deus e o homem.Return 

2  Mahāmāyā (lit. a grande Māyā) opera na região entre os tattva-s ou categorias 5 (Sadvidyā) e 6 (Māyā).Return 

3  A etapa entre os tattva-s ou categorias 2 (Śakti) e 3 (Sadāśiva).Return 

4  O experimentador (pramātā) de Māyā (Ignorância, tattva 6) consiste em dois experimentadores: pralayākala e sakala. O primeiro dorme profundamente em Māyā, enquanto o segundo experimenta os estados de sono (com sonhos, ou seja, não profundo) e vigília.Return 

5  Um Vijñānākala mora na porção inferior de Mahāmāyā (que opera na região entre os tattva-s 5 e 6), ou seja, entre Āṇavamala (a impureza primordial) e Māyā (o sexto tattva ou categoria). O experimentador Vijñānākala se dá conta de que é Śiva, mas, por estar desprovido de Śakti (consciência do Eu), é incapaz de fazer qualquer coisa. Em outras palavras, não possui "liberdade para fazer".Return 

6  O autor está falando sobre o experimentador denominado Sakala (ver a quarta nota anterior), que tem consciência do Eu e, como consequência, liberdade para fazer... até um certo limite, é claro... mas carece de verdadeiro conhecimento sobre a sua própria natureza essencial. Em suma, está cheio de "abodha" ou "ignorância" e não se dá conta da sua identidade com o Senhor Supremo.Return 

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 Aforismo 3

A escravidão é somente Āṇavamala, o qual está dotado de tais qualidades? (O autor dos Śivasūtra-s, ou seja, Śiva,) disse "Não" (, tacitamente, como prova o aforismo a seguir)


A fonte (e sua) progênie, (junto com) aquilo cuja forma é a atividade, (são também escravidão)||3||


(O termo) "bandha" --escravidão-- segue (do aforismo anterior). Varga (é) aquilo que está conectado a Yoni, (isto é,) a Māyā --o sexto tattva ou categoria--, a causa --kāraṇa-- do universo, diretamente e por meio de ininterrupta sucessão. Esse (varga é) o agente que dá origem a corpos, mundos, etc., (e consiste em) um agregado de tattva-s --categorias ou princípios-- começando com Kalā (ou) limitada capacidade de ação, etc., (e) terminando na terra1 . A forma (assumida) por isso --em suma, por "Yonivarga" ou Māyā e sua progênie, que é varga ou o agregado de tattva-s conectados a Māyā-- (é) Māyīyamala ou impureza Máyica. De maneira similar, (o termo) Kalā (significa) atividade. (É) o que impele (e) divide (a realidade) em coisa(s) (separadas), (como) isso ou aquilo, ingressando na sua natureza essencial --em outras palavras, "ingressando na natureza essencial de tal realidade"--. (A frase "Kalāśarīram" neste aforismo significa) aquilo cujo śarīra (ou) forma/natureza (é Kalā ou atividade. Portanto, "Kalāśarīram" não é nada mais que Kārmamala --impureza derivada do Karma--, é claro, e esse) Kārmamala (é) também escravidão. Esse é o sentido2 |

Esse (mesmo conceito) foi resumido também por meio deste (aforismo nas Spandakārikā-s):

"... desse (individuo limitado), que está incapacitado pela sua própria impureza --aśuddhi-- (e) que deseja --abhilāṣī-- fazer ações --isto é, agir--..."|
(Ver Spandakārikā-s I, 9)

E (o fato de) que isso (é) assim pode ser conhecido e aprendido a partir do nosso Spandanirṇaya --um comentário extremamente autorizado sobre as Spandakārikā-s--|

A essência dessas (manifestações, a saber,) Kalā, etc., é caracterizada pela limitada capacidade de ação, etc., (e) aderida ao Āṇavamala como (sua) base --ou seja, Āṇavamala é a base dessa essência--. (E, uma vez que tal essência) oculta ou vela (a natureza) das almas individuais --puruṣa-s--, fica (plenamente) provado que é um estado de mala ou impureza|

Isso é o que foi expresso no venerável Svacchandatantra:

"Ao estar eclipsado por mala ou impureza --Āṇavamala junto com seus dois descendentes: Māyīyamala e Kārmamala--, Caitanya ou Consciência com Absoluta Liberdade para conhecer e fazer tudo é provido com Kalā (e) Vidyā. Dessa forma, Isso --Caitanya-- é tingido por Rāga (e) dividido por Kāla. É restringido por Niyati (e) magnificado pelo sentido de ser um Puruṣa --alma individual--. (Caitanya) fica dotado da disposição de Prakṛti (e) associa-se aos três Guṇa-s --qualidades de Prakṛti--. Permanece no princípio (denominado) intelecto, (e) é rodeado pelo ego. (Finalnente, são proporcionados a Caitanya) mente, poderes de conhecimento e ação, elementos sutis (e) elementos brutos3 "||
(Ver Svacchandatantra II, 39-41)

O ato de ocultação (realizado) pelo Kārmamala (é) mostrado no venerável Mālinīvijayatantra também:

"A ação dhármica --lit. piedosa, relativa ao próprio dever prescrito, etc.-- (e) adhármica --oposta à dhármica-- está caracterizada por prazer, dor, etc."|
(Ver Mālinīvijayatantra I, 24)

Essa mesma coisa foi dita no venerável Īśvarapratyabhijñā, (isto é, que) Māyīya e Kārma mala-s têm Āṇavamala como (sua) base (e são tipos) especiais (de) conhecimento contraído:

"(Já estando presente Āṇavamala, surge então) Māyīyamala, (que produz,) aqui, uma disseminação ou propagação de objetos diferentes (da própria pessoa). E, quando há ignorância com relação ao fazedor, (surge) Kārmamala, o qual concede nascimento (e) experiência de prazer e dor. Esse grupo de três (mala-s é manifestado) pela Māyāśakti4  (de Śiva), realmente"||
(Ver Īśvarapratyabhijñā III, 2, 5)

||3||

Pular as notas

1  Os tattva-s ou categorias 7 a 36. Para mais informação, ver a Tabela de Tattva-s.Return 

2  Ver nota 2 do comentário sobre o primeiro aforismo.Return 

3  O processo inteiro de manifestação desde o tattva 7 até o tattva 36 está condensado nessa passagem do Svacchandatantra. Para obter uma completa compreensão sobre isso, leia Trika 4 (português), Trika 5 (português) e Trika 6 (português).Return 

4  Māyāśakti é o Seu divino Poder para produzir diferentes formas. Não deve ser confundido com Māyātattva (a sexta categoria, que é uma manifestação que Ele produz por meio dessa mesma Māyāśakti).Return 

Ao início


 Aforismo 4

"Agora, como é (que) esse triplo mala ou impureza cuja forma é conhecimento que consiste em ajñāna ou ignorância --em conhecimento limitado--, Yonivarga --Māyā e sua progênie, ou seja, Māyīyamala--, (e) Kalāśarīra --aquilo cuja forma é a atividade, isto é, Kārmamala--, torna-se um grilhão (para a alma individual?". O autor dos Śivasūtra-s --Śiva--) disse—


A base do conhecimento (limitado e contraído é) é a Mãe não compreendida||4||


Isso que foi descrito (antes é) uma forma tripla de conhecimento (limitado) cuja natureza (é) um triplo mala --impureza-- que consiste (1) no ato de considerar (a si mesmo) como imperfeito --Āṇavamala--, (2) na expansão de um sentido das diferenças --Māyīyamala--, (3) em boas (e) más Vāsanā-s ou tendências acumuladas no corpo causal, (que levam alguém a realizar boas e más ações, respectivamente)1  --Kārmamala--. Desse (triplo conhecimento limitado), Mātṛkā, a Progenitora do universo, (é) a Mãe desconhecida, (e) a Sua forma começa com "a" (e) termina com "kṣa". (Ela é a Mãe) do conhecimento cuja natureza (é) um lampejo de diversas cognições contraídas. (Esse limitado conhecimento ou cognição aparece na forma de) "eu sou imperfeito", "eu sou magro" ou "eu sou gordo", "eu sou o realizador do sacrifício Agniṣṭoma" e assim sucessivamente. (Esse conhecimento) está constituído por várias considerações, (algumas delas) aparecendo como destituídas de modificações mentais --isto é, como noções além da mente comum--, (enquanto outras aparecem) como possuindo modificações mentais --ou seja, como pensamentos formulados concretamente--, (e,) por meio da penetração de diferentes sons (e) palavras (na mente daquele que ouve,) gera uma embriaguez na forma de pesar, arrogância, alegria, paixão, etc. Segundo o preceito enunciado no venerável Timirodghāṭa:

"As Mahāghorā-s --lit. "muito terríveis"--, (isto é, as śakti-s ou poderes) que estão no meio da Consciência em Karandhra --isto é, Brahmarandhra--2 , que enforcam por meio do nó corrediço de Brahmā (e) são as Senhoras dos pīṭha-s ou assentos --os órgãos dos sentidos--, iludem repetidamente"||

(Mātṛkā) brilha na série de poderes (tais como) Brāhmī, etc., que regem os grupos de letras, Kalā-s --os cinco poderes primordiais--3 , etc.. Ela excita ou anima (o ser vivo) mediante a disposição de uma sucessão de letras, o que é notório nos Āgama-s --escrituras reveladas-- (tais como) o venerável Sarvavīra, etc.. Ela está estreitamente relacionada com o grupo de poderes cujos nomes (são) Ambā, Jyeṣṭhā, Raudrī (e) Vāmā. (Dito de maneira simples, Mātṛkā é) a Śakti ou Poder regente. Uma vez que (Mātṛkā) é realmente a base desse (conhecimento limitado), (e) devido ao fato de que, (pela mesma razão), há certamente ausência de uma exploração da unidade interna, as cognições (limitadas) não encontram repouso nem mesmo por um instante (e) estão unicamente direcionadas a coisas externas --lit. direcionadas para fora--. Assim, proclamar que essas (cognições são) grilhões (é) realmente adequado|

Esse (mesmo conceito) foi resumido por meio do (seguinte) aforismo (das Spandakārikā-s):

"... derivado da multidão de palavras..."|
(Ver Spandakārikā-s III, 13)

e também (neste outro) aforismo (da mesma escritura):

"Os poderes (estão) constantemente prontos para ocultar ou velar a natureza essencial desse (ser limitado)..."|
(Ver Spandakārikā-s III, 15)

||4||

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1  O homem possui quatro corpos: (1) bruto ou físico, (2) sutil, (3) causal e (4) supracausal. O primeiro é conhecido por todos, não é? O segundo corpo contém as energias vitais, a mente, o ego e o intelecto. O corpo causal está além do sutil e contém impressões acumuladas. As "tendências" mencionadas nos comentários são como recipientes para serem preenchidos com bom e mau karma... bem, um longo tema, realmente. Entenda simplesmente isto: Essas tendências acumuladas no corpo causal levam alguém a realizar boas e más ações. Esse é o sentido. Ah, sim, eu quase ia esquecendo... o corpo supracausal é o célebre Bindu ou Ponto conhecedor... outro longo e complicado tema, tenha certeza disso. Não é necessário que eu entre em tais sutilezas em uma mera nota explicativa, é claro.Return 

2  Esses poderes têm a função de iludir as pessoas e conduzi-las à mundanidade. Moram em Karandhra, também conhecido como Brahmarandhra (lit. o buraco de Brahmā). Embora Brahmarandhra seja geralmente considerado erroneamente como o Sahasrāra-cakra, é tecnicamente o próprio centro desse cakra, situado na região acima das fontanelas. De acordo com a minha própria experiência, é literalmente um buraco cheio de Consciência divina. Quando alguém entra nele, não há aparentemente nada, mas, no seu devido tempo, experimenta uma espécie de membrana, por assim dizer. Existe uma tensão ou estresse nessa membrana. Bem, Śiva é a própria membrana, enquanto a Sua Śakti ou divino Poder é a tensão previamente mencionada. Esses mistérios são completamente elucidados por mim em "Escrituras (estudo)/Śivasūtravimarśinī" na seção Trika.Return 

3  Leia a minha explicação sobre esse tópico em Trika: Os seis cursos.Return 

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 Aforismo 5

Agora, (o próximo aforismo) ensina o meio para a cessação dessa escravidão, (isto é,) a verdadeira natureza de descansar no Alvo --a Meta, isto é, o Ser Supremo, também denominado Bhairava ou Śiva--—


Bhairava --o Ser Supremo-- (é) um repentino brilho ou elevação de Consciência divina||5||


Udyama (é) aquilo que (é) um surgimento da mais alta Pratibhā --ou seja, Parāvāk, lit. Fala Suprema--1 . (Tal Pratibhā) consiste de um instantâneo brotamento de Saṁvid --a Consciência Suprema--, a qual --Saṁvid-- é feita de Vimarśa --Śakti ou consciência do Eu-- (e) caracteriza-se por expansão (na forma do universo). Esse mesmo (udyama é) Bhairava --também chamado Śiva--, já que (Bhairava) está repleto do universo inteiro permanecendo em unidade com todas as śakti-s ou poderes (e) porque Ele possui a capacidade de devorar todo o grupo de ideias (que produzem dualismo). (Tal udyama também é Bhairava) porque é a causa para a manifestação da própria natureza essencial, que é, (em última análise,) Bhairava (também. E esse udyama) surge naqueles que têm devoção (e) o tesouro da atenção a esse Princípio --Bhairava, a Divindade-- interno. Isso é o que se ensina (nesse aforismo)|

Foi estabelecido no venerável Mālinīvijayatantra:

"Diz-se que śāmbhava-samāveśa ou uma absorção em Śiva (é) aquilo que tem lugar somente em alguém que não pensa em nada através de um despertar (concedido) pelo Guru"||
(Ver Mālinīvijayatantra II, 23)

A esse respeito, (a frase) "guruṇā pratibodhataḥ" (também pode ser interpretada), aqui, como "mediante o próprio grande despertar"2 . O significado (alternativo) dessa (frase) foi ensinado pelos Guru-s|

(Isso é o que) se declara no venerável Svacchandatantra também:

"Oh bela3 , certamente, para essa pessoa que percebe ou apreende que a sua natureza essencial (é) Bhairava, ao estar unida com o Eterno, os Mantra-s dão frutos --a essa pessoa--"||

Certamente, (a palavra) bhāvana --implícita na conjugação "bhāvayet" que aparece na estrofe do Svacchandatantra-- (significa,) aqui, a apreensão de um estado de elevação interior|

Esse (conceito também) foi resumido por esta (estrofe dos Spandakārikā-s):

"Deve-se certamente conhecer como Unmeṣa aquilo a partir de onde se produz o surgimento de outra(o) (consciência --segundo Kṣemarāja-- ou pensamento --segundo outros--)4  em uma (pessoa) que (já) está ocupada com um pensamento. (Uma pessoa) deveria perceber esse (Unmeṣa) por si mesma"||
(Ver Spandakārikā-s III, 9)

||5||

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1  A Fala Suprema é o nível onde palavras e objetos denotados por elas estão em total unidade. De fato, nem sequer emergiram como palavras e objetos nessa etapa. Dessa maneira, Fala Suprema é sinônimo de Consciência Suprema, a partir da qual se manifestou o universo inteiro.Return 

2  Porque o termo "guru", além de "preceptor espiritual", também significa "grande". Deve-se notar que, embora "preceptor espiritual" seja uma boa tradução curta de "guru", não é completamente precisa nesse contexto, na minha humilde opinião, porque o texto está falando sobre um Guru, ou seja, uma pessoa espiritualmente muito elevada que é capaz de levar um ser humano comum desde a escravidão até a Emancipação final. É por isso que "geralmente" prefiro deixar a palavra "guru" sem traduzir.Return 

3  Os Tantra-s são normalmente compostos na forma de um diálogo entre o Senhor Śiva e Pārvatī (Śakti), Sua esposa.Return 

4  Kṣemarāja é o sábio que está comentando nesse momento, é claro. Ele também compôs um comentário sobre as Spandakārikā-s.Return 

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 Aforismo 6

Dessa forma, tendo mostrado que a única causa para a cessação da ignorância (é) a perfeita absorção em Bhairava, a qual --isto é, a perfeita absorção-- é um meio baseado no instantâneo Unmeṣa1  da mais alta Pratibhā --ou seja, Parāvāk, lit. Fala Suprema--, (o Senhor Śiva, autor dos Śivasūtra-s,) disse (que) "devido a um completo apoderamento dessa (Pratibhā), há extinção de (todas as) diferenças, inclusive em Vyutthānam --qualquer estado exceto o samādhi ou concentração perfeita--2 "—


Por meio da união com o grupo coletivo de poderes, (produz-se) o desaparecimento do universo||6||


Esse Bhairava que foi descrito tem por natureza uma elevação (ou) surgimento da mais alta Pratibhā. A sua principal e suprema Śakti ou Poder de Absoluta Liberdade para conhecer e fazer tudo é um (Poder) cuja essência deve ser percebida internamente (como a consciência do Eu, e) deve ser vista externamente (como o universo. Devido a isso,) Ela --a Śakti-- toma posse de todo o grupo de poderes, (e aparece como) sucessão (e) não sucessão --simultaneidade--. (Por sua vez, quando) Ela transcende sucessão e não sucessão, aparece inclusive como muito vazia (e) não vazia, (ou) ambos --tanto muito vazia quando não vazia--. (De fato,) ainda que Ela seja descrita (assim), (também) não é isso|

Esse Jogo, cuja natureza (é) a resplandecente vibração do grupo de poderes (na forma) da bela emanação, etc., que começa com a manifestação da terra --tattva ou categoria 36-- (e) termina com o repouso no nais alto Experimentador --Śiva, tattva ou categoria 1-- é exibido por esse (Poder supremo do Senhor) sobre o Seu --de Śakti, o Poder previamente mencionado-- próprio tecido --isto é, substrato, fundo--|

O sandhāna ou união --mencionado no aforismo-- desse grupo de poderes que foi manifestado por esse (supremo Poder é) um ato de tornar-se consciente de maneira adequada segundo os preceito(s) expressos na Secreta Tradição. Quando isso ocorre --ou seja, quando ocorre sandhāna--, (sucede) o desaparecimento do universo, o qual começa em Kālāgni (e) termina na última Kalā3 . (Para ser mais específico,) o estado ou condição de existência externa, ainda que continue na forma de corpo e exteriorização, converteu-se completamente no Fogo da mais elevada Consciência. Esse é o sentido|

Também foi declarado na venerável Bhargaśikhā:

"Então, (quando se produz o desaparecimento do universo,) ele --o sublime Yogī-- devora tudo --isto é, torna-se um com tudo--, (inclusive) a morte e o tempo --Kāla também é a deidade que rege a morte--, o monte de atividades, a rede de mudanças, a identificação com o conhecimento (de objetos), a multidão de pensamentos de unidade (com o Ser Supremo ou) de multiplicidade"||

Inclusive na venerável Vīrāvalī (se estabelece que):

"Contemple essa Consciência situada no corpo (e) cujo esplendor é como (o de) Kālāgnirudra4 . (Contemple essa Consciência) na qual tudo se dissolve (e) as multidões de princípios e categorias se queimam||

No venerável Mālinīvijayatantra (foi dito) também:

"Aquele que reflete por meio da (sua) mente sobre a Realidade que não está dentro do campo de ação da pronúncia obtém uma absorção (no Ser Supremo). Aqui, essa (absorção) deve ser considerada como śākta --isto é, alcançada através de Śāktopāya--5 "||
(Ver Mālinīvijayatantra II, 22)

Por meio dessa proclamação, esse mesmo (śakticakrasandhāna ou união com o grupo coletivo de poderes) foi definido indiretamente (no Mālinīvijayatantra)|

E isso emerge à existência --ou seja, torna-se possível-- servindo aos pés de um verdadeiro Guru. Assim, nada mais foi revelado|

A mesma coisa foi resumida por duas estrofes (das Spandakārikā-s, a saber,) a primeira (estrofe da Seção I e) a última (da Seção III):

"... por cuja abertura (e) fechamento dos (próprios) olhos..."||
(Ver Spandakārikā-s I, 1)

"Mas, quando se enraiza em um lugar --isto é, no princípio do Spanda--..."||
(Ver Spandakārikā-s III, 19)

||6||

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1  Esse termo significa literalmente: "o ato de abrir os olhos, aparecer, tornar-se visível, etc.". Aqui, deve ser entendido como "surgimento".Return 

2  Vyutthāna é qualquer estado que não seja o samādhi (nesse contexto, "perfeita absorção em Bhairava"). Em suma, é o estado comum de consciência no qual vive a maioria das pessoas.Return 

3  Kālāgni é o mais baixo bhuvana ou mundo, enquanto a última Kalā se denomina Śāntyatīta. Leia Trika: Os seis cursos para mais informação.Return 

4  Ele também é conhecido como Kālāgnibhuvaneśa (o senhor do mundo chamado Kālāgni). Em suma, é a deidade que rege esse mundo ou bhuvana. O nome desse bhuvana pode ser traduzido como "o fogo (do fim) do tempo". É o mundo mais baixo, como eu disse na nota anterior.Return 

5  Leia Meditação 3 para mais informação.Return 

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 Aforismo 7

Dessa forna, para alguém no qual o universo foi detido e suprimido (como tal) --em outras palavras, o universo é visto agora como Consciência divina--, não existe nenhuma diferença entre Samādhi (e) Vyutthāna --qualquer estado exceto Samādhi--. Dessa forma, (o Senhor Śiva) disse—


(Mesmo) durante os diferentes (estados de consciência) de vigília, sono e sono profundo, existe o deleite e desfrute do Quarto Estado||7||


Para alguém que está unido (com o Ser Supremo) por meio do grande Yoga --Śāmbhavopāya-- previamente mencionado, há constantemente o Camatkāra do Quarto Estado (de consciência)1 . Esse Ābhoga --deleite e desfrute-- (mencionado neste aforismo é) Camatkāra --Bem-aventurança da suprema consciência do Eu--. (É o deleite e desfrute) do Quarto Estado ou Turya, que --isto é, o Quarto Estado-- foi denotado indiretamente (no quinto aforismo anterior dessa seção:) "Bhairava --Ser Supremo-- (é) um repentino brilho ou elevação da Consciência divina". (Esse Quarto Estado ou Turya) consiste em Sphurattā2  (e) corre ininterruptamente em todos os estados (de consciência). (Em outras palavras, o Quarto Estado permanece como uma constante Testemunha) durante a manifestação do estado de separação caracterizada por multiplicidade (aparecendo na forma dos) diferentes (estados) de vigília, sono (e) sono profundo --suṣupta--, os quais serão investigados logo a seguir. (Resumidamente, para aquele que está unido com o Ser Supremo por meio de Śāmbhavopāya,) existe geração ou produção desse (Ābhoga ou Camatkāra). Esse é o significado|

Alguns leem, aqui, "saṁvid" (em vez de) "sambhava", (e o) significado (disso é) claro3 |

A mesma coisa foi mostrada (pela seguinte estrofe) no venerável Candrajñāna, (ou seja,) que o deleite e desfrute do Quarto Estado (também) está (presente) nos grandes Yogī-s em vigília, etc.:

"Assim como a lua, que tem a aparência de uma flor, brilha em todas as direções, revigorando e alegrando o mundo imediatamente pela multidão de (raios) que revigoram e alegram, da mesma forma, oh Deusa --Pārvatī, a esposa de Śiva--!, o grande Yogī, quando vaga pela terra, revigora e alegra em todas as direções todo esse colorido mundo que começa com Avīci --um tipo de inferno-- (e) termina em Śiva --o Ser Supremo--, por meio de todos os raios da lua do (seu) Conhecimento"|

Nas Spandakārikā-s, (o mesmo ensinamento) foi resumido por meio do (seguinte) aforismo, certamente:

"Inclusive na variedade (de estados, tais como) vigília, etc...."|
(Ver Spandakārikā-s I, 3)

||7||

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1  O termo "camatkāra" significa literalmente "assombro". Entretanto, em Trika, o significado é o seguinte: "Bem-aventurança da suprema consciência do Eu". Tive que arrumar a tradução adequadamente para não ficar redundante. E "Turya" (também denoninado "Turīya") é o quarto estado de consciência. Esse estado é uma Testemunha dos outros três (vigília, sono e sono profundo). O mais elevado Ser está em Turya (um estado constante) durante todo o tempo, mas quando Ele (Você!) adota a condição de experimentador limitado, passa por vigília, sono e sono profundo (três estados efêmeros).Return 

2  Sphurattā significa muitas coisas (fulgor, luz do Ser, etc.). Nesse contexto, na minha opinião, esse termo é usado pelo sábio como um epíteto de Śakti (o Supremo Poder do Senhor). Nesse sentido, Sphurattā é a vibrante luz de Śiva. Essa luz também é conhecida como Spanda e torna Śiva consciente da própria existência.Return 

3  É claro somente para eruditos sânscritos, haha! Escute com atenção: a palavra "saṁvid" é interpretada geralmente como "Consciência". De qualquer forma, nesse contexto, deveria ser traduzida como "experiência". Então, o texto do aforismo inteiro que o sábio está comentando diria: "(Mesmo) durante os diferentes (estados de consciência) de vigília, sono e sono profundo, (existe) a experiência do deleite e desfrute do Quarto Estado". Na minha humilde opinião, também pode ser interpretada como "aquisição", e, dessa forma, o texto inteiro diria: "(Mesmo) durante os diferentes (estados de consciência) de vigília, sono e sono profundo, (existe) a aquisição do deleite e desfrute do Quarto estado". Agora "finalmente" é claro, hehe. OK, isso é tudo!Return 

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 Aforismos 8, 9 e 10

(O Senhor Śiva, autor dos Śivasūtra-s, que estão sendo comentados,) define esse grupo de três (estados de consciência, a saber,) vigília, etc., por meio de três aforismos—


O conhecimento (é) o estado de vigília||8||
O estado de sono (são) pensamentos e ideações||9||
A falta de discernimento ou consciência (é) o sono profundo de Māyā --o engano--||10||


Jāgrat é o estado de vigília do mundo (e consiste em) conhecimento cuja esfera de atividade (é) objetos comuns a todos (e) que nasce dos sentidos externos|

Mas svapna (é) o estado de sonho, (que consiste em) pensamentos que surgem meramente a partir da mente (e) cuja esfera de atividade (é) objetos não comuns --isto é, os objetos são percebidos unicamente pelo sonhador--. (Portanto, é conhecido como svapna ou sonho,) porque, nele, há preeminência de pensamentos de tal tipo --ou seja, não comuns--|

Certamente, esse sauṣupta ou sono profundo, que consiste em engano (e) cuja natureza (é) Māyā --tattva ou categoria 6 na manifestação universal--, (representa) a ignorância primordial, que (implica) aviveka (ou) ausência de discernimento ou consciência|

Junto com a definição (de) sono profundo, a natureza essencial de Māyā, a qual deve ser eliminada, (foi) também incidentalmente mencionada|

Além disso, dessa forma, a tripla natureza (desses estados de consciência) foi mostrada nas três condições de vigília, etc., por meio desse tipo de definição|

Da mesma forma, aqui, qualquer conhecimento inicial que não esteja particularizado, o que é usual ou característico do estado de sonho, (é) vigília|

Os pensamentos e fantasias que (aparecem) depois disso (constituem) o estado de sonho|

O sono profundo, (por ter a natureza de Māyā, é) ausência de discernimento e consciência de tattva-s ou princípios --isso será elucidado posteriormente, em III-3--1 |

Embora os pensamentos não sejam percebidos em sono profundo --isto é, embora não haja nenhum pensamento em sono profundo--, mesmo assim, quando se está por entrar nisso --em sono profundo-- (ocorre) um conhecimento de vigília, por assim dizer, que é característico desse estado --do sono profundo--. Depois disso, certamente há também um estado de sonho na forma de pensamentos e fantasias que aparecem como (suas) impressões residuais. (Obviamente, o que foi descrito) é característico disso --do estado de consciência chamado sonho--2 |

Além disso, no que diz respeito a um Yogī, a princípio, (o seu) conhecimento, que consiste em diversas Dhāraṇā-s ou Concentrações (em um objeto praticadas por ele, é a sua) vigília. Então, (os seus) pensamentos na forma de um fluxo contínuo de ideias sobre esse (objeto) --isto é, Dhyāna ou Meditação-- (são o seu) estado de sonho. E (o seu) Samādhi ou Perfeita Concentração, que aparece como a não percepção de diferenças entre conhecedor (e) cognoscível --o objeto--, (é o seu) sono profundo. Isso foi mostrado por meio dessa aplicação adequada de palavras|

Por essa razão, no venerável Pūrvaśāstra --"a escritura primária ou primordial", um epíteto do Mālinīvijayatantra--, inclusive com relação a um Yogī, a variedade de vigília, etc., é definida como um ato de penetração de um (estado de consciência) em outro (pela seguinte estrofe):

"... não desperto, desperto, bem desperto e perfeitamente desperto..."|
(Ver Mālinīvijayatantra II, 43)

||8||9||10||

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1  Outra tradução possível é a seguinte: "ausência de discernimento e consciência de (qualquer) realidade". Aqui, o termo "tattva" é interpretado como "uma coisa real" em vez de "princípio".Return 

2  Esse complexo tema que trata de misturas de estados (por exemplo, o autor mencionou anteriormente a mistura denominada "vigília em sono profundo") não pode ser explicado aqui. É explicado em detalhes na subseção apropriada de "Escrituras (estudo)" dentro da seção Trika.Return 

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 Informação adicional

Gabriel Pradīpaka

Este documento foi concebido por Gabriel Pradīpaka, um dos dois fundadores deste site, e guru espiritual versado em idioma Sânscrito e filosofia Trika.

Para maior informação sobre Sânscrito, Yoga e Filosofia Indiana; ou se você quiser fazer um comentário, perguntar algo ou corrigir algum erro, sinta-se à vontade para enviar um e-mail: Este é nosso endereço de e-mail.